PREFEITO VAI A CÂMARA E FAZ UM BALANÇO DE SEIS ANOS DE GOVERNO. POR ENQUANTO É UMA CONTA NEGATIVA PARA ELE MESMO

Cansativo e errôneo. Este foi o resumo da participação do prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, na abertura oficial dos trabalhos legislativos e das longas das férias da Câmara de Vereadores de Gaspar. É uma tradição, que foi quebrada no ano passado, mas que ele se esqueceu ao se lembrar dela no discurso deste ano. Em 2022, Kleber só foi na segunda sessão do ano. Isto também mostra como erra e há muito, quem lhe assessora na imagem e no caro marketing, o qual alimenta nas suas redes sociais.

Qual a conclusão depois de mais de 15 minutos de fala articulada, e basicamente no improviso, mas seguindo um roteiro, prestando contas? Que Kleber em seis anos de mandato ainda não possui uma marca, um diferencial ou uma obra para dizer que é do seu mandato. O tal “Avança Gaspar” é apenas marketing. Nas se conecta – para usar a palavra do momento – e nada se transforma em grande resultado.

Conclusão? O seu marqueteiro não pode ainda – e talvez lhe falte tempo daqui em diante – para trombetear que existiu uma cidade antes e depois do governo Kleber.  Pedro Celso Zuchi, PT, com todos os erros pode dizer que construiu – praticamente sem dinheiro dos gasparenses – uma ponte que aos preços de hoje estaria próximo a R$100 milhões, o mesmo que Kleber quer tomar de empréstimos, livrando a cidade de um gargalo com a BR-470.

Pior, às vésperas de uma campanha eleitoral municipal, ainda cheia de dúvidas de quem estará com quem e contra quem, Kleber não possui metas e um diferencial no discurso de gestor para se impor para sim, confrontar adversários ou cativar a cidade e os seus apoiadores. Então Kleber vai se agarrando nas tranqueiras deste ribeirão. E talvez bem por isso, falta de um grande atestado de governança, é que Kleber, do nada, começou a apostar também no “nós contra eles”. Ou seja, para esconder o que podia ter feito e não fez, apenas marqueteou.

Pior de tudo, e eu me sinto de alma lavada outra vez, exatamente naquilo que me punem e criticam duramente. Triste!

Retomo.

Kleber no seu discurso agradeceu à Câmara por nestes seis anos não ter nenhum projeto rejeitado. O puxadinho da prefeitura fez isso com maestria via a Bancada do Amém, onde hoje estão onze (MDB, PP, PDT, PSD e PSDB) dos 13 vereadores. E mesmo quando perdeu a maioria em 2017, obteve os votos da oposição – muito mais ativa – via negociações e promessas, como as autorizações dadas pelos vereadores para se contrair empréstimos para obras na falta de verbas federais e estaduais relevantes que ele não conseguiu por falta de relacionamentos políticos.

Kleber ainda não as cumpriu. Vive em permanente punição contra os que o levaram à mesa de negociação naqueles dias onde um era aliado de templo e outro se converteu em aliado e agora conseguiu retornar ao mandato na Câmara.

Esta vingança não atinge apenas os vereadores que o questionaram bem como o seu duvidoso marketing querem fazer crer. A vingança atinge à cidade, os cidadãos, cidadãos, o desenvolvimento e o futuro de Gaspar. A lista é longa. Mas, cito apenas a infraestrutura e asfaltamento da Rua Vidal Flávio Dias, no Belchior Baixo, onde se instalou um distrito Industrial diante de várias iniciativas de investidores. Lá, os empreendedores, unidos, prometeram ao prefeito participar desta obra na ligação com a BR-470. Por enquanto, e por anos, estão ganhando bananas.

No seu discurso na Câmara, Kleber desfilou enfadonhamente obrinhas feitas nestes seis anos, e não exatamente as de 2022. Todas elas, bem que poderiam ser classificadas como de manutenção da cidade, ou adaptação obrigatória do município ao crescimento sem o devido desenvolvimento, sem um Plano Diretor atualizado e propositadamente retalhado contra o ordenamento social, produtivo, territorial e de infraestrutura. 

A secretaria de Obras e Serviços Urbanos, que está na mão do PP e do ex-vice-prefeito, que já foi vereador, Luiz Carlos Spengler Filho, bem que poderia se chamar muito apropriadamente de “Secretaria de Manutenção e Serviços Urbanos”. E mesmo assim, ela não estaria cumprindo à sua função. É só olhar para o que aconteceu por meses afio com a esquina das ruas Rafael Schmitt e Rio Branco que foi sendo comida dia a dia pelo ribeirão Gaspar Grande, até interditar parcialmente a mobilidade urbana.

