OS POLÍTICOS NO PODER DE PLANTÃO EM GASPAR ESTÃO DISSOCIADOS DA REALIDADE DA CIDADE, CIDADÃOS E CIDADÃS. JÁ ESTÃO REFÉNS DO DESTINO.

Há dois ditos populares que refletem bem claramente o que se passa em Gaspar, bem como à forma pela qual os seus políticos, gestores públicos e ausência (omissão, ou medo ou defesa dos interesses) ausência da tal sociedade organizada, tocam, neste momento, administrativamente a cidade. Os poderosos fomentaram tudo isso na tentativa de salvar à própria pele, mas sem olhar o “rebanho”: quem planta ventos colhe tempestade; ou quem planeja tem futuro, que não planeja tem destino. 

Quem é leitor e leitora deste espaço plural, sabe que não se trata de reiterada busca do erro, mas sim, do registro continuado de muitos deles somado ao descaso e à negação deles, ou então da necessária, ou obrigatória correção. Ou seja, há método e ele, infelizmente, está relacionado ao desastre como resultado.

Não vou entulha-lhos com as dúvidas, o caos e o poço sem fundo do Hospital de Gaspar; a crise da Saúde nos postinhos, ou a extensa fila para exames simples. Não vou lhes relembrar que em Gaspar para diminuir um pouco a fila de espera aos filhos dos trabalhadores criou-se a creche de meio expediente; que o Ideb foi para baixo contra o futuro das crianças; que não há contraturno, período integral ou bilíngue; que se faz marquetegem falsa como uma única sala de robótica numa única escola, quasnbdo isso deveria sestar dissiminado.

Não vou discorrer sobre a barafunda que se transformou o Plano Diretor e a ocupação fundiária em Gaspar para favorecer uns e ferrar outros que não estão alinhados com o poder de plantão do passado e do presente. Também, não relembrar como deixaram os cemitérios sem vagas para expulsar os mortos e indignar com mais taxas os vivos.

Muito menos vou relembrar os áudios com conversas cabulosas do faz tudo do prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, e irmão de templo, Jorge Luiz Prucino Pereira, presidente do PSDB, que uma CPI feita sob total segredo na Câmara coinduzida por Ciro André Quintino, MDB, criada pela Bancada do Amém (MDB, PP, PSD, PDT e PSDB) e presidida pelo mais longevo dos vereadores, José Hilário Melato, PP, o inocentou de tudo.

Também não vou voltar a relembrar o gasto milionário sem utilização que solapou o caixa da prefeitura e engordou o da Furb, de Blumenau, na compra daquele terreno da Rua Itajaí, no Sete de Setembro, cujo patrimônio incorporado sobre ele está sendo delapidado; ou do “leilão” terrenos e prédios – nem usados – da prefeitura com zonamentos discriminatórios em terras lindeiras…

Eu e você leitor e leitora, mais do que eu, mesmo estando no governo, ou na prefeitura de Gaspar sabe que esta lista é muito mais longa e enfadonha. Enquanto o governo desdenha os habitantes, nem mesmo a manutenção da cidade está se fazendo mais. Ela está tomada pelo mato nas ruas, lixo no meio-fio e desprezo.

E para piorar, o que já está ruim, nesta lista ainda, o caixa da prefeitura está quebrando ao mesmo tempo em que as faturas de vários empréstimos estão chegando. E mesmo assim, com tantos gastos e dívidas do presente e do futuro, não se viu resultados práticos, modificadores, ou de mínima vanguarda para a população. A quitação dessas prestações, também vai comprometer seriamente os futuros (é no plural mesmo) mandatos dos prefeitos.

Finalmente chego ao ponto deste artigo desta sexta-feira, onde a meteorologia diz que vem mais chuva forte contra nós, para alguns se vestirem de herois abafando o que não foram competentes para fazer pela cidade em dias de tempo bom.

Vou lhe trazer dois relatos.

Eles retratam uma cidade sem comando, liderança, prioridade e resultados diante de novas necessidades e principalmente do crescimento desordenado que desmente a narrativa do planejamento. E se isso não fosse assustador, os que estão na boleia política-administrativo querem a continuação disso tudo, com a desculpa de que sete anos foram poucos para eles. Gente que se dizia nova na política. O que se comprova agora, é que a prática era a mais antiga possível, apenas disfarçada em caras novas ou corpos de jovens.

Enquanto, o governo tapa a boca da imprensa pelo medo, com migalhas e se orgulha de ter o corpo fechado nas instituições de fiscalização, a falta de resultados soma-se aos pequenos e grandes problemas não resolvidos, ampliadas com as promessas não cumpridas

Como possível conter, pois é difícil enganar todos o tempo todo, começam a pipocar, como mais frequência, e um menos de um anos antes das eleições municipais do ano que vem, o que se escondia e só aparecia aqui neste blog e que precisava ser exterminado. Já mostrei em artigos anteriores EM TEMPO DE REDES SOCIAIS ATIVAS, MAS, PRINCIPALMENTE DE APLICATIVOS DE MENSAGENS QUE NÃO PODEM PODE SER CENSURADOS, OS POLÍTICOS CRIAM IMAGEM RUIM  CONTRA ELES PRÓPRIOS E RECLAMAM DOS OUTROS SOBRE OS DESGASTES DELES como esta bolha já estava sendo furada nos aplicativos de mensagens. Agora, o que está perdendo o medo são algumas páginas de redes sociais locais. E os comentários não são nada bons.

A dona prefa, apelido diminutivo com cheiro de mofo que ela própria se deu para se apequenar ainda mais, a liderança política e de comunicação perdeu o total controle na marquetagem fictícia que ensaiou para dopar a cidade, os cidadãos e cidadãs com versículos da boa nova. Estabeleceu-se numa bolha. Demorou e como o previsto, está murchando. Como no caso do hospital que se abafa, não há renovação do oxigênio que a contaminava E quem está murchando-a não é nenhuma oposição, e sim, a realidade do dia-a-dia do governo, dos políticos, dos gestores públicos. Eles estão trabalhando contra quem lhes paga e lhes deu a maioria dos votos: os gasparense.

