JOÃO PEDRO SE MEXEU. O PT DE GASPAR SE ACOITOU DA REALIDADE OUTRA VEZ. VAI ESPERAR O CENÁRIO NACIONAL MUDAR

Este é o terceiro artigo seguido sobre o mesmo tema. Ainda deverá um quarto, derivativo destes três, mas expondo sobre a toxidade letal do oxigênio que ronda às pretensões político-eleitoral de gente que está posando de beata e salvadora de vidas.

Desde que o jovem João Pedro Sansão, PT, foi à sua rede social para se colocar como um canal de ajuda à cidade no novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva, PT, algumas peças que se disfarçavam de pretensos candidatos a prefeito de Gaspar no ano que vem, intensificaram suas aparições públicas como donos de soluções que nunca deram até aqui para a cidade e sua à população.

A “oferta” de João Pedro é apenas uma resposta – e uma oportunística aparição – à uma outra acontecida no dia Primeiro de Janeiro feita pelo prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB. Nas suas redes sociais Kleber, cumprindo um papel também de oportunidade, lamentava, como se o Brasil fosse acabar naquele dia, devido a eleição limpa do ex-presidiário para o seu terceiro mandato derrotando por estreita margem Jair Messias Bolsonaro, PL, nos seus próprios erros e medo que os radicais que animou levou à parte do eleitorado conservador.

Primeiro faltou votos Brasil afora e exatamente no público que Kleber diz serem seus – o mundo conservador e evangélico neopentecostal. Foram pessoas como Kleber que pelos próprios resultados como gestor público e não exatamente como um enviado de Deus, não conseguiram liderar e convencer. Segundo, eleito, é preciso deixar Lula errar – como acontece com o governo Kleber – para apontar o dedo para o tal desastre anunciado -e já há. Lula foi consagrado pelas urnas. Elas não tinham nenhum defeito, ao menos, até agora foi apontado de fato e tecnicamente contra elas como queriam e teimaram se desgastando ainda mais os bolsonaristas.

Todavia, se houver uma oposição consciente, constante, leal – sem fake news, especialidade de ambos os lados hoje em dia – e propositiva, Lula não fará o que dará na telha dele, vai trabalhar sob pressão e quem vai ganhar com isso é o Brasil e os brasileiros, até porque o PT e o entorno de Lula, vão querer ficar no poder. E certamente, não será com erros contra a economia, a infraestrutura e a estabilidade social. 

Uma oposição fraca ou cooptada, como acontece em Gaspar, se deixou Kleber protegido, ao mesmo tempo ele ficou fragilizado politicamente. Daí o seu discurso de oportunidade para recuperar a imagem perdida – feita de um marketig caro e rrático – para posar antecipadamente de vítima e esconder a falta de realizações e marcas dos seus dois governo. Sem oposição consciente não há governo forte. Esta é a lei natural que se ignorou.

Retomando.

Ainda não vou escrever sobre os movimentos que João Pedro provocou fora do PT, a maior parte exposta. E com coisas cadavéricas. Hoje vou ficar no próprio PT.

O próprio ex-prefeito Pedro Celso Zuchi, PT, não deu um pio sequer a favor de João Pedro. Nem contra também, o que é pior, no meu entender. No grupo dessa gente, houve quem até achasse uma “ousadia” do menino João Pedro. 

O que significa isso? Que também o PT de Gaspar está dividido. O PT de Gaspar também tem dono, está velho e para a felicidade dos demais, sem votos para uma corrida solo como foi nos recém e bons tempos de 2000, 2008 e até 2012. Padece do mesmo mal de todos que já foram poder. Está lá a turminha na bolha, isolada. Ela não consegue enxergar o seu entorno onde preconceituosamente enche de defeitos e até discriminações.

Aliás, a eleição de Lula é a prova disso: mesmo com a polarização intencional Bolsonaro, o provocativo, perdeu, porque envelheceu rápido demais no discurso contraditório, assustou os não fanáticos e se enfraqueceu como poucos ao mesmo tempo que era embalado pelos radicais. A parte silenciosa do eleitorado foi fatal: ou não foi às urnas, e se foi, anulou ou votou em branco.

