O PRIMEIRO DEBATE ENTRE OS CANDIDATOS AO GOVERNO DE SC MOSTROU-SE TÍMIDO, DESATUALIZADO E COM CHEIRO DE MOFO

Se por um lado os lageanos Roberto e o filho Carlos Amaral saíram na frente no seu SCC/SBT com o primeiro debate entre os principais candidatos – sete dos nove, ou dez – ao governo do estado, o mesmo não se pode dizer do desempenho dos atores deste novo “espetáculo” eleitoral. 

A primeira imagem é que não temos mulheres na disputa, apesar de elas serem a maioria do eleitorado catarinense de acordo com a própria Justiça Eleitoral. A segunda, é a desrespeitosa falta de novas atualizadas ideias de senhores que cuidam mais dos seus implantes capilares do que daquilo que está debaixo deles. A terceira, foi o de deixarem intactos os ovos que pisaram. Afinal era o primeiro debate. 

Pois é. Talvez, tão logo as pesquisas sérias apareçam ao público ou as de trabalho em seus comitês e marqueteiros, na mesma proporção dos números bons ou ruins vão sinalizar rupturas contra alguns tabus e necessidades não expressos neste sábado vão ser quebrados. Quem sabe, aí as ideias e propostas que faltaram no debate, apareçam com mais consistência e dentro de contextos de mudanças ou melhorias na gestão e resultados para a sociedade, ela também em mudança acelerada. Afinal, todos estão obrigados à uma proposta e plano de governo. Mesmo que fake.

A boa surpresa do debate, no meu entender, foi o ex-deputado Jorge Boeira, PDT. Ele saiu da Frente Democrática liderada pelo PT e PSB para dar palanque para Ciro Gomes. Aliás esta foi a casca do ovo que se tentou preservar durante todo o debate: a corrida ao Planalto. Santa Catarina, com raras exceções, ficaram em segundo plano. Jorginho Mello, PL, acentuadamente, Esperidião Amim Helou Filho, PP, e Gean Loureiro, União Brasil, defenderam palanques para o presidente Jair Messias Bolsonaro, PL, e estão à espera de novos capítulos do capitão. 

Na mesma linha, Décio Neri de Lima, PT, fez mais campanha para Luiz Inácio Lula da Silva, ou defesa da sua suposta inocência, do que debater propostas para um futuro governo se ele for eleito. Como amigo de 40 anos de Lula, Santa Catarina estará, no entender dele, num paraíso. O governador Carlos Moisés da Silva, Republicanos, ficou em cima do muro – sem negar ou acusar Bolsonaro que efetivamente fez parte e diferença na sua eleição em 2018. “Divorciado”, agora, preferiu criar uma expressão chamada por ele de “governo colaborativo com Brasília”, para justificar investimentos naquilo que era obrigação de Brasília e Santa Catarina tirou do bolso dos catarinenses duplamente. 

Outro que não usou afinamento com candidatos ao Palácio do Planalto, foi Odair Tramontin, Novo. Mas, está se apresentando em exemplo do governo de Minas Gerais e de Joinville, que quase nada se sabe em 95% dos eleitores e eleitoras catarinenses. Impressionante!

Três fatos ainda precisam ser destacados deste momento de suposto confronto de ideias. Esperidião é e continua o mais envolvente de todos. Um perigo. Se diz reciclado. Entretanto, no debate exalou ranço. Está cada vez mais longe daquele surpreendente prefeito biônico de Florianópolis que abriu os olhos dos políticos catarinenses conservadores de então, todos fechados em oligarquias que não o incluía.

Carlos Moisés, que em alguns momentos chegou a ser chamado de Comandante Moisés, a marca da campanha de 2018, saiu-se melhor do que a encomenda. Não foi alfinetado naquilo que é mais vulnerável: o caso dos respiradores – talvez porque, pela obviedade, já tenha a resposta na ponta da língua. E naquilo que foi culpado de colocar dinheiro dos catarinenses para obras que Bolsonaro devia ter feito, a exceção de Décio, de uma forma ou outra encontrou ressonância quase unânime.