No Instagram, uma conta denominada de “Gaspar Milgrau” (mas há outras páginas e domínios, que se cansaram de tentar mostrar algo que não fossem problemas entre nós),exibiu na semana passada, sem cortes (e pode ser revisto abaixo), com áudio, como a cidade está jogada as traças. Este caso não é o primeiro, não foi o último, e é repetido, segundo os moradores e comerciantes da localidade, várias vezes por semana. E como este exemplo de afronta a lei, a sinalização, à autoridade e de descontrole, há dezenas que se estampam a toda hora. A cidade tem donos. Meu Deus!

O que está na cena deste vídeo sem montagens? Um caminhão prancha atravessou, na contramão, o binário da Coloninha, sem escolta, não temendo estar cometendo qualquer ilegalidade, ou colocando em risco patrimônio e a vida de pessoas entre as ruas Arnoldo Koch e Prefeito Leopoldo Schramm. Épracabá.

O que este caminhão prancha provou para o prefeito Kleber; para o vice Marcelo de Souza Brick, Patriota, ou PL, sei lá, ou PP, talvez; secretário de Planejamento Territorial, Carlos Bornhausen, MDB; para o secretário de Obras e Serviços Urbanos, Roni Jean Muller, MDB; para o superintendente da a Ditran – Diretoria de Trânsito -, Jamison Francisco do Nascimento, bem como a Bancada do Amém (MDB, PP, PSD, PDT e PSDB)?

Primeiro que o binário com tantas curvas fechadas – estreitas – é uma armadilha e não é capaz de suportar um caminhão prancha. Segundo, que o tal Anel de Contorno está sendo feito a passos de tartaruga e tão caro em lugar prioritariamente errado da cidade; deveria ser entre os bairros Figueira e Gaspar Grande, até por segurança de mobilidade. Terceiro, de que a Ditran é absolutamente dispensável, além de um cabideiro de emprego para os comissionados instalados nelas; e não é deste governo apenas que teve tempo para consertar e se negou a isto; vem desde a época do governo de Pedro Celso Zuchi, PT; que em Gaspar, tudo pode.

E o outro relato? Com a área da Saúde sob questionamento e prestação de serviços reclamados por todos que precisam dele, apesar da dinheirama que se esparrama na área a todo momento; o secretário da Saúde de Gaspar, Santiago Martin Navia, aparece mais nas redes sociais inaugurando obras, ou fiscalizando estágios em algumas, ou qualidade dos serviços em outras. Impressionante.

Então. É hora de quem sopou ventos, colher tempestade. Mas, mais do que isso: sabemos agora a razão pela qual é que estamos reféns do destino, e exatamente porque se passou sete anos falando em planejamento e mostrando quase todos os dias isto fotos nas redes sociais sobre um assunto teórico que não se fez prático à cidade, aos cidadãos e cidadãs. É irônico, é dicotomia, ou narrativa para esconder à incapacidade de planejar, executar, fiscalizar, aperfeiçoar e entregar? Acorda, Gaspar!

TRAPICHE

O ex-secretário de Saúde do governo Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, Patriota, ou PL, sei lá, ou PP, talvez, que também já foi secretário da Saúde de Pedro Celso Zuchi, PT, o vereador Francisco Hostins Júnior, MDB, desapareceu, da noite para o dia, de todas as fotos oficiais.

É que ele está vendo o governo sangrar. E aproveita a maré em que este mesmo governo que serviu com tanta servilidade colocá-lo sob dormência, para dar o pulo do gato e “trocar” de ares. Se não se cuidar, o conselho do ex-primeiro ministro do Brasil, Tancredo de Almeida Neves ainda vai le servir: quando a esperteza é demais elas come o dono.

Francisco Hostins Júnior, MDB, está apenas aguardando a janela de transferência partidária no ano que vem. O plano dele, já não é mais segredo. Ele está mapeado para se filiar ao PL. Dai a geladeira. Ele espera tirar vantagens neste gelo. Vai abrir um novo discurso que quando enxergar que estará fora da fria em que estava medido e na que está se metendo.

Isto se antes, o fogo do MDB não lhe assar como planejam alguns. Poderá, então, ser tarde em desfazer a associação de com o atual governo para o vereador, por exemplo, enterrou a CPI da Drenagem da Rua Frei Solano, no Gasparinho.

Quem também manobra para se distanciar nas fotos oficiais do governo é o mais longevo dos vereadores, José Hilário Melato, PP. Está inventando agendas paralelas e particulares para não ir até inauguração de obras, atos que ultimamente, só se apresentam políticos. Os eleitores e eleitoras estão passando longe.

O julgamento no Tribunal Regional Eleitoral, para cassar a chapa e o mandato do senador Jorge Seif Júnior, PL, deixou exposto o próprio TRE. A relatora admitiu o crime, mas o número de votos interdita a possível condenação e pena. Na verdade, todos sabiam que a tendência do TRE era lavar as mãos neste assunto e deixar a decisão para o Tribunal Superior Eleitoral. Seif ganhou sobrevida até novembro. E ganhará mais alguns meses até subir o processo e ser pautado na corte em Brasília.

Abandonado ou negócio? No terreno milionário que a prefeitura de Gaspar comprou da Furb e deixou ao abandono, esta semana começou a retirada de material de madeira nobra que compunha três estufas de fumo em folha, que pertenceu a estação experimental e fomento da Souza Cruz. Para quem não se lembra, este terreno foi doado há muitos anos pela empresa multinacional à Furb. E esta a vendeu no ano passado à prefeitura de Gaspar.

