OS “ÇÁBIOS” DE KLEBER E MARCELO ENTRARAM NO MODO DO DILEMA DO FILME “SOFIA”. ESTÃO MATANDO A PRÓPRIA IMAGEM QUE CRIARAM NA PROPAGANDA GOVERNAMENTAL

Todos estão publicando, inclusive regionalmente, como novidade, incluindo as redes sociais do círculo do PL, que o delegado Paulo Norberto Koerich foi a Florianópolis na quarta-feira à noite para assinar no PL e ter a ficha abonada pelo governador Jorginho Melo, PL. Há meses, publico e mantenho que isso já aconteceu no ano passado. A falta de transparência e verdade engoliu o atual governo. Aprendizado zero a quem se candidata e quer ser governo no lugar do que está aí e há um sentimento generalizado para mudar. É uma sinalização errada esta de criar e perpetuar uma narrativa diferente dos fatos reais. E exatamente quando se apresenta o candidato como o das mudanças ao que está aí? Hum!

Todos estão publicando que o engenheiro Rodrigo Boeing Althoff, PL, que teve 22,21% dos votos válidos em 2020 na corrida pela prefeitura de Gaspar será o par de Paulo Norberto Koerich neste seis de outubro. E será. Mas, a vice que até então não admitia. Está pagando pelo sumiço de quase três anos como também escrevi isso aqui e ele resolveu brincar com coisa séria. Este espaço de candidato titular era dele. Ele o perdeu. Simples assim!

E isto não será desenrolado, na terça-feira, dia 26, a simbólica Semana da Paixão de traição, crucificação e ressureição. Jorginho virá aqui na Comunidade São Cristóvão – padroeiro do bom condutor e reduto de Paulo no Gaspar Grande – para as 19h22min sagrar tudo isso para a comunidade.

Por outro lado, Rodrigo já mudou o discurso depois do encontro de quarta-feira a noite em Florianópolis. E isso é bom. Mostra ao público, pelo menos, coesão de propósitos. Com o governador, Paulo e Rodrigo, estavam empresários, os mesmos que levaram Kleber Edson Wan Dall, MDB, Luiz Carlos Spengler Filho, PP, Marcelo de Souza Brick, PP e até Pedro Celso Zuchi, PT, ao poder no passado. Isto não é bom. E todos sabem disso. Mas, insistem. Então… 

Vou esperar este caminhão de melancias andar mais. Há mais coisas para se ajeitarem nele. Algumas já comentei. Outras estão em curso em frenéticas conversas, traições e calça-pés em Florianópolis, Brasília, Blumenau e arredores. Aquilo que os políticos, candidatos e poderosos não querem que a cidade conheça, mas os cidadãos e cidadãs, ficam sabendo por aqui. E eu, ao final, o carteiro, que sou tratado como culpado das mensagens das cartas. Estou acostumado.

E por que vou esperar? Dar chance a imprensa. E principalmente, para não me desviar daquilo no que a cidade virou e colocou o entorno de Kleber, Luiz Carlos e Marcelo como tóxico, a ponto da sucessão do atual governo ser uma miragem, apesar de tanta comunicação, marketing e uso exagerado (e errado) das mídias sociais. Dinheiro público desperdiçado.

ÁREAS DE LAZER NOVINHAS PARA O MARKETING E CORTINAS DE FUMAÇA. ANTIGAS ABANDONADAS

Hoje trato de algo recorrente do atual governo liderado há mais de sete anos por Kleber. O do “Avança Gaspar“, mas que ao final do mandato, teve que se contentar com o avanço do capim na “Capital Nacional da Moda Infantil”. Afinal, depois de 90 anos de emancipação de Blumenau, como insiste a nova propaganda oficial, “ser feliz é viver aqui”.

Então, vou pinçar o discurso do único vereador de oposição – dos 13 -, Dionísio Luiz Bertoldi, PT, na sessão do dia 13. Ou seja, faz tempo. Ninguém escreveu ou falou nada disso, até ontem em Gaspar. Mas, ele bem revela o dilema do filme “Sofia” contra o governo Kleber, Marcelo e da poderosa coligação MDB, PP, PSD, PDT e PSDB de apoio que está no governo. Ela na Câmara, faz barba, cabelo, bigode e sovaco a favor do poder de plantão.

O que trata o dilema do filme “Sofia”? Uma mãe polonesa, filha de pai antissemita, presa num campo de concentração durante a Segunda Guerra é forçada por um soldado nazista a escolher um de seus dois filhos para ser morto. Se ela se recusasse a escolher um, ambos seriam mortos.

Pois é. Em final de mandato, Kleber e Marcelo estão escolhendo entre os filhos que querem mortos, para salvar ao menos outros que fazem nascer por estes dias na marquetagem da salvação.

Neste final de semana, o governo de Kleber, Marcelo e da Bancado do Amém, inaugura a 12ª área de Lazer das 31 que projetou e prometeu entregá-las à cidade. Noves, fora, falta muito para chegar nesta meta. 

O novo parque infantil estará sendo liberado com uma programação festiva no Parque Náutico da Rua Itajaí, alí ao lado da Ponte do Vale. Esta obra “anda” a passos de tartaruga e faz anos. Era um lugar para os riquinhos se esbaldarem com seus iates, veleiros, motonáuticas em meio a um rio poluído, que por falta de coleta e tratamento de esgotos, recebe essa nódoa ambiental de todos os tipos de dejetos dos gassparenses. 