O que está claro para todos os candidatos, e nisto quem puxou a fila foi Boeira: o modelo catarinense de produção e diversificação – esta desenhada pelo ex- governador Celso Ramos, PSD (1961/66) está em xeque e em desafio. É preciso resolver problemas de gargalos logísticos – incluindo ferrovia aos portos catarinenses. 

Mais do que isso, é preciso urgente criar uma rede para qualificar a mão-de-obra em um mercado cada vez mais exigente e competitivo. Se há milhares de desempregados, por outro lado, há milhares de vagas que não são preenchidas. Isto sem falar, numa política transparente e assertiva de incentivos fiscais por setor e não exatamente por empresas, sem paternalismos ou para esconder crônicas deficiências de competição.

Foi um bom primeiro debate. Mas, tímido, desatualizado e com cheiro de mofo.

TRAPICHE

Questionado pelo ex-promotor público Odair Tramontin sobre a razão do PT não ter votado contra as “saidinhas de presos”, Décio Neri de Lima tergiversou. Engasgado pela pergunta surpresa, preferiu fazer uma defesa enfática da suposta inocência do amigo e seu padrinho político, Luiz Inácio Lula da Silva.

“Acho que o senhor não entendeu o que é ser governador”, de Carlos Moisés da Silva, ao responder a uma das estocadas de Jorginho Mello, PL, sobre uma suposta dissociação com Brasília e que teria prejudicado o desenvolvimento catarinense. “Eu governo para 7,4 milhões de catarinenses”, disse ele sobre a necessidade de não estar em oposição ao governo central.

“A decisão [quase suprapartidária] de colocar recursos estaduais em rodovias federais foi validada numa reunião de sete horas da bancada [Ministério da Infraestrutura]”, pontuou Esperidião Amim. Com esse testemunho, colocou, praticamente, uma pá de cal naquilo que é maior queixa de Jorginho Mello sobre o suposto erro do governador Carlos Moisés no uso dos recursos estaduais.

“E esta ação não é inédita. No meu governo, a BR-163, no Extremo oeste, foi quase toda asfaltada com recursos estaduais. O que temos agora é que trabalhar para que estes recursos que estão sendo gastos com a infraestrutura das BRs, sejam abatidos da dívida de Santa Catarina com a União”. Esperidião Amim.

Vergonha nacional. ” O que o senhor faria se recebesse R$4,9 bilhões? perguntou Odair Tramontin a Gean Loureiro. Ele engasgou, repetiu o que já tinha dito sobre o que fez na capital quando prefeito e refirmou que é “um homem que trabalha muito, acorda cedo, dorme tarde…”

Mas, qual a razão da pergunta de Tramontin? Demonstrar que esta babilônia toda vai ser parte dela gasta pelos políticos seus concorrentes no tal Fundo Eleitoral aprovado por deputados e senadores. E que o Novo, onde ele está, não usará tal verba tirada dos pesados impostos de todos, inclusive dos pobres, dos que sofrem com falta de escolas adequadas, atendimento público de saúde, assistência social e obras de infraestrutura.

Outro assunto que passou batido é o tal do “PIX de Carlos Moisés”. Político tarimbado – e a exceção neste debate desta condição era Odair Tramontin – antes de tudo não é um doido. O político é um especialista em mandar outros cutucarem a onça com a vara curta, mas não exatamente ele. E qual a razão de não ter sido tema do debate? O tal PIX, em primeiro lugar, atendeu a todos os parlamentares por quatro anos, seja da situação ou da oposição. 

Mais do que isso, o tal “PIX reforçou” a política municipalista e que antes, praticamente não se teve se viu em Santa Catarina como política de governo. Se espalhou e foi dar com ampla publicidade a projetos criados nos municípios para a cidade, o cidadão e a cidadã. Antes de Carlos Moisés, atendia-se a interesses ou bases, mas políticas do poder de plantão. 

