COM DÉCADAS DE ATRASO, GASPAR QUER DESCOBRIR UMA TAL INOVAÇÃO. ANTES, OS POLÍTICOS, GESTORES PÚBLICOS E ASSOCIAÇÕES TERÃO QUE MUDAR A CABEÇA DELES PRÓPRIOS

Pouco se falou ou se escreveu na imprensa. Mas, na terça-feira da semana passada, Douglas José Junkes, vice-presidente da Ampe – Associação das Micro e Pequenas Empresas – de Gaspar e Ilhota (o atual presidente é Diogo Schmitt Tomaz) – foi à Câmara de vereadores falar de um projeto de inovação que está se associando para mudar os rumos analógicos de Gaspar, um mundo analógico que ele próprio criou ao “inventar” e defender a tal Capital Nacional da Moda Infantil. Douglas “descobriu” e só agora, “que Gaspar não faz moda” (valor percebido pelo mercado e o consumidor), “mas produz moda” (sem valor agregado, vale pelo quanto menor preço se coloca uma peça no mercado comprimindo-se as margens). Palavras em grifo são dele.

E para justificar o seu apelo por leis colaborativas na Câmara – e que o presidente dela, o mais longevo dos vereadores, José Hilário Melato, PP, recomendou à assessoria técnica da Casa coletar informações para um anteprojeto – Douglas citou a sua conhecida cidade de Franca, no estado de S. Paulo. “Ela era a capital nacional do calçado, hoje isto é passado“, lembrou para dizer que Franca evoluiu e se tornou uma referência no ambiente inovador, criativo e digital, retendo, atraindo e evoluindo em um novo mundo de negócios, geração de empregos, riquezas e tributos. 

Estou preocupado com a inserção dos jovens no novo mercado de trabalho“, confessou. E é verdade. Gaspar virou uma exportadora de mão-de-obra qualificada neste novo mundo e importadora de mão-de-obra sem qualificação e de alta rotatividade, dependente de programas sociais e suporte público que são falhos como educação, saúde, educação, moradia, mobilidade urbana entre outros. Quando exporta, empobrece os laços dos seus cidadãos com a cidade e suas famílias. Ao mesmo tempo, colabora para que outras cidades polos fiquem mais fortes e atraentes, incluindo, por exemplo, Blumenau, Joinville, Florianópolis e São José para não sair de Santa Catarina.

Douglas, no fundo, e ele sabe disso, lavou, neste depoimento, gravado e público, a minha alma, mais uma vez. Sempre escrevi o que ele pronunciou na Câmara na terça-feira. E Douglas, injuriado, queixava-se de mim. Enxergava nos meus posicionamentos claros, abertos e fundamentados, uma crítica depreciativa a ele e ao título que usou o DEL – Programa de Desenvolvimento Econômico Local – e ao Núcleo Têxteis, ambos da Acig – Associação Empresarial de Gaspar para deslanchar. Logo Douglas que se apresenta como um consultor especialista e atualizado.

Voltando.

Este título de Capital Nacional da Moda Infantil – e bem diferente da Capital Nacional dos Calçados dado a Franca -, foi inventado pelos nossos políticos. Foi uma cortina de fumaça ao slogan governamental Avança Gaspar que não funcionou e que, de verdade, só avançou no capim e atrasos, tanto que hoje reflete num dos piores índices de avaliação do governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB e Marcelo de Souza Brick, PP. Eram o políticos que precisavam desta marca para escamotear o fracasso administrativo de anos e não exatamente, os nossos empreendedores desta parcela – quase toda silenciosa – produtiva da cidade.

No fundo, como revelou Douglas na terça-feira sob disfarces, este título de Capital Nacional da Moda Infantil não serve para nada, a não ser para os próprios políticos para dar uma identidade à cidade e não aceita ainda pela própria cidade. 

Anos depois do título (15 de junho de 2022 este título foi sancionado pelo ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, PL, mas estava em gestação legislativa no Congresso há mais de quatro anos), um visitante que chega a Gaspar e “descobre” de que ela é a Capital Nacional da Moda Infantil, não se saberá sequer, onde irá comprar esta tal moda infantil e dificilmente, aposto, alguém da cidade, informará onde ela está.

E por quê? 

Não se sabe quais são as centenas de marcas que produzimos, não temos um selo de origem nos nossos produtos que nos diferencie, e principalmente, não se sabe como este título agrega valor ao nosso produto, o qual por falta de mão de obra qualificada e por quase inexistente preparação dela (até o Senai deixamos ir embora porque a prefeitura de Kleber Edson Wan Dall, MDB, não quis pagar o aluguel das salas de treinamento), cada vez mais escassa, é feito faccionado até no Alto Vale do Itajaí e no Planalto Norte, num custo logístico que estreitam ainda mais as margens de algo quase comoditizado.

Na era da Inteligência Artificial, finalmente, descobriu-se que estávamos martelando em ferro frio. Atrasados? Sim, atrasadíssimos. Mas, ao menos, em pleno anos 20 do século 21 a nossa fábrica de velas descobriu que já existe eletricidade e que pouco adiantará praguejar contra este avanço. Terá que se adaptar e usufruir, se não quiser se sucumbir e desaparecer. Ufa!

