QUANDO O HOSPITAL DE GASPAR SOB INTERVENÇÃO MUNICIPAL VAI SAIR DA UTI, SER REFERÊNCIA NA ÁREA, UM EXEMPLO DE GESTÃO E TRANSPARÊNCIA PARA O GOVERNO KLEBER?

Há três semanas aqui, reportei que os hospitais de Blumenau estão entre os mais qualificados do mundo, segundo uma pesquisa internacional independente, amplamente divulgada e não contestada até agora. Entre estas referências, vejam só, está o então patinho feio, o Hospital Santo Antônio, filantrópico e de gestão municipalizada – fato por si só, que prova não ser este tipo de gestão um defeito. 

E esta reversão, quase que espetacular de imagem e resultados para a sociedade civil e médica no Santo Antônio, só foi possível, quando a política – por decisão dos próprios políticos e lideranças locais de lá -, o cabideiro de emprego para gente que não é do ramo, o caixinha para pagar jornalistas para falarem bem de prefeito, bem como a politicagem saíram do Hospital, permitindo-se desta forma, à prioridade dele à transparência, ao profissionalismo, à vocação e à tecnologia, a qual se inova a cada dia nesta área vital para a vida de todos nós.

Enquanto isso, por aqui, na Câmara, o vereador Dionísio Luiz Bertoldi, PT, disseca há duas sessões e exatamente na semana da Conferência Muncipal de Saúde com cara de palanque político e não exatamente de avaliação crítica do setor em Gaspar, uma continuada e triste realidade criada e perpetuada no Hospital de Gaspar pelos nossos políticos contra a comunidade, e principalmente, a mais carente e vulnerável. O nosso Hospital está doente. E a comunidade está refém deste tipo de serviço público que gasta muito dinheiro público e entrega pouco em serviços, segurança e qualidade. 

Dionísio – que não é médico, nem da área hospitalar – necropsia um paciente ainda vivo. Ajudado por técnicos da área de gestão, Dionísio compara os números daqui com os do Hospital de Indaial, também sob administração municipal, com UTI de dez leitos como o nosso, numa cidade com população idêntica à nossa, cortada por pela BR 470, onde há  acidentes para socorro emergencial. Nada de achismos. 

Lá, a diretora do Hospital, pelo trabalho que faz e imagem que possui perante a comunidade, até está cotada para ser candidata a prefeito. Aqui, nem se sabe bem quem é o responsável pelo Hospital, que troca de gestores a toda hora assim como de secretário da Saúde. Ou seja, se tudo isso não é proposital para esconder erros, é então um desencontro contra os conceitos de gestão, planejamento, avaliação e resultados. Inacreditável.

Retomo

Para não errar e não fugir da tecnicidade comparativa, os números de ambos os hospitais usados por Dionísio e sua equipe estão nos respectivos portais de transparência. Como aqui, isto parou há mais de dois anos, e só agora, o Ministério Público Estadual acordou naquilo que pactuou como avalista e mandou atualizá-los. Por isso mesmo, Dionísio só pode usar os dados mais recentes disponíveis do Hospital de Gaspar no portal: o primeiro semestre de 2021. Impressionante descaso das autoridades com a cidade, os cidadãos e cidadãs quando se compara com a marquetagem de governo e pessoal nas mídias sociais diariamente.

Impressionante também são os disparatados números quando eles são colocados lado a lado entre os dois hospitais e num mesmo período. Isto já estava bem claro quando o ex-vereador Amauri Bornhausen, PDT, estava vivo, e mesmo sendo da Bancada do Amém, ele a desafiava seus pares – todos calados – e o governo – que sempre tramava vinganças contra ele -, porque Amauri não entendia o montante expressivo de dinheiro que a prefeitura colocava lá, sem retorno e explicações.

Dionísio está fazendo bem, até porque, o restante dos vereadores quando não está quieto diante de tanta revelações estupefacientes, está desinteressado e calado. Um dia faltará ar. Ou quando o ar vier, estará contaminado. E poderá ser tarde e desastroso.

Provavelmente, eles e suas famílias não devem precisar do Hospital de Gaspar, mesmo que emergencialmente. Perigosamente para seus votos, por outro lado, a maioria dos seus eleitores e eleitoras não possui a mesma alternativa de escolha. Então além de ar, também poderão faltar votos.