Falar no tal PIX como um erro, na suposta compra de apoio, ou contra o tal “Plano 1000” – além de levantar a bola para Carlos Moisés chutar -, é o mesmo que o candidato mandar o recado de que eleito, fechará os canais de verbas do governo do estado com os municípios. Ou seja, há muitos ovos nesta bandeja e nem todos podem ser quebrados como desejariam a militância, as raposas e os marqueteiros.

Jorge Boeira e Esperidião Amim, levantaram a bola para um ou outro chutarem. Jorginho Mello, dos experimentados, era o visivelmente desconfortável. Carlos Moisés não teve emoção, nem mesmo quando falou de suas conquistas ou quando falou para a sua turma da segurança. E Gean Loureiro ainda não saiu da Capital. Ele precisa entender urgentemente, que o interior tem restrições sérias à lenda de que na Capital não se trabalha. É a “ilha da fantasia” dos políticos.

Saia justa. Décio Lima foi ao debate com um problemão que ele próprio criou. O PSB parceiro da sua Frente Democrática, em convenção, escolheu os nomes do partido para ser o vice: Marcilei Vingnatti (Chapecó) e Rodrigo Bornholdt (Joinville). Décio escolheu Bia Vargas (Içara), que não estava homologada na convenção do PSB. Mais: deu prazo para tudo isso resolver até sexta-feira que vem.

Pior do que se intrometer nas decisões de outro partido, foi ouvir um áudio da escolhida por Décio aos dirigentes do PSB que a sua possível exclusão se deu – sem prova alguma – por causa da sua cor. 

Impressionante como do nada se cria narrativas, impasses e vitimismo usando-se o racismo – que é estrutural entre nós – mas, se amplia pelo uso daquilo que não se enfrenta. Se o PSB recuar, estará configurado o racismo. Se não recuar, será rotulado de machista, insensível e preconceituoso.

Sinais preocupantes. O PT e a esquerda dizem não entender a rejeição que possuem em Santa Catarina. Por outro lado, não se esforçam para implantar suas pautas pelo diálogo e por conquistas dialéticas e de afirmação.

Quem são oficialmente os candidatos ao governo do estado? Alex Alano, PSTU; Carlos Moisés da Silva, Republicanos; Décio Neri de Lima, PT; Esperidião Amim, PP; Gean Loureiro, União Brasil; Jorge Boeira, PDT; Jorginho Mello, PL; Leando Brugnago, PCO; e Odair Tramontin, Novo.

Por outro lado, há um imbróglio mal esclarecido. O Prós fez duas convenções. Uma dá apoio ao candidato Carlos Moisés da Silva, Republicanos, e outra, lança a candidatura a governador do defensor público, Ralf Zimmer, autor e derrotado em um dos dois dos impeachments contra o próprio Carlos Moises. A luta do Prós e de Zimmer é na Justiça Eleitoral para ver qual das duas convenções é válida.

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3 comentários em “O PRIMEIRO DEBATE ENTRE OS CANDIDATOS AO GOVERNO DE SC MOSTROU-SE TÍMIDO, DESATUALIZADO E COM CHEIRO DE MOFO”

  1. Pois é. Se você leu o que escrevi sobre o debate dos candidatos a governador em Santa Catarina, deveria ler este artigo publicado nesta segunda-feira no jornal Folha de S. Paulo. Ele mostra o quanto os nossos políticos estão fora do ar e descomprometido com o futuro. Ah, mas Herculano, você está falando em tecnologia e um governo é voltado para o cidadão, a cidadã, o vulnerável, principalmente.

