O QUE A FALTA DE BALNEABILIDADE NOS PRINCIPAIS DESTINOS TURÍSTICOS DE SANTA CATARINA TEM A VER COM GASPAR? TUDO!

Em plena retomada pós pandemia da temporada de verão, Santa Catarina é manchete no Brasil por dois casos singulares. Um decorrente do outro: os pontos impróprios para banho nos principais destinos turísticos do nosso ímpar litoral, bem como um surto de nonavirus. Ele tem levado centenas de pessoas aos Hospitais e Postos de Saúde em intermináveis e desconfortáveis esperas para o diagnóstico de seus vômitos, mal-estar, desidratação e diarreias.

O problema é antigo. É o retrato acabado e contínuo da irresponsabilidade dos políticos, dos gestores públicos contra os cidadãos nos órgãos e empresas públicas, as quais deveriam promover o saneamento a favor das suas comunidades em que vivem para preservar além da qualidade de vida, minimamente um negócio que lhes rende dinheiro, muitos impostos e empregos a milhares de pessoas locais. Esta recorrente situação de desleixo, aliás, trabalha contra a imagem das nossas privilegiadas belezas naturais. Elas, indiretamente, também se deterioraram em decorrência disto.

Vende-se Santa Catarina como destino turístico. Errado. Deveria se vender Santa Catarina, no trade turístico, de forma transversal, como um destino, especificamente no nosso litoral singular, não como apenas belo, mas como sendo de balneabilidade segura. Criado este diferencial, cobrar por isso. Já temos dificuldades nos caminhos para se chegar a estes locais. Agora, chegar lá, e ficar doente é prácabá!

Infelizmente é assim e tende a piorar. O governo – seja ele quem estiver no plantão do poder -, empresários – que não enxergam que podem estar numa armadilha contra eles próprios –  e entidades representativas organizadas do setor e da sociedade em si – estão coniventes com a deterioração cada vez mais crescente do meio ambiente. Estão, no fundo, tapando o sol com a peneira. Estão permitindo que os ovos de ouro dessa galinha malcheirosa e contaminada, apodreçam. 

Agora essa gente desalmada e mal intencionada, achou um culpado. Todos estão conta o IMA – Instituto de Meio Ambiente de Santa Catarina- e seu papel estritamente técnico. Ele coleta as amostras das águas do nosso litoral e prova a cada coleta, que a metade dos pontos e principalmente que, quase todos dos badalados pontos turísticos, estão impróprios para um simples banho. E muitos estão contra ou duvidando dessas análises.

É como se você fosse ao médico e ele pedisse exames para ver se você de corpo sarado realmente estivesse com como aparenta. E o laboratório trouxesse a má informação de que você está invisivelmente doente e precisa se cuidar para continuar se exibindo por aí. Inconformado, você diz que o laboratório precisa mudar métodos e parâmetros para lhe dar informações que lhe enganem e até lhe levem a morte. Exagero?

Mas, o que esperar de políticos e gananciosos juntos? Eles exploram o presente – estar no poder ou ganhar dinheiro – e não se importam com o futuro. Pois é.

Os “espertos”, não querem que se colete tais amostras das águas das nossas praiais e que para os resultados ruins, nenhuma transparência seja dada, até mesmo como prevenção. Querem gente incauta, desinformada e doente. Agora resolver o problema de verdade, nem um pio, mesmo que seja por disfarce de preocupação com o problema de hoje em dia.

Pior, há prefeitos que querem que se mude a metodologia para mascarar uma realidade das quais são co-responsáveis. É uma realidade cada vez pior contra a saúde, qualidade de vida e principalmente os negócios, que, verdadeiramente, que precisa ser mudada. Estes gestores públicos e políticos querem, que os moradores de seus balneários, os turistas que sustentam suas economias, ou assustadoramente, os empresários com seus rentáveis negócios, que seus clientes fiquem doentes. Preferem gastar o escasso dinheiro público tratando o doentes e até deixá-los vulneráveis à coisas piores. Impressionante.