Se é elogiável à iniciativa de Dionísio depois da morte do vereador Amauri, é de se ressaltar ao mesmo tempo, que, quem iniciou este perverso sistema engolidor de recursos públicos em que se transformou o Hospital de Gaspar foi o PT com o ex-prefeito Pedro Celso Zuchi. Kleber tratou de “relaxar” ou de esfacelar os mecanismos de transparência, sob as mais variadas desculpas. E isto vai lhe custar caro ainda, mas este é outro assunto…

Dionísio, como Amauri fazia, faz questão de ressaltar – como sempre eu sempre reafirmei nas minhas críticas e exposições de fatos reais – que não é contra e não quer o fim do Hospital de Gaspar. Ao contrário. Mas, o silêncio das autoridades, entre elas os vereadores, deixou o Hospital doente e está matando-o para todos os gasparenses, apesar da montanha de dinheiro que se coloca nele.

Voltemos às comparações ao Hospital de Gaspar e de Indaial e que Dionísio pede explicações e não as encontra.

No primeiro semestre de 2021, o Hospital de Gaspar fez uma receita de R$16.786.992,00 e atendeu 19.478 pacientes. Já o Hospital de Indaial, no mesmo período, teve uma receita bem menor, ou seja R$14.914.973,00, mas por outro lado e muito estranhamente, atendeu muitos mais pacientes do que o Hospital de Gaspar: 20.693.

Esta disparidade, ou sinal mais do que vermelho para qualquer gestor privado, ou público em um ambiente competitivo e controlado, foi o custo crescente e sem explicações – até agora – por paciente no Hospital de Gaspar, mostrado na mesma apresentação por Dionísio na Câmara, diante do silêncio da bancada governista: em 2019 foi de R$268,99, em 2021, R$550,84 e galope dos que tocam esta carruagem desembestada, o primeiro semestre de 2021 mostrava à assustadora média de R$872,77, por paciente.

Querem mais uma prova da falta de produtividade, ou de descontrole – e sem explicações – dos números do Hospital de Gaspar quando se compara com um hospital semelhante da região, em cidade do mesmo tamanho e a intervenção municipal é parte da gestão e resultado daquela casa de saúde? Mesmo com mais pessoas, o Hospital de Gaspar tem menor performance na produção. Dois exemplos assustadores.

O Hospital de Gaspar fez 5.222 raio-x e ultrassom; o de Indaial 14.767. O hospital de Gaspar internou 1.412 pesoas, o de Indaial, 2.790 no mesmo semestre. Quer outro dado intrigante e revelador do primeiro semestre de 2021, e que tende ser bem pior em 2022? O Hospital de Gaspar gastou R$7.88.128,00 em horas-médico para atender 19.478 pacientes.

Sabe o que aconteceu no mesmo período com o Hospital de Indaial? Gastou quase R$2 milhões a menos e atendeu muito mais doente. O Hospital de Indaial precisou de R$5.967.449,00 para atender 20.693 pessoas. Alguma coisa não bate. Muito, por outro lado, precisa ser esclarecida e principalmente, mudada.

Uma última observação: ontem a secretária de Saúde, Carmem Zanotto, Cidadania, esteve em Gaspar (foto abaixo). Veio abrir a Conferência Municipal de Saúde. E deu um pulo no Hospital de Gaspar. Estes números do vereador que embalam este artigo não foram mostrados para ela. Ninguém também mostrou este comparativo. Nem, exatamente, o buraco financeiro. E todos, novamente, com o pires na mão. Mas, a secretária possui os números e certamente, como é uma experimentada da área, saberá compará-los. Não com outro hospital de região, mas com a métrica que se exige para este tipo de negócio. Resumindo, antes precisa-se de transparência e se terminar com a sangria. É preciso parar de usar o doente para se perpetuar na doença.

Por outro lado, uma ausência sentida foi a do presidente da Comissão Interventora do Hospital, o secretário de Fazenda e Gestão Administrativa, Jorge Luiz Prucinio Pereira. Sintomático. Acorda, Gaspar!