Não precisamos ser capital de nada a mando de políticos. Precisamos é de diversificação produtiva, comercial, de serviços e atualização diante de um mundo tecnológico. isto é planejamento. Isto é indução (difirente de intuição). É futuro. Isto é dar a volta por cima de forma consciente aproveitando a potencialidade da cidade, cidadãos e cidadãs. E a moda infantil? Continuará. Mas, dentro da sua normalidade.

E nesta atualização está a inovação, o digital e a inserção de jovens num mercado produtivo, disputado e até, com oportunidades de empreender em ambiente limpo, amigável da natureza e do futuro com menos carbono. Antes porém é preciso na base ensino público de qualidade, creche, período integral e uma cultura…

O projeto Conecta, da Organização Social Centro de Inovação Blumenau (Instituto Gene), que Douglas apresentou é um bom começo, se bem liderado e formatado. Se unir o público e o privado, avança. Ele pode abrir portas para outras iniciativas similares. E é esta pluralidade essencial para criar este pensamento e atratividade do e no mundo digital entre nós. Se ficar limitado ao Conecta, será apenas uma bolha. É preciso mais conectas. Acorda, Gaspar!

TRAPICHE

Ano de eleições I – Assustado ao ver pesquisas com altos índices de reprovação, em baixa, perdendo audiência como poucos, o prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, entrou no modo desespero. E aumento a dosa do que mais fez e não deu certo até aqui: dobrar a marquetatem de oportunidade. Seus “çábios” exageraram na dose. Vai entupir a cidade de projetos em fim de governo. Nenhum deles, será capaz de tocar e finalizar.

Eleições II. O que Kleber Edson Wan Dall, MDB decidiu ontem? Ocupar espaços na mídia local, regional e redes sociais esta ampla e longamente mal usada por ele. Para que? Levantar o astral da coligação MDB, PP – onde o seu vice Marcelo de Souza Brick está vestido de pré-candidato para sucedê-lo -, PSD, PDT e PSDB. O que fez? Criando mais uma – estre tantas – cortina de fumaça para esconder os problemas de rotina da cidade. Ele anunciou a contratação do projeto para a construção da terceira ponte sobre o Rio Itajaí Açú ligando as ruas Anfilóquio Nunes Pires, no bairro Figueira, a Vidal Flávio Dias e a BR-470, no Belchior Baixo, Distrito do Belchior. Ulalá!

Ano de eleições III – O que oi prefeito de Gaspar anunciou é apenas a contratação de um projeto, mas deu a entender que era algo para ser feito e no seu governo. Quem vai construir, se construir, será próximo prefeito. E como a prefeitura não tem caixa e está endividada, o próximo prefeito terá dificuldades para arrumar as contrapartidas e começa com uma cobrança da sociedade se o eleito não for o seu sucessor. Simples assim!

Ano de eleições IV – Por isso, este projeto, que custará caro, quando disponível, terá que depender das verbas federais, nos mesmos moldes em que se fez com a ponte do Vale. Ela custou pouco mais de R$40 milhões e quase nada onerou os cofres da prefeitura de Gaspar. A contrapartida inicial era de aproximadamente R$22 milhões. E não chegou a R$4 milhões no final. Isto porque houve pixotada do pessoal daqui e se teve que devolver dinheiro federal.

Ano de eleições V – Este anúncio está atrasado em pelo menos mais sete anos. Ele é parte do Anel de Contorno. Ter um projeto não significa construir a ponte. Significa que você tem um documento de viabilidade técnica para acessar os órgãos governamentais e financiadores. O projeto da coleta e tratamento de esgoto de Gaspar, por exemplo, está pronto desde o governo de Pedro Celso Zuchi, PT, obrigado que foi pelo Ministério Público. O mesmo que deu mole e por isso, até agora, nada foi executado em favor da cidade, da saúde das pessoas e da natureza.

Ano de eleições VI – Testemunhas que presenciaram recentes reuniões de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, PP, com seu staff e até com convidados, viram um prefeito transtornado e inconformado com os números muito das pesquisas. O comportamento Kleber, lembrou, segundo um interlocutor, a reunião desta semana do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, PT, com seus ministros, para encontrar fórmulas mágicas para reverter a sua popularidade. Em Gaspar, será difícil. Há uma marca do governo Kleber e Marcelo. E ela se perpetuou neste anúncio unicamente marqueteiro e não exatamente de soluções aos problemas que estão aí atrapalhando a vida dos gasparenses.

Ano de eleições V – Este projeto da terceira ponte, necessária, e já tratei deste assunto, faz parte do Anel de Contorno. Ela deveria servir apenas para Gaspar, mas para acesso regional – como é a ponte do Vale – desafogando a entrada e saída leste de Blumenau pela Rua Itajaí e República Argentina, com mais alternativas pela margem esquerda do rio e principalmente o uso da BR-470. Mas, não. Kleber preferiu ao invés de uma ponte de caráter regional e que sirva inclusive ao blumenauenses, uma ponte local. Só por isso, terá dificuldades de acesso a financiamentos. Ou terá que se gastar mais dinheiro dos gasparenses para um novo projeto.

