O PULO DO GATO DO MDB DE GASPAR PARA OUTUBRO. ENSAIA DIZER QUE MDB DE KLEBER NÃO É O MDB DE CIRO, MESMO UM DEPENDENDO DO OUTRO

Se um desavisado chegasse à reunião mensal desta semana do MDB de Gaspar – que nem de longe é uma sombra daqueles tempos sob o comando dos ex-prefeitos Osvaldo Schneider, o Paca, Bernardo Leonardo Spengler (estes já falecidos) e Adilson Luiz Schmitt, que agora está no PL – acharia que o discurso do vereador Ciro André Quintino, MDB, era de oposição ao governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB – presente ao evento -, Luiz Carlos Spengler Filho e Marcelo de Souza Brick, PP – este já encolhido achando que o meteram numa arapuca.

Ciro veio bombado da convenção estadual do dia 26 de fevereiro em Florianópolis, onde o deputado federal Carlos Chiodini, de Jaraguá do Sul, mas que se ensaia candidato a prefeito de Itajaí, foi reconduzido à liderança do partido em Santa Catarina. Na reunião daqui, trouxe o secretário de Infraestrutura e Mobilidade, o deputado Jerry Comper, com quem se encontra quase semanalmente em Florianópolis. Ciro é cabo eleitoral aqui de Chiodini e Jerry. Ganhou uma missão de ambos: não deixar o partido morrer em Gaspar. E no discurso, Ciro mostrou isso a Jerry.

Criada a chance, Ciro se vestiu de candidato a prefeito pelo MDB.

Só para relembrar. Quem se ensaiou para isso por anos no MDB afio, o vereador e ex-secretário de Saúde de Kleber e Marcelo, o advogado e vereador Francisco Hostins Júnior, MDB, foi rifado na cara dura pelo próprio Kleber. Tratei disso no dia 15 de dezembro em O SANTO, AS 30 MOEDAS, O JUDAS E A CRUZ. UM TEXTO DE RÚBIA, MULHER DE HOSTINS JÚNIOR, INUNDOU A REDE SOCIAL ESTA SEMANA E LAVOU A MINHA ALMA, DOS LEITORES E LEITORAS Agora, Hostins Júnior – ainda na Bancada do Amém – só espera a janela de transferências para migrar para o PL. Ao menos foi isso que ele acertou com o governador Jorginho Melo, PL, quando foi em setembro lá com o delegado Paulo Norberto Koerich, quando este assinou a ficha no partido.

Retomando o fio da meada

De verdade? O mundo dá voltas. Eu sempre escrevo: nada como um dia após o outro. Ciro nunca esteve na janela do ônibus MDB de Gaspar. Ele sempre foi um operário depois de breve passagem pelo PSDB. E agora que o MDB deixou de ser o motor da política gasparense e por culpa dele próprio passou essa liderança que quer substituir Kleber, que não sabe se ficará no MDB.

Ciro está, ao menos, desta vez, na boleia da sua própria kombi. Para os “caciques” envelhecidos que sobraram, depois de um governo jovem e de ampla coligação sob uma saraivada de questionamentos, Ciro virou, incrivelmente, a tábua de salvação para o partido e logo no pior momento dele por aqui. Ou Ciro está sem visão em para-brisa embaçado, ou não quer deixar esta oportunidade passar e assim colocá-la no currículo dos sacrifícios para cobrar e ser reconhecido mais tarde. É uma aposta de alto risco. Ciro, nunca deixou de criar espaços. Entretanto, fez isso sempre sem tática e alianças. Já escrevi sobre isso. A última está em O POLÍTICO CIRO É O ANTICANDIDATO DELE MESMO em 17 deste janeiro e o que fez correr para estabelecer um terreno ao menos de negociação.

Vamos ao pulo do gato, além deste de buscar a recompensa pelo sacrifício.

Ciro no seu discurso editado publicado nas suas redes sociais e que pode ser visto e ouvido abaixo, Ciro propôs mudanças ao que está aí onde quem comanda tudo isso é exatamente o prefeito Kleber do seu MDB e que sempre esteve até aqui no MDB. Mudanças para quê se o governo como disse o próprio Ciro é o que mais fez pela cidade? Ora, se isso é verdadeiro, é só pedir que os eleitores e eleitoras reconheçam isso nas urnas como gratidão e continuidade. 

Alguém em Gaspar nos dias de hoje e olhando as pesquisas qualitativas disponíveis, acreditaria que o MDB de Gaspar é um partido de mudanças? E mais do que isso: que o vereador Ciro possa ser este fio condutor delas? Ciro é campeão de diárias. Avisado. Dobrou a aposta. Hoje está marcado. E reclama. Ciro, ajudou a inchar a Câmara. Sob a sua presidência tudo do governo de Kleber e Marcelo passou do jeito que o poder de plantão queria com o aval da Bancada do Amém (MDB, PP, PSD, PDT e PSDB). 

