SEM LIDERANÇA, SE ESCAPANDO DE UM TURBILHÃO DE DÚVIDAS DO GOVERNO KLEBER, O MDB DE GASPAR OPTA POR UMA NEUTRALIDADE DE FACHADA. OS PARCEIROS SE ESCONDEM

A notícia é velha. A imprensa de Gaspar, mais uma vez, não esclareceu. Então é preciso torná-la atual.

Esta foto acima é a cara do “novo” velho MDB de Gaspar. Dos 1.500 filiados, só 149 foram votar. E 148 chancelaram a chapa única. A foto também é um perigo, ela pode virar um meme na próxima campanha eleitoral de adversários contra as dúvidas mal resolvidas no governo de Kleber Edson Wan Dall, e de Marcelo de Souza Brick, Patriotas ou PL, sei lá. Nela estão dois possíveis candidatos a prefeito pelo partido: os vereadores Ciro André Quintino, hoje presidente da Câmara, e Francisco Hostins Júnior, advogado, hoje secretário da combalida Saúde Pública municipal com um Hospital gastão, sem retorno na mesma proporção para a comunidade. Ciro e Hostins Júnior ficaram, respectivamente, como primeiro e segundo vice-presidentes da eleita Executiva do diretório do MDB de Gaspar. 

Era a foto que um candidato cauteloso não tiraria neste momento, como foi à neutralidade de ambos em não pegar a presidência do diretório. Tudo para tentar resolver lá na frente quem dos dois vai para o risco da ré – e até quem sai do partido, hipótese ainda não totalmente descartada pelo buliçoso Ciro.

A aposta de ambos e do MDB é alta: a de que os gasparenses até lá, mais uma vez, vão esquecer os oito anos de dúvidas e trapalhadas do governo do MDB de Kleber com PSD de Marcelo – sim, é de lá que ele veio -, PP de José Hilário Melato e Luiz Carlos Spengler Filho, PDT de Roberto Procópio de Souza e o PSDB de Jorge Luiz Prucino Pereira e Franciele Daiane Back, por exemplo.

Para este salto no escuro, os emedebistas de Gaspar – com alguns que migraram de Blumenau – escolheram para presidente do diretório, a também vereadora, Zilma Mônica Sansão Benevenutti. Qual o melhor feito dela até agora? No primeiro mandato do prefeito Kleber ela foi a secretária de Educação e antes da pandemia, conseguiu a façanha de fazer o Ideb cair entre os alunos da rede municipal. Apropriada escolha. Reflete bem um governo. É uma perspectiva de futuro a julgar pelo que aconteceu com o Ideb.

O prefeito Kleber já deu vários sinais de cansaço para continuar no MDB. Se não houvesse a mudança que fez a seu gosto, estava disposto a seguir caminhos mais atrelados à sua igreja neopentecostal e ao novo prefeito de fato de Gaspar, o deputado Federal Ismael dos Santos, PSD. Kleber é o primeiro vogal do diretório, ou seja, por enquanto é apenas um nome de “honra” na nominata e não vai fazer falta se resolver sair. O ex-presidente, ex-prefeito de fato, o que articulou a subida de Kleber ao poder e projetava que este status duraria uns 30 anos, Carlos Roberto Pereira, sumiu do mapa político, inclusive da maioria das fotos do evento. É uma derrota e ao mesmo tempo de compliance, se nos bastidores não houver o acerto que se alinhava para diminuir os danos de todos.

Tudo a três semanas de um ano da morte do empresário e ex-prefeito (1973/77), Osvaldo Schneider (oito de maio de 2022). O então líder mantinha o MDB de Gaspar com os seus defeitos e correntes, razoavelmente próximos. Agora o MDB daqui se aproxima muito daquele que o ex-presidente do diretório queria imitar: o de Blumenau. Ele já foi referência não só estadual, como nacional, mas que hoje nem vereador mais possui por lá.

