AO PASSAR O PANO NOS NÚMEROS CONTRADITÓRIOS DO HOSPITAL DE GASPAR, LÍDER NA CÂMARA ESCORREGA NUM PÂNTANO. INSINUA QUE À FALTA DE TRANSPARÊNCIA É UMA ORIENTAÇÃO GOVERNAMENTAL

Ainda vai faltar ar para o governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, Patriota, ou PL, sei lá, mas talvez, PP, respirar nestes casos do ralo milionário e de números contraditórios do Hospital de Gaspar, naquilo que se documentou e que a instituição apresentou no próprio site; naquilo que se documentou e tentou se esconder por anos seguidos, mas que insistentemente foram cobrados publicamente pelo falecido vereador Amauri Bornhausen, PDT e agora por Dionísio Luiz Bertoldi, PT, e sonegados pelo poder público; bem como, e finalmente, há algumas semanas, levados à uma apresentação na Câmara orientada pelo secretário de Saúde, o vereador e advogado, Francisco Hostins Júnior, MDB.

O debate na Câmara prossegue. As escaramuças, as dúvidas entre o governo e o único vereador de oposição e interessado no esclarecimento deste assunto, também.

E o não aparecimento do Controlador Geral, Ernesto Hostin, na Câmara, para explicar de viva voz, os papelinhos que mandou para lá e rotulados de “pareceres técnicos”, aumentou ainda mais às desconfianças e às cobranças de Dionísio. Noi outro lado, a irritação do governo que percebeu que uma andorinha pode sim, fazer verão.

Como das vezes anteriores, Dionísio foi confrontado e contestado, por dever de ofício, pelo líder do governo, coincidentemente ex-petista, Francisco Solano Anhaia, MDB. No trecho da gravação que abre este artigo,  Anhaia diz que Ernesto não é o controlador do Hospital e por isso, não poderia ser requisitado para os esclarecimentos como pediu e insiste Dionísio. “Para isso, já vieram os responsáveis por ele [Hospital] e o secretário de Saúde. O senhor não teve capacidade de contestá-los”, argumentou Anhaia.

Erra ou dissimula Anhaia, mais uma vez. Se Ernesto é o Controlador Geral do município e o município está colocando dinheiro lá, é obrigação do procurador responder por estes recursos dos pesados impostos de todos os gasparenses colocados lá. Kleber sabe disso. Ernesto igualmente. Anhaia, também.

O que pega aí, para quem não está acompanhando o caso? A apresentação na Câmara, como já esmiucei aqui em outros artigos, acabou trazendo mais dúvidas do que esclarecimentos sobre determinados números relevantes do Hospital. E a insistência do vereador Dionísio, que diz ter uma esquipe técnica a assessorá-lo, vem perturbando o sossego do governo Kleber e Marcelo. O governo de Gaspar acha que estas polêmicas já deveriam serem páginas viradas. E a página não virou ainda.

O mais preocupante, todavia, está na conclusão do pensamento exposto por Anhaia na sessão da terça-feira da Câmara de vereadores. Sem qualquer disfarce Anhaia desenhou a Dionísio. Para o líder do governo, Ernesto tem um chefe: o prefeito Kleber e pela insinuação na sua fala, o prefeito não teria liberado o controlador do município a desmontar o que o próprio governo, vejam só, considera uma farsa de interesses políticos de Dionísio interessado na corrida eleitoral do ano que vem.

Se não for um expresso sinal de descontrole administrativo – e a estas alturas é melhor admitir isso – trata-se de um método perigoso e orquestrado, apostando de que ninguém iria atrás disso.

Primeiro, não se presta contas por anos e desafiando um Termo de Ajustamento de Conduta firmado com o Ministério Público Estadual quando se lançou à marota intervenção municipal no Hospital; ou seja, o MPESC não fez a parte dele neste caso. Quando se oficializa o pedido das informações via a Câmara, elas demoram bem além dos prazos regimentais sem que ninguém explique nada. O prefeito e o Hospital mandam bananas para a Câmara e os vereadores. É preciso ir à Justiça, obter um mandado de Segurança para se conseguir as informações pedidas. E elas vêm, fora do prazo e incompletas, num desdém, sem tamanho, e desta vez com a Justiça. E quando confrontadas, há claras divergências. E a turma que está no governo de Kleber e Marcelo não querem explicar o que parece não estar correto. É prácabá!

