AS PESQUISAS DOS PARTIDOS, PADRINHOS, CANDIDATOS E OS JOGAM MOSTRAM O QUANTO TÓXICO SE TORNOU O GOVERNO DE KLEBER E COMO A OMISSÃO DO PL PODE LHE CUSTAR CARO COMO ALTERNÂNCIA DE PODER VIÁVEL EM GASPAR

Passei dias conversando nos bastidores com minhas fontes – de longa data – confiáveis nos partidos políticos de Gaspar e outros que gravitam na política, em ambientes políticos e poder de plantão. Foi por elas, que obtive acesso a duas, de supostas três pesquisas – quantitativas e uma ampliada com viés qualitativo – feitas nestes últimos dias sobre a atual de intenção de votos, avaliação de nomes, bem como, do governo der Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, Patriota, ou PL, sei lá, ou PP, talvez. Era a rebarba dos institutos que atuaram nas eleições complementares de Brusque. E quase todos erraram muito naquilo que divulgaram com suas assinaturas

E foi ao confrontar uma delas, pude perceber como um grupo manipulou seus números desfavoráveis, numa enxurrada de memes nas redes sociais e aplicativos de mensagens a seu favor, ou na desqualificação de possíveis adversários viáveis e que, a princípio, não querem na disputa. Pela reação desproposital, vi que muito antes da campanha, a baixaria, a narrativa e a mentira são, por enquanto, os melhores argumentos que alguns supostos candidatos, ou grupos partidários e seus “çábios”, podem apresentar à sociedade como competência diferencial para abocanhar ou continuar no poder.

Eu já escrevi sobre isto e o TRAPICHE dos artigos principais que escrevi nos dias 13 e 18 de setembro, os quais podem ser revisitados aos que não leram ou que já perderam a memória.

A primeira impressão geral e comum é que o governo de Kleber, com ampla maioria e arco de apoio que engloba o MDB, PP, PSD, PDT e PSDB, é tóxico. Todos que se apresentarem como sucessor dele, neste momento e pode ser que isto mude, terá uma cruz pesada para carregar. O que não se entende bem, até agora, é como o traído e excluído Marcelo pelo próprio Kleber e seu grupo de ocupação de poder, exatamente quando mais devia se afastar desse estigma se proximidade Kleber, na brecha que deu a partir de março deste ano. Ingenuamente, Marcelo está abraçado ao tamanduá. É uma imagem enigmática. Onde há um pedaço de osso, Marcelo está. E faz anos que não consegue a carne. Por isso, se enfraquece.

Antes de prosseguir devo salientar que a eleição de outubro do ano que vem vai ter majoritariamente três partidos: o PL, naquilo que o governador Jorginho interferir e ele está interferindo muito mais do que governando e onde continua vulnerável todos os dias; o PSD cresce como oposição a Jorginho no arco conservador sob a liderança do deputado Júlio Garcia – e outros – e o PT velho de guerra, o qual está obrigado a fazer o papel dele neste contexto em que está metido no campo ideológico da esquerda do atraso é o que está aí e não vai surpreender. 

Em Gaspar há uma clara tendência de enfraquecimento dos ex-protagonistas MDB, PP e PSDB e isto pode ser um espelho da situação estadual. E aqui e ali, pontuarão os nanicos, mas muito mais atrelados a nomes ou mudanças locais.

Escrito isto, volto.

Os números das duas pesquisas que eu vi, outros também viram, por vias diretas ou transversais, dentro do governo gasparense. O MDB é o mais desesperado. Não como partido em decadência e decorrente de um governo errante, mas por seus vestidos de candidatos e incrivelmente sem apoio oficial de Kleber. Francisco Hostins Júnior e José Carvalho Júnior foram fritados. Ciro André Quintino, não decola, mesmo com milagres. Francisco Solano Anhaia, assusta. E a presidente do partido, Zilma Mônica Sansão Benevenutti, a queridinha, ainda não acordou direito. Os demais, são demais.