O último prefeito que o MDB de Gaspar elegeu, foi o também empresário Bernardo Leonardo Spengler, o Nadinho. Ele assumiu em 1997 e nem terminou o mandato. De lá para cá, para ser poder, o MDB usou o rival PP, e na união do sapo com a cobra elegeu Adilson Luiz Schmitt, em 2004 – cujo desfecho todos sabem – e Kleber em 2016 e 2020, cujo repercussão final só conheceremos em outubro do ano que vem. E o PP já está vestindo a sua candidata e cobrando o pedágio para continuar no desgastado governo de Kleber e matar, mais uma vez a CPI na Câmara.

Se tudo estava difícil para o MDB de Gaspar com o enfraquecimento de Blumenau e até mesmo estadual, onde o MDB mesmo nos bons tempos nunca teve relações de influência em qualquer momento da história do partido, as dificuldades de Kleber para ter reconhecida uma marca de governo, bem como a conjuntura da política nacional que favoreça partidos mais “arejados” e de alinhamentos conservadores ou liberais, deixam o MDB daqui ainda menor, envelhecido e pior: enfraquecido.

E para complicar, mesmo não tendo uma oposição que lhe dificulte qualquer ação na Câmara, onde possui à sua disposição a Bancada do Amém, com onze dos 13 vereadores, Kleber está sob questionamentos em três flancos

UMA CPI que ele próprio criou para se inocentar de vídeos-áudios com conversas cabulosas protoganisadas por seu então faz tudo e irmão de templo, Jorge Pereira e sumiu

O buraco sem fundo do Hospital de Gaspar que pode estar fugindo do controle absoluto e que só chegou a este ponto por falta de investigações dos órgãos de transparência, fiscalização e controle institucionais e à falta da chamada sociedade organizada.

Mas, principalmente e que pode lhe dar mais dor de cabeça, pois ainda não conseguiu contornar com tanta facilidade, como nos dois primeiros casos, o do fiscal do meio ambiente Pablo Adriano Ribeiro da Costa da Silva, naquilo que não conseguiu anular e vingar dele – uma marca indiscutível da atual administração. Aliás, parte dos vídeos-áudios passam por estas relações que Adriano o penetra na festa a bagunçou.

Esta foto cola nos possíveis candidatos do partido, problemas de Kleber e que a cidade sabe que ele não resolveu ou quando devia explicações, fez de tudo para contorná-las. Tanto, que nenhuma liderança de outros partidos – um fato tão comum e ainda mais quando se está usufruindo de uma coligação tão ampla como esta de Gaspar – quis ir à convenção do MDB no sábado. Tudo para não se contaminar com essa craca toda. Há toxidade. E alta.

Nem os amigos e empresários que viviam no palanque de Kleber e até os que lançaram-no a deputado estadual, todavia, viram-no também correr deste desafio por exatamente falta de liderança e votos na região. 

Esta foto, e o texto dela na publicação do político e prefeito Kleber nas redes sociais dele, na marquetagem errática que o orienta há anos, é uma bomba de efeito retardado, antes de ser um bilhete premiado para Ciro e Hostins Júnior. E os dois – e o entorno deles como se queixam nos contatos que fazem comigo – sabem disso.

E Zilma nesta história toda? Apenas um nome. Neutro. É a certeza de que nada irá para frente e os que estão na foto – e muitos dos que se escondem dela – decidirão por Zilma. E hora certa. Tudo a ver. E esclarecido. Acorda, Gaspar!

TRAPICHE

Ingratidão. Numa convenção partidária, ainda mais de um partido histórico e como gestor de uma cidade, é natural que os que usufruam do poder, participem de eventos como o de sábado passados. Fotos de convenções do MDB em municípios da região mostram isso. Em Gaspar, todos evitaram. ao menos na exposição. Sintomático. O novo prefeito de fato de Gaspar, o deputado Federal, Ismael dos Santos, PSD, foi um deles. Cumpriu agendas em vários municípios do Vale. E passou por dentro de Gaspar e não parou.

E o que falar dos “parceiros” PSD, PP, PDT – até teve gente lá – e PSDB? Nem o vice Marcelo de Souza Brick, que agora está no Patriota, mas diz estar no PL, apareceu. Vergonha ou prevenção? É a mais clara admissão que esta relação com o poder de plantão em Gaspar, por enquanto é muito tóxica. Os adversários declarados como PT e Republicanos agradeceram. O PL, se resolver os problemas internos, também será beneficiado em maior ou menor proporção. Só dependerá dele e do coordenador interventor, o deputado estadual, Ivan Naatz, de Blumenau.