TRAPICHE

Água e mentes contaminadas. Na quarta-feira foi o Dia Mundial da Água. Em Gaspar, até houve comemorações e publicações oficiais, além disso, a data foi lembrada nas escolas daqui. Isto é uma vergonha. 

O que foi sonegado, escondido e vandalizado? É que Gaspar não possui coleta e tratamento de esgotos – a não ser para o residencial popular da Marinha, uma condição construtiva do governo Federal na reurbanização daquela área de ocupação social no bairro Bela Vista. Nem mesmo aquilo funciona direito. Estamos há 14 anos sob um TAC – Termo de Ajustamento de Conduta – do Ministério Público e que não obriga nenhum governante à nada a favor da Saúde.

Estão se “divertindo” da cara da população quando os governantes e políticos comemoram o Dia Mundial da Água. Antes da água tratada, vem a coleta e o tratamento do esgoto. E que deveria fazer parte, por exemplo Conferência Municipal de Saúde. Coleta e tratamento de esgoto é saúde, é menos custos para se tratar de doenças já superadas, é qualidade de vida.

Quando esta concepção atrasada vai mudar em Gaspar? Quando o cidadão e a cidadã mudar a sua relação com os políticos da cidade.

Por outro lado, de Blumenau, onde há 47% dos esgotos coletados e tratados e pelo pacto já deveria, neste momento, ter mais de 77% – ou seja, 83 mil habitantes não cobertos nesta defasagem, mais que uma população de Gaspar -, veio uma notícia bem preocupante: o Ministério Público denunciou quatro ex-dirigentes do Samae de lá, por suposta improbidade administrativa. Entre eles, está Cleverton João Batista, que hoje é o titular do Samae de Gaspar. Por aqui, todos, como sempre, em silêncio.

Arrumaram uma sala para o vice-prefeito de Gaspar, Marcelo de Souza Brick, PL, ter ao menos um endereço na prefeitura de Gaspar.

Quarta-feira, as obras de revitalização e pavimentação da Rua Prefeito Leopoldo Schramm, no Gaspar Grande, pararam. Supostamente, porque a empreiteira não tinha recebido a parte dela do governo do Estado, pois esta obra está no tal Plano 1000, do governo do estado, criado pelo ex-governador Carlos Moisés da Silva, Republicanos, e aprovado pela Assembleia. Na quinta-feira, houve a retomada de obras em alguns pontos. Um respiro.

Sobre este tal Plano 1.000, que o governador Jorginho Mello, PL, quer colocar na geladeira e que alguns puxa-sacos dele dizem ter sido uma jogada eleitoreira do ex-governador para se reeleger, há três pontos a serem considerados. Primeiro é que o Plano foi aprovado pela Assembleia Legislativa. Segundo, ele foi assinado com o CNPJ do Estado e não com o CPF do ex-governador e nem pode ser o CPF do atual. É para o bem das cidades, cidadãos e cidadãs. O governador Jorginho que não se aprumou no governo do estado está brigando e perdendo espaço nas eleições municipais que estão já então em pleno andamento.

Florianópolis acaba de revisar o seu Plano Diretor. E sob polêmica. Natural. Aqui em Gaspar, esta revisão teria que ter sido feita em 2016, segundo o Estatuto das Cidades. Estamos em 2023 e nada. Por enquanto só polêmicas e incapacidade de atualizar e discutir o futuro da cidade. Os políticos preferem uma legislação dúbia para interpretações bem particulares. Qual a razão disso? O favorecimento, os negócios e principalmente, enquadramento e vingança contra adversários ou críticos. Quando isto vai mudar?

É preciso ficar de olho na recém-criada secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação, tocada por Marcelo Fett. Se o governador Jorginho Mello, PL, não a politizar e permitir a maturação dos projetos – que não virão da noite para o dia -, vai colher resultados que colocarão o estado em processo de competitividade global. As lideranças empreendedoras de Gaspar deveriam acompanhar este processo mais de perto para obter e enxergar oportunidades e benefícios naquilo que se desenvolverá na região.