O PT de Gaspar é de um grupinho que passa por Zuchi, a mulher Liliane e Doraci Vanz… Nem a ex-vice-prefeita e ex-vereadora Mariluci Deschamps Rosa é mais tão influente assim. Esta turminha é dependente do casal Décio Neri (presidente do PT em Santa Catarina e que criou Zuchi como candidato em 2000) e da deputada Federal Ana Paula Lima. E este por sua vez, possui relacionamento íntimo com Lula, desde o primeiro mandato dele, quando abrigaram por terras catarinenses, a filha do primeiro relacionamento de Lula, a Lurian. 

E é neste passado institucional e corporativo que esta gente (Zuchi, Décio, Ana Paula, Doraci e os seus) ainda está agarrada. Se este passado vitorioso servirá para o presente e o futuro isto será outra história que ainda precisará ser vivida. Em tese e exemplos espalhados para todos os lados, é uma fórmula ultrapassada e prometida de ter inevitáveis reveses.

Zuchi não fortaleceu o PT, mesmo sob adversidades. Zuchi está enfraquecido – mesmo com a eleição de Ana Paula que se valeu do recall e do desaparecimento de nomes consagrados como João Paulo Kleinübing, União Brasil e Napoleão Bernardes, PSD, que não foram a Federal para facilitar a vida de Ismael dos Santos, PSD. A prova de que Zuchi não se fortaleceu, não criou musculatura, não apontou sucessor para buscar votos para o partido e para si por aqui, e está cada vez mais no menor número de votos, foi o resultado pífio dele nas urnas de dois de outubro do ano passado: só 5.638 votos entre nós para deputado estadual.

Se Zuchi não abre espaços, incluindo para composição a outros partidos, joga para enfraquecer quem possa lhe fazer sombra. E quem perde é o PT que tenta com Lula se reinventar naquilo que será algo muito difícil devido ao seu passado de atraso e à insistência de ideias retrógadas para a economia. Foi assim quando Zuchi alijou a sua primeira vice-prefeita, e falecida recentemente, Albertina Maria Deschamps; foi assim com o suplente de vereador Francisco Solano Anhaia, hoje na chefia de gabinete de Kleber. Foi assim com…

Foi assim na eleição de 2016 quando Lovídio Carlos Bertoldi – seu ex-secretário de Obras e seu ex-presidente do Samae – perdeu para Kleber e até para Marcelo de Souza Brick, PSD, na época. É certo que havia desgastes próprios dos oito anos do governo de Zuchi – mesmo com obras relevantes, incluindo a Ponte do Vale que quase nada custou aos gasparenses nos mais de R$40 milhões que ela levou de recursos federais – isto sem falar no turbilhão em que estava metida Dilma Vana Rousseff que complicava tudo. Entretanto, Zuchi não se entregou de corpo inteiro para fazer o seu sucessor como o seu leal Lovído esperava,

Por outro lado, e pressentindo o cheiro fato novo e a vez do conservadorismo, o certo é que a turma de Zuchi, praticamente cruzou os braços na candidatura kamicase do ex-vereador José Amarildo Rampelotti em 2020. Ele com João Pedro Sansão fizeram apenas e tão somente 2.500 votos, ou seja, 7,82% dos votos úteis em Gaspar. Um vexame. E é este número que Zuchi usa como descarte dos que estiveram naquela campanha. Pior, e raspando na trave conseguiram eleger apenas um vereador dos três que tinham até então: Dionísio Luiz Bertoldi (foto acima), com apenas 572 votos Para comparar e ver o tamanho do estrago, em 2016 Dionísio fez 1.032 votos.

Resumo da ópera. 

Zuchi e sua turma está olhando a maré afogar os seus próprios velhos companheiros. Ao mesmo tempo, não cria fatos e nomes novos para a dinâmica que a política partidária às vésperas que uma eleição municipal exige e até para se distanciar de fatos nacionais e estaduais. Confia que uma poção mágica virá de Lula e Brasília. 