Por que a oposição em Gaspar é quase inexistente, quase desarticulada e na maioria dos casos medrosa, ao invés de ser eficazmente silenciosa? Na segunda-feira, aqui no Trapiche revelei a espetacular remuneração do prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB.

Ela é superior a maioria dos prefeitos – inclusive de Blumenau – e até do governador catarinense. Alguns destemidos, pinçaram a informação daqui e a propagaram como a descoberta tinha sido deles, naquilo que estava na cara de todos desde que a Câmara, vapt-vupt, no final de março, aprovou o reajustes de todos os funcionários e políticos de Gaspar.

Até segunda-feira cedo, a pergunta era: quando virão os outros 15 vídeos-áudios com conversas cabulosas que o poder de plantão de Gaspar manteve entre si, na disputa de quem supostamente podia mais achacar investidores nos problemas e prestadores de serviços que tiveram seus negócios facilitados na cidade. As gravações, supostamente editadas, eram recados de acertos entre gangues.

Ao meio do dia da mesma segunda-feira, começaram a surgir algumas respostas e indícios de onde vem tudo isso. Circulou e congestionou os aplicativos de mensagens. apareceu o “quarto” áudio com novos “diálogos” bem cabulosos e gulosos nos percentual e números, também cifrados e com gosto de vinho, mas gravado em gabinete da prefeitura.

Nele, gestores públicos comissionados no poder de plantão falam de milhões para cá e para lá, como se fossem troco de feira para seus grupos políticos Há nomes e vozes identificáveis. Este áudio, que só ontem à tarde virou vÍdeo-áudio legendado, com autores identificados, fez cair por terra as especulações de que se tratava de mera de vingança de quem saiu contra quem entrou.

E por quê. Nos três primeiros áudios, uma das vozes estava distorcida e protegia um dos interlocutores. Só quem participou das conversas cabulosas é quem sabia – e acusava por isso – o interlocutor da outra facção. Desta vez, todos estão nus nas transações, taxações e pedágios. O que o autor da gravação quis dizer as duas gangues? Que sabe de tudo e vai apostar alto na destruição da reputação de gente que se passava por impoluta ou santa.

Estas gravações, que a polícia não está olhando ainda, porque não há uma demanda formal, na verdade, é também de fogo amigo, é vingança e por demanda particular não atendida. Teorias dos próprios gravados, segundo apurei, dão conta que um presente foi dado ao gestor experto para ficar no gabinete. E lá tinha um microfone. E as gravações vem desde 2021. A curiosidade é o que significa ter 25% da Educação. Da Educação? Ai, ai, ai.

Silenciosamente, o governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB e Marcelo de Souza Brick, Patriota ou PL, tentam se livrar de um outro problema: o fedor do lixo. Se não cuidarem bem deste assunto, estarão metidos na quarta encrenca e que já pegou muita gente boa pelo estado. Aqui a tal Serrana passou – diretamente – longe, enquanto outros, esteve muito perto ou dentro do bololô.

Cartas marcadas. Está na Câmara o PL 16/2023. Ele torna obrigatória a cremação nos cemitérios de Gaspar por falta de espaço físico nos nossos “campos santos”: o do Santa Terezinha e o do Barracão. O governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB teve seis anos para encontrar soluções. Entretanto, preferiu levar o caso de barriga até não ter mais alternativas, a não ser, segundo ele, o PL que está na Câmara e cujo relator é o Giovano Borges, PSD. Há resistências e muitas desconfianças. E todos pisando em ovos, inclusive a imprensa. E não é para menos.

Kleber na exposição de motivos também não deixa muitas dúvidas à cidade, cidadãos, cidadãs e vereadores ainda vivos. “Em síntese, a proposta visa incluir a cremação como serviço obrigatório nos cemitérios, veda novas construções tumulares de jazigos nos cemitérios horizontais“. É um negócio rendoso e na maioria dos casos, possui donos, mesmo quando se manda dividir entre empresas concorrentes. Em outros tempos já rendeu até intervenção do Ministério Público Estadual. Neste Projeto que está na Câmara há outras proibições e padronizações, bem como novas cobranças.