Para alguns deles, além do IMA, o outro culpado: é a rara mídia que divulga a situação, ou então, os relatos de casos que infestam as redes sociais de gente doente e inconformada.

O que é urgente de verdade para reverter no curto e médio prazo esta situação que beira ao crime contra a natureza e principalmente contra a saúde das pessoas? A implantação de sistemas de coleta e tratamento de esgotos eficazes e seguros, além da consciência coletiva dos moradores permanentes e de temporadas, políticos, empresários e investidores imobiliários para estancar um mal que se agrava a cada ano.

É isto que vai salvar o turismo, o lazer seguro, desatolar os postos de saúde e hospitais, o que vai atrair mais turistas e investimentos, que vai valorizar os empreendimentos. Nada mais! Até bandeira Azul perdemos em praias menores e agrestes devido à ação relapsa dos políticos e gestores públicos.

E ninguém escapa. Assim está Florianópolis, Porto Belo, Bombinhas, Celso Ramos, São Francisco do Sul, Penha, Piçarras, Navegantes, Balneário Camboriú – a mais visada até porque compete com outros polos de atração. Ela culpa a vizinha Camboriú, a dormitório dos que sobrevivem com Balneário. Mas, mesmo assim, Balneário Camboriú ainda não fez à sua lição de casa na ampliação do seu próprio sistema que está aquém da demanda de temporada, bem como do Canal do Marambaia, que é exclusivo coletor da própria cidade.

Nem mesmo à reiterada desculpa dos temporais de verão que sobrecarregam o sistema é válida e sequer aceitável. Sabe-se que todos os verões – e agora cada vez mais em quantidade e severidade – há temporais. Então, os sistema já deviam conter soluções e dimensionamento para algo esperado. Simples assim.

O governo do estado é outro culpado. Ele posterga, emperra e se protege na ineficiência. Além de não implantar uma política e um plano diretor para manejar este problema como um todo no litoral, sustenta uma empresa pública sem capacidade de resolução, mas usada para cabide de empregos na sustentabilidade política.

Mantém-se no atraso. A Casan, que não dá conta do recado nem no abastecimento de água potável – e vem perdendo este serviço em vários municípios catarinenses, ve a sua capacidade diminuída infinitamente na coleta e tratamento do esgotamento sanitário nas cidades onde atua. E não precisa sair da Capital para se ter este atestado. Com o marco legal do saneamento – sob ameaça do estatismo do atraso do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, PT -, este problema permeia não só o estado com a Casan, mas os municípios que já tiveram alforria dela.

Sem capital para investimentos nesta área e obra que não aparece aos olhos dos eleitores e eleitoras, nestes municípios, os políticos e gestores, como essa desculpa, resistem à privatização das suas empresas de coleta e distribuição de água E por quê? Porque naquilo que gerem atualmente em suas empresas de águas é uma máquina de dinheiro sem que tenham compromissos com o meio ambiente e à saúde. E é exatamente o tratamento e distribuição de água, que permite o equilíbrio – ao permissionário investidor -das contas no desenvolvimento, implantação e colocar em funcionamento o projeto da coleta e do tratamento de efluentes sanitários.

E o que Gaspar tem a ver com isso? Tudo! Kleber acaba de ir a público na volta das férias e na armação para a campanha política do ano que vem trombetear às suas prioridades. E nela não estão, mais uma vez, a implantação do sistema de coleta e tratamento de esgoto. Como não somos uma cidade turística, todo o perigo disso se esconde ainda mais.

Retrato: também não temos tratamento de esgotos. Misturamos literalmente merda na rede pluvial que escondemos por debaixo das pavimentações boas e principalmente, mal-arrumadas. Perguntem ao pessoal da Vila Nova, no bairro Sete de Setembro, o que acontece a cada chuva mais forte. Antes, nem água das enxurradas vinha nas suas casas. Agora, vem água, lama e cocô. O Samae de Gaspar é uma “autarquia” rica que até assume obrigações que seriam da secretaria de Planejamento Territorial e da de Obras e Serviços Urbanos, como as drenagens, fato que foi parar numa CPI e enterrada no primeiro mandato de Kleber com custos políticos aos que fizeram esse papel para o governo.