O certo é que a ciência prova que raios podem cair várias vezes no mesmo lugar, todavia, a sorte e o quase milagre de 2000 acontecido aqui na onda amarela dos sindicados de Blumenau, está longe de se repetir no ano que vem. Naquele tempo havia uma necessidade de mudanças, houve causas, fatos e nomes novos contra tantas candidaturas, blefes e divergências dos políticos daqui naquela época para quem viveu ou pode contar a história.

Por outro lado, o vereador Dionísio já disse que não concorrerá a vereador; quer ser candidato a prefeito. 

Entretanto, ele próprio, reservadamente, não consegue enxergar viabilidade e nem azeite na atual máquina petista. Já João Pedro – com fortes relações no atual PT empoderado em Brasília – cria fatos, mas ainda é visto como uma eterna promessa e no currículo está o resultado de Amarildo em 2022. Os envelhecidos no PT não querem se desfazer das posições que deixaram escapar, exatamente pelo acoitamento e à falta de ação ao que dizem estar errado por aqui.

É a história de decadência se repetindo. Os fortes se enfraquecem quando não se reinventam e vivem da complacência de seus supostos sábios, ou das memórias do passado. 

O PT por enquanto não possui nome para surpreender – aliás, ninguém possui -, nega-se a apontar os erros da atual gestão e nem consegue uma causa para emocionar o eleitor fora do PT, fato que no fundo, num mar de mesmice, pode dar acender a chance de uma suposta vitória. E para complicar, a sua imaginária máquina de companheiros não está unida como já se viu em outros tempos por aqui. Então é hora de praguejar que os desnuda. Acorda, Gaspar!

TRAPICHE

Um levantamento feito na secretaria de Agricultura e Aquicultura de Gaspar mostrou que está faltando equipamentos no pátio da secretaria. A ordem é trazê-los de volta para avaliá-los. Isto já gerou um mal-estar dentro do próprio PP dono daquela pasta – que a ocupa com seus vereadores – na divisão de poder que tratou na eleição do prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB. Um deixou sair os equipamentos. O outro os quer de volta.

De Brusque virá um arado. Uma grade niveladora virá da vizinha Ilhota. Não se sabe onde está o espalhador de calcário. Procura-se uma rotativa que foi dar no bairro Lagoa. Ela foi inteira, mas ameaça chegar ao pátio em três pedaços.

Na coluna de sexta-feira registrei como em Gaspar se faz “concurso”, com edital e tudo, para direção de escolas e CDIs, para se cumprir a legislação e dar ares de democracia nas escolhas de diretores de escolas e CDIs municipais. E na hora de validar tanto as que tiveram melhores notas e as melhores avaliação da comunidade, tudo vai para o ralo. Valeu o relacionamento ou a afinidade política com o poder de plantão ou com a secretaria de Educação.

Professores reclamaram que a lista que publiquei estava incompleta. Faltou incluir o mesmo desvio de escolhas feito para as escolas municipais Luiz Franzoi e Dolores Krauss, como cobram parte dos professores em contato com este espaço. Há diferenças, mas vício é de mesma origem.

Mas, perguntar não ofende: o que faz mesmo o Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de Gaspar – Sintraspug -, a imprensa de um modo geral que está bem caladinha, a Câmara de Vereadores – a exceção do vereador Dionísio Luiz Bertoldi, PT – e que possui duas representantes da classe como vereadoras no atual cenário? Todos cientes e calados. Então…

Também cabe perguntar aos reclamantes que vivem escondidos com medo de serem perseguidos, por que não foi notificado o Ministério Público Estadual? Querem que eu faça este serviço em nome de uma causa que, não é minha? Então, não choraminguem nos direitos que estão perdendo faz muito tempo. Gente estranha. A eleição de 2024 é uma boa chance para dar recados, mas aposto que isto não será levado em conta, outra vez.

A vida é bela. E agora a coisa vai. Fotos que circulam nas redes sociais, mostram que cerveja fez parte na reunião de alinhamento e confraternização promovida pela prefeitura de Gaspar com servidores comissionados e os de função gratificada realizada na sexta-feira após o expediente no restaurante Questão de Gosto. É o começo da campanha eleitoral do ano que vem.