Nada como um dia após o outro. O que está na Câmara de vereadores de Gaspar para ser votada, e possivelmente, sem nenhuma discussão? Aquilo que anunciei que fazia parte da eleição de Ciro André Quintino, MDB, como presidente no acerto comandado do mais longevo dos vereadores, o que aumentou de 11 para 13 vereadores e criou a assessorias dos vereadores, José Hilário Melato, PP. Fui desmentido e praguejado. Na imprensa, nada. Nas redes sociais a coisa pegou desde segunda-feira.

Agora é oficial. Segundo o Projeto de Lei, cada vereador terá dois assessores em seus gabinetes, além de um estagiário – e dependendo da interpretação que se der – a mesma que está se oficializando agora para os assessores – dois.

Tudo chegou aos trâmites da Câmara sem chamar muito a atenção. E por quê? O comum disfarce no título da matéria para se passar sem discussão e muito comum nestes casos, com políticos que sabem dos impactos entre os seus eleitores e eleitoras. Por isso, usam assessoria técnica para o pulo do gato contra os eleitores e eleitoras que pagam tudo isso. O Projeto de Lei 24/2023 diz que ele “altera a redação das leis nº 3.303, de 16 de março de 2011 e da Lei nº 3.348, de 28 de setembro de 2011“. Leigos comem bolas.

O que diz a nova redação que a mesa diretora que inclui Ciro, Melato, Giovano Borges, PSD e Alexsandro Burnier, PL? Que os vereadores vão aprovar para eles próprios usufruírem mais assessores: “cada vereador titular terá direito à contratação de dois assessores, sendo um do cargo de assessor parlamentar e um do cargo de Assessor de Gabinete“.

O interessante está na exposição de motivos. Gente que gosta de passar vergonha e tratar a cidade como se fosse feita de analfabetos, ignorantes e desinformados. Na exposição de motivos está claro, mais uma vez, que os vereadores estão com medo. Fizeram um textão, como os meus. Mas, o deles foi para enrolar a cidade. Chegaram ao cúmulo de afirmar, nas justificativas, de que a cidade tem quase 80 mil pessoas [a primeira previa do Censo do IBGE contou 73.053 em março deste ano]

Mais: que são vereadores 24 horas por dia o ano inteiro e que estão de “plantão”… Blá, blá. Blá. “É oportuno e importante frisar que não se está criando mais vagas do cargo de Assessor Parlamentar e nem do cargo de Assessor de Gabinete. As vagas já existem [são doze de cada cargo – Lei nº 3.756, de 28/3/2017]“. A esperteza quando é demais come o dono, dizia o ex-primeiro ministro do Brasil, Tancredo de Almeida Neves.

Então, no contorcionismo para não ficar tão mal na foto, a mesa diretora da Câmara se enrola ainda mais para explicar:apenas muda-se a regra para que cada vereador possa nomear dois assessores, ao invés de somente um, se assim o quiser. Caso desejar nomear dois assessores, o vereador terá direito a um assessor de gabinete e um assessor parlamentar, com remuneração diferenciada entre os dois citados cargos. E à Presidência, para possibilitar haver dois assessores, está-se criando uma vaga ao cargo existente de Assessor da Presidência“.

Espera aí! Se não muda nada, por que mudar a redação da legislação vigente? Muda sim. Além de formalizar dois assessores e permitir que se aumente mais e mais daqui por diante, muda a remuneração. E isso não é explicado nas justificativas. 

Outra contradição das explicações mal formuladas: “não aumenta o número de assessores?” Como assim, se a própria redação da mesa diretora admite que pelo menos a presidência terá um assessor parlamentar a mais. É assim que de grão em grão a galinha enche o papo. E todos nós somos levados no bico. E tem gente com este tipo de discurso que quer ser candidato a prefeito, ao mesmo tempo em que pragueja quem esclarece os analfabetos, ignorantes, desinformados e manipulados.