Confira você mesmo, a diferença na foto (acima) do que a prefeitura distribuiu com o press release eletrônico esta semana sobre a área de lazer que vai ser entregue neste sábado à tarde e a compare com a ilustração marqueteira (abaixo) feita para ser um sonho, o tal “Parque Náutico” que o mesmo governo de Kleber vendeu na marquetagem bem peculiar dele. A diferença é enorme. Esta é a marca do atual governo: sonhos e realidades sempre divergentes. E ele ainda diz, como aconteceu em recente reunião depois de “descobrir” que estavava sendo muito mal avaliado nas pesquisas qualitativas, que não “entende” o sentimento popular depois de mais de sete anos de mandato.

Se Kleber e Marcelo estão apenas entregando a área de lazer voltada ao público infantil no “Parque Náutico”, principalmente, é porque a conclusão desse Parque Náutico está comprometida.

Porque se ele vai ser concluído ainda neste fim de mandato, qual a razão para não inaugurar juntos os dois juntos equipamentos (o pier e a área de lazer) e lá próximo as eleições, antes do Dia das Crianças, 12 de outubro, pois as eleições são no dia seis de outubro? Ou a decisão é uma retaliação aos riquinhos e empresários apoiadores de duas campanhas de Kleber, mas já estão em outro projeto político para continuar no poder de plantão com a marca franquia da moda, a do 22? Ai, ai, ai.

Voltando,

O governo de Kleber e Marcelo está preocupado em entregar novas áreas de lazer. Foi isso, aliás, que Kleber detectou em pesquisa e prometeu suprir esta carência comunitária há oito anos. Todavia, só agora que elas estão sendo entregues e a lista não se completará. Incrivelmente, elas também estão se tornando um problema para o próprio governo e em parte, sem culpa a dele, ressalte-se, principalmente no que toca ao vandalismo. 

É que sem uma aliança com as comunidades, associações de bairros, somada à praticamente inexistente equipe de manutenção própria ou terceirizada, vigilância terceirizada e monitoramento eletrônico para inibir e identificar os maus comportamentos, inclusive de adultos, esses equipamentos públicos estão se deteriorando rapidamente, quando não, criminosamente, sob à rotineira impunidade, estão sendo vandalizados. Isto para não citar, que em muitos desses locais, e em determinadas horas, é um ponto de consumo de drogas.

CEU OU INFERNO?

E há queixas. Contra a prefeitura, o governo e os políticos que colocaram a cabeça de fora neste ano para pedir votos.

Esta é uma marca de governo de Kleber e Marcelo e um dado alarmante: a falta de manutenção da cidade. Foi o que revelou o vereador Dionísio e cujas fotos abrem e encerram este artigo.

Dionísio foi até a Praça CEU (Centro de Artes e Esportes Unificados) Zilda Arns Neumann. Ela é mais completa do que uma simples área de lazer. O que ele viu e documentou lá é assustador, tanto quanto o abandono irresponsável do Centro de Referência Maria Henricks, que era um refúgio de contraturno escolar e atividades sociais, numa cidade sem contraturno e turno integral às crianças. Impressionante. Um governo que não preserva àquilo entregue por outros governos e equipamentos referências, feitos com o pesado impostos de todos os brasileiros.

No CEU, Dionísio viu a quadra esportiva em total deterioração. As traves de futebol estão amarradas em arames para impedir a queda e acidentes graves contra crianças. As cestas de basquete (foto que abre o artigo) igualmente, sem que isso mereça uma interdição para um local tão perigoso e contra a integridade física das crianças. Afinal, onde estão os responsáveis por tutelarem à integridade física das crianças em locais públicos em Gaspar, se os gestores públicos negligenciam isso como se fosse uma rotina?

O parque e a pista de skate do CEU estão tomados pelo mato. “A estrutura encontra-se em frangalhos, com as paredes descascando. A porta do auditório de teatro está vandalizada” relatou o vereador Dionísio no discurso que fez na Câmara mostrando quase uma dezena de fotos que ele próprio as fez. Dionísio aliás, não pôde acessar o espaço interno, porque um funcionário comissionado, puxa-saco, disse que ele – e outros – só poderia entrar com autorização pessoal do prefeito Kleber ou do vice Marcelo. 

Cumuéqueé? 

Estes problemas são antigos e já foram denunciados. Nenhuma solução desde então. Em dezembro de 2022, o próprio vereador já havia fiscalizado o espaço e relatado o descaso em suas redes sociais.Um ano e três meses depois, a situação do local só piorou“. concluiu. Resumindo e caminhando para o encerramento: manutenção necessária e obrigatória não dá marquetagem ao político no poder de plantão. 

O próprio ex-prefeito Pedro Celso Zuchi, PT, dá vários exemplos disso. Entre eles, quando ele resolveu desmoralizar uma juíza Ana Paulo Amaro da Silveira, que ficou na comarca por onze anos.

E ele só fez isso, porque Ana Paula foi demandada por denúncia do Ministério Público e que se baseou, vejam só, em laudos da própria Defesa Civil do governo petista e que colocavam em dúvidas técnicas a integridade da ponte para a população.

A sentença da Juíza obrigou o prefeito a interditá-la e reformá-la, sentença confirmada pelo Tribunal de Justiça. Na época, era única ponte da cidade entre os dois lados da cidade, a Hercílio Deecke.