Ninguém “sabe” de nada. Informado, o secretário de Obras e Serviços Urbanos, Roni Jean Muller, MDB, permaneceu mudo, inclusive para questionamento de vereador. Na Câmara, nenhum Projeto de Lei vindo da prefeitura apareceu para os vereadores autorizarem a venda deste material, ou se leiloar àquela cara e nobre madeira, que é patrimônio do município. Até o fechamento deste artigo, nenhum registro na roubo delegacia de polícia. Tudo a luz do dia. E não é pouca movimentação em local de muito trânsito e vizinhos. Sobram testemunhas. Os políticos se escondendo. Todos ganhando tempo para arrumar desculpas e se safar da culpa. Inacreditável! Acorda, Gaspar!

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9 comentários em “OS POLÍTICOS NO PODER DE PLANTÃO EM GASPAR ESTÃO DISSOCIADOS DA REALIDADE DA CIDADE, CIDADÃOS E CIDADÃS. JÁ ESTÃO REFÉNS DO DESTINO.”

  1. A EMPULHAÇÃO DA SEGURANÇA, por Elio Gaspari, nos jornais O Globo e Folha de S.Paulo

    Pela lógica, os bandidos delinquem, mas não faz sentido que as autoridades federais, estaduais e municipais cultivem a arte de empulhar o público. Depois do que aconteceu no Rio, Lula tirou do baralho a carta dos militares e saiu-se com a seguinte platitude:

    “Eu já conversei com o Flávio Dino e vou conversar com o Múcio (Defesa). Vamos usar a estrutura dos Ministérios da Justiça e da Defesa para ajudar a combater o crime organizado e a milícia no Rio”. Se conversa resolvesse, o crime não estaria solto e se as estruturas existentes servissem para alguma coisa, as milícias e as quadrilhas não teriam chegado ao nível em que estão.

    Coisas como criar (ou extinguir) o Ministério da Segurança Pública, inventar forças-tarefa ou mudanças nas leis são apenas truques verbais.

    A crise da segurança pública não tem bala de prata, mas se os doutores pararem de empulhar, será um bom começo.

    O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, personagem patético e simbólico da desordem geral, proclamou:

    “Zinho, Tandera e Abelha: não descansaremos enquanto não os prendermos.”

    Referia-se aos três chefes de quadrilhas de milicianos e traficantes.

    A biografia da trinca é uma viagem à ruína que Cláudio Castro herdou e ceva.

    Zinho foi preso em 2015, em companhia de um guarda-costas que pertencia aos quadros da Polícia Militar. Além de armas, o miliciano guardava um caderno com parte da contabilidade de seus negócios. Cinco dias depois, ganhou um habeas corpus do plantonista do Tribunal de Justiça.

    Solto, Zinho escafedeu-se. Na segunda-feira passada, a polícia matou seu sobrinho Faustão e deu no que deu. Passa-se assim a outro braço da ruína: o bandido chefia sua milícia porque seus dois irmãos, Carlinhos Três Pontes e Ecko, foram mortos pela polícia.

    Tandera também foi preso, duas vezes. Na primeira, viu-se absolvido. Na segunda, fugiu. Em 2020, a polícia matou 17 pessoas do Bonde do Ecko. Entre eles estava René, um ex-PM que controlava uma franquia da quadrilha em Itaguaí. Tandera ascendeu na hierarquia do grupo e passou também a criar cavalos manga-larga.

    Abelha, o terceiro bandido, é acima de tudo um traficante. Quando esteve na cadeia foi até visitado pelo secretário de Administração Penitenciária do Rio, preso mais tarde pela Polícia Federal. Ele estava encarcerado em 2021 e saiu da cadeia com alvará de soltura falso, carregando consigo um mandado de prisão. Ele teria sido o responsável pela devolução de oito metralhadoras roubadas no Arsenal de São Paulo.

    Os três bandidos mencionados por Cláudio Castro já foram presos. Um fugiu, outro deu um golpe e o terceiro foi libertado por um juiz. Em paralelo à ascensão da trinca, foram mortos pela polícia pelo menos cinco de seus chefes e cerca de 50 “suspeitos” em ações espetaculosas da polícia.

    O PODEROSO DEPUTADO CANELLA

    O governador Cláudio Castro extinguiu a Secretaria de Segurança e trabalha com duas, a Civil e a Militar. Em três anos, Castro teve quatro secretários da Polícia Civil. O terceiro ficou um mês na cadeira e foi dispensado porque não atendia direito aos pedidos de deputados estaduais. Para o lugar, foi o delegado Marcus Amin, vindo da direção do Detran. Foi empossado graças a uma pirueta, pois não preenchia requisitos legais.

    No ano passado, por iniciativa do deputado Márcio Canella, o delegado Amin recebeu a medalha Tiradentes. Até aí, nada demais. Um bom delegado pode dirigir o Detran e ser promovido para a Secretaria da Polícia Civil.

    A coisa complica quando se olha para o padrinho. O deputado tem seu reduto eleitoral na Baixada Fluminense. Entre seus cabos eleitorais na eleição de 2022 estava o miliciano Jura.

    Canella foi o deputado estadual mais votado em 2022, mas nenhum candidato está livre do apoio de um miliciano como Jura, um ex-PM, condenado a 26 anos de prisão em 2014.

    Em julho de 2017, a Justiça colocou o miliciano no regime de prisão semiaberta e ele foi nomeado para a assessoria da Secretaria de Ordem Urbana de Belford Roxo. (O benefício foi suspenso em 2020.)

    A mulher de Jura trabalha no gabinete do deputado Márcio Canella.

    O fundador da milícia de Jura foi profético ao criá-la. Ela se chama “Somos Comunidade”.

    EREMILDO, O IDIOTA

    Eremildo é um idiota e não sai mais de casa desde a hora em que soube que o ministro da Justiça, Flávio Dino, recusou-se a comparecer a uma reunião de colegiado de Segurança Pública porque temia pela sua integridade física.

    No dia seguinte ele foi, mas o cretino acredita que se o ministro da Justiça não se sente seguro para ir ao Congresso, um idiota qualquer, como ele, não deve ir a lugar algum.