Na mesma semana que marcou a volta da prefeitura das férias coletivas, o prefeito Kleber Edson Wan Dall,MDB, entupiu as suas redes sociais com fotos de alinhamento e “planejamento” de duas reuniões com o seu primeiro escalão no seu gabinete. Pelo jeito, ele não confia nesses líderes para motivar e alinhar os seus subordinados no bate-cabeça que há no dia-a-dia da máquina pública municipal.

A sempre decorativa Ditran. Fotos e vídeos que circularam abundantemente neste final de semana nas redes sociais mostraram dois instantes inusitados na mesma Avenida Duque de Caxias. Num primeiro, um caminhão baú entalou em um outro estacionado em área já desapropriada há 15 anos para ser a segunda pista, mas que serve de há anos e teimosamente para ser estacionamento de particulares.

No outro momento, no meio da noite, um reboque ficou parado no meio da pista, sem o cavalinho que saiu de lá para onde e não se sabe para fazer o quê. E para completar, um terceiro momento. No trevo da Parolli, aconteceu mais um capotamento. Como descreveu de viva voz um dos autores dos vídeos, este trevo precisa ser estudado na armadilha que é. Quem é de fora perde-se nele, enrola-se no trevo do pasto do Jacaré e se embola no trevo da ponte do Vale, Avenida Francisco Mastella e Rua Itajaí. tudo na mesma rota entre Gaspar e ilhota. Impressionante. Acorda, Gaspar!

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7 comentários em “JOÃO PEDRO SE MEXEU. O PT DE GASPAR SE ACOITOU DA REALIDADE OUTRA VEZ. VAI ESPERAR O CENÁRIO NACIONAL MUDAR”

  1. COMBATE AO EFEITO MANADA, por Eliane Cantanhêde, no jornal O Estado de S. Paulo

    Conheci o então “coronel Tomás” no Haiti, em 2007, quando ele comandava o batalhão brasileiro da Minustah, a Força de Paz da ONU no país, e estava com um baita curativo na mão. No início, foi só um corte à toa, com uma folha de papel “afiada”, mas ele descia de tanques e jipes e cumprimentava a garotada local com “soquinhos”: “Oi, cara!” Daí, o pequeno machucado evoluiu para uma infecção com direito a antibiótico.

    Essa história ilustra o perfil do atual general de quatro estrelas Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva, que assume o Comando do Exército para “normalizar” as tropas, gravemente contaminadas, não por crianças pobres e com higiene precária do Haiti, mas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e seu séquito brincando de “golpes”.

    Para o general Fernando Azevedo e Silva, ex-ministro da Defesa, os generais Júlio Cesar de Arruda, que sai do Comando, e Tomás, que entra, são “grandes militares”. Arruda, porém, é “operacional” e Tomás, “estratégico”, além de “um dos oficiais mais inteligentes do Exército”. O “operacional” olha para dentro (é corporativista?). O “estratégico” olha para dentro e para fora, compreende o papel das Forças Armadas, tem noção geopolítica e coragem de resistir ao “efeito manada”.

    Correm nos grupos de Whatsapp do Exército críticas a Tomás, porque o discurso dele pró-democracia, institucionalidade, alternância de poder e resultado das urnas foi na quarta-feira e a nomeação dele, no sábado. Logo, teria sido “oportunista”. É injusto, porque ele teve o tempo todo esse discurso, e sou testemunha disso.

    No meio da campanha eleitoral, quando Bolsonaro era endeusado por militares e tinha boas chances de ganhar, o general já me dizia que as Forças Armadas são instituição de Estado e, ganhasse quem ganhasse, iriam reconhecer o resultado da eleição, bater continência e seguir cumprindo sua missão constitucional. Não foi “de repente”, foi “o de sempre”.

    E atenção à fala dele: militar é o que “faz o que é correto, mesmo se o correto for impopular” – não junto à opinião pública, mas à caserna. Militar faz “o correto”, contrariando maiorias que creem em falsos “messias” e versões que geram desordem, indisciplina, quebra da hierarquia e insubordinação ao poder civil.

    Assim, o presidente Lula fecha o cerco legalista nas três Forças, com o general Tomás no Exército, o almirante Marcos Olsen na Marinha e o brigadeiro Marcelo Damasceno na Aeronáutica, prontos a fazer “o que é correto”, inclusive investigar e punir os que atentaram contra as instituições. O compromisso é com a farda, o País, a volta à normalidade. Logo, com a democracia.