Pior. Foi sob a presidência de Ciro, que a uma CPI foi criada na Câmara para “apurar” supostos irregularidades reveladas nas conversas cabulosas do faz tudo de Kleber, o ex-secretário de Fazenda e Gestão Administrativa, interino da secretaria de Planejamento Territorial e presidente da Comissão Interventora do Hospital de Gaspar, Jorge Luiz Prucino Pereira. Virou coisa de entidade secreta e não de fiscais do povo. E sob o comando de José Hilário Melato, PP, e Roberto Procópio de Souza, PDT, tudo para debaixo do tapete.

Onde exatamente Ciro, Kleber e a Bancada do Amém estão separados como quer ensaiar agora Ciro ao distinto público?

No discurso editado, Ciro falou ainda num tal partido “modinha” numa referência ao PL e ao bolsonarismo. E não ficou corado. Quando foi a Brasília, por exemplo, de lá Ciro entupiu as redes sociais e aplicativos de mensagens com fotos e adorações ao deputado paulista Eduardo Bolsonaro, PL. Mais do que isso, nos encontros com apoiadores, olhando a porta estreita do seu MDB, flertou várias vezes com possibilidade de trocar de partido, incluindo o PL. Faltou-lhe coragem e decisão.

Ciro se construiu e é reconhecido como um político profissional, populista e possui uma atração constante pelo poder. O seu discurso desta semana perante uma plateia de emedebistas tenta se recolocar como a única liderança com votos e relacionamentos que sobrou no MDB de Gaspar para o próximo pleito. É um papel que terá que cumprir em ano eleitoral. Ao menos, vai se apresentar para uma negociação. O MDB é vaidoso. Não quer sair de mãos vazias depois de tanta história e históricos por aqui.  Ciro vai lutar para que o MDB daqui não tenha um destino tão trágico como o MDB de Blumenau o ex-prefeito de fato de Gaspar e ex-presidente do MDB de Gaspar, Carlos Roberto Pereira o tinha como referência e queria imitá-lo. Lá nem vereadores há mais.

Se existe partidos modinhas como ele classificou PL, Republicanos, Novo, União Brasil e outros, é porque o MDB e o PP, que até tinham o monopólio em Gaspar não cumpriram o papel deles perante a sociedade. Não entregaram o que se espera. E os eleitores e eleitoras querem mudanças. Então estão escolhendo pessoas com estes espírito e que estão nos partidos modinhas, porque o MDB e o PP não se renovaram e não responderam nas gestões aos novos tempos. Simples assim!

Ciro é conhecido e popular, mas neste momento, não inspira confiança e não responde o que se pede: mudanças deste círculo vicioso de MDB, PP, PT, MDB, PP, PT. Ciro foi quatro vezes presidente da Câmara, e por causa de suas manobras de bastidores pelo poder no tal pulo do gato, a Câmara de Gaspar cortou o barato da tal eleição secreta para a mesa diretora. Fez certo no que toca à transparência e acordos políticos que se iam para o saco, sem que a população soubesse de fato o que estava acontecendo entre os seus políticos. Exagero? Então invoco os testemunhos de Franciele Daiane Back, PSDB e Roberto Procópio de Souza, PDT.

São sinais e que não casam com a onda de exigências como transparência e mais entrega para a cidade pelos eleitores e eleitoras, mas que os nossos velhos políticos, apesar de jovens, teimam em afrontar, fingir que a cobrança não é com eles e apostam na falta de memória da maioria dos eleitores e eleitoras.

É muito bom que Ciro insista em viabilizar a sua candidatura a prefeito. Os resultados das urnas mostrarão o tamanho e a força atual do MDB de Gaspar; mostrará também se a tese – que beira a ingratidão, se não for só esperteza – de descolar de Kleber irá pegar; e ao mesmo tempo, mostrará ainda como e o quanto o marketing de Ciro desses anos todos foi eficaz para deixá-lo confiável cumprimentado pessoas e postando-as nas suas redes sociais. Acorda, Gaspar!

TRAPICHE

Polícia I – A Polícia Militar – principalmente – e a Civil de Santa Catarina deram um show de competência e eficiência nesta semana. Um grupo de bandidos veio a Indaial matar um narcotraficante do Amazonas que chegou aqui depois que resolveu trocar de facção criminosa. Tudo para fugir da perseguição. Não adiantou. Foi eliminado. É a Justiça dessa gente. A da sociedade, na maioria das vezes nem julga.

Polícia II – Os criminosos nem chegaram a comemorar o feito. O “salve” foi interrompido na volta deles para o Rio de Janeiro. Horas, depois, em ação integrada de inteligência e operacional das polícias de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rodoviária Federal, os quatro bandidos executores da vida e da operação estavam pegos a 400 e 600 quilômetros daqui.

Polícia III – Enquanto isso, mais de mil policiais federais, bem pagos, aparelhados, com quase uma centena de veículos, helicópteros, drones, muita tecnologia e dizem, inteligência, estão procurando há três semanas, dois fugitivos de uma penitenciária que se dizia de segurança máxima, a de Mossoró, no Rio Grande do Norte. Um baile. Erros, dúvidas, falta de transparência e gastança de milhões de reais.