Ano de eleições VI – Quem “fez” a ponte do Vale foi o governo petista de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Vana Rousseff. Quem poderá começar o projeto de Kleber Edson Wan Dall, MDB, se vingar, é, por coincidência, Lula. Kleber, ao menos, trancou o PT de Gaspar com o anúncio. Os petistas daqui podem arrematar dizendo que, mais uma vez, farão uma nova ponte. Acorda, Gaspar!

Dias difíceis I. Dias de decisão em Gaspar. Hoje o pessoal do PL de Gaspar vai a Florianópolis. Se bem que o prazo para transferências só se fecha no dia seis de abril. É a partir dele que o jogo começa ficar mais claro para todos. O grupo de empresários, a maioria oriunda do PP e que patrocina a pré-candidatura do delegado Paulo Norberto Koerich, o qual tem ficha assinada no PL, reuniu-se na segunda-feira, dia dos 90 anos de emancipação de Gaspar. Finalidade? Desatar o nó com o PL onde está como candidato natural, o engenheiro Rodrigo Boeing Althoff. Da Capital virá a união ou o racha.

Dias difíceis II – O grupo também estava construindo um plano B, como a filiação do delegado no Podemos, agora liderado em Santa Catarina pela deputada Paulinha (Ana Paula da Silva, ex-PDT), ex-prefeita de Bombinhas e líder do governo de Carlos Moisés da Silva, Republicanos. Aqui este campo (Republicanos e Podemos) está ocupado por Oberdan Barni, Republicanos. Ele estava ontem em Florianópolis amarrando os flancos vulneráveis de sua pré-candidatura.

Dias difícieis III – O PP de Gaspar hoje é um problema para o grupo. Além do vice Marcelo de Souza Brick está plantado como pré-candidato a prefeito no PP, filiar Paulo Norberto Koerich no PP significaria transferir a toxidade, como continuidade do governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo, justamente naquilo que as pesquisas dizem que precisa ser mudado e desacreditam o atual governo, mesmo que Paulo não represente esta continuidade. Ficaria o benefício da dúvida e a obrigação da explicação.

Dias difíceis IV – Ontem, todos se puseram em campo para solucionar os impasses. Telefonemas, despites e viagens. Onde está o problema? Primeiro que, até ontem, nem Paulo Norberto Koerich e nem Rodrigo Boeing Althoff, ao menos em público, aceitavam ser vice um do outro. Segundo, é que Paulo não quer disputar com outra candidatura competitiva no seu campo conservador. E Oberdan bate pé: não abre mão da candidatura dele. Entende que ele representa a mudança que os pesquisados dizem querer para Gaspar. Semanas decisivas, supreendentes e até decepcionantes. Assim é a vida.

Até ontem, a Câmara de Gaspar já tinha empenhado R$33.866,00 em diárias este ano. O campeão continua sendo o vereador Ciro André Quintino, MDB, com R$5.250,00, seguido de Alexandro Burnier, PL, R$3.650,00, Franciele Daiane Back, PSDB, R$3.380,00 e Francisco Solano Anhaia, MDB, R$3.150,00. Duas coisas chamam à atenção: os convescotes prolongados em Florianópolis e as rotineiras saídas antecipadas dos vereadores das sessões. E tudo isso, em pleno ano eleitoral, sob olhares e cobranças dos eleitores e eleitoras nas redes sociais.

A sessão solene da Câmara de Gaspar e comemorativa aos 90 anos de emancipação de Gaspar, por exemplo, (foto ao lado) devido a isto, foi esvaziada. Veja a quantidade de cadeiras reservadas aos vereadores que estavam desocupadas. Um retrato perigoso a qualquer políticos que queira buscar uma reeleição. O retrato colabora para vários questionamentos e enfraquecimento de imagens. Uma pena.

Depois de Florianópolis, a Câmara de Itajaí acaba de aprovar a revisão do seu Plano Diretor. E o prefeito de lá, Volnei Morastoni, MDB, sancionou. Em ambas muitas críticas, jogos de interesses, mas tudo dentro daquilo que manda o Estatuto das Cidades. Já em Gaspar, nem em sonho. A revisão do velho e retalhado Plano Diretor deveria ter acontecido em 2016. A insegurança virou banca para trocas entre amigos e perseguição aos adversários, ou aos que criticam a administração. Vergonha. Áudios com conversas cabulosas e que foram dar em uma CPI enterrada pelo presidente dela, o mais longevo dos vereadores, José Hilário Melato, PP, revelavam isso.

Gabinete paralelo. Gente desalojada da administração pública de Gaspar continua atuante dentro do governo de Keber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, PP. Está se reunindo com integrantes do atual governo longe de holofotes e olhos dos daqui em um posto de gasolina de Ilhota. Tudo documentado.

Figueira I – E o plantio do clone da figueira que o vento derrubou na Praça Getúlio Vargas, por falta de manutenção dela pelo poder público, apesar das advertências de especialistas, miou. E a velha figueira caiu bem defronte ao histórico prédio da prefeitura de Gaspar.