Foi assim que se criou no passado a tal necessária isonomia nos assessores concursados, também por erros técnicos de quem não devia permitir isto: diminuiu-se a carga horária e manteve-se o vencimento mais alto. Ainda bem que sexta-feira se comemora o Dia de Tiradentes, o Inconfidente. A independência veio, apesar da sua morte. Hoje é mais um feriadão e que promete. Acorda, Gaspar!

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9 comentários em “SEM LIDERANÇA, SE ESCAPANDO DE UM TURBILHÃO DE DÚVIDAS DO GOVERNO KLEBER, O MDB DE GASPAR OPTA POR UMA NEUTRALIDADE DE FACHADA. OS PARCEIROS SE ESCONDEM”

  1. Pingback: A CPI NÃO VAI APURAR NADA. VAI INOCENTAR. E QUANTO MAIS FAZ ISSO, ELA DERRETE A IMAGEM FRÁGIL DO GOVERNO DE KLEBER E MARCELO ASSIM COMO DOS PARTIDOS QUE ARMAM O FAZ DE CONTA. É O QUE MOSTRA PESQUISA - Olhando a Maré

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  3. REVISRAVOLTA NA TAXAÇÃO DE SITES ASIÁTICOS REVELA O IMPROVISO DE LULA, editorial do jornal O Globo

    Esqueça-se tudo o que o governo martelou sobre a necessidade de taxar sites asiáticos para combater a sonegação nas compras pela internet. Depois de uma enxurrada de críticas de consumidores, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, informou que, a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governo voltou atrás e decidiu manter a isenção para remessas de até US$ 50 entre pessoas físicas.

    O governo pretendia arrecadar R$ 8 bilhões por ano com a mudança. Agora terá de buscar o dinheiro noutro lugar. Sem disfarçar o constrangimento de quem pregara o contrário, Haddad afirmou que Lula lhe pediu para resolver o problema “do ponto de vista administrativo”, reforçando a fiscalização. O que isso significa na prática, ninguém sabe. “Havia confusão de que a mudança poderia prejudicar as pessoas que de boa-fé recebem encomendas do exterior até esse patamar”, disse. Só que confusão quem fez foi o governo, desde o início. Haddad chegou a dizer que nem conhecia esses sites. Mas a baixa classe média, eleitorado disputado entre Lula e o bolsonarismo, não abre mão deles.

    Várias empresas se aproveitam da isenção até US$ 50 para burlar as regras. Enviam as encomendas como pessoas físicas, às vezes usando nomes de celebridades. Ou fracionam as compras para que o valor fique dentro do limite. Assim driblam o imposto de importação de 60%, cobrado sobre um total que inclui frete e até ICMS. Com a manobra, os produtos asiáticos chegam ao Brasil por preços imbatíveis.

    As varejistas nacionais, que reclamam com razão de concorrência desleal, estrilaram diante do recuo. Elas duvidam que apenas rever os protocolos de fiscalização funcionará para deter a burla, tal a quantidade de compras que chegam todo dia do exterior. No ano passado, 72% dos usuários do comércio eletrônico no Brasil compraram de sites internacionais. No período pré-pandemia, eram 58%.

    Por isso o fim da isenção pegou tão mal. De acordo com pesquisa Quaest divulgada ontem, a avaliação positiva do governo caiu de de 40% para 36%, e a negativa subiu de 20% para 29%. O imbróglio dos sites asiáticos contribui com destaque. Na pergunta sobre a notícia mais negativa do governo Lula, aparece no topo, com 16%.

    Sem consistência técnica, a reviravolta foi decidida por um argumento político: a constatação dos danos à imagem de Lula. O mesmo motivo aparentemente rege a tentativa de suavizar suas declarações sobre a guerra na Ucrânia (também pegou mal…). Para além das idas e vindas, é preocupante que o governo tome decisões só com base na popularidade de Lula, e não no mérito. Há sempre o risco de efeito contrário. Não há popularidade que resista a políticas adotadas na base do improviso.

  4. A HORA DO PASSADO, por Willian Waack, no jornal O Estado de S. Paulo

    Lula não parece perceber que se refugiar no passado tem sido prejudicial para ele mesmo. Justo quando tem de enfrentar desgastes de popularidade que aumentam dificuldades políticas – ampliadas pela demissão do amigo do peito de Lula que era o chefe do GSI, que apareceu parecendo acolher invasores do palácio que devia proteger.