Polícia IV – A ação precisa e profissional das polícias catarinenses, integrando-se a outras, sem vaidades, é mais um recado à bandidagem, fugidia do Norte e Nordeste devido as ameaças contra ela lá, ou que vem para cá como cabeça de ponte para ampliação dos negócios das facções devido as rotas portuárias. Esta gente está sendo monitorada ou procurada.

Devendo explicações I. O ex-prefeito Pedro Celso Zuchi, PT, 72 anos, por três mandatos e arriscando-se com reais chances ao quarto em cinco tentativas, no lançamento da sua pré-candidatura, deu entrevista afirmando que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, PT, colocou mais de R$70 milhões no ano passado em Gaspar. Ulalá. Este número deve ser algum equívoco. Ou já começaram as fakes news do PT aos analfabetos, ignorantes, desinformados e fanáticos? Cedo demais.

Devendo explicações II. O líder do governo, o ex-petista, Francisco Solano Anhaia, MDB, pediu explicações na Câmara. O líder do PT na Câmara, Dionísio Luiz Bertoldi, já não estava mais na sessão de terça-feira para esclarecer. Foi um dos cinco que saíram mais cedo naquela sessão, que é única por semana.

Avança capim I. O líder do governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, PP, Francisco Solano Anhaia, MDB, voltou a repetir uma ladainha sem nexo. Segundo ele, é claro que no verão, com sol, chuva e calor o capim cresce mais que outra época do ano. Está certo. Certíssimo. Se isto todos sabem, como alega e não quer críticas da população sobre isto, qual a razão do governo de Gaspar ignorar esta lei natural, não se preparar e relaxar no controle a favor da cidade, cidadãos e cidadãs?

Avança capim II – Pior mesmo é Francisco Solano Anhaia justificar que outras cidade podem estar sofrendo do mesmo problema. Ou seja, Gaspar se nivelando pelo pior dos outros, mais uma vez. Estes nossos políticos não mudam. É preciso mudar os políticos. A foto desta semana do cemitério do Barracão não deixa dúvidas do desleixo oficial, sob taxas exorbitantes, que foi inventada pelo governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, PP, exatamente para zelar pelos cemitérios.

Avança dengue I – A lei 3532 da ex-vereadora Andreia Simone Zimmermann Nagel, hoje primeira suplente pelo PL, passou a vigorar no dia 16 de outubro de 2013, sancionada pelo seu arquirrival Pedro Celso Zuchi, PT. O que previa ela no seu artigo 1º? “Ficam os proprietários de estabelecimentos destinados a comercialização de ferro-velho, sucatas, materiais reutilizáveis ou recicláveis obrigados a mantê-los acondicionados em áreas cobertas

Avança dengue II – É só passar pela BR-470, em Gaspar, e ver que esta lei é letra morta e que o mosquito da dengue está de bem com a vida contra a vida dos gasparenses e exigindo um trabalhão da prefeitura. Tudo ao relento. O que adianta lei boa, ou com visão de futuro, se os políticos são incompetentes para exigir de seus cidadãos e cidadãs o cumprimento delas? Acorda Gaspar!

Perguntar não ofende. O que foi feito doi caminhão para desentupir bueiros? Bastou uma chuvinha mais forte, para áreas do Centro, que nunca alagaram ficareminundadas. O que é isso? Falta de varrição. Vem a chuva e o lixo vai para os bueiros. Além dos prejuízos a moradores, trânsito e comerciantes, vem os gastos dos caminhão bomba desintupidor. Um erro leva ao outro. É a cidade sem manutenção.

O jornalista Fernando Gabeira já foi deputado Federal pelo PV. Ele não é um conservador, nem de direita, nem Centro e até mesmo, um liberal. Mas, este comentário não parece ser de uma pessoa com pensamentos com contornos de social democrata ou socialistas. Este comentário mostra o quanto o PT, Luiz Inácio Lula da Silva e a Justiça brasileira estão esticando a corda contra a própria estabilidade da democracia que dizem serem salvadores e fiadores. É contra este andar para trás que está vindo nas urnas em seis de outubro deste ano.

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8 comentários em “O PULO DO GATO DO MDB DE GASPAR PARA OUTUBRO. ENSAIA DIZER QUE MDB DE KLEBER NÃO É O MDB DE CIRO, MESMO UM DEPENDENDO DO OUTRO”

  1. Alan Lucianni dos Santos

    Em Gaspar, assim como em tantos outros lugares tupiniquins, falta memória política aos eleitores e força de vontade para fazer o que deve ser feito, seja ano político ou não. Claro, não dá para deixar somente nas costas do eleitor essa conta alta, pois muitos vereadores em seus mandatos apáticos, sismam em dourar a pílula para que de alguma forma ela desça guela à baixo, ainda que lacrimejando, mas sempre com um sorriso amarelo. Político não é profissão. Mas como todo bom brasileiro, ainda acredito na metanóia política da nação. A regra é; analizar, refletir sobre o que foi analizado e votar consciente. Espero não morrer repetindo o mantra da esperança; Um Brasil melhor.