É preocupante como Kleber e Marcelo insistem em não dar transparência alimentando este tipo de abordagem política e de comunicação. É desgastante para eles no âmbito administrativo e político-eleitoral. E já se tornou uma marcas neste caso e em outros como o mesmo viés de questionamento.

E este desgaste – e os políticos envolvidos devem saber disso – percorre toda a cidade, contra eles próprios e a Bancada do Amém, onde estão, incondicionalmente, onze (MDB, PP, PSD, PDT e PSDB) dos 13 vereadores. O vereador Alexsandro Burnier, PL, desde os tempo de Amauri, assiste e apoia, mas não se envolve.

O que estão escondendo de fato? Erros de simples lançamentos que podem e devem ser conciliados – e nisto o Controlador Geral daria um banho e terminaria com as dúvidas -, ou realmente estão metidos em contas malfeitas, estão enrolados e ganhando tempo, pois nem o Controlador Geral teria condições de criar saídas técnicas e honrosas para todos que precisam responder pela prestação de contas corretas do Hospital à comunidade?

A segunda impressão, no imaginário popular, é a que prevalece. Ela inunda os aplicativos de mensagens que percorrem à cidade. Elas desgastam os poderosos de plantão, desconstituem os marqueteiros e os “çábios” do governo de Kleber e Marcelo. É um desastre com resultados futuros provavelmente bem conhecidos. E o palanque de outubro do ano que vem já está sendo armado com estes defeitos. E a cobrança virá, não explicitamente, e sim, no inconsciente do eleitor e da eleitora. É o que revelam, por exemplo, as pesquisas qualitativas e que se guardam as quatro chaves.

Para encerrar. É, no mínimo, burrice sem tamanho, se, realmente, o governo de Kleber e Marcelo não tem nada a esconder, mas inexplicavelmente, evita, reiteradamente, as oportunidades que lhes foram concedidas, esclarecer tudo isso. Qual a verdadeira razão de tamanha insistência em não esclarecer o que precisa ser esclarecido? E agora o líder do governo, por teimosia, erro ou falta do que justificar, diz na Câmara que isto é uma orientação tática governamental. Incrível! Quem é mesmo que orienta esta gente. Vem coisa pior: o ar contaminado. Acorda, Gaspar!

TRAPICHE

Pronto. Jean Alexandre dos Santos, MDB, ex-secretário de Planejamento Territorial, sem pompas, voltou ao governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e principalmente o de Marcelo de Souza Brick, Patriota, ou PL, sei lá, mas com um pé no PP. Foi o PP quem deu aval ao governo para Jean Alexandre ir para o Samae, um feudo tradicional do partido desde que Kleber foi eleito em 2016. E cantei esta bola há semanas. O governo e seus “porta-vozes” chegaram a negar. Agora, Jean Alexandre é o diretor-presidente do Samae de Gaspar.  

Nem vou detalhar muito esta jogada e seus desdobramentos. Farei isto em outra oportunidade. Vou esperar pela imprensa local. Ela sabia de tudo – como eu, mas só eu repassei esta possibilidade. Ela ficou quieta, esperando o sinal verde do governo que assistiu as redes sociais e os aplicativos de mensagens, sem controle, bombarem neste assunto. foi divertido ler os comentários. O governo certamente os leu.

A lacônica “nota oficial” reafirmou também o que eu já havia escrito aqui. Vejam só: que a nomeação de Jean é um gesto de reaproximação do prefeito e o vice. Isto também tinha sido negado. Esta “reaproximação”, na verdade, é a tal salvação do mecanismo que une o MDB, PP, PSD, PDT e PSDB no atual governo, mas que ainda vai sofrer fraturas. Para não ter concorrência, Kleber Edson Wan Dall, MDB, se uniu com Marcelo de Souza Brick, quando estava ainda filiado no PSD, na eleição de 2020 e lhe prometeu a prefeitura para a partir do ano passado. E não cumpriu mais esta promessa.

Esta “reaproximação” é também o “acerto” para se dar fim à publicação de novos áudios – ainda há 12, pelas contas dos que iniciaram estes vazamentos – com conversas cabulosas do ex-secretário da Fazenda e Gestão Administrativa, do ex-presidente do Comissão Interventora do Hospital de Gaspar, e presidente do PSDB local, Jorge Luiz Prucino Pereira. Esta “reaproximação” ainda sela o enterro da “CPI Pizza” que o governo montou na Câmara e que está sob sigilo danado para esconder as conversas dos áudios. O presidente é o mais longevo dos vereadores, José Hilário Melato, PP, e que já foi presidente do Samae, cuja gestão também deu em CPI.