Hostins Junior e Ciro frequentam reuniões de outros partidos e de novos empresários e até titulados como comendadores.

É na tentativa desesperada, ou esperta, para se construir soluções. Elas passam até por deixarem, inclusive e incrivelmente, por levar o então poderoso MDB gasparense como um simples apêndice da nova ordem política. Mamaram por sete anos neste tipo de governo e agora, esses vestidos de candidatos do partido querem passar o recibo de suposta autonomia individual. Aliás, em 2004, o poderoso MDB de Gaspar piscou pela primeira vez: para continuar na crista da onda se aliou ao seu maior rival: o PP e de lá para cá não se desgrudou. E esta aliança já está desgastada pelo tempo para dominar e ser poder como é.

Todos os coroados estão ao menos tentando se salvar.

Por outro lado, o PL, a nova força política nacional conservadora não possui candidato em Gaspar. Vai ter que construir um. O engenheiro Rodrigo Boeing Althoff que enfrentou Kleber e Marcelo não honrou os votos conferidos pela sociedade gasparense em 2020 para ele ser um agente de vigilância, propostas e mudanças. Aliás, se tivesse feito isso, Kleber teria governador melhor e os gasparenses ganhado com isso.

Rodrigo se escondeu no sítio dele, cuidou dos seus estudos, dos seus negócios e do seu trabalho. Não fez política. Agora, depois de quatro anos quer voltar à cena mais uma vez? Sim, não foi a primeira vez que fez isso.

Agora, com outubro do ano que vem chegando, resolveu, o que está por mérito se titulando como doutor, olhando tubulações entupidas da simples má e reiterada falta de manutenção da cidade, ou como ontem foi as redes sociais discutir a tal mobilidade regional, mas a que avança na Costa Catarinense e se atrasa no Vale Europeu? Rodrigo, estudado, não fez a lição de casa e vê gente como empresário Oberdan Barni, Republicanos a lhe fazer sombra. Como diz o ex-primeiro ministro do Brasil, Tancredo de Almeida Neves, “quando a esperteza é demais, ela come o dono”. Falta de avisos neste tempo todo não foi. E daqui.

A sorte -e a chance – de Rodrigo é que o governador Jorginho enquadrou o deputado estadual Ivan Naatz, PL, de Blumenau, com a possibilidade de ele ir para o Tribunal de Justiça ou Tribunal de Contas. Então, Ivan por enquanto moderou e tende a desistir, como queria, de fazer de Marcelo o seu candidato por aqui. Isto por si só mostra que o partido estaria sem um candidato competitivo. Ou confiável politicamente?

O que se entende bem é a razão do silêncio de Rodrigo neste tempo todo. Afinal Rodrigo já foi vice de Kleber em 2012 e não quis confrontar o amigo de jornada política e que está com a caneta na mão na prefeitura. O que não se entende, como o gestor que se vende, é como Rodrigo não conseguiu formar uma equipe sob a sua liderança para propor soluções, debates e até confrontações sobre o destino de Gaspar que ele como candidato ensaiava na campanha de 2020. Se eleito, vai pegar uma cidade estraçalhada. E por sua culpa solidária. 

O que não se entende também, é como os bolsonaristas radicais do PL de Gaspar o tem como ídolo, se Rodrigo nunca foi de direita, bolsonarista e até conservador. Era do PV – como Ivan com que brigou – e foi comissionado de Pedro Celso Zuchi, PT, o único candidato com chances nestas mesmas pesquisas que vi. Nesta confusão toda Zuchi pode ressurgir das cinzas depois de três mandatos por aqui, se a maioria dos eleitores da cidade decidir permanecer no mesmo atraso de décadas.

E o PP? Está olhando a tranqueira passando rio abaixo para ver em que tronco vai agarrar. 