Os políticos preferem o supostamente “novo” para alimentar à falsa propaganda de “realizador”. Um erro indesculpável. Como Kleber, Marcelo e até Zuchi, tornam-se, com isso, sucateadores ao não propor o equilíbrio entre o novo, e a manutenção daquilo que foi novo e rendeu um dia fotos, foguetórios, discursos e placas. Acorda, Gaspar!

TRAPICHE

O tamanho do rombo. Até quinta-feira passada havia sido protocolada na Câmara de Gaspar, 231 indicações. Noventa por cento delas se referia a assuntos ligados à manutenção da cidade. Quer ver a diferença? Em período igual no ano passado foram 117, das 865 protocoladas durante todo ano de 2023. 

O que mostra isto? Que há mais problemas em Gaspar, ou que os vereadores governistas, que são pelo onze dos 13 vereadores, estão se protegendo em ano de eleições e lavando as mãos. Fazem a indicação e mandam o papelinho para os munícipes, os quais não têm mais onde bater para pedir soluções. Resumindo: tentam lavar as mãos. “Pedi ao governo ao qual estou atrelado e ele não deu bola para mim e para você munícipe”. Este é o recado com esta atitude.

É por isso, que todas as pesquisas qualitativas que se façam na cidade, sugerem mudanças. Qual a consequência disso? Uma parcela significativa dos atuais vereadores governistas nem vai concorrer vai neste seis de outubro. Sacaram que foram sacados por serem obrigados ao cabresto silencioso.

Quem está comemorando a ida do engenheiro Rodrigo Boeing Althoff, PL, para ser vice de Paulo Norberto Koerich, PL, é o deputado Ivan Naatz, PL, de Blumenau, ex-amigo e companheiro de PV. Naatz ainda mexe os pauzinhos nos bastidores para retirar Rodrigo até da vice candidatura. Nada de disfarces.

Quem vai lançar na segunda-feira a sua candidatura a prefeito de Gaspar pelo partido Novo, é o serventuário da Justiça Estadual (meirinho), Ednei de Souza. Vou lutar contra o sistema“, justifica-se. Resta saber se ele terá coragem de apontar claramente o que é o sistema em Gaspar.

Está marcado para quinta-feira dia quatro de abril, no Superior Tribunal Eleitoral, em Brasília, o julgamento do recurso do processo que pede a cassação do senador Jorge Seift Júnior, PL. Aqui no Tribunal Regional Eleitoral este pedido foi rejeitado, mas no TSE, se valer julgamentos anteriores e assemelhados, a chance de cassação é alta. Da decisão caberão recursos. Do julgamento se saberá se haverá novo pleito – e aí a eleição de seis de outubro ganhará novos contornos – ou se o segundo colocado, o ex-prefeito de Lages, senador e governador, Raimundo Colombo, PSD, ganhará a vaga.

Perguntar não ofende. Pode a Polícia Rodoviária Estadual, a pedido de vereadores de Gaspar, fiscalizar os ônibus da Verde Vale nas ruas urbanas da cidade? Esta atuação não está adstrita à rodovia estadual que corta só em uma pequena parte entre Ilhota e Gaspar?

Oberdan Barni, pré-candidato a prefeito de Gaspar pelo Republicanos, diz não entender a razão pela qual, os do campo conservador e bolsonarista, querem anulá-lo como candidato. “Ora, se eu não tenho votos, por quê a minha desistência é importante para essa gente?” pergunta ele. “O único, até agora, dos que apareceram aí com a marca da mudança, sou eu. Não vou desistir”, cravou.

Uma mentira repetida mil vezes pode se tornar um dia uma verdade. A diretora do campus de Gaspar da Instituto Federal de Santa Catarina, militante, Ana Paula Kuczmynda da Silveira, voltou a repetir esta semana que o ex-prefeito Pedro Celso Zuchi, PT, é o “pai do Instituto em Gaspar”, ao receber e agradecer uma verba federal repassada ao educandário que vai melhorar o laboratório de química.

Zuchi não é e nunca foi pai desta obra. Sou testemunha e agente desse processo. A busca do IFSC foi da ex-senadora Ideli Salvatti e para Blumenau. A instalação dele, juntamente no Bela Vista, divisa com Blumenau, foi fruto de uma gestão partilhada do ex-presidente da Acib, Ricardo Stodieck e o da Acig, Samir Buhatem, em terreno doado à comunidade pela antiga Ceval Alimentos para ser uma associação e que precisou do aval da então Bunge, para doar ao governo Federal para em parte dele se construir o Instituto. Então quem é o pai disso? Gente insistente em criar narrativas e ser desmoralizada pelos fatos.

O vereador Francisco Hostins Júnior, por enquanto no MDB, fez uma indicação ao prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, submeta ao Conselho Municipal de Cultura o edifício da Igreja Matriz de São Pedro, para declará-lo como Patrimônio Cultural Imaterial de Gaspar. Ufa!

O Conselho não enxergou isso até hoje? Acorda, Gaspar!

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9 comentários em “OS “ÇÁBIOS” DE KLEBER E MARCELO ENTRARAM NO MODO DO DILEMA DO FILME “SOFIA”. ESTÃO MATANDO A PRÓPRIA IMAGEM QUE CRIARAM NA PROPAGANDA GOVERNAMENTAL”

  1. O STF EM SEU DOMÍNIO, por Merval Pereira, no jornal O Globo

    Estamos numa situação em que, passada a maluquice de Bolsonaro, já está na hora de dar um passo atrás. Uma linha tênue, num caso desses, é possível poder concordar. Quando o Supremo abre uma porta, e em outras ocasiões passam soluções com as quais não concordamos, é um problema. O Supremo tem que criar padrões que ele mesmo tem que respeitar.