Entretanto, não vou escrever sobre outros temas que estão à vista de todos. Vou me concentrar naquilo que se aparelha e se atrasa em Gaspar contra o futuro de crianças, na maioria pobres ou vulneráveis social e familiarmente. Kleber falou da tecnologia botou nas nossas escolas. Isto, na verdade, veio por um acidente e obrigatoriamente devido à pandemia que retirou abruptamente alunos e docentes da escola física. Citou até de algum suporte na área de inovação. Todavia, segrega. Ele ajuda uma parcela ínfima dos que estão nas escolas municipais.

Diante de quem criou a creche em meio período e antes colocou o IDEB no chão em Gaspar, a ex-secretária de Educação, Zilma Mônica Sansão Benevenutti e de outra técnica suplente e alçada à titularidade na Câmara, Rafaelle Vancini, ambas do MDB de Kleber, pouco se disse para corrigir toda essa ausência básica no nosso ensino da pré-escola até o fundamental, numa secretaria ocupada por um curioso, vindo de Blumenau, para preencher politicamente a vaga de secretário, o jornalista Emerson Antunes, PSD.

Antes da tecnologia é preciso dar o essencial, como por exemplo merenda nos padrões nutricionais e no cardápio que não se cumpre; é preciso dar vagas nas creches em período integral aos filhos de trabalhadores – hoje não se atende nem à demanda de meio período, a não ser que seja um comissionado do governo como denunciou exaustivamente o vereador Dionísio Luiz Bertoldi, PT e Kleber nada fez para corrigir esta distorção -está surdo; bem como é preciso, minimamente, de contraturnos e período integral, além de vagas, naquilo que é obrigação do município e Gaspar insiste passar a bola e culpar o governo do estado.

Tecnologia na educação em Gaspar neste caso, é marquetagem e a que não inclui.

Na semana passada, republiquei na área de comentários do blog, um editorial do jornal O Estado de S. Paulo e recomendei à leitura pelos “çábios” do paço municipal. 

Em “infância longe da pré-escola“, com fatos e argumentos decorrentes do Censo Escolar 2022, o editorial entre outras afirmava, baseado no relatório da Fundação Marília Cecília Souto Vidigal que, “pesquisas em diferentes países já constataram a contribuição da pré-escola para o desenvolvimento cognitivo e emocional, com reflexos na vida adulta. Brincadeiras e atividades na pré-escola facilitam a alfabetização na idade certa, passo decisivo para as demais aprendizagens no ensino fundamental e médio. Quem é privado desse tipo de experiência na infância tende a enfrentar mais dificuldades“.

Mas, não. Em Gaspar gasta-se dinheiro com espetáculo de abertura do ano escolar e depois da festa se descobre além de vagas insuficientes nos CDIs e em algumas escolas, há também falta generalizada de profissionais para recomeçar efetivamente mais um ano escolar. Falhou mais uma vez a burocracia, a previsibilidade e o planejamento da secretaria de Educação.

Mais, do que isso, feita a marquetagem para escolher “democraticamente” os competentes afinados com a comunidade da escola para dirigi-las – depois de uma prova de habilidade – escolheu-se ao final os de afinidades ideológicas ou com o poder de plantão. A foto acima, registra os novos “escolhidos”. E no plenário da Câmara, por falta do que apresentar como sua marca de governo para ser lembrado nos palanques do ano que vem, Kleber sinaliza que vai esconder as falhas neste ambiente essencial da vida e futuro das crianças. Arma o palanque, não exatamente pedagógico, mas político, ideológico e de crença religiosa. Se caminhar como está, o PT e nem a esquerda – esta a que não existe em Gaspar -não serão adversários de Kleber no ano que vem

Dúvidas este sinal do discurso do “nós contra eles”? Está gravado. Inclusive as palmas da distinta plateia que rodeia o prefeito Kleber e que o ajuda na sua bolha.

Dois pontos para encerrar. Na semana passada, o Ministério da Educação, liberou R$256,7 milhões para acabar 1.236 obras em escolas infantis e do ensino fundamental em 27 estados. Santa Catarina, ficou com R$10 milhões. Quanto virá para Gaspar?

O mesmo estudo elaborado com apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e pano de fundo para o editorial do jornal O Estado de S. Paulo, concluiu que: “Crianças que frequentam a pré-escola têm mais chances de terminarem a educação básica e maiores taxas de empregabilidade, bem como níveis mais altos de escolarização durante a vida adulta.”