    Com ou sem esse episódio, o desgaste é típico para qualquer governo em início de mandato, mas, por instinto ou falta de melhores ideias, Lula parece acreditar que sua melhor chance de resistir ao inevitável (diminuição inicial do capital político) é o apego ao passado. E, diga-se de passagem, o general defenestrado vem do longínquo passado, ainda do primeiro mandato.

    A ideia de promover crescimento, via gastos públicos, vem lá de trás. É o pressuposto básico que ele impôs ao desenho do arcabouço fiscal, que é retrato do seu arcabouço mental.

    A “visão” de Lula está amparada num dado empírico: a sociedade não “valida” cortes de gastos. Ela está apegada ao consenso de que os gastos precisam sempre subir – afirmar que não há mais capacidade de financiá-los é conversa de neoliberal.

    Vem também lá de trás a noção de que “movimentos sociais” ou “de base” dão a fundamental sustentação política de seu governo. O mais recente símbolo é a inclusão do chefão do MST no séquito imperial que visitou a China, algo “natural” para alguém, como Lula, que regrediu rumo à falsa (e velha) dicotomia entre agricultura familiar e agroindústria.

    Assim como está profundamente enraizada no passado a ideia de que a ordem internacional é “injusta” para os pobres (o Sul), pois é imposta por potência imperialista rica (EUA). Que diz defender “democracia” quando defende apenas seus interesses.

    Ao contrário do que disseram a Lula, o País chegou, sim, ao limite da capacidade de financiar crescimento real de gastos.

    Ao contrário do que ele acredita, sua base de sustentação depende de variada segmentação de eleitores – na qual fatores como religião, valores como empreendedorismo e indignação com corrupção têm mais peso do que os antigos movimentos sindicais ou “sociais”.

    E, em oposição ao que ele pensa, o grave risco de segurança para a ordem internacional não está na predominância dos EUA e países ocidentais mas, sim, no “revisionismo” dela por parte de autocracias fundamentalmente opostas a princípios de um universo de valores do qual o Brasil faz parte.

    Para destravar a economia, garantir sustentação política sólida e explorar as oportunidades que surgem para o Brasil lá fora, Lula precisaria de uma visão de futuro. Mas ele tem preferido mergulhar no passado.

    1. Eu também estou com dúvidas, mas como escrevi, ao que parece Jean – o dos Santos – que não bem como o santo dele – na verdade, talvez não tenha controle dos áudios. Nem ele, nem os antigos amigos do rei, como os gulosos que tomaram os lugares dos gulosos do reinado.

  5. FOCO EM CASA, SEM CONFUSÃO LÁ FORA, por Vera Magalhães, no jornal O Globo

    A terça-feira trouxe uma necessária pausa na sucessão de gestos e declarações desastrosos de Lula em matéria de política externa, com o envio do marco fiscal ao Congresso e a retomada da agenda de construção de consensos em temas concernentes ao combate ao extremismo. O crescimento da economia — com o cumprimento da promessa de combate à desigualdade social — e o fortalecimento da democracia são as chaves para o governo Lula 3 ter êxito e sepultar a ameaça de volta de um bolsonarismo puro ou reembalado. E, para isso, comprar brigas pueris e desnecessárias com as democracias liberais do Ocidente é burrice pura e simples.

    Lula tem um time de ministros que demonstra ter clareza do momento vivido pelo Brasil e pelo mundo nesses dois campos, que foram revirados do avesso desde seus dois primeiros mandatos — aos quais ele recorre com frequência maior do que a realidade recomenda.

    Puxam esse pelotão de auxiliares que olham para a frente e demonstram ter domínio das áreas e saber o que fazer para ampliar o espectro de apoio ao governo: Fernando Haddad, Simone Tebet, Flávio Dino e Alexandre Padilha.

    Estão dispostos a engolir sapos, a encarar extremistas, a comprar brigas impopulares (ou mesmo a se chamuscar em fogo amigo) e se posicionar por vezes de forma diversa da própria convicção pessoal ou ideológica para facilitar o caminho de trânsito de projetos e propostas na sociedade e no Congresso. Essa é a filosofia madura de um governo que se quer de frente ampla e “reconstrução e união”, para além de slogan vazio.