O ex-prefeito de Gaspar, Adilson Luiz Schmitt, sem partido, ainda sonha em voltar ao MDB, por onde foi eleito em 2004 e de onde saiu sob polêmica das brabas que ele próprio criou, por não ouvir ou mal ouvir. É um sinal de amor antigo ao ver o MDB daqui às traças? É que o partido corre um sério risco de ficar tão inexistente quanto o de Blumenau, a que diz imitar. E está imitando bem.

Adilson tinha um desentendimento político insuperável com o seu ex-sogro, o ex-prefeito Osvaldo Schneider, o Paca. Como ele faleceu…

O estudo da Fiesc e UFSC mostrando o quanto está atrasada a duplicação da BR-470 entre Navegantes e Indaial, deixam expostas duas verdades. A primeira que falta muito para terminar o que se comprometeu lá em 2013 e que custa muito na competitividade catarinense para com os mercados globais. O custo da logística por aqui é hoje 14% do faturamento bruto das empresas. Enquanto isso, nos Estados Unidos, isto é 45% menor.

Hoje, para terminar o que está por fazer, seriam necessários R$458,6 milhões. E precisaria muito mais e não se estaria no atual estágio, se a Assembleia não tivesse aprovado a ideia do ex-governador Carlos Moisés da Silva, Republicanos, de injetar recursos estaduais na duplicação na BR-470. Fato que foi condenado pelo atual governador, por birra e campanha eleitoral, Jorginho Mello, PL.

O PSD está encolhendo. O ex-prefeito de Lages, senador e governador Raimundo Colombo, está à procura de novo partido. Aproveitando: o deputado Ivan Naatz, PL, de Blumenau, já voltou de Portugal para mudar a nova comissão provisória do PL de Gaspar?

E na mesma toada. O prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, virou Jair Messias Bolsonaro, PL. Ao invés do privado, está felicitando pelo aniversário o ex-presidente nas suas redes sociais. Ou seja, está se comunicando não exatamente com Bolsonaro, mas com os bolsonaristas. Essa gente…

As escolhas da Ditran, levam ao erro dos motoristas. A Ditran de Gaspar é feita para protegê-los e não para deixá-los confusos. Veja estas duas placas na foto ao lado no recém e polêmico modificação acesso ao bairro Sete de Setembro, da Avenida Francisco Mastella, para a Rua Olga Wehmuth.

Qual delas vale, afinal? Acorda, Gaspar!

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7 comentários em “QUANDO O HOSPITAL DE GASPAR SOB INTERVENÇÃO MUNICIPAL VAI SAIR DA UTI, SER REFERÊNCIA NA ÁREA, UM EXEMPLO DE GESTÃO E TRANSPARÊNCIA PARA O GOVERNO KLEBER?”

  1. Sobre o Hospital de Gaspar, e seus grandes gastos com equipe médica e gestão, fica fácil vincular o motivo quando o dono da empresa prestadora de serviços Prime e IESA é Josué Sommer, amigo íntimo de Jorge Pereira e o quarto principalmente doador da campanha de Ismael…. Ambas as empresas hoje detém os maiores contratos de prestação de serviços do local.

    1. Engraçado, todos sabem disso no poder de plantão, usufruem e comemoram o corpo fechado onde nem polícia, nem ministério público e nem justiça entra. Conivência, omissão ou incompetência mesmo?

  2. Temos uma coleta para inglês de ver de lixo reciclável, quem dirá de esgoto.
    Hospital, triste retrato da incompetência dos que se dizem competentes.

  3. LULA, MORO E OUTRAS CRISES INÚTEIS, por Vinicius Torres Freire, no jornal Folha de S. Paulo

    Luiz Inácio Lula da Silva disse que uma conspiração assassina do PCC seria armação de Sergio Moro, ora senador (União Brasil-PR). Se o presidente se sente à vontade de dizer tal coisa, o que mais pode dizer? De algum modo, se sentiu inimputável, de caso pensado ou por falta de noção, como diz o povo.

    O assunto preocupa até quem se ocupa no mais das vezes de economia. São aqueles que já viram o presidente dar tantos tiros no pé desde novembro, mesmo antes de tomar posse. Seja o caso de soberba terminal ou de autoconfiança desinformada e inconsequente, o que mais pode vir?