    1. Interessante. Não basta acorda, como diz o meu bordão de décadas, mas é preciso minimamente se atualizar e num passo seguinte, ser transformador

  2. DEMOCRATA DE CONVENIÊNCIA, por Malu Gaspar, em O Globo

    Imagine o que seria o cenário político do Brasil hoje se a Procuradoria-Geral da República (PGR) e o Supremo Tribunal Federal (STF), controlados por Jair Bolsonaro, tivessem com uma canetada cassado os direitos políticos de Lula e de Simone Tebet por 15 anos e impedido os dois de disputar as eleições de 2022. Ou que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tivesse trocado a data da votação para 31 de março só para render homenagem à ditadura militar.

    Daria para acreditar que uma eleição nessas condições teria um resultado justo? A pergunta é obviamente retórica e um tanto absurda, já que tal situação seria impensável no Brasil — onde, apesar da onda golpista dos últimos anos, ainda temos uma democracia.

    Não é o caso da Venezuela, onde a Controladoria-Geral e o Supremo, dominados por Nicolás Maduro, retiraram da disputa deste ano seus dois principais opositores — e ainda mudaram a data do pleito, que tradicionalmente ocorre em dezembro, para 28 de julho, aniversário do falecido presidente Hugo Chávez.

    Para Lula, porém, levantar qualquer dúvida sobre a lisura das eleições venezuelanas é prejulgamento.

    — Não podemos jogar dúvida antes das eleições acontecerem, que aí começa discurso de prever antecipadamente que vai ter problema — afirmou o presidente brasileiro a jornalistas ontem no Palácio do Planalto. — Temos que garantir a presunção de inocência, até que haja as eleições para que a gente possa julgar se foi democrática ou decente.

    O brasileiro ainda disse que Maduro lhe garantiu que vai “convocar todos os olheiros internacionais do mundo que quiserem acompanhar as eleições”.

    Lula não é bobo nem mal informado, conhece Maduro de outros carnavais e tem à disposição um corpo diplomático plenamente capaz de informá-lo de que a Venezuela mantém cerca de 300 presos políticos e protagoniza a maior crise humanitária do planeta, com quase 8 milhões de exilados.

    A perseguição a opositores, com desaparecimentos e torturas, é uma das razões por que o governo venezuelano é alvo de uma investigação no Tribunal Penal Internacional por crimes contra a humanidade.

    Na semana passada, Maduro ainda expulsou do país integrantes do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos porque, entre outras razões, protestaram contra a prisão da ativista Rocío San Miguel, conhecida por denunciar crimes militares.

    Presa há um mês pela polícia de Maduro sob as acusações de “traição à pátria”, “terrorismo” e “conspiração”, ela ficou semanas incomunicável, com paradeiro desconhecido. Foi preciso a intermediação da embaixada da Espanha (ela é cidadã espanhola) para que fosse garantido seu direito a receber visitas da família e de um advogado.

    Não há sinal, portanto, de que Maduro esteja realmente disposto a receber olheiros para fiscalizar as eleições — a menos, talvez, que venham da Nicarágua, da Rússia ou de Cuba.

    Por essas e outras razões, não faz nenhum sentido comparar o cenário político do Brasil ao da Venezuela. Lula, porém, arriscou. Aos jornalistas, ele disse esperar que a oposição venezuelana não tenha o mesmo comportamento da brasileira:

    — Se o candidato da oposição tiver o mesmo comportamento da oposição daqui, nada vale.

    E cutucou:

    — Eu fui impedido de concorrer às eleições de 2018. Em vez de ficar chorando, indiquei um outro candidato que disputou as eleições.

    Pois a questão é justamente essa. A diferença entre Lula e a oposicionista María Corina Machado, que aparecia na liderança das pesquisas, mas foi sumariamente excluída de eleições na Venezuela pelos próximos 15 anos, é que Lula não foi impedido de disputar por uma ditadura, mas por decisão judicial. E, se o Brasil não fosse uma democracia, nem o PT poderia ter indicado outro candidato para substituí-lo, nem ele poderia voltar a disputar eleições em 2022 — e ganhar.

    Não chega a ser novo ver Lula fingir que não vê os crimes cometidos por ditaduras amigas enquanto denuncia os perpetrados por inimigos geopolíticos.

    Mas continua sendo intrigante ver o tom e a ênfase com que defende Nicolás Maduro. Parece que, quanto mais se acumulam evidências de monstruosidades cometidas pelo venezuelano, mais o brasileiro se empenha em absolvê-lo.

    Tal postura fica ainda mais esdrúxula considerando que acabamos de passar por um trauma que poderia ter nos lançado de novo sob uma ditadura em que o petista certamente não seria o presidente — e que apoiar Maduro só piora sua imagem diante dos eleitores que de fato prezam a democracia como valor.