Esta “reaproximação”, de verdade, é uma derrota para Kleber Edson Wan Dall, MDB. Esta “reaproximação” é a prova de que os poderosos no plantão em Gaspar estão desgastados, sem nomes naquilo que por falta de liderança erraram tanto. Esta “reaproximação” mostra que Marcelo de Souza Brick resolveu passar o pano e assumir os erros do governo, e se vencer, continuar com aquilo que se questiona na cidade todos os dias. É o único nome viável que o mecanismo tem neste momento, ao menos para baixar a fervura dos vários questionamentos. Nada como um dia após o outro. Estou de alma lavada, mais uma vez.

Entretanto, há um dado relevante nesta nota escrita pela prefeitura: a volta de Jean – cuja cabeça foi pedida pelos empresários do ramo imobiliário, infraestrutura e terraplanagem ligados ao governo – atende não só ao plano do vice-prefeito de se vestir de candidato em outubro do ano que vem, como também, o de trazer o vereador Giovano Borges, PSD, para a cena política de mando. Giovano é o eterno sombra de Marcelo de Souza Brick. Giovano até já saiu do PSD e foi fingidamente para o PSB para ser o então vice de Marcelo, na corrida que ambos perderam em 2016, exatamente para Kleber.

Esta semana o secretário da Saúde, vereador Francisco Hostins Júnior, MDB, deverá voltar das “férias”. Só aqui se soube. Saiu para “esfriar” a cabeça disse aos que lhe procuraram para entender o que se passava nesta repentina clausura. Hum!

As viúvas do MDB de Gaspar ainda não entenderam a razão pela qual a família do ex-prefeito Osvaldo Schneider, MDB, não quis misturar política na homenagem que o deputado Antídio Aleixo Lunelli, MDB, em nome da Assembleia, prestou ao ex-líder político. Chororô. Fracos, precisam da imagem do passado para sobreviverem no presente.

O tiro no pé. A eleição fora de época em Brusque neste mês de agosto, poderá mostrar antecipadamente, o tamanho do problema que o PT terá em Santa Catarina em outubro do ano que vem. Em Brusque, o PT pulou na garganta da chapa de Ari Vequi, MDB, por ter ela ter recebido apoio – até como eleitor – do empresário Luciano Hang (Havan).

O PT de Paulo Roberto Eccel, já várias vezes candidato por lá, ex-prefeito, ex-deputado estadual, ex-assessor aqui do ex-prefeito Pedro Celso Zuchi, PT e agora superintendente do Ministério do Trabalho em Santa Catarina, está se ensaiando candidato. Ele próprio sabe que é uma aposta arriscada. E mais uma vez, pode dar o que tiver a simpatia de Luciano Hang, mesmo ele calado.

Um leitor do blog mandou uma observação ao saber, por aqui, como estão se movimentando nos bastidores os que comandam o mecanismo no poder de plantão em Gaspar para ser perpetuar nele. “Os com mais de 70 anos ainda acham que mandam na cidade; os que estão entre 60 e 70, cansaram; os entre 50 e 60 não possuem espaços; os que estão entre 40 e 50 e estão no comando, deixam muito a desejar; os que estão entre 30 e 40 se insinuam, mas estão abafados; e os que estão entre 20 e 30 anos nem querem saber deste tipo de confusão“.

Experiência no Legislativo é o que mais sobra no currículo do governador Jorginho Mello, PL. Foi vereador, deputado estadual, deputado Federal e Senador. Mas, quando se olha para como trata e articula o seu relacionamento com e no o Palácio Barriga-Verde, sabe-se que devido à sua arrogância, ele está perdidinho e se enrolando. Nem parece que foi o ex-presidente da Assembleia. Ele mandava recados e deixava o governador de plantão de joelhos. Aprendizado nulo. Impressionante. É uma atrás da outra.