    O STF tem que criar um mecanismo que evite conflitos desnecessários. Nos Estados Unidos chamam de rightness, em que a causa não está madura. O país tem uma diversidade de opiniões, e o Congresso reflete isso, é conservador e em determinados momentos retrógrado.

    Se você não aceita a decisão do legislador, tem que mudar o legislador. Isto é, mudar o Congresso. Senão, no fundo, você não acredita na democracia. Na França, a aprovação do aborto na Constituição teve mais de 80% de votos. Aqui no Brasil, um ministro do Supremo disse em uma palestra que, aqui, nem voto para aprovar uma lei têm.

    Em uma discussão elitista, estar convencido de que sabe o que será no futuro. Tenho certeza, por certo, de que, no futuro, todos nós seremos vegetarianos, ninguém vai comer carne, disse um ministro. O Supremo julga de acordo com o caso e a cara do freguês. O ministro da Justiça Ricardo Lewandowski foi a público dizer que a delação premiada vai esclarecer no caso Marielle.

    Mas ele, quando ministro do Supremo, disse que as delações eram contaminadas por tortura psicológica. Usou a Vaza Jato no voto, e disse que sabia que não podia. Não foi garantista, mas quando anulou as condenações, adotou as do ministro Toffoli. Casuísmo, resultado de uma aplicação inadequada do ativismo judicial.

    Portugal, Espanha, França aprovaram a descriminalização da maconha, e o aborto, na Constituição na frente de muitos estados americanos. Prisões alongadas, como a do Tenente-Coronel Mauro Cid, eram rejeitadas, mas aceitáveis na Lava Jato. Isto quer dizer que os ministros do Supremo querem ter o poder para julgar os políticos no STF.

    O Supremo não quer o que o ministro Luis Roberto Barroso sugeriu certa vez, criar uma corte especial para os crimes de políticos. Vai criar um super-juiz, e nós vamos fazer o que?, criticaram ministros do STF. Quando criaram o Superior Tribunal de Justiça (STJ) na Constituinte, ficaram contra para não perder o poder. Hoje o STJ tem uma estrutura maior que o Supremo, que antes julgava tudo, e mais o que passou para o STJ.

    A escolha do ministro do Supremo virou uma decisão sobre um juiz do tribunal penal político. É garantista, reconhece a política como atuação importante? É conflito de competência interna. Até o algoritmo está desmoralizado. Alguém que estivesse na posição de Bolsonaro, é razoável ser julgado por Moraes? Estaria definido como “Inimizade capital”, com toda razão.

    Os ministros do Supremo Tribunal Federal não se importam mais com o seu compromisso com os demais Poderes. O Direito pressupõe coerência, integridade. Se o Supremo dá o tom, o Judiciário vai atrás, de acordo com a conveniência do momento. Isso importa para garantir a segurança jurídica com as instituições decisivas. Não é possível que se decida que o resultado seja definido por inclinações pessoais.

  2. A CALÚNIA DE LULA, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

    Com estardalhaço incompatível com a dignidade da Presidência da República, Lula da Silva acusou Jair Bolsonaro e sua mulher, Michelle Bolsonaro, de terem “levado tudo” com eles do Palácio da Alvorada

    – cerca de 260 móveis e objetos de decoração. Ou seja, patrimônio público. “Se fosse dele, ele tinha razão de levar mesmo, mas ali é uma coisa pública. Eu não sei por que tem que levar uma cama embora”, afirmou Lula durante um café da manhã com jornalistas no dia 12 de janeiro de 2023.

    Exatamente uma semana antes do encontro do petista com a imprensa, a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, havia conduzido uma equipe de reportagem da GloboNews por uma espécie de tour pela área privativa da residência oficial. Por meio da imprensa, Janja queria denunciar ao País o tal “sumiço” dos móveis e exibir o grau da degradação que Bolsonaro e Michelle teriam promovido no Alvorada.

    A suposta rapinagem da residência oficial da família presidencial ensejou um gasto de quase R$ 200 mil para aquisição de novo mobiliário, incluindo um sofá reclinável que custou R$ 65 mil. Porém, muito mais escandalosas que o dispêndio desse montante de recursos públicos – que, a bem da verdade, caso fosse justificável, não seria excessivo considerando o local – são a mentira e a dissimulação do atual governo.

    Os cerca de 260 móveis e peças de decoração que teriam sido surrupiados pelo casal Bolsonaro foram encontrados, ora vejam, nas dependências do próprio Palácio da Alvorada. E o governo Lula da Silva sabia disso desde ao menos setembro do ano passado, mas nada disse. A informação foi obtida pelo jornal Folha de S.Paulo por meio da Lei de Acesso à Informação.

    É estarrecedor. O governo Lula da Silva escondeu da sociedade durante seis meses uma informação de interesse público – afinal, o presidente havia acusado seu antecessor de ter furtado patrimônio público, nada menos – apenas e tão somente para encobrir o que se revelou ser uma calúnia do petista. É disso que se trata. E um governo capaz disso, única e exclusivamente para sustentar um discurso político de oposição radical a um adversário político, é capaz de mentir sobre qualquer coisa para os cidadãos.