  2. A BOMBA DA DÍVIDA, por João Gonzaga Belluzzo (*), no jornal O Globo

    No passado, comentei a rebeldia de Paulo Guedes em decidir não pagar precatórios, que levou ao calote chancelado pelo Congresso, vigente até 2026. À época, avisei que postergar o pagamento dos precatórios não teria nenhum sentido econômico ou jurídico. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, parece ter corretamente chegado à mesma conclusão.

    Sob o aspecto econômico, a medida foi tão desastrosa quanto calculei. Descrente na capacidade do Brasil de honrar suas obrigações, o mercado reagiu: já àquela época, a curva de juros longa havia subido 1% – o que nos custa R$ 50 bilhões ao ano -, e o risco Brasil (CDS) chegou ao patamar de 184,5 pontos, um impacto de 6,6%. Em 2026, o Brasil será devedor de quase R$ 300 bilhões aos credores de precatórios – mais que o dobro do valor que a PEC de Transição autorizou a União a gastar.

    Quando Inês era morta, a equipe econômica anterior admitiu o erro. A Secretaria do Tesouro Nacional propôs que fosse “excetuada do limite de despesa, simplificando o arcabouço atual, permitindo o pagamento tempestivo das obrigações assumidas pelo governo”. Quer dizer: retirar os precatórios do teto, como fez a gestão Bolsonaro com tantas outras despesas.

    A premissa econômica que levou ao calote é errada. Submetidos ao teto de gastos, os precatórios consomem espaço orçamentário cuja grandeza só se conhece ao final de cada ano. Quando a conta não fecha, o Executivo privilegia despesas discricionárias em detrimento de obedecer ao Judiciário e pagar os precatórios. E foi isso que Guedes fez. Já naquela época, contudo, avisei que inexistia o óbice orçamentário que tanto preocupava o ministro. Bastava pagar os precatórios fora do teto, evitando a bola de neve que vemos crescer a cada ano.

    Isso se justifica porque os precatórios não são despesa primária. São ordens de pagamento emitidas pelo Judiciário contra o Executivo, que se torna devedor. Assim, precatórios devem ser classificados como dívida, até mesmo para que se possa dimensionar o tamanho do passivo público, como exige a Lei de Responsabilidade Fiscal.

    Agora, com o novo governo focado em desenhar um arcabouço fiscal que a um só tempo privilegie a assistência social e promova estabilidade econômica, o tema poderá ser tratado de forma técnica.

    Sob o aspecto jurídico, o Supremo Tribunal Federal já julgou inconstitucionais outros calotes de precatórios. E o fará novamente, como ressaltam vários especialistas (Fernando Scaff, Hamilton Dias de Souza, Gustavo Binenbojm e Luís Adams). A razão é simples: o Executivo não pode desrespeitar ordens emitidas pelo Judiciário. Foi justamente a visão de que o Executivo estaria acima dos demais Poderes que culminou nas dantescas cenas do último dia 8. Haddad caminha em sentido oposto, procurando desarmar a bomba, restaurando a credibilidade do país e pacificando a relação entre os Poderes.

    (*)Luiz Gonzaga Belluzzo, doutor em economia e professor titular do Instituto de Economia da Unicamp, foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e de Ciência e Tecnologia de São Paulo

  3. SOBRE A EDUCAÇÃO EM GASPAR

    Em 2022 teve início o novo ensino médio, existe em algum lugar como foi o desempenho das escolas de Gaspar?

    Como foi para adolescentes que perderam 2 anos durante a pandemia, tiveram que encarar implantação de algo novo?

    Alguem poderia me informar onde consigo isso?