    ISRAEL E AS GUERRAS

    Mudaram as guerras e mudou Israel.

    Em julho de 1918, Quentin Roosevelt, filho do ex-presidente americano Theodore Rosevelt, morreu em combate na França, quando seu avião foi derrubado. Seu irmão mais velho, Theodore Jr., lutou nas duas Guerras Mundiais. Na Segunda, de bengala, desembarcou na Normandia com a patente de general em junho de 1944, teve um ataque cardíaco e morreu um mês depois. Na sua tropa estava o sobrinho, Quentin II.

    Em julho de 1943, o enteado do general George Marshall jantou com a família para despedir-se, pois partia com sua tropa para o Norte da África. Marshall era o chefe do Estado-Maior do Exército Americano, um gênio político e militar.

    O padrasto presenteou o jovem com uma garrafa de champanhe que os nazistas haviam roubado aos franceses. Um ano depois, Allen Brown morreu na frente italiana, no comando de um tanque.

    Em julho de 1976, numa ação espetacular, um comando israelense comandado por Yonatan Netanyahu desceu no aeroporto de Entebbe, em Uganda, e libertou 102 reféns de um avião sequestrado. Yonatan foi o único militar do comando morto na operação. Ele tinha 30 anos e havia passado por duas guerras. Era o irmão mais velho de Benjamin Netanyahu.

    Yair Netanyahu, filho do primeiro-ministro israelense, tem 32 anos e é um reservista do exército, mas até o 20º dia da guerra continuava em Miami.

    OUTUBRO DE 1963

    No dia de hoje, há 60 anos, Desmond Fitzgerald, chefe do serviço de Operações Especiais da Cenral Intelligence Agency, encontrou-se num hotel de Paris com o militar cubano Rolando Cubela, que pretendia matar Fidel Castro. Ele pediu um rifle com pontaria telescópica. Marcaram um novo encontro para 22 de novembro.

    Em Washington, a bilionária Bunny Mellon encontrou-se com Jacqueline Kennedy para discutir os detalhes do jardim de rosas que ela havia plantado na Casa Branca.

    Em Dallas, o agente James Hosty, do FBI, finalmente descobriu o paradeiro de Lee Oswald. Dias depois ele bateu na casa e conversou com a russa Marina, mulher de Owald. Cinco dias depois, Hosty confirmou que o ex-fuzileiro naval trabalhava num edifício da cidade, que servia como depósito de livros.

    A essa altura sabia-se que o presidente Kennedy visitaria Dallas no dia 21 ou 22 de novembro. Ele almoçaria lá, mas ainda não estava definido o local. O Serviço Secreto inspecionaria dois lugares. Um deles ficava no caminho do depósito de livros.

  2. CADA UM POR SI, por Merval Pereira, no jornal O Globo

    O Presidente Lula nunca foi cauteloso em suas falas mas, sobretudo em momentos delicados, tinha a preocupação pontual de se conter em situações que poderiam colocar em risco a política econômica de seus governos. No primeiro mandato, contido pelo então ministro da Fazenda Antônio Palocci, conseguiu reverter uma situação delicada mantendo o objetivo de equilíbrio fiscal. No terceiro mandato, parecendo convencido de que tem o direito de dizer o que quer na hora que bem deseja, Lula anuncia ao mundo que seu governo não tem nenhum compromisso com o fim do déficit fiscal.

    Ele nem sequer adiou a meta, defendida com unhas e dentes pelo ministro da Fazenda Fernando Haddad. Já se sabia que Haddad enfrentava fortes barreiras dentro do próprio PT, mas esperava-se que tivesse o apoio de Lula. Com a declaração do presidente em uma coletiva para cerca de 40 jornalistas brasileiros, Lula boicotou seu próprio programa de governo, baseado em promessa inexequível de zerar o déficit público.

    Embora inexequível, era importante que a meta fosse mantida para que houvesse boa vontade do Congresso e do empresariado, e demonstrar que o objetivo seria a base da ação do governo como um todo. Da maneira que o presidente coloca as coisas, cortar investimentos prejudica a economia, abandonar a meta de equilíbrio fiscal, não. Não é assim que a banda toca.

    Ao anunciar que não pretende se empenhar pelo déficit que ele mesmo assumiu como compromisso do seu governo, Lula perde a credibilidade que porventura ainda tenha, e desautoriza o ministro da Fazenda, fingindo que não sabe que as expectativas econômicas influem nos preços e nos resultados. Sua palavra dá respaldo a um grupo do PT, em que se destaca a presidente do partido Gleisi Hoffman, que não acredita em contenção de despesas, mas sim que “gasto é vida”, como já ouvimos a então presidente Dilma Rousseff falar em seu malfadado governo.

    Ao mesmo tempo, abre-se um espaço amplo para que o Centrão, que gosta de um gasto para aumentar seu poder de influência no eleitorado, aprovar pautas bombas como se fossem incentivos ao desenvolvimento do país. Gastos aleatórios do orçamento secreto não levam a nenhum progresso, a não ser o dos “coronéis” políticos. O problema maior do país é que ninguém atua em benefício do coletivo, mas do seu próprio, ou de seu grupo político.

    O governo ajuda o PT, majoritário no Executivo e minoritário no Legislativo. O Centrão trabalha para ampliar seus espaços, o que tem conseguido com êxito nos últimos governos. Quem se espantou com a rapidez com que o Centrão engoliu o governo Bolsonaro, deve estar mais espantado com a rapidez maior ainda com que alcançou seus objetivos num governo de esquerda, menos de um ano depois da posse.

    Os populistas da esquerda unem-se aos da direita com o objetivo de tirar do governo a maior parte do butim possível, como por exemplo no aumento pretendido dos fundos Partidário e Eleitoral; e dividem-se para gastar as verbas orçamentárias de ministérios, autarquias e bancos oficiais, cada qual querendo uma parte maior. Não há como dar certo um governo dividido de tal maneira, sem que haja um objetivo comum que una as forças políticas de um suposto governo de união nacional.