Figueira II – O plantio do clone estava marcado para este 18 de março, nos 90 anos de emancipação. O que cresceu, foi uma inovação: o capim cebola no lugar da grama, uma praga, que nem pode alimentar os imaginários coelhos da páscoa que se instalaram na decoração da praça. Em Gaspar há pelo menos duas figueiras irmãs da que caiu aqui no Centro. Em terreno particular. Cuidadas por seu “donos”, estão de pé, mesmo diante de forte tempestades.. Delas, poderia-se ter feito mudas. Mas, os “çábios”….

Impressionante. Depois de pedir, documentar e não ter recebido nem sequer resposta a pedidos feitos ao governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, PP, para ação de simples manutenção em sua base eleitoral, a vereadora Franciele Daiane Back, PSDB, passou a suplicar ao governo da Bancada do Amém, onde está. Era previsto. Permitiu que a superintendência do Distrito virasse uma mera sucata da secretaria de Obras e Serviços Urbanos. Ela está sem autonomia e dinheiro. Então…

No artigo de segunda-feira informei que o delegado Paulo Norberto Koerich, PL, era um dos churrasqueiros do almoço realizado da Arena |Multiuso e que arrecadou fundos para a Apae. E que ele fazia isso pela primeira vez daquele evento, apesar de ser churrasqueiro na Comunidade São Cristóvão. Também não poderia ser pela segunda ou outras vezes, pois esta promoção da Apae foi estemporânea. Já Rodrigo Boeing Althoff, PL, que estava no evento e na foto, não possui este hábito da assadaria. Estava se enturmando.

Passado mais de um mês, o ex-prefeito Adilson Luiz Schmitt, PL, ainda não recebeu nada tanto da Ouvidoria, bem como da secretaria de Agricultura e Aquicultura, tocada pelo vereador do PP, Cleverson Ferreira dos Santos, nenhuma das informações que pediu sobre as operações de parcerias com os agricultores do município. E o secretário jura que há transparência na pasta que vai deixá-la para concorrer novamente a vereador.

Dos ex-prefeitos, todos convidados, só Adilson Luiz Schmitt, PL, esteve presente no palanque do desfile de segunda-feira na rua Coronel Aristiliano Ramos. Ausentes Pedro Celso Zuchi, PT e Luiz Fernando Poli, sem partido. Quem apareceu por aqui foi Andreone dos Santos Cordeiro, sem partido. Ele era o vice de Bernardo Leonardo Spengler e assumiu no lugar dele, quando do impedimento judicial e político. Registro: poucas bandeiras no desfile. A foto é de Jadir de Amorim. :Acorda, Gaspar!

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8 comentários em “COM DÉCADAS DE ATRASO, GASPAR QUER DESCOBRIR UMA TAL INOVAÇÃO. ANTES, OS POLÍTICOS, GESTORES PÚBLICOS E ASSOCIAÇÕES TERÃO QUE MUDAR A CABEÇA DELES PRÓPRIOS”

  1. Um exemplo de como o estado paralelo funciona. Sem apelações. A lei sem muito trelelê aplicada sem dó e piedade.

    RACHA NO PCC: EXLCUÍDOS SÃO OBRIGADOS A DEVOLVER “BIQUEIRA” E BENS À FACÇÃO, por Josmar Jozino, no UOL

    O racha no PCC (Primeiro Comando da Capital) mexeu no patrimônio dos parentes de ex-líderes expulsos recentemente da facção. Os ex-integrantes da cúpula começaram a devolver à organização todos os bens adquiridos com dinheiro da “família”, como o grupo é chamado internamente.

    Os excluídos são os presos Roberto Soriano, 50, o Tiriça, Abel Pacheco de Andrade, 49, o Vida Loka, e Wanderson Nilton de Paula Lima, 45, o Andinho. O trio foi acusado de traição e calúnia pelo PCC, por chamar de delator o líder máximo da facção, Marco Willians Herbas Camacho, 56, o Marcola.

    A lista de devolução patrimonial é extensa e pode incluir ônibus do transporte coletivo, carros, imóveis, postos de combustíveis, adegas, salões de beleza e clínicas de estética comprados principalmente com dinheiro do tráfico e usados na lavagem de dinheiro da facção.

    Caso os excluídos tenham adquirido alguns desses bens com recursos da “família”, são obrigados a entregar tudo à facção, sem direito a apelação. Os pontos de vendas de drogas, mais conhecidos como “biqueiras”, também têm de ser devolvidos.

    Já foram cortadas as mesadas e ajudas de custo para as despesas com passagens aéreas e hospedagens durante as viagens às cidades onde os excluídos estão recolhidos em presídios federais, longe de São Paulo. O PCC também deixou de pagar advogados aos três.

    A coluna apurou que parte das “biqueiras” e de bens ligados a um dos excluídos, na região de Campinas (SP), foi devolvida ao PCC. Mas há informações de que o preso tem muitos apoiadores nas ruas e alguns deles estariam resistindo em cumprir a ordem da facção.

    MOTORISTA DE APLICATIVO

    A reportagem apurou ainda que o parente de outro excluído, morador na zona leste paulistana, já vem enfrentado dificuldade financeira e começou a trabalhar como motorista de aplicativo para poder sustentar a família.

    O estopim do racha histórico no PCC foi uma conversa gravada entre Marcola e policiais penais na Penitenciária Federal de Porto Velho, em 15 de junho de 2022. Segundo a Polícia Federal, Marcola atribuiu a Tiriça uma prática de atentados contra agentes públicos e o chamou de psicopata.