A implantação do projeto do sistema parcial de coleta e tratamento de esgotos está definida há mais de dez anos para os bairros Santa Terezinha, Sete de Setembro e Centro. É do tempo do ex-prefeito Pedro Celso Zuchi. Até TAC -Termo de Ajustamento de Conduta – há com o Ministério Público Estadual. Mas, nem isso, foi capaz de impor responsabilidade sobre os políticos, os gestores públicos e a sociedade civil desorganizada. Todos preferem os custos que comem impostos bons e não resolvem o problema, a dor de barriga, a diarreia, o vômito, as longas filas de espera no Pronto Atendimento do Hospital e o voto de cabresto. 

E por derradeiro o absurdo que pode ser comparado com o que esta acontecendo no litoral por obra dos nossos políticos e gestores públicos e que os coloca todos no mesmo balaio é: o que Gaspar tem a ver com a falta de balneabilidade dos principais destinos turísticos? Mesmo num Rio Itajaí Açú super-poluído pela população diante da inércia de seus governantes irresponsáveis, o atual prefeito que já inaugurou um mirante para se contemplar o rio poluído e está terminando um parque náutico. É para os riquinhos da cidade e vizinhos se exibirem suas moto-aquáticas e barquinhos incrementados nas águas cheias de cocô.

A vizinha a montante Blumenau, que aos trancos e barrancos vai tornando no Centro da cidade o mesmo rio uma atração para o seus moradores e turistas, pelo menos com João Paulo Kleinubing, União Brasil, Napoleão Bernardes, PSD e Mário Hildelbrand, Podemos, privatizaram esta área e preservaram o Samae. Saiu-se lá, em uma década, de zero de tratamento de coleta e tratamento de esgotos, para 47% dos domicílios, numa cidade onde se estima que morem 352 mil pessoas, segundo afirmou recentemente o IBGE. Acorda, Gaspar!

TRAPICHE

Santa Catarina é fábrica de bolsonaristas radicais? Os números dos que atacaram e vandalizaram os prédios símbolos dos três poderes, bem como, atentaram contra as instituições que zelam pela democracia, desmentem os que propagam tal versão na imprensa nacional – com redações infestadas de gente da esquerda – e contra um estado conservador, sim, mas que acolheu imigrantes que fugiam da fome, perseguições ideológicas e até das punições totalitárias.

Segundo o que o portal UOL publicou na sexta-feira da semana passada, os presos até agora – têm alguns que fugiram, mas estão sendo identificados – em Brasília, são de 25 estados. Ou seja, não são unicamente de Santa Catarina, muito menos são maioria os originários daqui – em números absolutos ou proporcionais. Ou seja, feita a contagem, a lenda não se estabeleceu em números, a não ser nos rótulos criados pela esquerda do atraso, ou por quem deseja se estabelecer na xenofobia.

Dos detidos, 19,5% do total, ou seja, um a cada cinco detidos, vieram de São Paulo, perfazendo 273; de Minas Gerais, 204 (14,6%); do Paraná, 132 (9,4%); Mato Grosso (7,5%); Rio Grande do Sul, 105 (7,5%); Santa Catarina 89 presos ( 6,3%), Distrito Federal, onde tudo se armou e aconteceu 84 dos detidos declararam que são moradores de lá (6%) e assim vai.

É certo que Santa Catarina é conservadora, mas não exatamente bolsonarista e nem todos podem ser confundidos com os ruidosos extremistas que há entre nós, inclusive na esquerda que é minoritária. E o fato desta forja conservadora vir de gente pobre e fugida da Alemanha, Itália, Polônia e tantos outros países em conflitos na Europa dos séculos 19 e 20, não autoriza o rótulo simplista de nazista ou fascista para seus descendentes, que ainda orgulham de suas origens, da capacidade associativa, empreendedora, resultados, resiliência e fuga dos opressores.