    Não é uma questão menor, nem do espírito de porco oposicionista. Muita gente preocupada com o futuro deste governo, até por afinidade ou compromisso, ficou pasma.

    Um otimista dirá que foi um lapso grave. Um cético vai se perguntar se Lula se julga acima do bem e do mal. Estaria ainda mais olímpico porque neste seu terceiro governo e no seu partido não há mais, nem de longe, figura que conteste suas vontades ou o alerte para consequências do que faz e diz. Pelo que diz gente graúda do Congresso, Lula tem reagido muito mal se contrariado.

    O disparate de Lula tem vários aspectos, não importa o que se pense de Moro e sua ficha corrida. Primeiro, é uma acusação grave e sem provas, difundida à maneira de demagogos paranoicos ou conspirativos. Algo como “não vou dizer, não sei, não tenho provas, mas acho, parece evidente, ouvi dizer…”. Já ouvimos isso.

    Nas palavras de Lula: “Eu não vou falar porque acho que é mais uma armação do Moro. Quero ser cauteloso, vou descobrir o que aconteceu. É visível que é uma armação do Moro”. Sem querer, querendo, já disse tudo.

    Segundo, é uma gafe política séria. Lula deu assunto para hordas bolsonaristas, que andavam acuadas pelo levante de 8 de janeiro, pelo sumiço medroso do líder da seita e pelo contrabando de joias da família.

    Lula tem a tarefa imensa de desbolsonarizar o país. Isso quer dizer conter o golpismo, a ignorância, a mentira, a desrazão e a propaganda da violência e da discriminação, ao mesmo tempo em que se procura convencer cidadãos a sair das trevas (a “pacificação”). Além do mais, quase metade do eleitorado tem tamanha aversão a Lula que votou em Jair Bolsonaro.

    No entanto, Lula rapidamente perde votos de confiança de que possa cumprir a tarefa; a ideia de “frente ampla” pega mofo. Pior, compra brigas sem sentido ou o faz de modo contraproducente, como na política econômica até aqui.

    Lula 3 não tem a popularidade de Lula 2 e dificilmente terá, dada da ascensão da extrema direita. Terá o Congresso mais avesso a sua figura e ideias. Mais do que isso: um Congresso que se acostumou a mandar mais.

    Lula 3 não terá o Orçamento dos anos melhores dos seus dois primeiros governos. Neste início de mandato, o mundo embica para um biênio de estagnação ou mediocridade econômica.

    Por mais que seja bem-sucedido, não haverá novidade grande como um Bolsa Família ou a recuperação do salário mínimo. A melhoria social, mais do que nunca, terá de vir por crescimento acelerado, o que não está à vista nos próximos dois anos, sendo otimista.

    Lula termina seu primeiro trimestre com um Congresso inquieto, querendo sua parte no butim e dividido por intrigas de seus mandarins. Provoca tumulto econômico a troco de nada, a não ser piora das condições financeiras. Partes de seu governo ainda estão travadas por falta de quadros ou projetos. Ministros maiores disputam quem manda. Alguns fritam Fernando Haddad.

    Sim, são apenas três meses de governo. Não daria para criar grande coisa. Mas para que criar tanta crise inútil? Se é que a pergunta cabe: Lula sabe o que faz?

  4. EM BOCA FECHADA NÃO ENTRA MOSCA, por Eliane Cantanhede, no jornal O Estado de S. Paulo

    Na mesma semana, o presidente Lula surpreendeu os meios políticos, jurídicos e diplomáticos ao fazer ao menos duas acusações graves, sem provas, imprudentemente. A primeira atingiu os Estados Unidos, um parceiro fundamental. A segunda foi contra o ex-juiz, ex-ministro e agora senador Sérgio Moro, mas os estilhaços vão longe.

    Ao vento, do nada, Lula acusou o Departamento de Justiça dos EUA de um conluio com a Lava Jato para prejudicar as empreiteiras brasileiras em licitações internacionais. Uma história rocambolesca, sem pé nem cabeça, dessas que qualquer um pode lançar numa mesa de bar, numa roda de amigos, mas o presidente?

    Ele já vinha espancando o Banco Central e mandou rasgar os livros de economia e a acusação foi feita às vésperas da viagem à China, que vive momentos tensos com os EUA. A reação oscila entre o choque e o constrangimento, com uma pergunta pairando nos ar: O que está acontecendo com o Lula?