O PP também está contaminado pela toxidade de Kleber. Nada que qualquer acerto de duas a três secretarias de dote não resolva o novo casamento. E o PSD? O que está aí não possui chance alguma, nem mesmo com a volta de Marcelo ao partido. O PSD de Gaspar é o calo que preocupa o deputado estadual Napoleão Bernardes, de Blumenau, na sua volta à política e como o PSD se compõe para enfrentar a reeleição de Jorginho. O resto, por aqui, será coadjuvante, como sempre foi.

Pode surgir um nome novo e que sugerem os eleitores e eleitoras cansados dos nossos políticos atuais nas pesquisas que vi? Pode! É meio improvável. Falta tempo. Ou seja, não será da noite para o dia. Falta fato novo excepcional. 

Por outro lado, dois fatos estão claros até aqui: Kleber nunca foi MDB, mas um projeto político da sua igreja neopetencostal aque salvou o MDB de Gaspar de morrer lá atrás. O destino político de Kleber, se quiser continuar político, está refém, neste momento, do novo prefeito de fato de Gaspar, o deputado Federal Ismael de Souza, PSD, de Blumenau. E o MDB regional enfraquecido, exatamente porque Kleber criou esse vácuo, atrai o deputado estadual Egídio Maciel Ferrari, PTB, que já foi um competente delegado por aqui. É uma missão difícil!

Para finalizar.

O governador Jorginho tem uma carta na manga. Ela está sendo plantada pelo pessoal que toca o PL de Gaspar, presidido por Bernardo Leonardo Spengler Filho, cujo genitor, foi a fera do MDB e prefeito entre 1997/1999, mas não conseguiu terminar o mandato. O PL de Gaspar está sem identificação e liderança. E não será surpresas se Florianópolis fará mais lambanças do que já fez, criando o tal fato novo, ou até incluindo a importação de candidato, como mandou o Ivan Naatz ensaiar em Blumenau, e teve que recuar.

A armação do PL estadual para a pequena Gaspar saiu da conspiração e foi para a armação. E com a presença do governador Jorginho Melo Alguns observadores da cena política gasparense julgam que certos casos políticos e agente públicos no poder de plantão deviam estar sob inquéritos e investigações policiais. Estão de corpo fechado. Entretanto, novamente há confusões no ar com as palavras política e polícia. Um policial – mesmo que tenha fama de competente – mas que nada apurou até agora naquilo que está na cara de todos, não poderá ser a tal “surpresa” no desespero de se criar qualquer novidade eleitoral para o PL sair do buraco onde está metido. Acorda, Gaspar!

TRAPICHE

Hoje é o Dia do Transplante de órgãos humanos. Santa Catarina é referência nacional: 40 transplantes por milhão de pessoas, quando a média nacional é 19 por milhão. Por isso é aqui que também está a maior fila de espera do país. E por quê? Devido à competência, eficiência, estrutura, sucesso e principalmente, à consciência generosa dos doadores e seus familiares. Sim, só pode haver doação se houver órgão disponível. E a referência nacional por aqui é o Hospital Santa Isabel, que atende pelo SUS, de Blumenau.

Mas, quem está precisando, urgente, de um transplante, é o Hospital de Gaspar, em perpétuo socorro. É preciso tirar dele os políticos, a política partidária e trazer gente que tem como missão deixá-lo minimamente eficaz para a atender e dar esperanças a gente com dor, doente e a procura de vida. O Hospital Santo Antônio, de Blumenau, que está auditando contas e procedimentos, está assustado com esse balaio de gato e como os políticos brigam por pratos quebrados e vazios. Acorda, Gaspar!

O artista, atleta, festeiro de capelas, apresentador de programas de rádio, estrela de das redes sociais, ex-campeão de votos e hoje campão de diárias, presidente da Câmara de Vereadores, Ciro André Quintino, MDB, está em Brasília. Foi fazer o que lá? Ver se algum recurso para Gaspar, como informou esta manhã.