Está claro que aqui – contra o futuro da comunidade – esta conclusão destoa dos nossos gestores e políticos. E que os responsáveis pela educação em Gaspar estão lendo em outra cartilha. Acorda, Gaspar!

TRAPICHE

O PL de Gaspar se enfraquece primeiro porque está dividido, segundo porque lhe falta clara liderança e enfrentamento aos problemas da cidade ou da administração de Kleber Edson Wan Dall, MDB. Veja esta. Depois que viu o deputado Ivan Naatz, PL de Blumenau, interferir, mais uma vez aqui, e por birra, o PL de Gaspar o que fez? Como mensagem de retaliação, inundou as redes sociais dizendo que estava apoiando o suplente de senador, Adrian Censi, para ser candidato do partido a prefeito de Blumenau.

Comuéqueé? A Comissão Provisória do PL de Gaspar apoiando um pré-candidato a prefeito de Blumenau, só para desafiar o deputado Ivan? Que coisa! Como diz aquela musiquinha, “brincadeira de criança…”

O certo era o PL de Gaspar, depois da intromissão indevida do deputado Ivan, dizer que já possui um candidato a prefeito (quem mesmo?) e que a provável vinda do vice-prefeito Marcelo de Souza Brick, Patriota, para os seus quadros, só reforçaria de que o partido iria ampliar o arco de possibilidades, com mais mais opções na disputa no ano que vem.

Perdeu a oportunidade. Foi para o embate direto. E quando fez isso, sinalizou que irá continuar fraco como está e com três “donos”. Um deles, Márcio Cézar, publicou ontem ontem uma foto recado com o Marcelo como se fosse uma conquista.

Ao invés de se mostrar um líder e um estadista, o presidente do partido por aqui, o engenheiro Rodrigo Boeing Althoff, vestido de candidato, mas dizendo que não é e aí que abre espaços para desunião e retaliação interna, preferiu se sentir “ofendido”. Fez, fez mais uma vez, o jogo do MDB, PP, PDT, PSD e Kleber para isolar e enfraquecer tanto o Marcelo quanto o PL. 

Se tivesse vigilante ao registro de filiados,o presidente do PL daqui viria, por exemplo, que os seus dois vogais na Comissão Provisória, ou seja, os que possuem direito de representação e voto no diretório estadual, nem filiados estão mais ao PL. Ao menos quando se consulta o sistema sgip3.tse.jus.br

O governador Jorginho Mello, PL, caminha celeremente para ser o pior governador de Santa Catarina. Depois de tentar nomear o filho no primeiro escalão, depois de nomear um secretário de Cultura que não tem nada a ver com a identidade do estado, depois de nomear a mulher do carioca, o neo senador catarinense Jorge Seif Junior, PL, Catiane para secretária adjunta de Turismo, agora, depois do estardalhaço da suposta falta de recursos, vai gastar mais de R$3 milhões para trocar as botas dos PMs. E vem mais…

O governador Jorginho, com atraso, percebeu claramente que, não pode prejudicar os catarinenses por conta sua pessoal retaliação ao ex-governador Carlos Moisés da Silva, Republicanos. Tratou de acertar os atrasados com as empreiteiras que estavam fazendo as obras nas rodovias federais e estuda como “retomar” os compromissos do Plano 1.000. As queixas de perda de arrecadação com a queda do ICMS, são por outro lado, improcedentes. Jorginho votou no Senado a favor deste desastre anunciado.

O prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, está desde segunda-feira em Brasília. Somente ontem começou postar fotos marqueteiras nas suas redes sociais sobre a peregrinação para entregar os papelinhos pedindo ajutórios aos funcionários de gabinetes dos parlamentares catarinenses. Só dois deputados o receberam. O vice, Marcelo de Souza Brick, Patriota, a revelia do paço, já tinha feito isto uma semanas antes e sem diárias.

O mutirão de cirurgias para diminuir as filas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, PT, anunciou R$600 milhões para seis milhões de procedimentos. O governador Jorginho Mello, PL, R$235 milhões para 225 mil procedimentos. Gaspar, fez recentemente 200 procedimentos para estancar varizes dos gasparenses. O que tudo isto nos diz? Uma reação alentadora. Entretanto, ela mostra o quanto estava represado e como a saúde pública foi relegada ao desastre por anos afio.

Promessa. O presidente da Câmara de Gaspar, Ciro André Quintino, MDB, leu o seu primeiro discurso neste ano para não errar. Ciro é melhor quando não lê. Mas, se leu está escrito que a sua gestão será voltada para a modernização, agilidade e transparência. Por fim, agradeceu aos vereadores que votaram nele “confiando” num projeto. 