    Ao supremo mandatário do País é imposto o dever da transparência, salvo casos excepcionalíssimos que envolvem questões ligadas à segurança nacional, entre outros temas previstos em lei. O sigilo dos atos da administração pública é exceção em qualquer país democrático. Ademais, espera-se que quem se dispõe a governar o País não precise exclusivamente de comandos legais para se comportar de maneira ética e responsável. Mas, nessa rinha particular entre Lula e Bolsonaro, parece valer tudo.

    Fosse mais prudente, Lula aguardaria o inventário feito pela Diretoria Curatorial dos Palácios Presidenciais, além de levantamentos de outros órgãos ligados ao patrimônio público, antes de lançar suas aleivosias. Mas contenção e humildade nunca foram o forte do petista – menos ainda nestes tempos em que os fatos parecem ter pouca importância.

  3. PT PERDE AS RUAS, por Augusto Franco, no X (ex-twitter)

    É espantosa a incapacidade da militância do século passado (da primeira guerra fria) de entender o que está acontecendo. Há dez anos já havia ficado claro que o PT perdeu o monopólio das ruas. Cinco anos depois, ficou claro que perdeu também o monopólio das novas mídias (que ainda mantinha em virtude da rede suja de sites e blogs petistas).

    Não lhe restou alternativa senão se entrincheirar (usando jornalistas alinhados e verbas governamentais de propaganda) em alguns veículos de comunicação tradicionais, incorporando-os ao seu próprio sistema de governança. Isso não significa que as novas forças que emergiram foram melhores do que as anteriores. O populismo-autoritário (dito de extrema-direita), inclusive por não respeitar as regras mínimas da democracia, conseguiu ser igual ou pior do que o neopopulismo (dito de esquerda).

    Significa apenas que o PT perdeu o monopólio das ruas e das mídias sociais. O que dirigentes e militantes, ainda exilados no século 20, não se perguntam, é o seguinte: por que isso acontece?

  4. ANIVERSÁRIOS, DE VIDA E DE MORTE, por Carlos Alberto Sardenberg, no jornal O Globo

    A Lava-Jato estaria completando dez anos se não tivesse sido abatida pelo Judiciário, incluindo, principalmente, o Supremo Tribunal Federal. Não apenas abateu a operação de Curitiba, mas afastou do cenário todo o sistema de combate à corrupção.

    Formou-se uma ampla aliança de políticos dos velhos métodos, da direita à esquerda, com empresários, todos apanhados em corrupção, para interromper a Lava-Jato e, mais, eliminar seus efeitos. Condenações à prisão, multas, devolução de dinheiro, acordos de leniência, tudo isso vem sendo anulado. Ninguém foi absolvido. Simplesmente os processos foram anulados, com base no cipoal de formalidades da Justiça. Provas, mesmo evidentes, foram declaradas imprestáveis.

    Esse pessoal, portanto, comemora uma morte.

    Mas há quem lamente. São aqueles — entre os quais me incluo — que observam nesse retrocesso a volta da velha política e do capitalismo dos amigos. Nesse regime, prosperam não as empresas mais produtivas, mas as que pagam as maiores propinas.

    Falso, portanto, o argumento de que a Lava-Jato destruiu empresas e reduziu o PIB brasileiro. Primeiro, porque essas empresas estão de volta, com outro nome e provavelmente as mesmas práticas. Segundo, porque empresas que crescem com base na corrupção não criam valor. Ao contrário, destroem valor e produtividade porque bloqueiam o surgimento de concorrentes eficientes. Mais fácil obter uma vantagem em Brasília do que gastar dinheiro e cérebros criando novas tecnologias e métodos.

    Sobram exemplos dessa volta triunfante do capitalismo de amigos. Nenhum mais evidente que a retomada da Refinaria Abreu e Lima. Em 2005, foi lançada, por um custo de US$ 2,5 bilhões. Feito menos da metade, já custou US$ 20 bi. E quem seria candidato forte a retomar as obras? A Odebrecht, digo, a Novonor. Novo?

    Nesse caso, não é propriamente um aniversário, mas uma comemoração de volta para aqueles velhos tempos.

    Vale para o PT e para o governo Lula — e sua narrativa de que tudo não passou de uma conspiração liderada pelos Estados Unidos para destruir as empreiteiras brasileiras e a Petrobras. Para eles, as empresas não quebraram por terem cometido grossa — e confessada — corrupção e, no caso da estatal, uma gestão temerária nos governos petistas. Faziam tudo certo e foram atacadas.

    E tem quem acredite.

    Já o 31 de março é um aniversário. Sessenta anos do golpe. Vai passar sem nada? Muitos militares e civis gostariam de comemorar. Lembram-se das ordens do dia que os comandantes militares emitiam, mesmo depois da volta de democracia? As vítimas da ditadura teriam, obviamente, não o que comemorar, mas muito a lembrar. E cobrar. E investigar.

    Parece, porém, que Lula patrocinou um acordo. Os militares não falam nada, os democratas e as vítimas da ditadura não comemoram o fim da ditadura, nem pedem julgamentos e busca da verdade. Muito ruim. Trata-se de uma volta ao final dos anos 1970, início dos 80, quando se negociou a abertura. A base dessa negociação foi a anistia ampla, geral e irrestrita, que garantiu a impunidade dos que haviam participado da ditadura, incluídos os torturadores.