    Lula seria o árbitro para que essa mistura heterogênea desse certo, mas acaba de dar um tiro certeiro no único ministério que tem um projeto, embora não totalmente confiável. O esforço do ministro Fernando Haddad é louvável, mas se ficar aparente o que todos desconfiavam, que não tem o controle do partido como tinha Palocci, não adianta que seja a parte mais modernizadora do partido. Talvez por isso mesmo, esteja sendo alijado.

  3. Os quatro últimos parágrafos devem ser lidos, se você não gosta de ler, ou não consegue ler um artigo até o fim por ter desaprendido diante das pílulas de fake news a que se acostumou na sua rede social

    LULA E A DESINTELIGÊNCIA DO BRASIL, por Vinicius Torres Freire, no jornal Folha de S. Paulo

    Temos uns assuntos importantes e interessantes para discutir, mesmo no universo nada divertido da economia. Mas nunca deixamos de discutir um assunto rudimentar, de resto de maneira tosca: uma dívida pública grande, cara (juros altos) e que é tratada de modo leviano, desinformado, demagógico e burro, ou uma mistura disso tudo.

    A pauta do Congresso, cheia de projetos de estourar déficit e dívida, e a conversa desta sexta-feira (27) do presidente Luiz Inácio Lula da Silva são exemplos desse diversionismo destrutivo. Pior e mais espantoso, Lula assim sabota o próprio governo.

    Há tanto assunto crucial, para o que até o governo pode contribuir.

    Quica na área a bola de uma discussão grande, urgente e de efeitos imediatos e de longo prazo: energia. Qual é o nosso plano? Vamos explorar mais petróleo e evitar que, a partir de 2030, no auge, a produção nacional caia? O que vai ser de etanol e biocombustíveis, com a perspectiva do carro elétrico e outras eletrificações? Haverá um plano de incentivos para o hidrogênio verde? Como vai ser a exploração do lítio? Vamos fazer um pouco de tudo isso? Faz sentido econômico?

    Poderíamos debater os números do Censo, sobre o envelhecimento do país. O que dizem sobre o tamanho da força de trabalho, a taxa de pessoas que trabalham ou procuram emprego e seus efeitos para a economia?

    Educação? Como criar creches e escolas infantis maravilhosas para que crianças pobres cheguem à alfabetização com as mesmas condições das crianças ricas, assim tendo mais oportunidade de ir bem adiante na educação, para citar apenas um benefício?

    SUS? Na surdina, a saúde vai sendo privatizada, o que não é bom para a eficiência geral e para a justiça do sistema. No agregado, na conta final, sistemas públicos são mais eficientes: mais saúde com menos gasto. Nós vamos para a privatização, em um país meio pobre e muito desigual. Vai prestar ainda menos.

    Como conter a emissão de gases de estufa, manter a produtividade agropecuária, utilizar tal programa para o desenvolvimento industrial e tecnológico e, ainda, ganhar algum dinheiro e peso na política externa?

    Etc.

    O país, apesar de em geral avesso a livros, pobrinho e com essa elite econômica tosca, tem gente qualificada bastante para discutir e tocar tais projetos. Com mais inteligência e justiça, arrumamos até recursos para vários deles.

    O que temos discutido? Emenda parlamentar para obra paroquial de parlamentar ferrabrás, quando não negocista, com o que não sobre quase nada para obras que resolvam problemas de fundo, que dirá para desenvolvimento científico e tecnológico, à míngua e mal estruturado.

    Temos discutido como evitar que a Reforma Tributária e o que resta de Orçamento sejam arrebentados. Há lobby ainda maior para que se façam favores a tais e quais empresas, categorias profissionais e para o “desenvolvimento regional” do bolso de quem vive da intermediação ou rapina de tais verbas, de empresas a políticos.

    Agora, depois de algum tempo até contido, o presidente da República vem com essa história de tratar o déficit, a dívida e o próprio plano fiscal de seu governo com descaso escarninho, desinformado e negacionista.

    Em suma, Luiz Inácio Lula da Silva disse que, para ter umas obrazinhas ou sei lá o quê, deixe-se para lá o déficit. Que a meta de déficit zero é “ganância do mercado”, um delírio demagógico.

    Ganância vai haver com esse tipo de conversa: os donos do dinheiro grosso vão cobrar mais caro para financiar déficit e dívida maiores do governo. E assim pagarão mais caro as empresas, os clientes de bancos etc. E assim haverá menos “obras” no país inteiro (o governo federal faz apenas 3% do investimento total do país).

    O desânimo é muito grande.

  4. Carlos Eduardo Bornhausen

    Infelizmente enquanto os políticos vivem cercados pelos seus, dentro de suas bolhas, tudo aqui fora desmorona. Quando questionados, sempre falam de Brasília, como se lá sim, é que acontecessem absurdos. Enquanto nossos políticos não respeitarem o mínimo, nada há de ser diferente. Nossos políticos não tem credibilidade, nossos políticos não tem transparência, nossos políticos não gostam da publicidade (exceto se ela for paga com dinheiro público, ai é a boa publicidade, lê-se tendenciosa), nossos políticos não gostam de serem confrontados ou questionados, até porque, onde já se viu meros eleitores questionando (parece até que esquecem com quem estão falando) os todo poderosos da cidade. Ultimamente a tribuna é farta de discursos superficiais com muitas frases prontas buscando dar desculpas e tirar o “rabo” fora, mesmo estando atolados até o nariz neste lamaçal que a política gasparense se tornou. Tempos difíceis virão e a próxima gestão terá de fazer das tripas coração pra conseguir dar a volta por cima.

  5. PROGRAMA DE GOVERNO? BOBAGEM, por Carlos Alberto Sardenberg, no jornal O Globo

    Todo mundo sabia que o governo não conseguiria zerar o déficit das contas públicas em 2024. Sem drama. No arcabouço fiscal, há previsão de desvios, com regras de correção. Mas havia também uma combinação tácita entre integrantes da equipe econômica e analistas de fora: melhor manter a meta zero porque, sabe como é, aberta uma mínima brecha, passam bilhões de reais.