Projeto? Ou seja, o tempo será o senhor da razão. No particular, Ciro se queixou das minhas bisbilhotices sobre o prometido inchamento e mordomias na Câmara sob a sua batuta e decisão da Mesa Diretora da Câmara. Mas, o discurso não deixa dúvidas, pois, isto é a tal modernidade e atualidade que ele tanto fala. O que não combina com Ciro é a tal transparência que prometeu. Ciro – como a maioria dos políticos – tem horror a isto

Em novo balão de ensaio, o presidente da Câmara de Gaspar, Ciro André Quintino, MDB, quer instituir o 13º salário para os 13 vereadores de Gaspar. Corajoso. E às vésperas das eleições municipais e quando ele tenta se viabilizar como candidato a prefeito? Em Blumenau há igual ensaio. Mas, diante do bafo da cidade por lá, uma parcela dos vereadores de lá dizem que não há clima e votos para tal projeto ir a plenário. A conferir!

Ciro ainda não entendeu à razão pela qual, como campeão de diárias, sem arrumar encrencas com ninguém, ele deixou vertiginosamente de ser um vice-campeão de votos entre as eleições de 2016 e 2020. Em Blumenau, por exemplo, o vereador Jovino Cardoso Neto, Solidariedade, é conhecido pai das mordomias de lá disfarçadas de modernidade e atualidade. E por conta disso, tentou de tudo desde então. Até agora, só conseguiu continuar ser vereador. Acorda, Gaspar!

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5 comentários em “PREFEITO VAI A CÂMARA E FAZ UM BALANÇO DE SEIS ANOS DE GOVERNO. POR ENQUANTO É UMA CONTA NEGATIVA PARA ELE MESMO”

  1. FERNANDO HADDAD TOMA POSSE, por Maria Cristina Fernandes, no jornal Valor Econômico

    Quarenta e cinco dias depois do início do governo, Fernando Haddad tomou posse pela segunda vez como ministro da Fazenda. Ao contrário do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que o fez ao demitir o comandante do Exército, a segunda posse de Haddad não aconteceu por uma canetada. Deu-se ao longo desta semana por sucessivos sinais – desde a volta de Washington, onde conversou com Lula sobre a trégua, à reunião desta quinta no Conselho Monetário Nacional.

    A segunda posse também teve discurso. Ao contrário daquele de 2 de janeiro, desprovido de plateia expressiva do PIB ou do primeiro escalão do governo, o desta quarta se deu sob a presença dos grandes gestores da dívida pública do país. Três deles – Luis Stuhlberger (Verde), André Jakurski (JGP), Rogério Xavier (SPX) – administram mais de R$ 100 bilhões. Precederam a fala do ministro e convergiram na crítica aos defensores “dogmáticos” da meta de inflação – “São os mesmos que aplaudiram quando o juro foi a 2%”, disse Xavier, que acusou o Banco Central de Roberto Campos Neto de “barbeiragem” e teve a anuência de seus pares.

    Xavier dirigiu-se a Haddad, que, àquela altura já estava sentado à plateia, e disse: “Não é o meu caso, mas ninguém tem coragem de dizer que não sente segurança fiscal no que está sendo proposto, ministro”. Antes mesmo de Haddad começar a falar, sua gestão já tinha sido identificada pelos donos do dinheiro como vítima do dogmatismo do mercado e das barbeiragens da política econômica do bolsonarismo.

    Ao anfitrião que, na transição, foi um dos focos de resistência ao nome de Haddad para a Fazenda, só restou lhe estender tapete vermelho. “O ministro tem sido uma voz de serenidade e compromisso como Brasil”, disse o presidente do Conselho de Administração do banco, André Esteves, ao apresentá-lo, emendando elogios ao pacote fiscal e à sua “disciplina e responsabilidade”, com menção ao grau de investimento obtido pela Prefeitura de São Paulo sob sua gestão.

    Quando Haddad começou a falar, ficou claro por que Lula, em seu primeiro compromisso depois de Washington, emudeceu sobre economia. No aniversário de 43 anos do PT na noite de segunda, o presidente chorou três vezes ao longo de um discurso de 18 minutos. Estava de volta ao palanque, mas nenhuma lágrima foi provocada pela inflação, pelos juros ou pelo Banco Central. O tema, na trégua combinada, ficaria com Haddad, ou com os bodes na sala, como a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, que, naquela noite, monopolizou a pancadaria.