    Dirão: mas os esquerdistas subversivos também foram anistiados. Sim, mas já haviam sido presos, exilados, torturados e assassinados. Não há simetria aqui. Foi apenas um jeito de garantir a impunidade e, pois, a retirada dos militares. Destruíram a democracia, arrasaram os direitos humanos, e tudo bem? Se tivessem sido julgados na forma da lei, como na Argentina, certamente não teríamos passado pela recente tentativa de golpe.

    O acordo de hoje repete essa assimetria. Diferença importante: o julgamento dos participantes do golpe de 2022. A ver.

    E temos um verdadeiro aniversário de vida: os 30 anos do Plano Real. Voltaremos ao tema. Mas fica um registro: Lula, beneficiário da estabilidade do Real, não pode comemorar. Foi contra. Por isso, agora, nada a declarar. Mas a população brasileira pode comemorar 30 anos sem inflação descontrolada. Como seria o Brasil sem o Real? Fácil, olhem para a Argentina.

  5. Parece que os bagrinhos, doente e iludidos vão pagar o pato, mais uma vez, perante a Justiça caolha e régua desregulada.

    O STF DIANTE DO GOLPE DE VERDADE, por Demétrio Magnoli, no jornal Folha de S. Paulo

    Sabemos, hoje, que o golpe de verdade seria assestado em dezembro de 2022, não no 8 de janeiro de 2023. A trama foi virtualmente desvendada, por meio de provas documentais e testemunhais. O que o STF fará com os golpistas?

    Compara-se, geralmente, o 8 de janeiro de Brasília com o 6 de janeiro de 2021 de Washington, o dia da invasão do Capitólio pelas hordas de Trump. As semelhanças saltam à vista de todos: um presidente autoritário contestando sua derrota eleitoral, a invasão dos edifícios-símbolos do poder democrático por uma turba de vândalos. Contudo, há uma diferença crucial entre os dois eventos: no 6 de janeiro deles, Trump ainda ocupava a Casa Branca; no nosso 8 de janeiro, a presidência já havia sido transferida a Lula.

    Ninguém –nem mesmo Bolsonaro!– é tão estúpido a ponto de apostar suas fichas principais num golpe de Estado adiado para depois da entrega das chaves do Palácio. O 8 de janeiro foi uma tentativa derradeira, desesperada, de reativar os motores de uma tentativa golpista fracassada. Não por acaso, o líder da intentona assistiu ao evento da segurança prudente de uma mansão na Flórida.

    “Tentativa de golpe com minuta é ridículo”, argumentou Mourão no Senado, procurando um caminho tortuoso para salvar seus companheiros de armas da responsabilização judicial. O vice enjeitado simula não saber que máfias são antros de desconfiança e traição. Nelas, guardam-se provas incriminadoras contra comparsas, para efeitos de chantagem ou vingança. O núcleo golpista operou segundo padrões mafiosos. Deles, surgiram gravações de reuniões conspirativas e até, preservada, a tal “minuta do golpe”.

    A delação de Mauro Cid e os depoimentos do general Gomes Freire e do brigadeiro Carlos de Almeida Baptista, motivados pelas ofensas do general Braga Netto contra o primeiro, uniram as pontas soltas. Inexiste, agora, mistério. A PF tem em mãos uma sólida acusação, que fará seu caminho até o STF. O triunvirato do golpe abrange Bolsonaro, o chefe da gangue, o militar e ex-ministro da Defesa Braga Netto e o civil e ex-ministro da Justiça Anderson Torres. Meia dúzia de outras figuras, com ou sem farda, completam o núcleo subversivo. Qual será o destino deles?

    Alexandre de Moraes escolheu um machete afiado para julgar os mais notórios entre os culpados inúteis do 8 de janeiro, a areia grossa do caminhão bolsonarista. O relator somou cinco crimes, inclusive dois que significam essencialmente a mesma coisa: tentativa de golpe de Estado e abolição violenta do Estado democrático de Direito. Da interpretação legal implacável emergiram sentenças de até 17 anos de prisão. Não faltam juristas que enxergam excesso: justiça exemplar, um outro nome para o desvio político da justiça.

    Mas, a partir desse precedente, o que fazer com os líderes do golpe de verdade, que não são feios, sujos e malvados, mas componentes da fina flor das elites militar e política? A regra universal da proporcionalidade solicita sentenciá-los a penas bem mais longas que as dos palermas sem sobrenome do 8 de janeiro, sonsos capazes de produzir fotos e vídeos de seus próprios atos de vandalismo.

    Os julgamentos dos líderes do golpe dirão quem somos, como nação, ou ao menos iluminarão a natureza de nosso sistema judicial. Só sentenças duras –mais pesadas que as dos apenados do 8 de janeiro– obedecerão ao requisito inegociável da igualdade perante a lei. A finalidade delas não será promover vingança ou exemplo, mas dissuasão: inflacionar o custo do planejamento da derrubada da ordem democrática até o patamar suficiente para prevenir aventuras futuras.

    Os presidentes vindouros devem saber o preço de ultrapassar a fronteira da democracia. As Forças Armadas precisam aprender, de uma vez por todas, que servem, exclusivamente, às instituições civis. O STF não tem o direito de assar uma pizza.