    A única explicação possível é que Lula acredita mesmo no que diz e que, para ele, democracia é um conceito relativo. Só é sagrada se for para favorecê-lo. Senão, não faz mesmo diferença.

  3. QUEDA NA POPULARIDADE LEVANTA PONTOS DE ALERTA PARA LULA, editorial de O Globo

    Faltando sete meses para as eleições municipais, a aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva está em queda: recuou de 54% para 51% desde dezembro, enquanto a desaprovação subiu de 43% para 46%, segundo pesquisa Quaest divulgada ontem. A tendência é registrada desde agosto, quando a aprovação chegou ao pico (60%), e a desaprovação era de 35%. De lá para cá, a popularidade de Lula, embora ainda expressiva, vem se deteriorando.

    Ela continua alta e estável no Nordeste, no estrato com renda familiar até 2 salários mínimos e na população com mais de 60 anos. Nos demais níveis de renda, regiões ou faixas etárias, porém, apresenta recuo. Lula ainda é aprovado pela maioria dos brasileiros, mas entra no segundo ano de governo com um desafio: recuperar sua imagem nos grupos sociais a que tem dado menos atenção.

    Um dos principais é formado pelos jovens. Seis em cada dez o aprovavam em agosto. De lá para cá, essa parcela vem caindo. Hoje mais jovens o desaprovam (50%) do que o aprovam (46%). No recorte por regiões, a popularidade no Sul e Sudeste apresenta tendência semelhante. Nenhuma diferença entre aprovação e desaprovação é mais significativa que a observada no eleitorado evangélico. Seis em dez o desaprovam, enquanto 35% o aprovam. No início do mandato, aprovação e desaprovação a Lula entre evangélicos eram semelhantes.

    Uma das percepções mais intrigantes captadas pela pesquisa diz respeito à economia. O país cresceu acima da expectativa no ano passado. A inflação cumpriu a meta, e o desemprego atingiu o menor nível da última década. A taxa de juros começou a baixar, e a renda se recuperou. Apesar de tudo isso, 38% consideram que a economia piorou nos últimos 12 meses, nível mais alto desde fevereiro de 2023 e sete pontos acima do registrado em dezembro. Apenas 26% viram melhora. Mesmo entre os eleitores de Lula, cresceu a parcela que enxerga piora na economia.

    A popularidade de Lula, é fundamental enfatizar, continua alta. Mas a queda recente levanta pontos a que ele precisa prestar atenção. Lula foi eleito por uma ampla frente democrática. Uma vez no governo, tem se esmerado em repetir políticas que garantiram seu sucesso no passado, sem se dedicar ao que angustia a população no presente. Seu discurso é capaz de mobilizar a base mais fiel, mas, como revela a pesquisa, não de manter o apoio em segmentos que foram essenciais para sua eleição.

    Com sua visão desenvolvimentista, ele tem dado prioridade às estatais, sem prestar atenção aos pequenos empreendedores das periferias. Tem dedicado mais tempo a aparições em fóruns internacionais e à guerra em Gaza que à violência das organizações criminosas ou à crise de segurança pública que aflige a população brasileira. Por fim, a agenda econômica virtuosa do Ministério da Fazenda não foi compreendida nem pelo próprio PT. Se não cuidar dessas questões, poderá ter de pagar preço ainda maior em popularidade.

  4. ECONOMIA MELHORA, NOTA DE LULA PIORA, por Vinicius Torres Freire, no jornal Folha de S. Paulo

    A avaliação de Luiz Inácio Lula da Silva em fevereiro foi a pior das pesquisas da Quaest. Nas análises dos resultados, lia-se que as declarações sobre a guerra de Israel devem ter prejudicado o prestígio do presidente, assim como a alta da inflação de alimentos do início do ano. Destacava-se que Lula perdeu muitos pontos entre evangélicos. Pode ser.

    Mais notável, no entanto, é que a “aprovação do trabalho” presidencial cai muito desde agosto do ano passado, quando estava no pico, com 60% de aprovação e 35% de desaprovação, um saldo de 25 pontos.

    O tombo maior apareceu na pesquisa seguinte, em outubro de 2023: aprovação de 54%, desaprovação de 42%, saldo de 12 pontos. Na pesquisa de fevereiro, divulgada nesta quarta-feira (6), o placar ficou em 51% a 46%.

    Os dados preliminares da economia que afeta o cotidiano não parecem explicar grande coisa, se alguma. Os preços de janeiro e a bobagem sobre a guerra de Israel não explicam o declínio contínuo e enorme desde agosto do ano passado.

    A “polarização” política diz algo sobre pisos e tetos do prestígio de Lula, não sobre essa baixa de avaliação em pouco mais de meio ano.

    Em agosto de 2023, Lula tinha quase 10 pontos mais de aprovação do que votos no segundo turno —ganhava eleitores da oposição.