    Naquela mesma noite, Campos Neto foi ao Roda Viva. Além de não ter esclarecido a razão de ter votado de verde-amarelo ou o risco fiscal que pautou a ata do Copom, só faltou pedir desculpas a Haddad por ter custado a reconhecer os esforços fiscais de sua gestão. A evidência de que o jogo era combinado viria no dia seguinte quando o ministro confirmou a ausência da mudança da meta de inflação da reunião do CMN sinalizada por Campos Neto.

    O jogo só não foi combinado com André Lara Resende que, ao Valor, antecipou muitas das críticas ouvidas no BTG à política monetária e até no discurso de Haddad. Pelo tom habitual, porém, o economista, paradoxalmente, acabou servindo aos propósitos da segunda posse do ministro. Lara Resende acertou no diagnóstico sobre a ausência de críticos, no governo, à política monetária, que levou Lula a se expor na tarefa. Tanto que personagens inesperados, como o vice Geraldo Alckmin, agora se apresentaram para a tarefa. Ao assumir a ofensiva e instigar outros a fazê-lo, Lara Resende acabou por valorizar o apelo conciliatório de Haddad.

    Foi este o papel no qual o ministro se esmerou na manhã desta quarta. Sem as ironias que marcam seu discurso, Haddad distribuiu, com habilidade, os recados. Não se arvorou a mandar um para o presidente da República, mas sinalizou os termos da trégua ao dizer que, ao aceitar o convite para o cargo, havia dito a Lula que seu plano de voo era resgatar os oito anos da política econômica de seu governo. Sinalizou à sua plateia que pretende ir além. “Não acertou em tudo, mas nesses 40 anos em que acompanho política econômica, aqueles oito foram os mais virtuosos”.

    O ministro fez questão de sublinhar que, neste resgate, não esquecerá as maldades: “Ele tomou medidas impopulares, inclusive em relação ao salário mínimo e à Previdência, mas colheu rapidamente os frutos de uma política que favoreceu os vulneráveis sem desfavorecer nenhum segmento”.

    Depois respondeu a Stuhlberger, para quem o Brasil está por merecer estadistas que mirem o longo prazo. No conceito de Haddad, é a aceitação, com dignidade, de uma derrota que define, numa democracia, o estadista.

    Convergiu ipsis literis no diagnóstico de Lara Resende de que é preferível focar na taxa de juros a chamar a atenção para a meta de inflação, mas emendou num recado que serviria de carapuça para o economista: “Não me lembro de nenhum prêmio Nobel convidado para o Tesouro americano. Há outros atributos em jogo”.

    Depois respondeu a Campos Neto – “Temos matriz fiscal, creditícia e regulatória para destravar o investimento, mas com taxa de 8% ex-ante fica difícil navegar” – mas assim como o presidente do Banco Central reconheceu os esforços fiscais de sua proposta, também o fez com sua política monetária: “Ninguém cumpre meta no mundo. Quem mais se aproximou fomos nós, mas a um custo enorme depois da irresponsabilidade que foi tentar reverter uma eleição com gasto”.

    Emendou numa estocada nas mesas de operação, mas sem a virulência de outros tempos: “Entendo a ansiedade do mercado e da meninada que fica dando ordem de compra e venda, mas as telas tiram a concentração”.

    E, finalmente, buscou desfazer a reputação “professor-de-deus”. Não apenas abusou de expressões como “não sou dono da verdade”, “temos que ser humildes diante do objeto [a economia]”, “tem que ter sangue frio”, como atribuiu à ministra do Planejamento, Simone Tebet, a ideia de antecipar de abril para março a apresentação das novas regras fiscais com o propósito de ampliar o prazo de discussão.

    A trégua tem chance de se estender até lá. Haddad não vai ganhar todas. Já está contratada sua derrota no reajuste do salário mínimo e na tabela do Imposto de Renda. O acordo sobre o Carf no Supremo ainda corre risco no Congresso. Não deixa de ser alvissareiro, porém, que, depois de quatro anos de bolsonarismo, o vetor dos conflitos volte a apontar para o lugar de onde nunca deveria ter saído.

  2. GOVERNO LULA PARECE PERDIDO, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

    O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, disse, em uma entrevista ao SBT, que a instituição vai organizar um seminário para debater a política fiscal em março. Segundo ele, a ideia do evento é ajudar o governo a formular a nova âncora que substituirá o teto de gastos. O resultado desse debate será entregue ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Aqui, tudo vai para o Lula”, disse.