    O áudio foi usado no júri que condenou Tiriça a 31 anos e seis meses de prisão pelo assassinato da psicóloga Melissa de Almeida Araújo, da Penitenciária Federal de Catanduvas (PR), morta a tiros em maio de 2017, na cidade paranaense de Cascavel.

    Tiriça, Vida Loka e Andinho tiveram acesso à gravação e chamaram Marcola de delator. Os três decidiram expulsá-lo da facção e o juraram de morte. Mas a “sintonia final” (cúpula do PCC) ouviu o áudio e concluiu que Marcola não fez nada de errado.

    Os integrantes da “sintonia final” divulgaram um salve (comunicado) para os faccionados presos e em liberdade informando que Tiriça, Vida Loka e Andinho estavam excluídos da organização e jurados de morte. Essa é uma das maiores crises do PCC em 30 anos de existência.

  2. BOLSONARO BEIRA O AUTOENGANO, por Willian Waack, no jornal O Estado de S. Paulo

    É altíssima a probabilidade de Jair Bolsonaro ter a prisão decretada em futuro não distante. As duas linhas de defesa enfrentam barreiras formidáveis, e o principal problema é ele mesmo.

    A defesa “técnica” acha que os inquéritos da Polícia Federal contêm erros de origem, como afirmar que a falsificação de cartões de vacina seria passo rumo ao golpe de Estado. Mas os investigadores apresentaram no caso específico dos cartões de vacinação um conjunto bem detalhado que vai dar trabalho para sua equipe de criminalistas.

    No âmbito “técnico” da acusação de tentativa de golpe de Estado, a defesa enfrenta depoimentos contundentes de ex-comandantes das Forças Armadas que falaram como testemunhas – pesam mais do que delações. Supõe-se que a PGR montará uma peça única de denúncia, compondo com os tais cinco eixos de atuação dos investigadores um “conjunto da obra”, que vai de joias e vacinas a golpe de Estado.

    O lado “político” da defesa é igualmente complicado. Ela trata obviamente de consolidar a versão de que tudo não passaria de uma perseguição judicial movida pelos mesmos tribunais superiores que o impediram de governar e favoreceram Lula. Essa versão não parece ter conquistado muito mais gente além do núcleo duro do bolsonarismo.

    A defesa “política” ensaia repetir exemplos históricos nos quais personagens políticos transformaram os tribunais que os julgavam em grandes plataformas de propagação de suas ideias, afirmandose como profetas perseguidos. Para desempenhar esse papel falta a Bolsonaro principalmente a capacidade de formulação de um discurso razoavelmente coerente.

    Pergunta óbvia é saber se uma provável prisão de Bolsonaro “engrandece” o personagem ou, ao contrário, o diminui como influente figura política. A resposta a essa questão especulativa depende em grande medida das investigações em curso – quanto mais politizadas, mais rápida a desmoralização delas, e uma “salvação” de Bolsonaro.

    O problema para a defesa técnica é a notória incompetência e o amadorismo de Bolsonaro, que espalhou rastros.

    Diante dos elementos que se acumulam, o próprio ex-presidente parece dirigir as esperanças de seus seguidores para um outro tipo de esperança, que tem contornos de autoengano.

    Se Lula foi condenado em três instâncias e o STF o devolveu ao Planalto, seria razoável acreditar, nessa versão, que uma virada de maré no ambiente político proporcionaria a um eventual condenado Bolsonaro destino similar, em nome de “pacificação” ou o que seja. Mas essa maré não parece estar surgindo

  3. A TRAPALHADA DO MINISTRO, editorial do jornal Folha de S. Paulo

    Nos 17 anos em que serviu como ministro do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski não raramente viu-se envolvido em polêmicas decorrentes da origem de sua indicação para o cargo, a proximidade com o então e hoje presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

    Enumeram-se entendimentos favoráveis ao petismo, de embates pelo garantismo quando relator do mensalão ao fatiamento da decisão sobre o impeachment de Dilma Rousseff, que permitiu à ex-presidente manter direitos políticos.

    Seus defensores sacam o notório saber jurídico, que o destacava de outras escolhas mais políticas feitas pelo próprio Lula à corte. Aposentado em 2023, rumava para uma lucrativa carreira privada.

    Mas foi convocado pelo PT para substituir Flávio Dino, ex-ministro da Justiça levado ao Supremo. Esperava-se uma gestão menos estridente do que a do maranhense, mas esse primeiro mês e meio se mostrou desafiador ao vaticínio.

    Lewandowski viu-se logo confrontado com uma crise inaudita, a fuga de dois presos de uma penitenciária federal de segurança máxima em Mossoró (RN). Correu a enumerar medidas e promoveu intensa mobilização policial. Dos fugitivos, porém, não há notícia.

    A pressão na área da segurança, apontada em pesquisas como um calcanhar de Aquiles da gestão Lula, desaguou em novo ineditismo.

    Na terça (19), o ministro fez um inusitado anúncio da homologação, pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, da delação premiada de Ronnie Lessa, preso sob acusação de matar a vereadora carioca Marielle Franco (PSOL) e o motorista Anderson Gomes, em 2018.