E mesmo de possuindo um dos menores territórios da federação, o 20º, ou seja, apenas 1,125% do território brasileiro, com relevo acidentado, falta de infraestrutura logística absurdamente infernal à competitividade, é o sexto estado em arrecadação de impostos que é partilhado por todo o Brasil, ignorando – e bem de longe – à proporcionalidade que caberia a Santa Catarina no retorno federativo. 

Resumindo. Há um modelo de produção, produtividade e competitividade diferenciado em Santa Catarina capaz de superar parte das suas dificuldades e do isolamento sistemático criado pelos políticos no poder de plantão em Brasília. A história mostra sim, um estado conservador, mas não extremista, como pintam propositadamente nas mídias como imposição de rótulos e penas a todos os catarinenses.

E sobre os financiadores desses movimentos que não aceitaram os resultados das urnas, não por culpa delas, mas por falta de votos, que fugiam de Jair Messias Bolsonaro, PL, quanto mais ele se tornava uma bomba ambulante, um encrenqueiro cotidiano e ampliava do nada, a sua suposta lista de traíras. Estes “financiamentos” não vieram de empresários conservadores conscientes, mas de gente que viu em Bolsonaro um porto seguro para seus negócios de oportunidade

É isto que as investigações deverão mostrar. São garimpeiros e madeireiros ilegais, grileiros de terras públicas, milícias, traficantes de todos os tipos, principalmente os que usam as rotas amazônicas. É isto que se viu em Rondônia na dizimação do povo Yanomami.

Até o agronegócio legalizado e produtivo terá pouco a ver, mesmo sendo sedento de vingança devida à permissividade dos governos petistas – e da Justiça – com as invasões de suas terras pelos movimentos sociais e indígenas.

É o Brasil tentando separar o joio do trigo. E isso levará tempo e deixará cicatrizes. Wake up, Brazil!

A fúria irresponsável está cobrando um preço aos inconformados e sem votos

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6 comentários em “O QUE A FALTA DE BALNEABILIDADE NOS PRINCIPAIS DESTINOS TURÍSTICOS DE SANTA CATARINA TEM A VER COM GASPAR? TUDO!”

  1. Sobre o tópico Blindar a Democracia.

    Vamos fazer uma analogia CóDIGO CIVIL
    Conforme o Artigo 189

    A prescrição começa a contar da data de vencimento, mas quem tem o direito ao credito pode continuar cobrando,
    só perde a coercibilidade do estado.

  2. Bom dia.
    A falta de balneabilidade no nosso litoral está diretamente ligada a falta de respeito do ser humano com o bem mais precioso do planeta: a água.

    POLÍTICOS inescrupulosos, aliados aos especuladores imobiliários vorazes e infratores compulsivos, deitaram e rolaram sobre as regras da nossa Constituição.
    Sem fiscalização do MP, nem do legislativo, nem dos cidadãos brasileiros, ELES ficaram soltinhos pra fazer miséria com as riquezas naturais da nossa orla.

    Estamos vivendo a prorrogação do segundo tempo, mas ainda é possível reverter o placar.
    🙌🌈🌎❤️

  3. A LIÇÃO DOS URUGUAIOS, por Maria Hermínia Tavares, no jornal Folha de S. Paulo

    Passou quase despercebido o gesto do presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou, que levou à posse de Lula dois antecessores: Julio María Sanguinetti (1985-1990 e 1995-2000) e José “Pepe” Mujica (2010-2015).

    Lacalle Pou é membro do Partido Nacional, de direita; Sanguinetti é Colorado, de centro; e Mujica, ícone da esquerda, elegeu-se por uma coalizão de forças progressistas, a “Frente Amplio”. A presença da trinca em Brasília robusteceu o princípio de que são de Estado para Estado as relações entre Uruguai e Brasil – acima, portanto, das disputas partidárias no país vizinho.