    A iniciativa, por óbvio, foi recebida como uma tentativa de intromissão nos trabalhos da equipe econômica. Se há um assunto que deveria estar sob a liderança do Ministério da Fazenda é o novo arcabouço fiscal, atualmente a parte mais relevante da política econômica. O debate público sobre a âncora é válido e pode contribuir para a construção de um arcabouço crível e estável. No entanto, essa é uma iniciativa que certamente não cabe a Mercadante ou ao BNDES, mas apenas ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

    O episódio, no entanto, não é um caso isolado. Ele ilustra um problema mais amplo, que não se esperava que ocorresse sob a Presidência de Lula. Em seu terceiro mandato na Presidência da República, o petista não é um novato na atividade de governar. Mas, como se não tivesse vencido as eleições e assumido o País, ele mantém a aposta em um discurso de campanha capaz de mobilizar apenas seus próprios seguidores. Enquanto isso, seu governo está paralisado e batendo cabeças em público.

    Desde o dia 18 de janeiro, primeira vez em que Lula criticou o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, a autonomia da instituição e o nível da taxa básica de juros, o País assiste a uma novela diária pautada em sua cruzada contra a autoridade monetária. No capítulo mais recente dessa trama de gosto duvidoso, o evento de aniversário de 43 anos do PT foi usado como pretexto para mobilizar sindicatos e militantes a adotar uma nova causa política: “Fora Campos Neto”. Não há como não lembrar o bordão “Fora FHC e FMI” que o partido bradava na década de 1990, período em que se especializou em fazer oposição intransigente ao então presidente Fernando Henrique Cardoso.

    Elegendo Campos Neto como inimigo, Lula dá a entender que os juros altos são uma decisão pessoal do presidente do BC, único problema e verdadeira causa de todos os desafios econômicos e sociais do País. Não são. Há inúmeros outros aspectos da agenda pública a serem tratados com mais urgência e efetividade, a começar pelas relações com o Congresso Nacional.

    Até mesmo o economista André Lara Resende, que integrou a equipe de transição e é um dos maiores críticos aos juros elevados, considerou um erro o fato de o governo não ter escolhido o novo regime fiscal como tema a abrir a pauta legislativa neste ano.

    A aprovação da âncora fiscal não seria exatamente fácil, pois requer um projeto de lei complementar e a construção de maioria absoluta entre os parlamentares. Mas isso certamente é menos trabalhoso do que aprovar as reformas tributárias que tramitam na Câmara e no Senado, ambas Propostas de Emenda à Constituição (PECs) e que demandam maioria qualificada. Ainda assim, o governo hesita em adotar uma delas. Enquanto isso, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), criou um grupo de trabalho para discutir o tema, e os setores contrários a quaisquer mudanças já começaram a se articular para barrá-las. Dado o histórico de Lula, a letargia da articulação do governo no Congresso seria inexplicável, não fosse o fato de o Executivo ainda não ter conseguido construir uma base aliada que possa ser chamada de estável para submeter seus projetos sem risco de derrota.

    Lula completou 45 dias na Presidência, período em que desperdiçou uma janela rara para apresentar a agenda de um governo recém-eleito e unir o País. Se não a aproveitou, não foi por falta de experiência ou liderança. Das duas uma: ou não sabe o que fazer e para onde ir ou sabe o que precisa fazer pelo País, mas não quer arcar com o alto custo político imposto por essas impopulares decisões.

  3. UM BOLSONARO INELEGÍVEL, por Elio Gaspari nos jornais Folha de S. Paulo e O Globo

    Pelo andar da carruagem, é provável que Jair Bolsonaro seja tornado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral. Motivos, ele os deu de sobra. Acima de tudo, mesmo que isso não seja do gosto do capitão, sentença judicial não se discute, cumpre-se.

    Afastar Bolsonaro das eleições é uma coisa. Conviver com sua presença inelegível, bem outra. O cenário político nacional terá de se adaptar a isso, e não será fácil.Bolsonaro tem dois herdeiros de sangue e pelo menos dois de alma.

    Os de sangue são dois de seus filhos. Flávio é senador pelo Rio de Janeiro e tem bases na política local. Se ele disputar a eleição para prefeito da cidade, submeterá a herança do pai a uma prova de fogo. Eduardo, deputado por São Paulo, tem um futuro mais esmaecido. O petista Fernando Haddad perdeu a eleição para governador, mas prevaleceu na capital.

    Os herdeiros de alma são os governadores Tarcísio de Freitas, de São Paulo, e Romeu Zema, de Minas Gerais. O primeiro é uma criação do capitão. O segundo teve origem própria. Ambos serão mais ou menos bolsonaristas na medida em que o capitão consiga realizar seu sonho de liderar a direita nacional. Ele tirou-a do armário, mobilizou-a e levou-a à derrota de 2022.