    A construção da proposta fiscal é, também ela, um exemplo de como essa conjugação de visões — com a consciência de que muitas vezes se terá de ceder aqui e ali para obter a melhor versão possível — deveria nortear as ações de toda a Esplanada e, sobretudo, do presidente da República. Haddad e Tebet provavelmente tinham visões bastante díspares de política fiscal quando começaram a arregaçar as mangas para colocar o projeto de pé.

    Terminaram a jornada tendo de se unir para evitar que outros ministros o tornassem mais gelatinoso, poroso e, portanto, menos crível aos agentes econômicos e mais suscetível a mudanças num Congresso que cada vez mais quer colocar preço em cada votação e não tem convicção lulopetista.

    Dino peitou as grandes redes sociais ao chamá-las à sua responsabilidade diante da escalada da radicalização política, a mesma que levou ao 8 de Janeiro e que nos tornou um país na rota odienta das ameaças de ataques a escolas. O ministro, assim, se une a Alexandre de Moraes na pressão sobre essas companhias, um imperativo não só no Brasil, mas em todas as democracias que se veem ameaçadas pelo extremismo violento.

    Essa é a pauta virtuosa, pela qual Lula deve pegar o microfone. Mais um sinal claro de como suas falas sobre a guerra na Ucrânia foram desastrosas é que essa agenda une o Brasil às democracias ocidentais que ele acusou levianamente de contribuírem para a persistência do conflito, enquanto estendia o tapete a um dos principais orquestradores da invasão criminosa a Kiev, o chanceler de Putin, Sergei Lavrov, que se sentiu à vontade para dizer que as visões de Brasília e Moscou sobre a guerra eram similares.

    Muitos dos ataques à democracia engendrados globalmente, inclusive nas redes bolsonaristas, têm na Rússia sua base de lançamento. Esse alinhamento acrítico a Putin precisava de uma correção de rota urgente, e ela começou a vir nesta terça-feira. Que não seja apenas um ponto e vírgula, mas um ponto final na fase de discursos de improviso num tema em que o presidente não é especialista e, portanto, precisa ser orientado pelo Itamaraty com responsabilidade e sentido de buscar o melhor interesse do Brasil.

  6. A ENCRENCA AMERICANA, por Elio Gaspari, nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo

    O governo americano incomodou-se com as últimas falas de Lula sobre a China e a guerra na Ucrânia. Noves fora as impropriedades do presidente, há outra questão no tabuleiro. É a preguiça com que a diplomacia americana tratou com ele. Lula foi aos Estados Unidos em fevereiro, e o Departamento de Estado organizou uma agenda miserável. Basta compará-la com a agenda chinesa. Espremidas, as duas se assemelham, com muito pirão e pouca carne. A cenografia chinesa, contudo, foi hollywoodiana. Isso, sabendo que vieram de Washington, e não de Pequim, os sinais contrários às aventuras golpistas que circulavam em Brasília.

    Há cerca de 50 anos fala-se em uma eventual decadência dos Estados Unidos, e ela ainda não aconteceu. Mesmo assim, coisas estranhas estão acontecendo por lá. Depois de quatro anos de Donald Trump, o país é governado pelo octogenário Joe Biden, e ele sugere que poderá ser candidato à reeleição. Há dias, encenando as corridinhas atléticas de Barack Obama ao subir as escadas do avião presidencial, tropeçou duas vezes. Mantendo o ritmo teatral, foi adiante e caiu. Dias antes, na Irlanda, não percebeu que o sujeito que havia se aproximado dele era o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, filho de indianos.

    A pretensão de Biden poderá inibir o crescimento de alternativas no Partido Democrata. Mau negócio.

    Noutra ponta da encrenca americana, a Suprema Corte não é mais o que foi. Não só porque, pela primeira vez, uma de suas decisões, sobre a constitucionalidade do aborto, vazou antes de ser formalizada. Caiu na frigideira o juiz Clarence Thomas. Ele chegou à Corte em 1991, indicado por George Bush I. Negro, simbolicamente ocupava o lugar do advogado Thurgood Marshall, um campeão da luta pelos direitos civis. Os dois só tinham em comum a cor da pele.