Dos R$102.460,00 que a Câmara gastou em diárias este ano, R$17.910 são do vereador Ciro André Quintino, MDB. O vice-campeão é Alexsandro Burnier, PL, com R$8.830,00. Eu só não entendo a razão pelas quais eles ficam emputecidos quando se divulgam estes números para a cidade.

A família do ex e muito atuante vereador Amauri Bornhausen, PDT, da atual legislatura, ex-funcionário público municipal, falecido em dezembro do ano passado, pretende lançar um filho dele como candidato a vereador. A decisão saiu depois que o MDB anunciou que o também funcionário público municipal e hoje secretário interino de Planejamento, Carlos Francisco Bornhausen, seria candidato.

Com o mesmo sobrenome, a fonte familiar disse-me de que estaria em curso o aproveitamento inapropriado, segundo ele, de um legado. E será pelo partido Novo. E aí começa o problema: coeficiente eleitoral.

Hoje quem vai estar em Gaspar, é o presidente das empresas referência em moda infantil no Brasil, Giuliano Donini, da Marisol, de Jaraguá do Sul. Ela e a cidade não precisaram do título de Capital Nacional da Moda Infantil como quis Gaspar para dizer que aqui se faz esse tipo de moda, que ninguém conhece, e não se sabe onde comprar e não se sabe o valor que este título agregou aos nossos produtos. A promoção é da Ampe de Ilhota e Gaspar, as 19h, no Hotel Rauls, na Rua Itajaí.

Perguntar não ofende. Se os brasileiros dão bilhões de reais aos candidatos para eles fazerem suas campanhas, dinheiro que falta à educação, saúde, assistência social, infraestrutura, prevenção a catástrofes etc, por que os que estão vestidos de candidatos estão atrás de gente endinheirada para as suas campanhas de vereador e prefeito?

O governo do estado lança nova marca e destaca o potencial do turismo catarinense. Excelente. Mas, faltou o principal: turismo se faz com mobilidade, acessibilidade, diversificação, cortezia, segurança e principalmente com qualidade das fontes naturais. Balneários e rios poluídos? Quem vem para cá para ficar doente. Um programa decente de turismo, num estado tão promotor dele, devia estar incluído a sustentabilidade e a proteção ambiental como marcas diferenciais, inclusive de agregação de valor. Se continuar assim, vamos perder esta mina de outro.

O governo de Jorginho Mello, PL, que se diz liberal, fraqueja na primeira encarada dos sindicatos: a greve dos funcionários da Celesc colocou o governo de joelhos e ainda o sindicato fez prometer que não vai privatizá-la. A Casan, é outro descalabro de estatal mal gerenciada, empregadora e de péssimos resultados não só contra o estado, o governo, mas contra a população e o meio ambiente. Não há recursos para capitalizá-la para servir ao seu propósito, mas Jorginho teima em deixá-la estatal, como foi o seu BESC, o que faliu.

Exemplos de que como Gaspar não consegue sequer hoje. Contêiners de lixo da empresa coletora do Samae tomam as calçadas e os locais dos pedestres que ficam expostos ao tráfego da rua. Se fosse um particular, a prefeitura, provavelmente – pois nunca se sabe -, e com razão, já teria implicado. Faixa de ciclista ocupado por veículos da própria Ditran. Já o pátio do prédio abandonado da antiga agência do BESC e que a prefeitura de Gaspar comprou há anos para se tornar um ambiente de cultura, virou estacionamentos particular.

Achou que é só isto? Com o encerramento do contrato de limpeza urbana com curitibana a Ecosystem, que promete ser um novo escândalo, as ruas, do Centro e dos bairros estão tomadas de lixo por todos os cantos. As lixeiras transbordam. A chuva até “limpou” as calçadas. Mas, tudo poderá virar um problema e entupir a rede coletora pluvial. Muda o secretário e os problemas só aumentam. Acorda, Gaspar!