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7 comentários em “AO PASSAR O PANO NOS NÚMEROS CONTRADITÓRIOS DO HOSPITAL DE GASPAR, LÍDER NA CÂMARA ESCORREGA NUM PÂNTANO. INSINUA QUE À FALTA DE TRANSPARÊNCIA É UMA ORIENTAÇÃO GOVERNAMENTAL”

  1. OS ESTREITO COLABORADORES, por Carlos Andreazza, no jornal O Globo

    A Câmara votou pela Lei Eduardo Cunha — projeto de Dani Cunha, filha do ex-presidente da Casa. O PL 2.720/23 pretende tipificar — ainda a depender do Senado — os crimes de discriminação contra pessoas politicamente expostas. Por exemplo: Dani e todos os demais detentores de mandatos eletivos no Legislativo da União. (A lista de corporações beneficiadas é longa.)

    Também seriam privilegiados pela cobertura do troço — com efeito que perduraria por cinco anos a partir da data em que se deixou a condição especial — os familiares (papai), os estreitos colaboradores e as pessoas jurídicas de que participe o indivíduo politicamente exposto.

    Atenção aos “estreitos colaboradores”.

    O texto explica o que sejam: “Pessoas naturais que são conhecidas por terem sociedade ou propriedade conjunta em pessoas jurídicas de direito privado ou em arranjos sem personalidade jurídica, que figurem como mandatárias, ainda que por instrumento particular, ou possuam qualquer outro tipo de estreita relação de conhecimento público com uma pessoa politicamente exposta; pessoas naturais que têm o controle de pessoas jurídicas de direito privado ou em arranjos sem personalidade jurídica, conhecidos por terem sido criados para o benefício de uma pessoa exposta politicamente”.

    Guarde a figura do “estreito colaborador”. É isso mesmo que você entendeu. Um queiroz. Voltaremos ao tipo. Sua definição foi mantida no substitutivo aprovado em plenário, do relator Claudio Cajado, homem de confiança de Arthur Lira; que suprimiu, entre outros, o artigo 4º — aquele que previa punição (reclusão de dois a quatro anos e multa) por: “Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou decoro, somente em razão da condição de pessoa politicamente exposta ou que figure na posição de parte ré de processo judicial em curso ou por ter decisão de condenação sem trânsito em julgado proferida em seu desfavor”.

    Repita-se, porque houve muita desinformação a respeito: Cajado cortou esse item do relatório. Não pode passar sem alarme, porém, que parlamentar tenha se sentido à vontade para formular lei de índole censora com o objetivo de intimidar o livre exercício da crítica. Isso enquanto — o espírito do tempo — ministro do Supremo permite “o afastamento excepcional de garantias individuais” e determina censura prévia contra youtuber.

    Ou haverá outro nome para o que impôs Alexandre de Moraes ao baixar por “necessária, adequada e urgente a interrupção de eventual propagação dos discursos com conteúdo de ódio, subversão da ordem e incentivo à quebra da normalidade institucional e democrática”?

    Juiz de Corte constitucional obrigando a interrupção “de eventual propagação” — interrompido desde já aquilo que não ocorreu. Em nome da normalidade institucional e democrática. A ele, Moraes, cabendo definir o que seja discurso de ódio e subversivo. (Quem, aliás, estabeleceria, se prosperando o artigo 4º de Dani, o escopo de ofensa a deputado — ou a ministro do STF — somente por sua condição de politicamente exposto?)

    O que pensará Cármen Lúcia, a juíza do “cala a boca já morreu”, ante o fato de continuar valendo a licença excepcionalíssima que deu — por proibir, no curso do processo eleitoral de 2022, a exibição de um filme até o fim do segundo turno? Licença para que o tribunal agisse — só um pouquinho, rapidinho — à margem da Constituição.

    De volta ao “estreito colaborador”. Cajado o manteve; como manteve todo o conjunto original destinado a proteger — atenção ao “outro serviço” — os “politicamente expostos” contra discriminações de natureza bancário-financeira.

    Pena de dois a quatro anos de reclusão, mais multa, a quem “negar a celebração ou a manutenção de contrato de abertura de conta-corrente, concessão de crédito ou de outro serviço a qualquer pessoa física ou jurídica, regularmente inscrita na Receita Federal do Brasil, em razão da condição de pessoa politicamente exposta ou de pessoa que esteja respondendo a investigação preliminar, termo circunstanciado, inquérito ou a qualquer outro procedimento investigatório de infração penal, civil ou administrativa, ou de pessoa que figure na posição de parte ré de processo judicial em curso”.