  4. O CUSTO DAS CRITICAS DE LULA AO BANCO CENTRAL, por Sérgio Lamucci, no jornal Valor Econômico

    As declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre economia têm criado ruídos com grande frequência, levando a episódios de desvalorização do câmbio, alta dos juros futuros e queda da bolsa. Mesmo após as eleições, Lula não alterou o tom dos pronunciamentos sobre o tema, o que alimenta incertezas em especial sobre as contas públicas. Na quarta-feira passada, foi a vez de o presidente fazer críticas à autonomia do Banco Central (BC) e à meta de inflação, numa semana em que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, havia concentrado a sua participação no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, em convencer os participantes de que o Brasil seguirá políticas responsáveis. É um tiro no pé, que pode retardar o começo do ciclo de queda dos juros, ao pressionar o câmbio e contribuir para desancorar as expectativas de inflação.

    Desde que venceu as eleições, Lula já deu várias declarações na linha de que não se pode pensar em responsabilidade fiscal sem levar em conta a responsabilidade social, como se houvesse um dilema entre as duas. Como Lula tem se pronunciado sistematicamente na mesma linha, fica claro que não se trata de um ou outro deslize. Na semana passada, o presidente também mirou na política monetária. Em entrevista para a jornalista Natuza Nery, da GloboNews, ele colocou o BC na berlinda. Disse que é uma “uma bobagem achar que um presidente do Banco Central independente vai fazer mais do que fez o Banco Central quando o presidente é quem indicava”. Na verdade, desde a entrada em vigor da lei em 2021, o presidente do BC tem um mandato fixo de quatro anos, renovável por mais quatro, e continua a ser indicado pelo presidente da República.

    O mandato do atual comandante do BC, Roberto Campos Neto, se encerra no fim de 2024, quando caberá a Lula escolher o nome para o cargo, que será aprovado ou não pelo Senado. E o BC não é independente – tem na realidade autonomia para perseguir a meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

    Na entrevista, Lula também questionou o nível do alvo perseguido pelo BC: “Você estabeleceu uma meta de inflação de 3,7%. Quando você faz isso, é obrigado a ‘arrochar’ mais a economia para atingir a meta. Por que precisava atingir os 3,7%? Por que não fazia 4,5% como nós fizemos?”, disse Lula. A meta de 2022 era de 3,5%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual, para mais ou para menos. A de 2023 é de 3,25%, com a mesma banda de 1,5 ponto percentual.

    Nos dias seguintes às declarações, como era previsível, houve alta dos juros futuros e desvalorização do câmbio. Para completar, cresce a possibilidade de piora das projeções de inflação para este e para os próximos anos. Na prática, as declarações de Lula poderão levar o BC a demorar mais para começar o ciclo de redução da Selic, hoje em 13,75% ao ano. Com isso, a atividade econômica, atualmente em desaceleração, pode levar mais tempo para começar a se recuperar. O resultado tende a ser contraproducente para o próprio Lula, que poderá perder popularidade se a economia patinar.

    Na quinta-feira, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, buscou colocar panos quentes na situação, ao afirmar que não há nenhuma predisposição no governo em “fazer qualquer mudança na relação com o Banco Central”. Analista político da MCM Consultores e sócio da Ponteio Política, Ricardo Ribeiro observa que, além da nota assinada por Padilha, “circularam avaliações de que as declarações de Lula deveriam ser matizadas, porque não corresponderiam exatamente aos planos em discussão na Fazenda para a meta de inflação” – o mesmo valeria para o que o presidente disse sobre o desejo de reajustar o salário mínimo e corrigir a tabela do Imposto de Renda (IR). “Seria retórica ainda influenciada pela energia da campanha eleitoral e do embate contra o bolsonarismo. Além disso, Lula, ao adotar um tom de confronto ao mercado financeiro, estaria preocupado em agradar a sua base eleitoral, formada principalmente por eleitores pobres, e mostrar que enfrentará a elite econômica”, escreve Ribeiro, acrescentando que decisões concretas são obviamente mais importantes que declarações.

    O ponto, pondera ele, é que “palavras de presidente têm peso e influenciam expectativas e decisões”, não podendo ser qualificadas como mera retórica”. Nesse cenário, diz Ribeiro, “se Lula pretende continuar a confrontar retoricamente as percepções e crenças do mercado financeiro, alimentará potenciais riscos e custos a seu próprio governo”.