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  1. A ELUCIDAÇÃO DO BLECAUTE, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

    O blecaute do dia 15 de agosto começou com falha técnica numa linha de transmissão da Chesf no Ceará, como já havia adiantado o Operador Nacional do Sistema (ONS) no fim daquele mês. Mas o que transformou o problema, com potencial reduzido de danos, em um dos maiores apagões de energia das últimas duas décadas foi a incapacidade de parques de geração eólica e solar espalhados ao longo da linha de controlar de forma eficaz a mudança de tensão.

    O efeito cascata deixou às escuras todo o território nacional, à exceção de Roraima, ainda fora do sistema interligado. E imediatamente acionou uma onda de ataques oportunistas à privatização da Eletrobras por ministros de Estado, que aproveitaram para disseminar teorias conspiratórias ligando o apagão aos atos antidemocráticos de 8 de Janeiro. Uma enxurrada de bobagens sobre a qual a identificação do “evento zero”, antecipada pelo ONS, jogou uma providencial pá de cal.

    Agora que o operador do sistema explicou em detalhes a causa da amplificação dos estragos, que normalmente ficariam restritos ao entorno do equipamento de transmissão, faz-se necessário refletir sobre o rápido alastramento das usinas de geração eólica e fotovoltaica. Não para frear sua expansão, absolutamente necessária para diversificar e tornar ainda mais limpa a matriz energética nacional, mas para organizar um mercado ainda incipiente.

    Quando o ONS quantifica em “centenas” as providências a serem tomadas até julho do ano que vem, inclusive pelo próprio órgão, para reforçar a segurança do sistema e evitar novos blecautes, essa contagem dá a dimensão de como é fragmentado o mercado recém-incorporado ao sistema, formado por unidades geradoras de pequeno porte, ainda mais se comparadas à capacidade das hidrelétricas.

    De acordo com a avaliação técnica, modelos matemáticos apresentados por parques geradores para orientar simulações feitas pelo ONS e Aneel não corresponderam ao que ocorreu na operação real. São revisões em pontos como esse que estão sendo propostas para evitar que o problema se torne estrutural, o que elevaria o risco de novos apagões.

    O relatório Energy Report, publicado pela consultoria especializada PSR logo após a falha ocorrida em agosto, destacou a reconstituição trabalhosa dos incidentes que ocorreram em milésimos de segundo no dia 15 de agosto para, com estes sinais, chegar ao cerne do problema. O inevitável vácuo de informações sobre o que havia de fato ocorrido contribuiu para que autoridades lançassem “ruídos” que aumentaram a apreensão geral.

    De acordo com o documento, nem haveria como atribuir a falha à privatização da Eletrobras porque “simplesmente não houve tempo para qualquer mudança nos procedimentos e responsabilidades operacionais da empresa”. Ou seja, as ilações espalhadas por Alexandre Silveira (Minas e Energia), Flávio Dino (Justiça) e Rui Costa (Casa Civil), mesmo que em alguns casos como meras insinuações, foram tão inconsequentes quanto propositais. A capacitação energética é questão muito séria para ser turvada pelo radicalismo político.

  2. LULA E SUAS VONTADES, por Willian Waack, no jornal O Estado de S. Paulo

    Lula vai para uma pausa forçada por razões de saúde, e desejamos que se recupere logo e bem da operação de artrose no quadril. Como vem fazendo cada vez mais, Janja zelosamente guardará o espaço à volta do presidente. Esse espaço não é meramente físico, e tem incluído também quem o presidente ouve.

    Lula deixou para depois da intervenção cirúrgica algumas definições importantes e de grande alcance político, como a nomeação de ministro para o STF, um novo chefe do Ministério Público, os termos finais de um acordo de livre-comércio entre o Mercosul e a União Europeia, os parâmetros da transição energética (exploração de petróleo na Amazônia), entre outros.