    Há décadas, Thomas pode ser considerado um dos piores juízes da Corte. Certo mesmo é que ele mal participa dos debates.

    Há algumas semanas, foi apanhado beneficiando-se de luxuosos mimos e hospedagens patrocinadas por um bilionário. Coisa de meio milhão de dólares. Esse gosto por mordomias já havia sido praticado, em menor escala, pelo brilhante Antonin Scalia. Vá lá.

    Agora, Thomas caiu de novo na roda. Até há bem pouco tempo, ele declarava regularmente à Receita Federal rendas que atribuía a uma firma de sua família, mas a empresa havia sido extinta em 2006. Ele diz que tudo não passou de um engano ao preencher os formulários. Conte-se essa história ao auditor da Receita do Brasil que segurou as joias sauditas dos Bolsonaros.

    Ao tempo em que Thurgood Marshall estava na Suprema Corte, ele tinha como colega Abe Fortas, que havia sido advogado pessoal do presidente Lyndon Johnson. Eram tão próximos que Johnson tentou promovê-lo a presidente da Corte. (Nos Estados Unidos, esse cargo, como o dos juízes, é vitalício.) Não conseguiu, mas Fortas continuou na Corte.

    Logo depois, o juiz foi apanhado recebendo US$ 15 mil por nove palestras numa universidade. Na verdade, o capilé vinha de uma empresa com múltiplos interesses. Em dinheiro de hoje, seriam uns US$ 150 mil.

    Juiz recebendo dinheiro de empresas para fazer palestras? Nada ilegal, tudo declarado. Mesmo assim, Abe Fortas teve de renunciar e acabou afastado da banca de advocacia que havia fundado. Morreu em 1982, e a viúva do presidente Johnson foi à celebração de sua memória.

  7. FARSA REPETIDA, editorial do jornal Folha de S. Paulo

    Desde o começo de abril, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra invadiu ao menos nove fazendas no país —oito em Pernambuco e uma no Espírito Santo.

    Somadas às três fazendas na Bahia em março, foram 12 propriedades rurais ocupadas ilegalmente em pouco mais de cem dias do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Esse número já é maior do que o de todas as invasões no primeiro ano de Jair Bolsonaro (PL) —as cifras variam, de acordo com as fontes, entre 8 e 11.

    Nos mandatos de Fernando Henrique Cardoso e Lula, a média anual era de 305 e 246 invasões, respectivamente, segundo dados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Em 2015, nos estertores da gestão Dilma Rousseff (PT), foram 182.

    No final do governo Michel Temer, em 2018, a quantidade havia despencado para 14; no ano passado, contaram-se 12.

    No período, mais de 72 milhões de hectares foram incorporados ao programa de reforma agrária, e cerca de 880 mil títulos de terra foram entregues a beneficiários.

    Lula foi o que mais incorporou terras (47,6 milhões de hectares) e menos concedeu títulos (105,5 mil), enquanto Bolsonaro foi o que menos incorporou (72 mil) e mais distribuiu posses (402,9 mil).

    Fato é que a reforma agrária não foi ignorada pelos governos brasileiros —perdeu muito do sentido como política pública, isso sim, em razão da urbanização e da produtividade da agricultura mecanizada.

    A súbita retomada das invasões do MST, pois, não tem justificativa além de um exibicionismo ideológico que conta com a costumeira complacência dos sócios petistas.

    Durante a campanha eleitoral de 2022, Lula disse em entrevista que o MST ocupava apenas terras improdutivas. É falso, mesmo agora.

    As três fazendas invadidas em março produziam celulose. Uma das áreas ocupadas em Pernambuco pertence à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (a estatal Embrapa) e é usada para pesquisas científicas de manejo sustentável do bioma.

    Não à toa, na segunda (17), o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD), considerou o episódio inaceitável, e a pasta emitiu nota condenando a ocupação.

    Mas João Pedro Stédile, dirigente do MST, esteve na comitiva de Lula na China. O Planalto se associa a uma agremiação que faz uso de violência e só contribui para reforçar o antipetismo na sociedade.

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