    Seu prestígio virou para pior e para o vermelho, com intensidade, entre os eleitores com ensino médio e renda entre dois e cinco salários mínimos, no Sudeste, entre mulheres; ainda mais entre os evangélicos. Essas viradas todas aconteceram entre agosto e outubro.

    “Não é economia, seu burro!”, para inverter o clichê das eleições americanas dos anos 1990. Houve melhoras, na média dos salários: aumento real de 4% nos últimos 12 meses.

    A despesa com o Bolsa Família passou do equivalente a 1,1% do PIB em fevereiro de 2023 para 1,7% em fevereiro de 2024. Houve mais gastos também com benefícios assistenciais (BPC), aumento de salário mínimo e, pois, do piso dos benefícios do INSS.

    O rendimento domiciliar per capita médio cresceu bem, embora ainda não tenha sido divulgada sua distribuição por classe de renda.

    A recuperação teria sido insuficiente ou frustrante?

    A inflação dos alimentos nos últimos 12 meses foi de apenas 0,68%, apesar dos choques do início do ano, por causa do tempo ruim. O aumento nominal (sem descontar a inflação) do salário médio foi de 8,9% nesse período. Mas a comida ainda está cara, embora isso fosse evidente desde meados do ano passado, quando a nota de Lula foi a maior.

    Desde janeiro de 2020, pouco antes da epidemia, os preços de “alimentação no domicílio”, no dizer do IBGE, aumentaram em média mais de 46%; o salário nominal médio, 30,1%. Ainda perde a corrida para a carestia do que se come.

    O Ipea faz uma conta da distribuição de domicílios por faixa de renda do trabalho, baseada na Pnad. A mais recente é do terceiro trimestre de 2023. A fração dos domicílios sem renda do trabalho, de renda muito baixa ou baixa ainda era maior do que no primeiro trimestre de 2020, antes da destruição da epidemia.

    Em resumo, houve melhoras relativas relevantes, embora os estragos das crises ainda sejam evidentes, em especial no preço da comida e no trabalho dos mais pobres.

    No entanto, a aprovação de Lula é mais alta e caiu menos entre quem recebe até dois mínimos por mês: era de 67% em agosto passado (com 27% de desaprovação) e de 59% em fevereiro (38% de desaprovação), ainda assim uma baixa relevante.

    Houve frustração de expectativas? Uma conversa política de redes sociais que não captamos? Com menos imprecisão, dá para chutar apenas que algo mais aconteceu com a imagem de Lula, mas não foi agora.

  5. NA POLÍTICA, NÃO SE VENCE PELO CANSAÇO, por Vera Magalhães, no jornal O Globo

    Fernando Haddad foi o grande destaque positivo no ministério de Lula no primeiro ano do terceiro mandato. Venceu prognósticos negativos para a economia, surpreendeu aqueles que esperavam que ele cerrasse fileiras com a defesa da gastança desenfreada e teve coragem de colocar em curso uma agenda para reduzir benefícios setoriais que reduziam a capacidade arrecadatória da União.

    Não menos notável foi uma mudança de estilo do titular da Fazenda: abandonou o tom professoral com que muitas vezes tentou justificar suas ideias na Prefeitura de São Paulo e arregaçou as mangas da negociação política com o Congresso, considerada por aliados e vereadores na encarnação anterior um de seus pontos fracos.

    Mas, com a Medida Provisória 1.202, o ministro teve uma espécie de “recaída” na teimosia que lhe era atribuída antes de chegar à pasta. O resultado tem sido atraso na implementação de sua própria agenda e a necessidade de recuos que o enfraquecem quando ele mais precisa sair fortalecido.

    Era evidente que insistir na reoneração da folha de pagamento de 17 setores, tentando enfiá-la goela abaixo do Parlamento, não seria uma guerra fácil de ganhar. Fazer isso por meio de uma MP depois de o Congresso derrubar o veto de Lula à desoneração, e nos últimos dias antes da contagem de Feliz Ano-Novo, só piorou o quadro.

    Não foram poucos os avisos para que o governo parasse de insistir em temas que não têm chance de prosperar numa Câmara e num Senado em que sua maioria é flutuante, cara e ainda mais claudicante nos temas que envolvem visão de economia.

    A derrota na tentativa de mudar o Marco do Saneamento, ainda no primeiro semestre de 2023, deveria ter sido um alerta e tanto sobre a necessidade de separar em escaninhos as matérias em que é possível e aquelas em que é infrutífero medir forças com o Legislativo.

    Não bastasse ignorar as evidências, a despeito da sensibilidade que demonstrou ao longo do ano passado para esses temas espinhosos, Haddad ainda dobrou a aposta na receita do desastre ao decidir retirar da MP a reoneração, deixando outros três temas polêmicos não correlatos.

    De novo: a reação negativa ao fim do incentivo para o setor de eventos foi estridente e veio desde antes da virada do ano, mas o ministro resolveu bancar a discussão. No mérito, ele pode ter razão quando diz que o benefício precisa ter um limite temporal e que a necessidade da pandemia não existe mais para justificar uma série de isenções tributárias a empresários que se inscreveram no Perse.