    A demora em tomar decisões abrangentes tem sido característica importante de seu terceiro mandato. Uma delas encareceu substancialmente o “preço” político de governar. Trata-se do longuíssimo acerto com o Centrão para distribuição de pedaços da máquina pública e do orçamento, no qual Lula provavelmente jamais conseguirá saciar o apetite dessas forças políticas.

    Outra característica relevante do atual mandato é a figura de um Lula mais “intuitivo” e cheio de “vontades”. A de gastar e expandir as despesas públicas, por exemplo, foi transformada em eixo central da política econômica. Assim como desfazer matérias importantes acertadas no Congresso – não importa a recente advertência dura e explícita do presidente do Senado para os perigos dessa “vontade”.

    A “credibilidade” e a “estabilidade” que Lula promete aos agentes econômicos têm sido recebidas por eles com a expectativa de juros futuros mais altos e com a resignada certeza de que terão mais, e não menos, impostos pela frente. Além da teimosa postura de confrontar o governo com a questão fiscal, acentuada pela dúvida se as autoridades estariam outra vez seduzidas pela criatividade contábil no trato das contas.

    A “vontade” de Lula em relação ao exterior está sendo realizada. Na ausência de uma definição de objetivos estratégicos (um problema brasileiro de longo prazo), a política externa acaba se transformando, nas palavras do professor José Guilhon Albuquerque, em “exercícios opinativos de livre escolha” por parte do presidente. Portanto, a ação externa é a agenda pessoal do chefe do Executivo.

    No geral, se era mesmo uma “vontade” de Lula – pacificar o País –, até aqui ela não se cumpriu. Ao contrário: a divisão que saiu das urnas se aprofundou e não diminuiu. Tornou-se mais calcificada, geograficamente mais delimitada, socialmente mais perigosa (com contornos de raça, classe e religião) e politicamente mais intratável.

    Talvez seja a vontade de Lula ver nessa divisão uma vantagem política nas próximas eleições.

  3. HOSTILIDADE, DESPREPARO E DEMISSÃO NO MINISTÉRIO DA IGUALDADE, por Mariliz Pereira Jorge, no jornal Folha de S. Paulo

    Hostilidade gratuita, falta de decoro, despreparo para o serviço público. Não é preciso esforço para enquadrar o comportamento de assessoras do Ministério da Igualdade Racial durante viagem oficial à final da Copa do Brasil, em São Paulo. Abjeto, no mínimo.

    Na pauta, a assinatura de um protocolo de intenções contra o racismo no futebol. Na prática, servidores deslumbrados e sem postura profissional na audiência do jogo entre São Paulo e Flamengo. Marcelle Decothé, exonerada nesta terça (26), dava expediente na pasta comandada por Anielle Franco e usou as redes sociais para, numa tacada, debochar da torcida são-paulina, dos paulistas, da diretoria do Flamengo, da CBF e da Polícia Federal.

    Como cidadã, tem direito de tripudiar sobre o que quiser. Como integrante de um ministério, não. O problema de viver em bolhas é acreditar que sua percepção de mundo é o que norteia o senso comum, daí mandar às favas a ética e os protocolos exigidos de representantes do governo. Tanto que parte da bolha petista endossa o discurso da agora ex-assessora que trata cidadãos que pagavam seu salário como “descendentes de europeus safades”. Ou que desdenha da escolta da polícia que garantiu sua segurança como uma “morte horrível”.

    O cordão do passa-pano também estava de prontidão para defender o uso do avião da FAB e atribuir as críticas ao racismo e ao machismo, apontados por parlamentares de esquerda e pela própria Anielle Franco. Para a ministra, “é inacreditável” que seja questionada, ainda mais que “abriu mão de estar com suas filhas num domingo”. “O que de fato incomoda?”, questiona.

    Não vi nenhuma objeção à ação do governo para melhorar o ambiente esportivo. Alguém viu? O que incomoda, além da zoeira de membros da comitiva, é a ministra achar que não deve satisfações, a cartada dos sacrifícios da maternidade e a falta de esclarecimento sobre uso do aparato da Aeronáutica.