    O arco democrático que elegeu Lula mostrou que a direita civilizada abandonou Bolsonaro. Parte da direita troglodita foi para a rua no 8 de Janeiro, e sabe-se que tinha raízes mais profundas. Ela pode ter encolhido, mas não desapareceu.

    Um Bolsonaro inelegível vestirá o manto do proscrito perseguido. Tornado inelegível por decisão da Justiça dentro de um regime de franquias democráticas, Bolsonaro ficaria numa posição um pouco parecida com aquela em que Lula foi colocado em 2017. Lula foi afastado da eleição de 2018 por uma decisão do Supremo Tribunal Federal, influenciado pela consistência jurídica do famoso tuíte do general Eduardo Villas Bôas. Deu no que deu em 2022.

    As malfeitorias do consulado petista e os excessos politicamente orientados do lavajatismo ajudaram a produzir a onda bolsonarista de 2018. Quatro anos depois, Bolsonaro ajudou a formar o arco democrático que elegeu Lula. Na noite em que Lula deixou o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e se apresentou à Polícia Federal, eram poucos os que admitiam a cena de sua subida na rampa do Planalto, em janeiro passado.

    Lula soube construir o arco democrático de sua vitória. Bolsonaro, por seu lado, não construiu o arco político que o levou ao poder. Apenas juntou sentimentos e preconceitos atirados ao vento. Uma vez no poder, isolou-se no irracionalismo e em fantasias golpistas. Ainda assim, em números brutos, teve mais votos em 2022 que em 2018.

    O bolsonarismo é coisa nenhuma. Seu oxigênio é o antipetismo, uma percepção política formada por diversos ingredientes. Nela, o mais desagregador é a tendência do PT a um hegemonismo que consegue conviver com o Centrão, mas tem dificuldade para coexistir com uma direita racional. Foi ela quem decidiu a parada na eleição do ano passado.

    Bolsonaro foi parar na Flórida porque ciscou para fora. Lula está no Planalto porque ciscou para dentro.

  4. UM TANGO A QUATRO, por Vera Magalhães, no jornal O Globo

    Não há ditado que, em português, traduza com imagem semelhante a maravilhosa expressão em inglês “It takes two to tango”. Dizer que é preciso que haja dois para que se dance o tango fica longo demais e não alcança nem sonoridade nem o significado, mais próximo do nosso “Quando um não quer, dois não brigam”.

    Roberto Campos Neto recusou, na entrevista ao “Roda viva”, o convite de Lula para dançar um tango que poderia levá-lo a se inviabilizar. Foi conciliador, disse que quer, sim, dançar conforme a música do governo e traçou uma única linha que não pretende ultrapassar: a revisão da meta de inflação, seja para este ano, seja para 2024.

    Mas o baile segue e terá novos números de dança nos próximos dias, e novos bailarinos serão chamados ao palco. A entrevista de Campos Neto foi seguida de perplexidade no lado do PT, uma espécie de decepção. Havia certa torcida para que o presidente do BC esticasse a corda da tensão e reafirmasse a preocupação com o cenário fiscal (que existe) e a posição de manter os juros altos por tempo indefinido enquanto essa preocupação persistir. Ele foi político ao se mostrar permeável ao argumento da necessidade de o BC também atuar para fomentar crescimento e emprego, desde que de forma “responsável” e “técnica”.

    Antecipando-se à própria entrevista, o PT aprovou uma resolução para convocar Campos Neto a explicar os juros no Congresso. Ele respondeu que não precisa: explicar ao Congresso a política monetária é sua obrigação legal, está disposto a ir a qualquer tempo. Sobrou como elemento, caso governo e partido queiram sustentar a briga, portanto, a meta de inflação. Pelo menos na reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) de amanhã, com o presidente do BC e os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento), o tema não virá à baila, pois Haddad o tirou da pauta.

    Se os dois pudessem definir um roteiro, nenhum encorajaria Lula a insistir em levar a revisão das metas já fixadas para o CMN, uma vez que isso emitirá ao mercado o sinal de que a meta não será cumprida e pressionará ainda mais preços, câmbio e juros. Mais um pisão no pé do tango desafinado. A opinião dos ministros acabou prevalecendo. O fator a pesar agora será se o presidente está disposto a seguir nesse tema ou se o deixará morrer aos poucos, o que seria o mais prudente a fazer do seu próprio ponto de vista.