    É isso mesmo que você entendeu. Que, aprovado o PL, ficarão protegidas operações financeiras — qualquer “outro serviço” — promovidas por “estreitos colaboradores” de “pessoas politicamente expostas”.

    Toda essa aberração inconstitucional — a prioridade de votar contra a discriminação ao laranjal — decidida no colégio de líderes pervertido, instância que, como num conclave, e então a fumaça branca dos elmares, de repente substituiu o debate em comissões, progressivamente esvaziadas, de súbito a urgência forçada, aterrada a dinâmica da atividade parlamentar; o parecer chegando ao plenário da Câmara com a votação já iniciada. Mais uma vez.

    O rito sumário Lira aprovando a Lei Cunha. O espírito do tempo.

  2. DELÍRIO GOLPISTA, por Dora Kramer, no jornal Folha de S. Paulo.

    Onde já se viu golpe de Estado por escrito? Estamos vendo agora que a polícia encontra provas da existência de uma conspiração no entorno do então presidente Jair Bolsonaro para tentar anular o resultado da eleição de 2022.

    É uma minuta ali, um projeto passo a passo de sublevação aqui, e o que temos são manuais de ataques à legalidade. Dada a falta de cerimônia dos conspiradores e o receio nenhum de deixar rastros, é de se concluir que não contavam com a hipótese de punição, uma vez descobertos.

    Pelo teor dos roteiros até agora conhecidos, eles se imaginavam como inventores de uma nova ordem institucional. Aquela pela qual abateriam a democracia alegadamente mantendo-se nos limites das “quatro linhas” da Constituição, sem dar bandeira de que se tratava de um motim.

    Caminhavam num universo paralelo. Na minuta encontrada na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres propunha-se uma delirante intervenção predial na sede do Tribunal Superior Eleitoral.

    No plano registrado no celular do tenente-coronel Mauro Cid, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, previam-se a nomeação de um “interventor” autorizado a suspender “atos inconstitucionais” de tribunais superiores, remoção de juízes inimigos, fixação de data para novas eleições e até decretação de estado de sítio.

    Sem apoio no Alto Comando das Forças Armadas, no Congresso, na maioria da opinião pública, na quase totalidade dos veículos de comunicação e no Judiciário, mais provável que acabassem todos presos.

    Bolsonaro ficou em silêncio ante os apelos para que deflagrasse o processo, o que não o livra de responsabilidade. Ao contrário. Poderia ter cortado aquele mal pela raiz, mas não o fez. Nenhum gesto ou palavra de condenação à conspirata.

    Assim, o ex-chefe da nação se torna cúmplice dos artífices da trama. Por ação golpista ou por omissão ante a trama da sedição.

    1. Talvez tenha contado com a mesma “sorte” de outro presidente, também delirante e apostador da amnésia de seus asseclas. De conspiração, omissão e ataques à legalidade não há sustos em mais ningém. Nenhum conta como a hipótese de punição, até porque raramente há. Afinal de contas, a estratégia é sempre a de esperar baixar a poeira, ser “libertado” pela justiça, venerado pelos fanáticos e repetir tudo novamente. Daqui e de lá, muda apenas o endereço. Justiça mesmo é a Divina! Dessa ninguém escapa!

  3. Bom dia.
    Se EXISTEM outras 20 gravações cabeludas para serem apresentadas contra o governo Municipal e CONTRA A POPULAÇÃO GASPARENSE;
    Se os vazamentos partiram, ao que tudo indica, dos agora “aliados”, se eles fossem ladrões de galinhas, será que estariam PRESOS?

    PRECISAMOS ou não PRECISAM fazer uma FAXINA no nosso quintal?

  4. OS DOIS ESTADOS DE SÍTIO, por Felipe Moura Brasil, no jornal O Estado de S. Paulo

    “Há sempre uma solução bem conhecida para cada problema humano – simples, plausível e errada”, escreveu o jornalista americano Henry Louis Mencken, no segundo volume de sua coleção de ensaios “Preconceitos”, de 1920.