    EUA e China são as duas maiores potências do mundo e essenciais para o Brasil. Além disso, o governo Joe Biden fez uma defesa enfática das eleições e das urnas eletrônicas e cumpriu a promessa de reconhecer rapidamente a vitória do vencedor – torcendo, por baixo dos panos, mas nem tanto, para Lula. Logo, é um aliado. Precisa ser tratado como aliado.

    Não satisfeito, o presidente se saiu com a história de que a articulação do PCC para matar Moro, sua família e o promotor Lincoln Gakiya foi “armação do Moro”! É irresponsável, ridiculariza a Polícia Federal, que detectou e agiu tempestivamente contra a audácia do crime organizado, e tem um efeito colateral: dá holofotes a Moro.

    Ninguém fala o que quer, na hora que bem entende, sem pesar as consequências. Isso vale principalmente para um presidente, mas Lula tem quebrado essa regra básica com certa frequência, preocupando o seu entorno, gerando críticas diplomáticas, atiçando a oposição e, claro, ganhando espaço negativo na mídia.

    Também é mais do que compreensível que, depois de tudo o que passou, a prisão, a morte do neto…, Lula chore num discurso, num evento. Mas, se ele chora tanto, tão seguidamente, começa a gerar um zunzunzum incômodo sobre as condições emocionais de um presidente que volta para um terceiro mandato num País e um mundo diferentes – e mais hostis.

    Por falar em hostilidade, Lula, o governo e o PT jogam toda a culpa dos juros estratosféricos no BC, mas manifestações infelizes do presidente e insegurança na economia assustam investidores, pressionam a inflação e impactam nos juros. Transformar o BC em vilão número 1 vai resolver?

  5. O ERRO DE APOSTAR TUDO NA POLARIZAÇÃO, por Vera Magalhães, no jornal O Globo

    Lula decidiu enveredar por um caminho perigoso, passado o momento de união de esforços dos Poderes e das demais instituições em reação ao 8 de Janeiro. Em vez de investir em distensionar o ambiente político e isolar o extremismo, achou por bem reforçar, a cada declaração, a polarização, mantendo o fantasma de Jair Bolsonaro vivo, por entender que ele lhe é favorável na comparação, e trazendo Sergio Moro para a ribalta enquanto o ex-juiz andava bastante apagado, tentando ainda se ambientar ao Senado.

    O contraste com Bolsonaro funcionou por um tempo, porque começaram a sair do armário esqueletos ainda mais bizarros que os conhecidos nos últimos quatro anos. Mas não é um supertrunfo que se possa usar a cada rodada ao longo do tempo de um mandato presidencial.

    A segunda decisão — evocar Moro e o período em que ficou preso — já começou torta, se mostrou um erro de timing quando, no dia seguinte, foi deflagrada uma operação da Polícia Federal para prender acusados de tramar a morte do senador e, por fim, descambou para o desastre ontem com a declaração leviana do presidente de que o adversário haveria tramado a história toda.

    É de extrema gravidade que uma facção criminosa que comanda o narcotráfico, os presídios e tem conexões financeiras internacionais trame ataques simultâneos contra autoridades e figuras públicas como forma de mostrar força e afrontar o Estado Democrático de Direito.

    Se essa autoridade é Moro ou alguém da esquerda, não importa. Ao chefe de Estado, cabe delegar a investigação a quem de direito: Ministério da Justiça, Polícia Federal, Ministério Público. A partir do momento em que adere sem titubear à propagação de fake news com tons de teoria da conspiração, Lula se iguala ao pior do bolsonarismo, que na véspera havia feito o mesmo com sinal trocado.

    É ao cultivar essa polarização odienta, achando que terá ganhos com isso, que o presidente corre o risco de cometer seu erro capital já na largada do governo. Quem vence a eleição e toma posse precisa dizer ao país a que veio, qual o projeto, o rumo, a agenda. Até aqui não se viu isso nesta gestão, pelo contrário.