    Foi exatamente o que fez ontem o presidente Lula. Abriu não uma brecha, mas um janelão. Deixou claro que, para ele, isso de déficit zero é uma bobagem. Ele não tem a menor disposição de cortar gastos, mesmo porque um déficit de 0,5% do PIB “não é nada”.

    Há vários subtextos aí. Primeiro: Lula não acredita que o governo conseguirá arrumar os R$ 168 bilhões em receitas novas para fechar as contas de 2024. Sem essa arrecadação, que o ministro Fernando Haddad busca desesperadamente, restaria a opção de cortar despesas, coisa que o presidente rejeita.

    Logo, haverá déficit. Aquele nada — 0,5% do PIB — dá uns R$ 50 bilhões. Em circunstâncias normais, seria nada mesmo. Se o governo tivesse equilíbrio nas contas. Se a dívida pública estivesse baixa e controlada. Se os juros já estivessem lá embaixo.

    Como é isso mesmo — um enorme “se” —, a confissão de Lula piora as expectativas. Para este ano, a previsão de déficit estava em R$ 110 bilhões, até que, nesta semana, o próprio Ministério da Fazenda admitiu que não contará com algumas receitas esperadas. Mais déficit e, pois, mais dívida. Já entra piorando no próximo ano.

    Daí o segundo subtexto: toda essa conversa de equilíbrio fiscal é só isso mesmo, conversa. Sim, o ministro Haddad parece acreditar sinceramente que pode agregar alguma responsabilidade ao governo.

    Ou, o verbo já deve ir para o passado? Acreditava?

    Pois Lula disse:

    — Não precisamos disso [das metas].

    Não digo que estava na cara, mas, quando se olha o conjunto da obra, o diagnóstico, sim, está na cara. O presidente não tem programa, a não ser fazer o que ele quer. Mesmo que para isso tenha de dar um pedaço para o Centrão de Arthur Lira fazer a sua festa.

    Só nesta semana, vários supostos programas e princípios foram jogados pela janela do Planalto.

    O compromisso era colocar mulheres em posição de comando. E caiu a presidente da Caixa, trocada por um homem. Depois de duas ministras. Explica Lula: os partidos não têm mulher para indicar.

    Na transição, apareceu até um plano nacional de segurança pública. Depois da sequência de crimes na Bahia, veio a explosão no Rio, e o governo federal não tinha nada. Ficaram batendo cabeça. É problema dos governos estaduais, Forças Armadas não podem entrar nisso etc.

    Aí vem o ministro Flávio Dino e anuncia um plano — para daqui a uma semana, claro, mas rigoroso: a Polícia Rodoviária vigiará as estradas; a Aeronáutica, os aeroportos; a Marinha, os portos; o Exército, as fronteiras; a Polícia Federal fará a inteligência para “asfixiar” as finanças do crime.

    Se não era isso, então, faz favor, qual era mesmo o papel dessas instituições todas? O ministro confessa: aqueles órgãos simplesmente não estão cumprindo suas funções. Por pura ineficiência e comodismo.

    Há mais quartéis no Rio que nas fronteiras. Há mais lanchas da Marinha no Rio e noutros litorais do que nos rios da Amazônia e das fronteiras, por onde passam drogas e armas. Não precisa de um plano nacional. Precisa de um governo que coloque as coisas para funcionar. Quer dizer, as coisas corretas.

    Depois de Lula, o pessoal do Centrão já saiu concordando: bobagem mesmo isso de metas fiscais. Se valessem, sabem quais os primeiros alvos de cortes? As emendas parlamentares, o dinheiro do Orçamento que os parlamentares distribuem para sua clientela.

    E só mais uma coisinha, de exemplo. O Centrão de Arthur Lira receberá a Caixa com as vice-presidências. O Centrão, sem Lira, já esteve lá. Geddel Vieira Lima, então MDB, foi vice-presidente da Caixa para assuntos de pessoas jurídicas, de 2011 a 2013. Em 2017, a polícia encontrou R$ 51 milhões em dinheiro vivo, num apartamento usado pelo próprio.

    Ah! Sim, Geddel está solto e apoia Lula.

  6. EERO DE LULA AO MINAR A META, por Álvaro Gribel, no jornal O Globo

    O presidente Lula deu mais uma declaração para dificultar o próprio governo e a vida do ministro Fernando Haddad. Ao dizer ontem que dificilmente a Fazenda irá cumprir a meta de zerar o déficit primário no ano que vem, Lula enfraquece o esforço feito pela pasta para aprovar medidas de arrecadação no Congresso.

    O risco maior para a economia, na verdade, não é o descumprimento da meta, em si, já que o mercado financeiro já “colocou no preço” um déficit em torno de 0,7% do PIB em 2024. O problema irá escalar caso o governo proponha alterar a meta para pior, o que impedirá que os gatilhos de contenção de gastos, previstos no arcabouço fiscal, sejam acionados nos anos seguintes.

    Isso tirará a credibilidade da regra logo de saída, com impacto sobre o dólar, a inflação e a taxa Selic. A prova dos nove tem data marcada: março do ano que vem, quando a Fazenda irá apresentar o relatório bimestral de receitas e despesas de 2024 com prováveis medidas para contingenciamento de despesas.

    ‘NÃO PODE CEDER’

    O economista Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da Warren Rena, com passagens pelo Banco Central e FMI, diz que o risco de alteração da meta já está sendo monitorado com atenção pelo mercado financeiro. “O que todo mundo espera é que a meta seja mantida, para que o arcabouço fiscal seja fortalecido”, disse o economista. Ele lembra que o presidente já causou muito ruído ao ameaçar aumentar a meta de inflação de 2026, mas no fim foi convencido pelo ministro Haddad a manter o percentual em 3%. A decisão permitiu o corte nos juros pelo Banco Central. A expectativa é que o mesmo aconteça agora. “Haddad não pode ceder na meta de primário. Seria um tiro no pé do governo”, defende Goldenstein.