    Nesta semana, a propósito, a ida de Lula a Buenos Aires marcou o ressurgimento da diplomacia regional brasileira, destratada pelo governo Bolsonaro. Na segunda-feira (23), o titular do Palácio do Planalto visitou o seu homólogo Alberto Fernández na Casa Rosada, onde assinaram substanciosa declaração conjunta.

    No dia seguinte, o brasileiro discursou na reunião da Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), formada pelos 33 países da região. Na abertura dos trabalhos, Fernández, também presidente da entidade, saudou o retorno do Brasil à organização, da qual estava ausente desde 2020. Disse, nada menos, que sem o país a Celac é “muito mais vazia”. De seu lado, Lula ratificou enfaticamente o regresso do Brasil.

    A história da América Latina registra numerosos esforços para construir organizações multilaterais que fomentem a cooperação econômica e a coordenação política para atuar afinados na região e nos foros mundiais.

    Todos eles, no final das contas, contribuíram para fortalecer uma tradição de relações pacíficas no continente. Faltou vencer, porém, o desafio da permanência, dada a escassa complementaridade entre as economias vizinhas, sem falar da grande instabilidade política no entorno. Criada no embalo da primeira “onda rosa”, a Unasul (União de Nações Sul-Americanas) é apenas a última vítima a sucumbir ao ir e vir da política em cada nação.

    Na América Latina, mais do que em qualquer outra parte do mundo, as eleições e as crises presidenciais têm acarretado alternância no poder entre forças de orientação muito distintas. Construir organismos regionais fortes e duradouros requer delicada engenharia institucional e muita cabeça fria dos dirigentes de cada país em face das disputas eleitorais dos vizinhos.

    Na sua volta, o Brasil poderá preencher o vazio que sua ausência escavou e desempenhar papel relevante nessa empreitada. Para tanto, mais do que a experiência do primeiro governo Lula (2003-2006), é fundamental aprender agora com os uruguaios.

  4. CENSO NA BERLINDA, editorial do jornal Folha de S. Paulo

    Não foram poucas nem pequenas as adversidades enfrentadas pelo censo demográfico originalmente programado para 2020, a começar, obviamente, pela pandemia que impôs o atraso dos trabalhos.

    Houve depois sucessivos embates no governo Jair Bolsonaro (PL) em torno das verbas necessárias, a ponto de provocar o pedido de demissão da presidente do IBGE em 2021. A pesquisa só foi iniciada em agosto do ano passado, com previsão de término em três meses, mas ainda não está concluída.

    Reclamações de atraso nos pagamentos e baixa remuneração provocaram desistências e até uma ameaça de greve de recenseadores.

    Não bastasse tudo isso, o censo em andamento se encontra agora sob ataque político e institucional, em razão de um dado vital inesperado: a população nacional, ao que parece, é menor do que se pensava.

    Conforme sugerem os números preliminares, somos 207,8 milhões de brasileiros, em vez dos 215 milhões antes estimados pelo IBGE.

    Essa não é, a princípio, uma má notícia – em termos econômicos, pode significar que a renda nacional por habitante, um indicador de prosperidade material, é maior do que dizem as estatísticas atuais.

    Ocorre, no entanto, que 863 das 5.570 prefeituras do país já correm o risco de ver reduzidos os recursos que recebem do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), pelo qual 25,5% das receitas do Imposto de Renda e do IPI são distribuídos a partir de critérios que incluem o número de habitantes.

    O ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal, concedeu liminar determinando que se mantenham os repasses do FPM a partir das populações antes estimadas, dado que o censo não está concluído. A menos que haja erro grosseiro nos cálculos, porém, o problema está criado.

    Para Roberto Olinto, ex-presidente do IBGE, os problemas na realização da pesquisa justificam uma auditoria – falta recensear 15% das localidades, para as quais só há números imputados. O instituto, ainda sem presidente definido pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), sustenta que os trabalhos são conduzidos com qualidade.