    Precisava mesmo?

  4. BOLSONARO E OS GENERAIS CALADOS, por Elio Gaspari, nos jornais Folha e O Globo

    Bolsonaro, com meia dúzia de generais palacianos e algumas dúzias de oficiais da reserva, sonhou com um golpe. Tinha ingredientes de outros golpes, mas faltou-lhe o apoio de um tipo de general inescrutável, por calado.

    É natural que se dê atenção aos generais que falam. Noves fora o fato de eles quase sempre estarem de pijama, ou no comando de mesas, é impossível ouvir quem não fala.

    Como o golpe de 1964, o de Bolsonaro mobilizou alguns milhares de pessoas, mas faltou musculatura a essas manifestações. Quando ela aconteceu, no 8 de Janeiro, descambou para o vandalismo.

    Como o de 1968, o golpe foi tramado no Planalto, com a simpatia do ministro da Justiça. A quartelada de Bolsonaro, desde o início, desafiava uma legítima manifestação eleitoral. Esse golpismo teve ajuda de oficiais que sopravam as brasas da contestação das urnas eletrônicas.

    O golpe tinha os ingredientes, mas faltava-lhe um eixo. Faltou-lhe sobretudo a unidade rebelada. Em 1964, bem ou mal, o general Mourão Filho comandava uma Região Militar. Mourão desafiou um governo que havia estimulado a indisciplina militar. Bolsonaro desafiava um resultado eleitoral.

    Golpes vitoriosos ganham adesões. Golpes fracassados caem no ridículo.

    Em 1984, quando a candidatura de Tancredo Neves atropelou o governo do general João Batista Figueiredo e a candidatura de Paulo Maluf no Colégio Eleitoral, havia bolsões golpistas. Foram travados no Alto-Comando do Exército. Quem se lembra dos generais Ademar Costa Machado e Jorge de Sá Pinho? Calados, ajudaram a neutralizar os golpistas e, calados, passaram para a reserva.

    Uma vinheta daquele tempo: no segundo semestre de 1984, com Tancredo virtualmente eleito, no Centro de Informações do Exército concebeu-se uma operação de propaganda mentirosa. Imprimiram-se cartazes com fundo vermelho, uma imagem de Tancredo, uma foice e martelo e a legenda “Chegaremos Lá”. Mobilizaram-se soldados do Comando Militar do Planalto (CMP), comandado pelo general Newton Cruz, um ícone da época.

    Os soldados colavam os cartazes, chegou a polícia e os levou para uma delegacia. Apareceu um coronel do CMP e, com uma carteirada, soltou-os. O caso explodiu na imprensa, denunciando a bruxaria.

    Com a palavra, o general Newton Cruz:

    — Na reunião do Alto-Comando, pouco depois, o general comandante do Rio interpelou o ministro Walter Pires sobre o caso dos bruxos, dizendo que a imprensa estava insistindo muito no assunto. Então o Pires disse: “Gente do meu gabinete, não foi”. Eu estava na reunião e senti um frio na espinha. O chefe do CIE estava atrás dele. Se não tinham sido eles, então tinha sido eu.

    Sobrou para Newton Cruz. Na reunião seguinte do Alto-Comando, ele foi preterido na promoção a general de Exército e passou para a reserva.

    Bolsonaro foi eleito e governou esticando a corda das relações da sociedade com as Forças Armadas. Desperdiçou 30 anos de trabalho de chefes militares que recompuseram a relação das Forças. Antes dele, o Exército foi comandado pelos generais Enzo Peri e Gleuber Vieira. Nunca disseram uma palavra. Gleuber, por exemplo, viu de tudo e falou nada.

    Durante toda a segunda metade do século passado, só João Goulart e Bolsonaro esticaram essa corda. Um foi deposto, o outro viu seu golpe virar baderna. Coisa dos generais calados.

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