    Ressalvando desconhecer seu teor, disse que a delação “traz elementos importantíssimos que nos levam a crer que brevemente teremos a solução do assassinato”.

    Não é papel de um ministro do Executivo antecipar investigações criminais. Pior, sugere afã de atender à cobrança de Lula por mais divulgação do governo, ante a queda de sua popularidade. O pasmo foi expresso até pela viúva de Marielle, Mônica Benício, que sentiu cheiro de exploração política.

    Além de inapropriada, a fala tem o duplo condão de arriscar o ministro ao vexame, caso não haja avanços no necessário esclarecimento do crime, e o de politizar quaisquer elucidações.

  4. É PRECISO ACELERAR A REFORMA TRIBUTÁRIA, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

    O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), cobrou o governo sobre o envio dos projetos de leis complementares para regulamentar a reforma tributária sobre o consumo. Para Lira, essa fase precisa ser encerrada ainda neste ano, sob pena de que a proposta venha a naufragar.

    Tem razão o presidente da Câmara ao fazer um apelo público ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad. À primeira vista, o calendário para a aprovação dos projetos parece confortável, uma vez que a reforma entrará em vigor somente em 2026.

    No entanto, a disputa eleitoral deve encurtar o ano no Legislativo. Com deputados e senadores dedicados a apoiar prefeitos em suas bases, o governo teria apenas o primeiro semestre para tocar os projetos de seu interesse no Congresso.

    Os 19 grupos técnicos responsáveis pela elaboração dos anteprojetos, no entanto, ainda não concluíram os trabalhos, e os textos ainda terão de ser submetidos a Haddad antes que eles se tornem projetos aptos a serem enviados ao Legislativo.

    Todas essas discussões não podem se estender além deste ano. Em 2025, será preciso regulamentar a reforma por meio de normas infralegais que dependem dos projetos de lei. Além disso, será preciso testar os sistemas para garantir que a transição entre o modelo atual e o novo ocorra sem contratempos.

    Não será uma tarefa trivial, dado que a reforma aprovada pelo Congresso, que cria o Imposto sobre Valor Agregado (IVA) e unifica cinco tributos federais, estaduais e municipais, representa uma verdadeira revolução diante do caótico modelo tributário brasileiro.

    A emenda constitucional, no entanto, deu apenas as diretrizes gerais que agora precisam ser devidamente detalhadas, discutidas e aprovadas. Entre os temas pendentes está a governança do Comitê Gestor do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), tributo cuja arrecadação será dividida entre Estados e municípios.

    Será preciso garantir a não cumulatividade dos tributos, que corrói a competitividade dos produtos brasileiros no exterior, estabelecer os itens da cesta básica que serão ou não desonerados e discutir os detalhes dos regimes específicos, diferenciados ou favorecidos para alguns setores econômicos.

    Também será preciso decidir quais serão alvo do Imposto Seletivo, cuja alíquota será de até 1% sobre a produção. Naturalmente, todos os setores que potencialmente possam se tornar alvo dessa cobrança têm trabalhado para se livrar dela, como a indústria de alimentos ultraprocessados e de bebidas açucaradas e os setores de mineração e petróleo.

    Disso dependerá a alíquota padrão do IVA, que, aliás, o governo ainda não divulgou. Antes da aprovação da reforma, o Ministério da Fazenda a havia estimado em 27,5%, mas as mudanças no texto durante a fase final de tramitação ainda não haviam sido incorporadas quando tal porcentual foi divulgado.

    Críticos da reforma podem até argumentar que esse porcentual colocaria o País na liderança das alíquotas mais elevadas do mundo, mas nenhum deles arriscaria dizer qual o nível de tributação do modelo atual – não por incompetência, mas porque as distorções do sistema atual tornaram uma tarefa tão simples como essa simplesmente impossível.

    Apesar de a demora dos grupos técnicos do governo para concluir os anteprojetos ser evidente, o Congresso também deveria fazer a sua parte e colaborar com o avanço da reforma. Lira já poderia ter definido o relator dos textos na Câmara, mesmo porque mais de 70 pontos precisam de legislação complementar.

    Além disso, seria prudente que os parlamentares recuassem da proposta paralela que articulam para impor travas ao Imposto Seletivo e reduzir as prerrogativas da Receita Federal sobre o tema. Trata-se de clara e indevida invasão de competências por parte dos parlamentares, que não merece prosperar.

    Há muito a ser feito e pouco tempo para concluir os trabalhos. Mas governo e Congresso não podem titubear nem se perder em disputas de poder inócuas. É hora de avançar com a reforma tributária e colocá-la em prática para que o País possa iniciar uma nova fase de desenvolvimento.

    O presidente da Câmara defendeu que a “regulamentação da tributária não pode naufragar por falta de calendário”. Segundo ele, se o governo deixar a proposta para depois de 2024, “fica complicado”

  5. LULA OLHOU PARA A QUITANDA, por Elio Gaspari, nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo

    Assustado com as últimas pesquisas, Lula reuniu o ministério e felizmente não lançou planos, pediu aos ministros que não o fizessem e fixou-se na exposição do que vem sendo feito. Lula aproximou-se da sábia receita do professor Delfim Netto:

    — Você tem que abrir a quitanda todo dia às 6 da manhã, colocar as berinjelas no balcão e conferir o caixa para ver se há troco para as freguesas.