    Quanto ao FPM, o ideal seria uma revisão ampla dos critérios de distribuição, há muito criticados por especialistas. A tarefa, no entanto, não é politicamente viável a curto ou médio prazo. Resta concluir o censo e dirimir as dúvidas com urgência. A pressão dos prefeitos sobre os três Poderes será forte.

  5. CHANCE PARA BLINDAR A DEMOCRACIA É AGORA, por Vera Magalhães, em O Globo

    A janela de oportunidade para que haja uma convergência dos Três Poderes em torno de um pacto pela democracia está aberta desde 8 de janeiro, mas não permanecerá assim indefinidamente. Se o governo Lula deixar passar muito tempo depois da eleição das Mesas da Câmara e do Senado sem colocar as propostas para andar, as divergências políticas voltarão a emergir, pautadas também pela controversa agenda econômica do Executivo, e adeus oportunidade de proteger mais fortemente as instituições e o processo democrático.

    O ministro da Justiça, Flávio Dino, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) parecem ter entendido a urgência do momento histórico. Outros, inclusive o presidente, parecem perder tempo com pautas divisionistas, quando têm nessa questão da reação ao terrorismo golpista do bolsonarismo uma oportunidade clara de reconquistar uma fatia da sociedade.

    Dino corre para finalizar ainda nesta semana o Pacote da Democracia, conjunto de iniciativas para tentar fortalecer a segurança dos Poderes para que ataques como os do dia 8 não se repitam e, ao mesmo tempo, para reforçar os mecanismos legais de punição a financiadores e idealizadores de atos que atentem contra o Estado Democrático de Direito, usando até a internet como instrumento de arregimentação.

    A maior dúvida que paira quanto ao conteúdo do pacote diz respeito à proposta de formação de uma Guarda Nacional para substituir a Força Nacional, mecanismo pelo qual, mediante convocação, policiais e integrantes das Forças Armadas se unem para tarefas específicas.

    A Guarda Nacional será permanente, composta a partir de concurso público e destinada a proteger a segurança de prédios públicos, terras indígenas, reservas ambientais e fronteiras. A dúvida é quanto ao caráter da guarda, se civil ou militar. Caberá ao próprio Lula bater o martelo. Uma guarda militar é considerada mais eficaz do ponto de vista da ação, mas há no governo uma corrente que advoga que seria temerário dar mais poder aos militares em plena crise de confiança entre as Forças Armadas e o governo.

    Para aprovar o pacote com celeridade, o governo precisará da contribuição do Congresso. O momento atual é propício para isso. Mas há uma disputa que vai ganhando corpo pelo comando do Senado. Embora publicamente Rogério Marinho se coloque como um bolsonarista moderado no páreo, no submundo das redes cresce a pressão dos radicais bolsonaristas sobre senadores, com ameaças àqueles que votarem em Pacheco (o voto é secreto).

    A recusa dele em abrir processo de impeachment contra ministros do STF o tornou um dos alvos preferenciais do bolsonarismo agora. Pacheco pretende, em seu estilo mineiro, se colocar abertamente como aquele que defenderá a democracia sem titubear, dessa forma associando Marinho ao golpismo bolsonarista.

    Para Lula, passa a ser crucial a reeleição de Pacheco, sob pena de o Senado virar uma Casa a travar a agenda do governo e a tentar emparedar o STF. A maioria pró-Pacheco é nominalmente confortável, mas partidos como União Brasil são considerados dúvida, uma vez que a partilha de espaços no governo deixou descontentes pelo caminho.

    A atuação do governo tem de ser inteligente: um apoio ostensivo de Lula a Pacheco pode não ser a forma mais eficaz de assegurar votos nos partidos. Mas o Planalto precisa acompanhar de perto a disputa para não ser surpreendido por uma reviravolta, como o próprio Lula foi em 2005, com a vitória de Severino Cavalcanti na eleição para a presidência da Câmara.