    POLARIZAÇÃO

    A avaliação do cientista político Felipe Nunes, sócio-fundador da consultoria Quaest, é de que a fala de Lula sobre a meta tem objetivo político claro, que é falar com o próprio eleitorado. Esta semana, a pesquisa mostrou que 57% dos que votaram em Lula acham que a economia melhorou, enquanto 56% dos que votaram em Bolsonaro enxergam piora. “Depois de entregar a Caixa para o centrão e aprovar offshore, o natural seria ver Lula continuando a jogar com a agenda do Haddad, o mais importante ministro nesta gestão. A única explicação que encontro pra a mudança de discurso é Lula ter entendido que não terá como atender os dois lados e vai escolher o que o apoiou. Pra entregar mais política social vai ter que furar a meta do arcabouço”, explicou Nunes.

    SEMANA IA BEM

    A semana chegava ao fim com saldo positivo para o governo na economia. A troca na Caixa destravou a pauta no Congresso e permitiu a aprovação do projeto de taxação dos fundos offshore e exclusivos. A sensação na Fazenda era de alívio na última quarta-feira, e aliados do presidente da Câmara, Arthur Lira, não escondiam a satisfação pelo Salão Verde da Casa após a votação. No mercado financeiro, a queda do dólar é entendida como sinal de resiliência da economia brasileira, que vem suportando bem o forte choque financeiro provocado pela alta dos títulos americanos. Isso dá tranquilidade para que o Banco Central continue reduzindo a Selic nas próximas reuniões do Copom. Após a fala de Lula, no entanto, a moeda americana passou a subir e voltou a ser negociada acima de R$ 5.

    PROTEÇÃO CAMBIAL

    Sérgio Goldenstein explica que o fluxo de entrada de dólares permanece forte pela via comercial (contratos de compra ou venda de moeda firmados entre bancos e os exportadores ou importadores) e vem mais do que compensando a saída de dólares pelo canal financeiro este ano. “O dólar está se valorizando globalmente, mas o real está bem comportado. Chegou a bater em R$ 5,20, mas rapidamente voltou para R$ 5. Temos reservas cambais, bom fluxo comercial e dívida externa pequena. O BC não precisou vender reservas até agora, o que é muito positivo”, afirmou.

    BOA NOTÍCIA

    A XP Investimentos revisou de 4,8% para 4,5% sua estimativa para o IPCA deste ano, e já colocou sob viés de baixa o número do ano que vem, hoje em 3,9%. Outra boa notícia é que a inflação dos alimentos em domicílio deve recuar 2% este ano, contra estimativa anterior de -1,2%.

  7. LULA SABOTA O PAÍS, editorial do jornal Folha de S. Paulo

    O ministro Fernando Haddad (Fazenda) tem trabalhado para conter o crescimento de déficit e dívida do governo. Ocupa-se de convencer o Congresso a aprovar aumentos de impostos e de evitar que os parlamentares explodam bombas que abram mais buracos no casco do navio fiscal. Além disso, tenta evitar que seus colegas de ministério contribuam para a detonação.

    Haddad talvez não imaginasse que o próprio presidente da República disparasse um torpedo contra o projeto já não muito rigoroso de estabilização das contas públicas.

    Luiz Inácio Lula da Silva (PT) parecia mais contido e baixara o tom e o número de declarações que, desde a eleição, contribuíram para a alta das taxas de juros. Nesta sexta (27), porém, decidiu perturbar seu governo e o país.

    Em resumo, disse que sua gestão não chegará à meta de déficit primário zero em 2024, o que é opinião quase geral. Mas Lula afirmou que, entre outros motivos, a meta não será cumprida pois não haverá cortes “em investimentos e obras”.

    Para piorar o estrago e demonstrar seu desconhecimento do problema, disse ainda que “o mercado é ganancioso demais e fica cobrando uma meta que eles sabem que não vai ser cumprida”.

    Trata-se de fantasia e desinformação deliberada. Recusar mais déficit não é ganância; ganância com ganhos para os mais ricos haverá com crescimento do déficit. O governo federal terá de expandir a tomada de empréstimos a taxas elevadas —até mesmo por esse tipo de declaração do presidente.

    Os parlamentares, indiferentes ao destino do país e certamente despreocupados com um fracasso do governo, têm proposto, pautado ou aprovado leis para aumentar a despesa ou reduzir a receita.

    Colocam, ou pretendem colocar, na conta federal gastos com servidores estaduais. Prorrogam desonerações para empresas ou benefícios regionais. Querem novos tipos de emendas de pagamento obrigatório. A fala de Lula se junta a esse ímpeto parlamentar destrutivo.

    O presidente parece se comportar como um prefeito desinformado ou um deputado paroquial, para quem governar é inaugurar obras, sem se importar com consequências. Ademais, ainda não parece ter aprendido o efeito pernicioso desse tipo de declaração: governo e país pagarão juros mais altos; a confiança econômica diminuirá.

    De fato, fazer com que receita e despesa se equilibrem no ano que vem, o déficit zero, será difícil. Desprezar uma meta necessária e definida em projeto de lei, porém, cria e antecipa problemas.

    Que fique claro: Lula não está propondo um programa econômico controverso, está sabotando o próprio governo. Além de danoso, é incompreensível.

  8. GOVERNO, LIRA E A LÓGICA DO “QUEM NÃO FAZ, LEVA”, por Vera Magalhães, no jornal O Globo

    O governo capitulou, uma vez mais, à lista dos desejos de Arthur Lira. Mais rápido que a Amazon, o presidente da Câmara entregou o projeto dos fundos em tempo recorde depois de assegurar a presidência da Caixa e negociar as vice-presidências. Como, diga-se, estava acertado desde a reforma ministerial.