    Rodrigo Pacheco voltou a repetir ontem que não haverá “retrocesso” no que concerne à autonomia do BC e que o caminho é o “diálogo”, fazendo, portanto, eco ao clamor público de Campos Neto por se reunir com o presidente da República.

    Para levar o tema das metas ao CMN, o governo precisaria ter proposto sua inclusão na pauta em reunião prévia do Comitê da Moeda e do Crédito nesta quarta-feira. Teria continuado a deixar as digitais numa discussão extemporânea, que poderia ter efeito contrário ao pretendido.

    Tudo o que Haddad gostaria de ter evitado, semanas atrás, era que isso virasse tema de redes sociais e discussão no diretório do PT, mas várias razões, da ata do Copom às falas de Lula, tiraram o assunto do âmbito reservado das conversas que vinham acontecendo.

    O mercado chegou ao fim da entrevista de Campos Neto aliviado, acreditando numa trégua na pressão sobre ele. Os petistas chegaram divididos entre aguardar a nova orientação de Lula e seguir com o discurso de que o partido quer a cabeça do titular do BC, como ouvi de vários dirigentes na noite de segunda-feira e ao longo da terça.

    A orientação para a reunião de amanhã mostra que por ora Haddad prevaleceu. Está em jogo também o futuro próximo da autonomia não mais do BC, mas dos próprios ministros de definir uma agenda econômica e trabalhar nela com tranquilidade e lastro.

  5. JUDICIÁRIO DEVE VOLTAR AO NORMAL, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

    Os magistrados e demais servidores do Poder Judiciário devem voltar ao trabalho presencial a partir do próximo dia 16, como determina uma resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) de 17 de novembro do ano passado. Foram três meses de preparação para esse retorno aos fóruns.

    Não obstante, associações de juízes e sindicatos de servidores têm resistido à ordem do CNJ. Não há, porém, qualquer razão objetiva para essa relutância, apenas o apego a certos confortos particulares. Há servidores que reclamam de eventuais “prejuízos à rotina” que a volta ao trabalho presencial poderia causar. Outros argumentam, pasme o leitor, que durante o trabalho remoto passaram a ter uma “vida organizada no exterior”, como se a natureza do serviço público que prestam não exigisse o vínculo territorial.

    Quase três anos depois, o fato é que ainda não é possível dizer que a pandemia de covid-19 acabou. Mas, graças ao progresso da vacinação, o vírus não representa mais uma ameaça à saúde das pessoas a ponto de demandar o prolongamento do trabalho remoto para a prestação de serviços públicos. Tanto que a esmagadora maioria dos servidores dos Poderes Executivo e Legislativo também já voltou ao trabalho presencial.

    Excetuando-se casos muito particulares, como, por exemplo, a prestação dos serviços de saúde e de transporte, praticamente todo o País já voltou àquela vida conhecida antes da eclosão da emergência sanitária. Por que só os servidores do Judiciário não haveriam de voltar?

    Quando acorrem à Justiça, é aos magistrados que os cidadãos expõem suas maiores angústias, depositando nesses servidores toda a sua esperança por uma decisão que lhes seja favorável. A Justiça lida, primordialmente, com tudo que toca o humano. Nesse sentido, o contato presencial é fundamental.

    Evidentemente, há casos e casos. Talvez esses três últimos anos tenham servido para mostrar que certos serviços podem continuar sendo prestados pela Justiça de forma remota sem qualquer prejuízo para os cidadãos. Decerto o CNJ sopesou perdas e ganhos ao tomar a decisão de impor a volta ao trabalho presencial.

    Uma vez decidida a questão, não cabe mais às associações e sindicatos contestar a decisão colegiada; cabe cumpri-la. Uma das atribuições do CNJ é zelar pela eficiência na prestação dos serviços judiciais. A decisão de novembro passado leva em consideração essa missão do colegiado.

    Enquanto servidores reclamam de supostos “prejuízos” causados pelo retorno ao trabalho presencial – como se essa não fosse a realidade com a qual todos estavam acostumados até bem pouco tempo atrás –, muitos advogados, segundo apurou o Estadão, não encontram juízes para despachar seus processos, que ficam dormitando nos escaninhos da Justiça, e reclamam de longa espera pela marcação de audiências.

    Como bem disse o ministro relator da resolução do CNJ, Luiz Philippe de Mello Filho, do Tribunal Superior do Trabalho, “o retorno da magistratura aos seus respectivos locais de trabalho é imperativo inegociável neste momento em que toda a sociedade já voltou à situação de normalidade”.

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