    A frase que virou citação por mais de um século surgiu no capítulo “O sopro divino”, no qual Mencken trata da misteriosa faísca de inspiração e criatividade nas artes e letras, indicando que “explicações existiram desde sempre” para qualquer fenômeno, o que não quer dizer que estejam certas. “Os antigos”, segundo ele, “colocaram a culpa nos deuses”, que “às vezes eram mal-humorados, às vezes gentis”. Na Idade Média, outros abordaram o tema “e assim se lê sobre obras de arte inspiradas por Nossa Senhora, pelos Santos Beatos, pelas almas dos mortos e até pelo demônio”.

    No Brasil atual, há sempre uma solução bolsonarista para cada problema lulista (e viceversa) – simples, plausível e errada. A obra de Mauro Cid, inspirada pelo medo de cadeia de Jair Bolsonaro, é um exemplo.

    No roteiro do golpe, encontrado no celular do ex-ajudante de ordens do ex-presidente, alega-se que, “nestas eleições, o ministro Alexandre de Moraes
    nunca poderia ter presidido o TSE, uma vez que ele e Geraldo Alckmin possuem vínculos de longa data”. No item 4.3, que lista medidas a serem tomadas após o reconhecimento das “inconstitucionalidades praticadas pelo Judiciário”, lê-se no tópico “g”: “tendo sido afastados ministros do TSE”, em consequência de “violação da prerrogativa de outros poderes, devem ser chamados a integrar a Corte os respectivos substitutos”: Kássio Nunes Marques, André Mendonça e Dias Toffoli.

    Os dois primeiros foram nomeados por Bolsonaro. O último foi blindado por ele e seus filhos contra a CPI da Lava Toga no Senado (que investigaria, inclusive, a abertura do inquérito das fake news), enquanto paralisava no STF investigações sobre Flávio. O bolsonarismo, em razão dos fantasmas de seu passado, sabotou uma solução constitucional contra eventuais desvios de ministros de tribunais superiores e, diante da derrota nas urnas, tentou apelar a soluções inconstitucionais, agora usadas por Lula como contraponto ideal em suas tentativas de canonização, blindagem e controle.

    Na semana de início do julgamento no TSE que tende a tornar Bolsonaro inelegível, o Senado tende a avalizar a indicação ao Supremo do advogado do presidente, Cristiano Zanin. Momento emblemático do país das soluções simples e erradas. O estado de sítio de Atibaia venceu o estado de sítio..l

  5. QUANDO A EXCEÇÃO VIRA NORMA, por Lygia Maria, no jornal Folha de S. Paulo

    Quando a ministra Cármen Lúcia proferiu seu voto a favor da proibição da exibição de um documentário até o fim do segundo turno das eleições no ano passado, disse: “Eu vejo isso como uma situação excepcionalíssima”. A exceção era o pleito. Para protegê-lo, valia até ir contra a jurisprudência do STF e a Constituição, que impedem a censura.

    Passados oito meses, a ideia de “excepcionalidade” foi usada pelo ministro Alexandre de Moraes para censurar Monark —ao ordenar o bloqueio de todas as contas das redes sociais do influencer, que havia feito críticas ao STF, ao TSE e questionado a lisura das eleições.

    A decisão diz que, para conter instigadores de atos antidemocráticos, é permitido “o afastamento excepcional de garantias individuais, que não podem ser usadas como escudo para atividades ilícitas”.

    Qual atividade? Difundir notícias falsas. Ora, Monark não é jornalista e estava numa entrevista fazendo inferências. É opinião, não notícia. Opinião sempre tem lado e muitas estão erradas. Vamos criminalizá-las?

    Ainda pior, criminalizar a partir de futurologia: tal opinião pode vir a incentivar um ato golpista sabe-se lá quando. Não é preciso apoiar as ilações de Monark para notar que a suspensão de garantias individuais nesses termos é um ato temerário.

    Durante o pleito, o TSE cometeu alguns abusos com base no medo de que a democracia fosse solapada, e o STF parece ainda seguir essa linha —Alexandre de Moraes entregou sugestões para o PL das Fake News e, entre elas, estava a manutenção de métodos usados nas eleições.

    Mas o medo é mau conselheiro. Em “Origens do Totalitarismo”, Hannah Arendt mostra como governos usam o medo coletivo, criando inimigos internos e externos, para consolidar poder e justificar repressões.

    Não estamos numa ditadura, por óbvio, mas infringir a liberdade de expressão a partir do medo de uma abstração não é uma ferramenta democrática. O medo gera a excepcionalidade, e sempre há o risco do excepcional virar a norma.

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