    O que isso diz a respeito do apetite do Centrão, muito temos analisado. Mas o que a dinâmica da lirodependência mostra a respeito da capacidade do Executivo de ter um projeto para o país? A resposta é em tudo mais preocupante para Lula que ter de fazer um Pix para o Congresso com mais frequência do que a aprovação tranquila da PEC da Transição permitia antever.

    Preocupante porque mostra que Lula e seus muitos ministros não têm sido capazes de envolver a sociedade — e o Parlamento, que, mesmo famélico, de qualquer maneira espelha essa sociedade — na discussão de um conjunto de propostas para o país.

    Isso ajuda a explicar por que, mesmo com a melhora objetiva de quase todos os indicadores econômicos, da inflação aos juros, passando pelo emprego, a percepção do eleitorado seja de decepção, e a popularidade do presidente e do governo estejam em lenta regressão.

    A ideia de que o Brasil aposentaria o teto de gastos, criaria um novo marco fiscal, praticaria justiça social por meio de um Bolsa Família recomposto e de uma política permanente de valorização do salário mínimo e voltaria a investir em grandes projetos estruturantes deu o empuxo inicial do governo.

    Ao bradar contra o Banco Central e pintar seu presidente, Roberto Campos Neto, como vilão dos juros altos contra a prosperidade lulista, o presidente entendeu perfeitamente que necessitava dessa narrativa para dar sentido à inauguração de seu mandato como a busca pela bonança perdida sob Bolsonaro.

    Funcionou. Fernando Haddad emergiu como o ministro das pautas virtuosas, teve êxito em convencer o Congresso e o mercado da viabilidade de seu desenho de política fiscal, ajudou a impulsionar uma antes desacreditada reforma tributária e venceu o fogo amigo do PT raiz.

    Mas aí o segundo semestre veio com a parte mais difícil: juntar uns dinheiros, aqui e ali, para impedir o arcabouço fiscal de virar um calabouço de credibilidade e popularidade. E até aqui essa engrenagem está amarrada, condicionada às intempéries da agenda pessoal de Lira.

    A saída de cena de Lula por um mês para a recuperação da cirurgia levou a agenda federal a um estado de catalepsia, de que só foi tirada agora graças a mais uma concessão explícita aos caprichos do presidente da Câmara.

    Não é só o fato de o Centrão ter uma fome de anteontem que explica a permanência dessa dinâmica, é justamente o fato de o governo não ter mais muitos projetos a mostrar para seduzir primeiro a sociedade, depois conseguir cabalar apoio congressual a preços mais módicos.

    PAC, Bolsa Família, Minha Casa, Minha Vida, todos esses foram remakes de filmes antigos, que tiveram, nesse relançamento, menos impacto que os originais. Mesmo uma ideia nova e antenada com o momento atual, como o Desenrola, tem alcance ainda reduzido, incapaz de funcionar como catalisador de apoio popular e símbolo para campanhas futuras.

    Se continuar vivendo do passado ou cruzando os dedos para Haddad zerar o déficit no ano que vem e o crescimento se mostrar parrudinho, Lula estará distante daquele encantador de serpentes de outrora, que tinha 80% de aprovação e elegia postes.

    Sem um projeto de país que lhe permita retomar parte do eleitorado de Bolsonaro, o presidente terá de continuar a acender velas no altar de Lira ou de quem lhe suceder. Afinal, na política não existe vácuo e, como no futebol, quem não faz, leva. Quatro anos dessa dinâmica não são o sonho reeleitoral de ninguém.

  9. VOLTA AO PASSADO, editorial do jornal Folha de S. Paulo

    O Ministério da Fazenda e o BNDES, principal banco para investimentos federais, fecharam acordo a fim de adiar a devolução de um saldo de R$ 23 bilhões remanescente de recursos emprestados pelo Tesouro Nacional nos mandatos anteriores do PT que financiaram vultosos empréstimos a empresas.

    Entre 2008 e 2014, o Tesouro repassou cerca de R$ 540 bilhões ao BNDES, que então concedeu empréstimos com juros subsidiados, muitas vezes da ordem de 3% ao ano. A política na época visava fomentar os chamados “campeões nacionais” em vários setores. A contrapartida foi maior dívida púbica e custos para o contribuinte.

    Tomadores notórios foram a JBS e empreiteiras, que usaram os recursos para consolidação —no caso da JBS, tornando-se a maior empresa do mundo no setor frigorífico— e, supostamente, investimentos em infraestrutura. Alguns resultaram em episódios de corrupção.

    Conceder empréstimos com juros artificialmente baixos piorou a situação fiscal e trouxe resultados duvidosos para a economia.

    Não por acaso, a prática foi questionada pelo TCU. Desde 2016, no governo Michel Temer (MDB), os recursos têm sido devolvidos ao Tesouro, abatendo dívida pública. Também foi aprovada uma lei que impede mais subsídios e baliza o crédito novo na TLP, a taxa de longo prazo, que reflete o custo de captação do governo no mercado.

    Desde então, já retornaram R$ 693 bilhões, incluindo juros. Restavam ainda os R$ 23 bilhões, que deveriam ser reembolsados até o final deste ano, mas o cronograma foi ajustado para 2030.

    A mudança segue a diretriz do governo petista de voltar a usar recursos subsidiados. Neste ano, novamente, abriu-se espaço para dinheiro novo a atividades consideradas estratégicas, com juros de 3% ao ano, que refletem a remuneração do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) —parte do qual financia o BNDES, por determinação constitucional.

    Embora os montantes ainda sejam limitados por enquanto, trilha-se novamente o caminho para mais crédito direcionado a setores politicamente influentes. Não será surpresa se outras áreas forem adicionadas adiante.

    O BNDES é um grande formulador de projetos e não há nada de errado em atuar com seus próprios recursos, como nos últimos anos, marcados por ajustes. Mas será um erro voltar atrás, como parece ser a vontade do governo.

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