    Mas essas coisas precisam ser mais bem comunicadas e demonstradas para ganhar o apoio da sociedade capaz de ao menos desencorajar o forte lobby que uniu interesses de empresários e parlamentares na defesa empedernida da prorrogação do programa.

    Não ficou claro quem estava certo — Haddad ou Arthur Lira, que se colocou a favor da prorrogação do benefício — quanto ao valor já despendido com o socorro. Também faltou trazer à luz as evidências claras de fraudes no uso dos recursos do incentivo, o que seria capaz de fazer com que os lobistas recuassem.

    Mas pouco foi feito nesse sentido, e Haddad não conseguiu, desta vez, suprir a interdição de diálogo que se instalou entre a Câmara e a articulação política do Palácio do Planalto. Com muitas frentes de batalha simultâneas com a Casa, o resultado é a completa paralisia da pauta econômica. O primeiro trimestre já vai terminando sem que qualquer matéria destinada a aumentar a receita tenha sido votada.

    Nesse aspecto, pelo menos, a situação da Fazenda é confortável. Algumas medidas de 2023 surtiram efeito pontual, e a arrecadação de janeiro e fevereiro surpreendeu a ponto de encher os cofres do Tesouro e injetar otimismo na equipe econômica.

    Mas é preciso entender que não se lida com o Congresso tentando vencer pelo cansaço. Até porque, à frente da Câmara, a mais inquieta das duas Casas, está alguém que já mostrou ter fôlego de gato.

  6. O GOLPINHO DE BOLSONARO, por Elio Gaspari, nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo

    A exumação da tentativa de golpe de Estado de Jair Bolsonaro corre o risco de se transformar num teatro do absurdo, com a reconstrução de algo que não houve. Uma mistura da trama da peça “Esperando Godot”, de Samuel Beckett, com o poema “À espera dos bárbaros”, de Konstantinos Kaváfis. Godot não chega, nem os bárbaros, mas tanto a peça como o poema são obras-primas.

    O golpinho de Jair Bolsonaro bebeu na fonte do golpe de Getúlio Vargas, em 1937. Este foi impecável.

    Primeiro Vargas mandou um emissário aos governadores de sua confiança. Depois, pediu ao ministro da Justiça, Francisco Campos, que redigisse uma nova Constituição. Finalmente, armou o esquema militar com o ministro da Guerra, Eurico Gaspar Dutra, e o condestável do Exército, general Góes Monteiro. Dado o golpe, arrasou as instituições políticas e instalou o Estado Novo, que duraria oito anos.

    O golpe de 1937 de Getúlio Vargas guarda uma diferença essencial com o golpinho de 2022 de Jair Bolsonaro. Ambos queriam o golpe para permanecer no poder, mas, enquanto num caso a eleição só ocorreria em 1938, no outro ela já havia ocorrido, e Bolsonaro perdera. Bota diferença nisso. Querer fazer em dezembro de 2022 o que Vargas fez em 1937 seria transformar uma tartaruga em girafa.

    As necessárias investigações em curso devem responsabilizar quem atravessou as linhas das leis durante o processo eleitoral e mesmo depois dele. Esse é o caso dos articuladores e dos vândalos do 8 de Janeiro, bem como das obstruções de rodovias e das barreiras da Polícia Rodoviária Federal no dia do segundo turno. São delitos concretos, comprováveis. Indo além, entra-se no teatro do absurdo, expondo um golpe que não houve.

    No dia 9 de dezembro de 2022, depois de ter perdido a eleição, Bolsonaro disse: “Vamos vencer, se manifestando de acordo com as nossas leis, vocês são cidadãos de verdade. Está na hora de parar de ser tratado como outra coisa aqui no Brasil. Se Deus quiser, tudo dará certo no momento oportuno!”.

    Pela minuta do golpe, seria decretado o Estado de Defesa, seriam presos ministros do Supremo e parlamentares, anulando o resultado da eleição. Como se conseguiria isso, falta explicar. Seria o golpe de 1937, com Jair Bolsonaro numa reencarnação impossível de Getúlio Vargas e Anderson Torres com o intelecto de Francisco Campos. Isso tudo sem os generais Eurico Dutra e Góes Monteiro.

    No ano do 60º aniversário do golpe de 1964, vale lembrar que Bolsonaro bebeu na fonte de João Goulart em outubro de 1963. Foi quando Jango enviou ao Congresso um pedido de instalação do Estado de Sítio.

    Alceu Amoroso Lima escreveu à filha no dia 1º de outubro:

    — Tudo indica ou um golpe do próprio governo, imitando o Getúlio de 37, ou um choque realmente de extremas, com um golpe de uma delas.

    Três dias depois, com o apoio dos três ministros militares, Jango enviou ao Congresso uma mensagem pedindo o Estado de Sítio. A oposição generalizada, incluindo governadores como o pernambucano Miguel Arraes, esfarelou a manobra e, quatro dias depois, a proposta foi retirada.