    Gerindo a quitanda, o ministro da Educação, Camilo Santana, pôs de pé o programa de ajuda aos jovens do ensino médio. Foram destinados R$ 2,5 bilhões para a criação de cem novas unidades de institutos federais de ensino. A renda dos trabalhadores melhorou, a inflação está contida, e a economia vai em frente, devagar. Isso resultou da simples administração da quitanda. Ela sempre precisa de um gerente. Se ele for também um profeta, melhor; mas, só com visões, ela quebra.

    As grandiloquências de Lula na política internacional ou com o delírio da iniciativa Nova Indústria Brasil, coisa de profeta.

    Administrou-se bem o feijão com arroz, e ficou a impressão de que é pouco. Essa ansiedade deriva da suposição de que o governo precisa de grandes ideias. Lula fez o Prouni e o Bolsa Família. Fernando Henrique fez o Plano Real, e JK entregou 50 anos em cinco. Esse é um lado da moeda. Do outro, estão fracassos dos quais parece falta de educação falar: a inflação de JK, a rodovia Transamazônica, os planos Cruzado, Verão e Collor, os polos navais, o Fies para estatizar a inadimplência nas faculdades privadas, mais as campeãs nacionais.

    A opção preferencial pela grandiloquência leva os governos a se encantar com a própria propaganda ou pelas caveiras de burro de administrações passadas. A fixação de Lula com Bolsonaro (“covardão”) é um exemplo desse desperdício. Perdem-se de vista iniciativas que fazem do Brasil um grande país. Por exemplo, a decisão, tomada em 1974, de usar a mão visível do Estado para estimular o plantio de soja no Cerrado depois da criação, pela Embrapa, de uma semente própria para aquele terreno.

    A queda da popularidade de Lula deve-se a inúmeros fatores e faz parte da vida. Em alguns casos, ela decorre da sua própria personalidade, metendo-se onde não deve, da Vale à Faixa de Gaza, da Petrobras à Venezuela. Sabendo que ele é uma metamorfose ambulante, não há mal sem cura.

    Todo governante lida com questões que parecem pequenas, pouco perceptíveis para a opinião pública: soja no Cerrado? Prouni? O programa Pé-de-Meia? Essa seria a agenda do varejo, com suas berinjelas. Na parte que lhe cabe, o terceiro governo de Lula vai bem. Divulga-se mal porque ele prefere cavalgar o pangaré dos malfeitos de Bolsonaro. Pena, porque, num país politicamente dividido, isso acaba sendo um veneno. Em 1961, se Jânio Quadros fosse além da conta na cerimônia da posse, JK seria capaz de encestá-lo. Como ele não foi, JK raramente mencionava seu nome.

    Vale a lição de Antônio Carlos Magalhães, o condestável da Bahia no final do século XX, pessoa que sabia fazer amigos e inimigos. Destes, não falava, pois, “se você fala deles, teus inimigos capturam tua alma”.

    Não falava deles, fritava-os.

  6. Bom dia.
    Conheço a trajetória da deputada Paulinha, ex prefeita de Bombinhas.
    Fez um DESMANCHE AMBIENTAL na cidade e ousou criar a TPA mesmo lançando toneladas de esgoto direto no mar.
    A única estação de TRATAMENTO de ESGOTO de Bombinhas foi feita pelas mãos do ex preferido Canô no início dos anos 2.000.

    Em campanha eleitoral pra ALESC, lá em 2014 a prefeita firmou contrato com a empresa Águas de Bombinhas para atender as demandas do saneamento básico.
    O CONTRATO prometia entregar o sistema com COLETA e TRATAMENTO de ESGOTO em 97% dos DOMICÍLIOS até 2022.

    Em 2021, quando o prazo da entrega estava acabando, o seu vice na época e atual prefeito de Bombinhas, Paulinho , enviou um PL à Câmara Legislativa Municipal, pedindo dilatação de prazo pra 2040 👀
    E não é que Bombinhas também tem a sua BANCADA DO AMÉM?!

    Ano passado o prefeito Paulinho se elegeu presidente da AMFRI.
    Está PROMETENDO UM TÚNEL LIGANDO ITAJAÍ A NAVEGANTES E SISTEMA DE TRANSPORTE COLETIVO ELÉTRICO LIGANDO BOMBINHAS A NAVEGANTES 😱😱

    Pra completar o quadro, a dupla PP, Paulinho e Paulinha, TENTARAM RESOLVER O PROBLEMA DA FALTA MOBILIDADE ENTRE OS MUNICÍPIOS DA AMFRI NO VERÃO LIBERANDO O TRÁFEGO NO ACOSTAMENTO DA BR 101 ENTRE BOMBINHAS E PENHA 😱
    Já na primeira tentativa o “projeto” foi ABORTADO.
    Nem um pio…

    Mas como precisavam de flash, não pararam por aí 👀
    Inundaram suas redes sociais PROMETENDO ENTREGAR O TERCEIRO ACESSO A BOMBINHAS ANTES DA TEMPORADA DE VERÃO.
    Matérias nas mídias regionais, entrevistas pirotécnicas, um SHOW!!
    Só não contaram pra ninguém que o terceiro acesso era uma PICADA aberta nos anos 80, abandonada por DÉCADAS e que só atendia as demandas de aventureiros com TRAÇÃO 4X4 e como alternativa só pra SAIR de Bombinhas 👀😱😥

    Não deu outra: tiro no pé novamente.
    O pior da história triste de Bombinhas?
    A reeleição dessa gente TÓXICA, PhD em LUDIBRIAR e ENGANAR o POVO se repete por décadas.