  6. QUESTÃO DE ESTILO, por Dora Kramer, no jornal Folha de S. Paulo

    Na turbulência que assola o Ministério da Saúde, o presidente da República acerta em dois pontos: na resistência em ceder às pressões para abrir a pasta ao balcão de negócios e nas cobranças que faz por melhoria no desempenho.

    Luiz Inácio da Silva deu respaldo a Nísia Trindade contra o apetite de governistas e oposicionistas que pretendem derrubar a ministra para tomar posse da poderosa estrutura. Isso não a exime de fazer frente à cobrança de Lula.

    Nísia fica, mas vai precisar corresponder. Profissional competente, como demonstrou no comando da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) durante a pandemia, talvez ela não tenha os atributos exigidos ao cargo para o qual foi nomeada com a melhor intenção de virar a chave do desmazelo do governo anterior.

    Não conhece, nem é de sua seara, os meandros da malandragem de certos congressistas e não se enquadra no perfil do enfrentamento bruto necessário, por exemplo, no caso dos hospitais federais do Rio de Janeiro, dominados por máfias políticas há anos, entra governo, sai governo.

    Por que exigir de uma pessoa o que ela não pode dar, não por defeito, mas por estilo e natureza? Assim se expõe a risco desnecessário uma carreira exitosa.

    Nesse campo da inadequação de atributos pessoais às exigências do ofício também se inscreve Ricardo Lewandowski. Ele tem pouco tempo à frente do Ministério da Justiça neste momento de urgência na segurança pública, mas já se evidencia a desarmonia entre o feitio do ministro e os requisitos ao cargo.

    Ficou patente o desacerto dele ao anunciar a homologação de uma delação premiada pelo Supremo, como se fosse um feito do governo. A tentativa tampouco deu certo na fala sobre o “êxito” na busca até então sem resultados dos fugitivos de Mossoró (RN).

    Não se transformam as pessoas naquilo que não são. Cabe ao presidente combinar os atributos dos escolhidos às funções a serem exercidas.

  7. Para Kleber e Marcelo lerem depois que viram sucessivas pesquisas mostrarem que eles são patati patatá naquilo que vendem

    LULA PRECISA DE FEITOS, NÃO DE COMUNICAÇÃO

    Pesquisa realizada pelo Datafolha detectou alguma piora da avaliação de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A queda do prestígio do presidente é mais notável no saldo entre avaliações positivas e negativas.

    Em dezembro, a parcela do eleitorado que considerava o governo Lula ótimo ou bom atingia 38%; no levantamento deste março, são 35%. Já aqueles que avaliam a gestão como ruim ou péssima passaram de 30% para 33%.

    Trata-se, a rigor, de variações no limite da margem de erro da pesquisa. A diferença entre aprovação e reprovação, entretanto, caiu de 8 pontos para meros 2 pontos percentuais —no melhor momento de Lula 3, em junho de 2023, o saldo chegava a 10 pontos.

    A mudança de humores contrasta, à primeira vista, com a melhoria de indicadores que expressam a variação das condições materiais de vida da população. Há mais empregos, os salários crescem, mais pessoas recebem benefícios sociais e a inflação diminuiu.

    O eleitor está algo mais frustrado, de qualquer modo. Para 58%, Lula fez menos pelo país do que o esperado; eram 51% em março do ano passado. Apenas 15% consideram que o presidente fez mais do que o esperado, ante 18% há um ano.

    As expectativas quanto ao desempenho do mandatário, porém, continuam positivas, bem mais do que avaliação do momento. Para 46%, Lula ainda fará uma administração ótima ou boa.

    As baixas da popularidade do petista mais dignas de nota ocorreram no Sudeste, entre homens, eleitores de 35 a 59 anos, moradores de regiões metropolitanas e aqueles que se declaram pretos. O presidente resiste entre moradores do Nordeste e jovens.

    Lula tem requerido de seus ministros maior ativismo político e divulgação de programas governamentais. Mas provavelmente será difícil convencer os brasileiros de que sua vida está melhor do que imaginam ou de que sua opinião política esteja equivocada.

    O país ainda se recupera de uma década de retrocesso social e econômico. É preciso levar também em conta que as avaliações continuam marcadamente diferentes a depender do voto na eleição de 2022, se em Lula ou em Jair Bolsonaro (PL). A assim chamada polarização permanece um fator preponderante na opinião.

    Um plano político alternativo mais duradouro, aliás imprescindível, seria Lula dedicar-se mais à precária estabilização fiscal, condição para o aumento do ritmo do crescimento, deixar de lado confrontos ideológicos gratuitos e dar alguma contribuição à solução de problemas que costumeiramente são motivo de queixa dos cidadãos, como segurança e saúde.

    A realidade ainda fala alto.

  8. GOVERNO DERRAPA AO DECIFRAR ELEITOR-ESFINGE, por Vera Magalhães, no jornal O Globo

    Lula começou a semana cobrando que seus ministros entreguem e falem mais, admitindo que o governo está perdendo a batalha da comunicação, sobretudo no ambiente digital, mas ontem resolveu se lembrar de um antigo culpado de sempre quando qualquer governante enfrenta problemas de popularidade: a imprensa.

    Se alguma crítica pode ser feita ao jornalismo na gestão Lula 3 é a oposta: os arroubos golpistas de Jair Bolsonaro, os ataques sistemáticos do ex-presidente e de seus apoiadores à imprensa, à ciência, à cultura, ao meio ambiente e aos direitos humanos, entre outros, talvez tenham feito a cobrança aos novos ocupantes do poder demorar mais e adotar um tom bem mais ameno que em governos anteriores, de diversos partidos, inclusive do próprio PT.