    Na economia, na ausência de norte, o Banco Central foi escolhido como Judas a malhar, numa estratégia que lembra a de Bolsonaro contra o Supremo Tribunal Federal, como disse o economista Marcos Mendes em entrevista ao podcast 2+1 ontem.

    Na política, o governo está sem eira nem beira no Congresso, à deriva diante da interdição da pauta promovida por Arthur Lira, a que Lula não consegue se contrapor porque não dispõe de base parlamentar sólida. Daí vem o questionamento óbvio: se não consegue sequer colocar as medidas provisórias para ser analisadas, como o governo conseguirá rever a autonomia do Banco Central ou aprovar o marco fiscal?

    De nada adiantará a ala política do governo gastar munição e saliva atirando contra o BC ou, pior, contra o próprio Fernando Haddad, se esse pecado original não for sanado. Alexandre Padilha, que vem tendo atuação bastante moderada, agindo como algodão entre cristais nas brigas entre a ala política e a econômica e entre Lira e Rodrigo Pacheco, precisa mostrar que tem garrafas para vender, sob pena de ser a próxima vítima na fritura em óleo quente.

    Diante de tantas arestas a aparar, Lula ficar no palanque chamando ora Bolsonaro, ora Campos Neto, ora Moro (para que mesmo?) para o ringue não parece ser algo com potencial de agradar nem a seu próprio cercadinho. Para o governo dar certo, precisa haver normalidade institucional, até para blindar o país contra a volta do bolsonarismo, e prosperidade econômica. As duas coisas são o oposto do que a retórica presidencial que parece contaminada pela polarização promove.

  6. LULA SÓ TEM A PERDER, editorial do jornal Folha de S. Paulo

    Ao manter sua taxa de juros em 13,75% ao ano, o Banco Central apenas confirmou sinalizações recentes de que ainda não estão dadas as condições para o afrouxamento da política monetária.

    Não deixou de ser surpresa, no entanto, o tom duro do comunicado da decisão, no qual não se vê nenhuma concessão às pressões descabidas do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pela queda da Selic.

    Ao contrário, o Comitê de Política Monetária reafirma os riscos altistas para a inflação, que derivam principalmente da incerteza ainda existente sobre a nova regra fiscal e do continuado aumento das expectativas para a variação dos preços. Nesse cenário, aponta o texto, os juros podem até mesmo subir.

    Nem deveria ser necessária mais essa prova da inutilidade da gritaria petista contra o BC. Até se entende, por uma lógica mesquinha, que governo e partido procurem um bode expiatório para um desempenho sofrível da economia neste ano. A insistência numa ofensiva irracional, porém, ameaça provocar danos mais duradouros.

    Sem ter tomado medidas importantes desde a posse, Lula só sinaliza desorientação ao empenhar-se numa batalha inglória. O BC é autônomo por lei, e o Planalto, tudo indica, não dispõe de votos para mudar tal condição ou para derrubar o presidente do órgão —e, se conseguisse fazê-lo, as consequências seriam desastrosas.

    Decisões de política monetária não são ciência exata, como é evidente, mas o governo tem responsabilidades mais elevadas do que fazer oposição a uma instituição pública. Ademais, as razões expostas pelo Copom são consistentes.

    As projeções para o IPCA subiram de 5,6% para 5,8% neste ano e de 3,4% para 3,6% em 2024, mesmo com desaceleração do PIB. A meta de 3,25% neste ano não será atingida, todos sabem, mas é preciso trabalhar para que o índice caminhe aos 3% desejados no próximo.

    Persistem, além disso, as dúvidas quanto ao compromisso do governo com o reequilíbrio do Orçamento e o controle da dívida pública. A regra fiscal proposta pelo ministro Fernando Haddad, da Fazenda, sofreu uma série de ataques petistas e teve seu anúncio adiado.

    O governo insistiu na tolice de criticar o BC após o anúncio dos juros. Haddad, um dos mais moderados, classificou a decisão como muito preocupante.

    Já Lula retomou a hostilidade direta ao presidente do órgão, Roberto Campos Neto, a quem tratou de “esse cidadão” e acusou de não estar desempenhando as funções do cargo definidas em lei.

    O petista desperdiçou mais uma oportunidade de contribuir com atos —como o compromisso com a responsabilidade orçamentária— para a queda dos juros.

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