    Começa mal quem se conecta com ele.

    1. *corrigindo: Canô, ex-prefeito de Bombinhas.
      Canô construiu a primeira e única estação de TRATAMENTO de ESGOTO existente no município;
      Construiu a policlínica;
      Construiu novas e reformou todas as UBS;
      Trouxe uma unidade do Corpo de Bombeiros pra cidade;
      Criou o ÚNICO Plano Diretor e isso incomodou os insaciáveis da construção civil e da especulação imobiliária.
      Tanto lá quanto cá, os “empresários” se unem pra mandar na cidade.

  7. Antes era Argentina no vermelho, povo no fundo do poço. Já evoluiu, mas os políticos, como os daqui, ainda não…

    ARGENTINA NO AZUL, POVO NO VERMELHO, por Vinicius Torres Freire, no jornal Folha de S. Paulo

    Pela primeira vez, desde 2011, o governo da Argentina conseguiu gastar menos do que arrecada e ainda pagar a conta de juros em um bimestre. Teve superávit primário e nominal.

    Javier Milei conseguiu tal façanha provisória porque, grosso modo, arrochou de modo feroz o valor de aposentadorias e pensões, de salários de servidores e de benefícios sociais.

    Em relação ao primeiro bimestre de 2023, a despesa com Previdência caiu 31% em termos reais —isto é, além da inflação. O gasto com servidores, quase 12%. Somadas as despesas com Previdência (aposentadorias, pensões) e com benefícios sociais (como “bolsas” para famílias), a baixa foi de 24%. Cerca de 60% da redução de despesa veio daí. É o que se pode calcular das estatísticas fiscais até fevereiro.

    Note-se ainda que a receita de impostos na Argentina é maior no primeiro semestre, por causa da agricultura. No segundo semestre, vai ser mais difícil.

    Outro corte de despesas veio do congelamento do gasto com obras públicas e de cortes de transferências para as províncias (estados). Parte menor veio da redução dos de fato disparatados subsídios. A taxa básica real de juros é negativa. É insustentável.

    Se um povo qualquer aceita o sufoco por tempo bastante ou é também reprimido com violência estatal, fica mais fácil de fazer o que se chama de “ajuste fiscal”, embora nem mesmo repressão seja suficiente.

    A inflação para o consumidor está em 276% ao ano. Depois de um tombaço em 2023, a média dos salários continua derretendo, com baixa anual de uns 20% em termos reais. O arrocho fiscal e uma recessão feia devem ajudar a baixar um pouco a carestia até o final do ano.

    Isso se a taxa de câmbio continuar relativamente comportada. Do final do governo peronista até agora, o dólar ficou uns 124% mais caro. A inflação somada de dezembro a fevereiro foi de 71%.

    Se ficar pela casa de 10% ao mês até maio, será então necessária uma outra desvalorização do peso a fim de incentivar exportações e conter importações —o país precisa de dólares.

    As exportações sobem por causa do agro, que ressuscitou da seca mortífera, e do setor de energia; as importações são contidas de resto por causa da recessão horrenda.

    O ajuste argentino por ora não passa de um arrocho. Algum arrocho haveria, de qualquer modo. Por ora, o ajuste de Milei depende da disposição dos inocentes de padecerem calados.

    Para fazer um acerto duradouro (“sustentável”), é preciso arrumar fontes de financiamento estáveis (impostos e empréstimos de um mercado de dívida pública a custo tolerável). Fazer “reformas” (administrativa, previdenciária). Acabar com os controles de capitais (de entrada e saída de dólares) e ajeitar a economia de modo que o país volte a crescer de modo regular. Etc.

    Nada disso aparece no horizonte. Menos ainda se sabe o que fazer do povo arrebentado, se alguém se importa. Ainda não há plano organizado de estabilização econômica ou meios políticos de aprovar e implementar um tal programa.

    Milei deu tapas na cara da centro-direita que aceitaria negociar um plano duro de ajuste e reforma econômica, botou fogo no parquinho da Casa Rosada e vai às redes discutir coisas como tamanho de canis.

    Tenta evitar que seu decretaço de refundação nacional, uma mega medida provisória, caia de vez (já foi derrubado no Senado, mas apenas caindo na Câmara deixa de valer). Por risco de derrota, retirou do Congresso sua lei geral de reforma (“omnibus”).

    Agora, quer firmar um “pacto nacional” em maio, quando faria concessões a fim de aprovar a “omnibus”. O pacto é basicamente uma lista de princípios de redução do Estado. Anos de desespero vão fazer com que o povo aguente o arrocho calado, na esperança de melhora?

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