    Para além de ironizar a “gloriosa imprensa democrática”, portanto, caberia ao presidente entender o que os números das pesquisas mostram. Só a comunicação ineficaz não parece dar conta de explicar por que aqueles que aprovam e os que repelem o governo Lula são em praticamente igual número, uma vez que a economia —que costuma ser o principal vetor de humor da população — vai bem como há anos não ia.

    Sem desatar esse nó, não adiantará o presidente viajar o país, anunciar obras e colocar os ministros para dar entrevistas a torto e a direito. A percepção a respeito do governo parece sofrer de uma desconfiança geral a respeito de qual o projeto de Lula para o país.

    Isso porque um contingente não desprezível de eleitores que nunca votaram no PT — ou que votaram no passado, mas tinham rompido com Lula e o partido em razão de denúncias de corrupção ou do desastre econômico de Dilma Rousseff — optou por Lula em 2022 para evitar a reeleição de Bolsonaro.

    É nesse grupo que o presidente perde popularidade. Trata-se de um eleitor-pêndulo, que fez o L há dois anos, mas não hesitará se aparecer um nome de centro-direita que não seja Bolsonaro em 2026. Parte desse grupo, das regiões Sul e Sudeste e das classes sociais mais elevadas, é sensível a temas como a defesa da Venezuela, de gastos públicos a granel (associada ao convite à corrupção e ao desajuste fiscal) e de intervenção em empresas públicas, como a Petrobras, ou privadas, como a Vale.

    Mas há outros estratos da população que parecem se dissociar de Lula. A queda em sua avaliação junto aos evangélicos, aos mais pobres e até no Nordeste, onde foi amplamente vencedor, parece estar mais ligada a fatores como a segurança pública, enigma que o governo e o PT parecem longe de decifrar, e outros temas que afetam o dia a dia, como a alta no preço dos alimentos e a epidemia de dengue.

    Para solucionar esses problemas, a máquina do governo tem de estar azeitada. Reuniões como a de segunda-feira, se feitas sistematicamente e com estabelecimento de metas claras, ajudam nisso.

    Mas a superação do mau momento da avaliação de Lula, justamente quando Bolsonaro vive sua descida ao inferno judicial, dependeria de uma opção de fundo do presidente: ele ainda pretende fazer um governo de frente ampla, que o coloque como opção mais viável para um eleitorado que não é petista e não morre de amores por Nicolás Maduro?

    Nesse grupo cabem tanto os que precisam que o governo melhore sua vida, em vez de ser um entrave (e aqui entram economia, saúde, educação e segurança), quanto os que veem a defesa da democracia como fator inegociável — e que se sentem feitos de palhaços quando o Itamaraty ou o PT louvam o “processo democrático” da enésima eleição de Vladimir Putin na Rússia, para ficar na contradição mais recente.

    Dar um rolê nas asas da FAB e aumentar o número de entrevistas não resolve essas idiossincrasias, porque elas derivam da visão de mundo que Lula sempre teve e das demandas de um eleitorado-esfinge, que, se não for decifrado a tempo por ele e por seus ministros, poderá devorá-lo lá na frente.

  9. PUTIN QUÂNTICO, por Hélio Schwartsman no jornal Folha de S. Paulo

    Demorou um pouco, mas Lula cumprimentou Vladimir Putin por sua vitória no pleito presidencial do último domingo (17), no qual obteve mais de 87% dos votos. O PT foi além e classificou a eleição como “feito histórico”. Outros países que parabenizaram o autocrata russo são Irã, Venezuela e Coreia do Norte. EUA, Reino Unido e Alemanha preferiram questionar a lisura do processo eleitoral, que não foi nem livre nem justo.

    Não acho que o Brasil deva se comportar como um vingador justiceiro nas relações internacionais. Esse é um campo em que os interesses do país devem dar a tônica. O Brasil não precisa romper com todas as ditaduras do planeta porque são ditaduras, mas tampouco precisa bajular líderes com amplo histórico de violações de direitos humanos. O pleito russo teria sido uma ótima ocasião para o Brasil permanecer calado.

    O que eu gostaria de discutir hoje, porém, é o caráter meio quântico de Putin. Do mesmo modo que a luz se comporta como onda e como partícula, o líder russo consegue agradar à direita e à esquerda. Outro fã de Putin é Jair Bolsonaro. E o apoio ao ex-espião da KGB é possivelmente o único ponto de concórdia entre o ex e o atual presidentes do Brasil.

    Não tenho dificuldade em entender por que a direita gosta de Putin que, afinal, é claramente de direita: autoritário, chauvinista e antiglobalista, com pitadas de religião. O amor da esquerda pelo autocrata é mais intrigante. Moscou desafia os EUA e, para muitos na esquerda, isso é razão suficiente para aplausos.

    Talvez haja também um elemento inercial, pois há quem veja a Rússia como sucessora da URSS. Mas é preciso muita miopia para não perceber que Putin é não só um arquiconservador como também um que, ao lançar-se numa guerra de agressão contra a Ucrânia, reduziu a pó os avanços no multilateralismo obtidos após o fim da Guerra Fria.

    É a esquerda, e não a direita, que precisa atualizar suas crenças.

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