    Como se vê, a agenda da democracia, que deveria ser prioridade de Lula, é ampla, tortuosa e tem um prazo muito específico para entrar em vigor. Gastar gogó e bilhões com um gasoduto em reserva indígena argentina parece passar longe do foco mais premente para o governo.

  6. O SANGUE-FRIO DE DINO E COSTA, por Elio Gaspari, nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo

    O repórter Guilherme Amado revelou detalhes dos acontecimentos do 8 de janeiro que justificam, com sobra, a troca do comandante do Exército, general Júlio César de Arruda. Mais que isso, revelam que o sangue-frio dos ministros da Justiça, Flávio Dino, e Rui Costa, chefe da Casa Civil, livrou o país de uma crise inédita, pela qualidade de suas atitudes.

    Aos fatos, pela narrativa de Amado:

    Na noite do dia 8, depois da invasão do Palácio do Planalto, do Supremo Tribunal Federal e do Congresso, uma tropa da PM de Brasília dirigiu-se à área onde estavam acampadas pessoas que havia semanas pediam um golpe de Estado. Muitas delas haviam participado das invasões à tarde, e o objetivo era prendê-las, por ordem do ministro Alexandre de Moraes. O comandante militar do Planalto ordenou que os policiais fossem barrados, e a cena da barreira foi mostrada pelas televisões.

    Pouco depois, o comandante do Exército reuniu-se com o interventor federal na segurança de Brasília, Ricardo Cappelli, e com o coronel comandante da PM. Conversa dura, e nela o general Arruda teria dito:

    – O senhor sabe que a minha tropa é um pouco maior que a sua, né?

    Seguiu-se uma nova reunião, desta vez com a presença dos ministros José Múcio (Defesa), Rui Costa e Flávio Dino. Dino queria prender quem estava no acampamento, e o general, além de não admitir as prisões, queria que ele devolvesse os ônibus que haviam transportado pessoas que invadiram os prédios da Praça dos Três Poderes.

    Conforme revelou a repórter Marina Dias, as vozes elevaram-se, e os dois puseram-se de pé. Antes que o tempo pudesse fechar, “Rui Costa interveio e conduziu a conversa para uma conciliação. Ficou acordado que as prisões não seriam naquela hora, mas, sim, no dia seguinte de manhã”.

    Nessa mesma noite, questionado sobre o impasse, cujos detalhes cênicos não eram conhecidos, Dino deu uma resposta burocrática, apaziguadora. Seu sangue-frio evitou que a crise fosse contaminada pelas tintas apocalípticas que Jair Bolsonaro injetou nas relações políticas nacionais. No dia seguinte, foi feita a paz.

    Desde o dia 7 de abril de 1831, quando o brigadeiro Francisco de Lima e Silva mostrou a Dom Pedro I que seu reinado acabara, nunca aconteceu coisa parecida. Na manhã do dia 15 de novembro de 1889, o marechal Floriano e o chefe do governo, visconde de Ouro Preto, bateram boca. Pelas narrativas, enriqueceram a boa literatura política.

    Até os golpes precisam de uma etiqueta, e os brasileiros sempre a tiveram. Nunca se invadiram palácios nem se depredou o patrimônio.

    As cenas ocorridas nos prédios da Praça dos Três Poderes foram inéditas pelo vandalismo, pela vulgaridade e pelo despropósito. Guilherme Amado e Marina Dias mostraram que o clima de cervejaria estava também onde não se imaginava que estivesse.

    Em tempo:

    Na noite 2 de janeiro de 2021, quatro dias antes da invasão do Capitólio americano, o general Mark Milley, chefe do Estado-Maior Conjunto, viu os tuítes dos trumpistas e comentou:

    – Esse é o evangelho do Führer.

    No dia 6, às 15h, Milley mandou a Guarda Nacional para o Capitólio. Às 19h45, o prédio estava retomado.

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