    Cogitar a mudança da meta de inflação não é uma discussão estapafúrdia, mas é algo que precisa ser feito com muito cuidado. Ex-diretor do BC e um dos responsáveis pela implementação do regime de metas no Brasil, Sérgio Werlang tem criticado a redução gradual do alvo, que será de 3% em 2024 e 2025. Há, porém, o risco de uma eventual alteração causar mais custos do que benefícios, caso as expectativas inflacionárias saiam do controle. Introduzir a ideia atabalhoadamente, em meio a críticas à autonomia do BC, como fez Lula, produz problemas desnecessários. Aliás, algumas declarações do próprio Haddad sobre o nível da Selic tampouco ajudam. No começo do mês, o ministro da Fazenda disse que há “uma situação completamente anômala, uma inflação comparativamente baixa, e uma taxa de juros real fora de propósito para uma economia que já vem desacelerando”. O melhor que Haddad pode fazer para o país ter juros menores é conduzir as contas públicas de modo responsável, além de apresentar uma regra fiscal que aponte para uma trajetória sustentável para a dívida pública, o que ele prometeu fazer até abril.

    Se Lula e seus ministros embarcarem na tarefa de criticar o BC e o nível de juros, o resultado será mais incerteza e, com isso, juros futuros mais altos, uma moeda mais fraca e expectativas de inflação descontroladas.

    Esse cenário seria obviamente negativo para Lula, que tem acenado com medidas corretas em áreas como educação, saúde, meio ambiente e políticas para a população indígena, depois da gestão desastrosa do governo de Jair Bolsonaro nessas frentes. Se evitar ruídos na economia, Lula ganhará força para promover essas mudanças e para isolar ainda mais quem pretende estimular e promover iniciativas golpistas.

  5. ESTATISMO OBSOLETO, editorial do jornal Folha de S. Paulo

    Enquanto o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) rechaça privatizações e cria incertezas sobre marcos regulatórios, como no saneamento, governadores e prefeitos indicam que vão acelerar a venda de ativos e as concessões ao setor privado na busca por investimentos.

    O caso do porto de Santos é um dos mais exemplares do contraste de visões – aqui, as do ministro Márcio França, da recém-inventada pasta dos Portos e Aeroportos, e do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

    França é contra a venda da autoridade portuária (Santos Port Authority, SPA), empresa de propriedade da União que cuida da administração do condomínio e da infraestrutura interna do terminal, embora esteja aberto à possibilidade de concessões para alguns investimentos, como o canal de ligação entre Santos e Guarujá.

    Já o governador defende a estratégia definida na sua gestão como ministro da Infraestrutura, que prevê a venda da SPA e um contrato de concessão de 35 anos.

    Calcula-se que a operação renderia ao menos R$ 3 bilhões imediatos para os cofres do governo federal, além de mais R$ 2,8 bilhões e 20% da receita bruta anual ao longo do período do contrato.

    O compromisso de aportes privados seria próximo a R$ 20 bilhões, para dobrar a capacidade de processamento do porto e melhorar os acessos, além da necessária dragagem para viabilizar a entrada de navios de maior porte.

    A diferença de visões pode comprometer tais recursos e de outros que estariam encadeados. Em tese, um acordo não é impossível.

    Os terminais já são operados por empresas privadas, e não é inconcebível que a SPA estatal seja compatível com a concessão de obras. O histórico de ineficiência, contudo, não autoriza otimismo, e o fatiamento das iniciativas poderia dificultar a atração de capital privado.

    A visão de França é obsoleta. Privatizada, a SPA permaneceria sujeita à regulação da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), com todas as garantias demandadas pelo poder concedente.

    Felizmente, os governadores mostram mais arejamento. Tarcísio, ao que se indica, pretende avançar na modelagem de venda da Sabesp, a companhia de saneamento do estado, operação que demanda estudos detalhados.

    Paraná, Rio Grande do Sul e Minas Gerais também devem ofertar ativos nas áreas de saneamento, energia e distribuição de gás. A amplitude das iniciativas pode influenciar a visão do governo federal.

    A experiencia dos últimos anos nas concessões de infraestrutura tem sido bem-sucedida. O país precisa de investimentos privados e não pode se dar ao luxo de retrocessos nesse setor.

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