    Passado o tempo, o professor Darcy Ribeiro, que ocupava a chefia da Casa Civil, contaria:

    — O que impediu foi que o esquema feito pelos próprios militares não foi cumprido.

    Que esquema? Darcy sabia, mas não quis contar.

  7. OUVIDOS MOUCOS PARA O ROMBO DA PREVIDÊNCIA, por Zeina Latif, no jornal O Globo

    A necessidade de uma nova reforma da Previdência voltou ao radar de especialistas. Vale lembrar que o Brasil gasta cerca de 12% do PIB com a Previdência (total), cifra observada em poucos países, mais ricos e mais velhos — na média da OCDE, a despesa é cerca de 8% do PIB.

    A retórica oficial acerca da reforma de 2019 era grandiosa. Certamente foi um passo largo, mas naturalmente insuficiente.

    Falava-se em “economizar” R$ 800 bilhões em dez anos. Não é bem assim. Tratava-se, na verdade, de medida para conter o crescimento de gastos previdenciários em um país que envelhece rapidamente. E, lamentavelmente, a reforma elevou a judicialização.

    Quase R$30 bilhões de precatórios foram pagos em 2022 no regime geral do setor privado (RGPS) e R$ 57 bilhões em 2023 (impulsionado pela normalização e antecipação de despesas, após o represamento no governo Bolsonaro).

    No nível federal, as despesas previdenciárias caíram para 9,7% do PIB em 2023 (RGPS, servidores e militares), ante 10,4% em 2019. No entanto, houve acréscimo de 0,32 ponto percentual em relação a 2022, o que reflete não apenas fatores pontuais, mas uma tendência altista na ausência de novos ajustes.

    O crescimento no número de beneficiários do RGPS foi muito alto em 2022 (2,8%) e 2023 (3,4%), e ainda maior para beneficiários assistenciais (8,3% e 11,5%), destoando do padrão passado. Em que pese a redução da fila de solicitações pendentes, especialistas apontam que algumas mudanças podem ter aumentado os requerimentos ou mesmo brechas para eventuais fraudes.

    Um outro aspecto é que a reforma evitou pontos sensíveis politicamente, demandando correções.

    Um exemplo foi não ter incluído estados e municípios, estabelecendo apenas a necessidade de reforma posterior. Criou-se, assim, uma colcha de retalhos no tratamento dado ao funcionalismo, que deveria ser uniforme.

    Pior, muitos entes ainda não reformaram sua Previdência — o critério utilizado para considerar a reforma feita é ter adotado ao menos 80% da regra federal. Entre os estados, são sete deles; entre as capitais, 15 não avançaram, o que inclui capitais de estados ricos; e entre os municípios, dos 2.092 com regime próprio, a maioria de 65,4% está em falta.

    A reforma de 2019 também não mudou a idade mínima para trabalhadores rurais, aumentando a diferença em relação aos trabalhadores urbanos. A decisão carece de justificativa técnica, inclusive pela natureza similar de muitos empregos urbanos, apontam Fabio Giambiagi, Rogério Nagamine e Otávio Sidone. E a conta pesa: a receita no segmento cobriu menos de 5% dos gastos em 2023.

    O déficit previdenciário rural atingiu R$177,3 bilhões em 2023, muito acima dos R$129 bilhões do segmento urbano, apesar de beneficiar cerca de um terço das pessoas no RGPS.

    Outra política pública que demanda ajustes é o MEI — trabalhador autônomo que se legaliza como microempreendedor individual, contando com benefícios tributários e menor contribuição previdenciária.

    A renúncia tributária atingiu R$5,2 bilhões em 2023. O número não é elevado, mas não revela o que mais preocupa: o forte aumento do gasto previdenciário contratado. Segundo Nagamine, o MEI representa 10% dos contribuintes da Previdência, mas responde por apenas 1% da arrecadação.

    Isso para uma política pública mal focalizada nos mais pobres e que pouco entregou em termos de reduzir a informalidade de trabalhadores por conta própria.

    A lista segue. As regras para militares continuam muito frouxas, resultando em um rombo da Previdência militar de R$49,7 bilhões em 2023, valor próximo dos R$54,8 bilhões do déficit do regime dos servidores civis (RPPS).

    Há ainda regras especiais para a polícia militar e para professores, o que limita o espaço para o ajuste fiscal dos estados e, de quebra, prejudica a gestão pública pela falta de profissionais na ativa, devido à aposentadoria precoce.

    O atual governo evita o tema e defende apenas o “pente-fino” nos benefícios do INSS. Enquanto isso, a política de correção real do salário mínimo pelo crescimento do PIB agrava o quadro. O aumento de R$ 1 no salário mínimo implica um aumento líquido de R$ 262,9 milhões no déficit do RGPS e de R$ 70,5 milhões nos benefícios assistenciais, segundo o Tesouro.

    São escolhas incompatíveis com a gravidade do problema. O fardo para o próximo governo será bem pesado.

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