    E deve ser mesmo. Mas, sem tecnologia o cidadão do presente e do futuro será cada vez menos cidadão, mais alienado, menos ajudado e mais vulnerável, isso sem falar que que a propalada competitividade, o grande diferencial do nosso estado, estará totalmente em descompasso com a iniciativa privada e que num determinado momento vi procurar quem esteja afinada neste que será o novo normal.

    UCRÂNIA CONSTRUIU UM GOVERNO DIGITAL EM DUAS SEMANAS, por Ronaldo Lemos, advogado e diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro.

    Gosto sempre de repetir: todo governo terá de se transformar em plataforma digital. Governo que permanece analógico perde a capacidade de governar. A razão é simples: em uma sociedade digital, a governança precisa ser exercida também digitalmente. Não dá para governar com papel se a maior parte da população organiza suas vidas através do celular. Essa lição vale não só para a União, mas também para estados e municípios e qualquer outra entidade que exerça alguma forma de “governança”.

    O desafio, no entanto, é como fazer essa transformação digital dos serviços governamentais em plataformas digitais. Até há pouco tempo o maior exemplo disso no mundo vinha sendo a Estônia. O país adotou como lema a frase: “construímos uma sociedade digital e você também pode fazer o mesmo”. O país criou uma identidade digital verdadeira. A partir dela unificou todos os serviços públicos em um único portal, acessíveis de qualquer lugar do planeta. As únicas duas atividades que o cidadão ou cidadão precisa ainda fazer fisicamente é comprar um imóvel ou se casar. Todo o resto pode ser feito online.

    No entanto, a Estônia tem perdido o posto de caso mais interessante. Um outro país insuspeito tem mostrado uma interessante capacidade de fazer transformação digital mesmo em tempos muito difíceis: a Ucrânia. Como parte do esforço envolvendo o conflito na região, a Ucrânia teve que rapidamente mover todos os serviços governamentais para o plano online.

    Para isso construiu um esforço conjunto entre o Ministério de Transformação Digital e o Parlamento. Criou então uma identidade digital verdadeira parecida com a da Estônia, chamada DIIA. Essa mesma identidade pode ser também usada para assinar documentos. Em paralelo, levou 100% dos serviços públicos para dentro do celular. E o mais ousado: criou também um passaporte digital, eliminando a necessidade de carregar um passaporte físico. Algo importante em meio a um conflito internacional com grande número de refugiados.

    O que chama a atenção é que tudo isso foi feito em pouco tempo. Para conseguir esse resultado a Ucrânia criou uma coalizão entre estado e sociedade civil, inclusive contando com a ajuda de voluntários. Essa coalizão foi chamada da “IT Digital Army”, o exército da tecnologia da informação, contando com nada menos que 270 mil pessoas.

    Foi esse grupo que conseguiu criar uma revolução digital no governo do país em semanas, algo que em outros lugares demoram anos (ou décadas) para fazer. Dentre os serviços criados encontram-se praticamente todas as atividades da vida civil. Estão também serviços novos que têm a ver com a vida militar. Por exemplo o Evorog, que permite a qualquer pessoa reportar movimentações militares de inimigos do país pelo celular.

    Antes do conflito a Ucrânia obrigava as empresas a armazenar dados em servidores locais, por razões de segurança. Agora passou a incentivar o armazenamento fora do território, em países aliados, justamente para evitar a destruição física dos dados.

    Se houver vontade política e coordenação entre vários setores da sociedade é possível fazer uma revolução digital nos serviços governamentais. Com conflito em curso ou não.

    Já era
    governo analógico

    Já é
    Brasil avançando em transformação digital do governo

    Já vem
    Brasil levando mais tempo do que deveria para fazer sua transformação digital

  2. Miguel José Teixeira

    Como diria meu saudoso primo Quincas, lá do Baú: “tá feio os zóio da mula”! Mas, se eu votasse em SC, cravaria, sem medo, Odair Tramontin!

    1. NOVE CANDIDATOS AO GOVERNO DO ESTADO DE SANTA CATARINA..
      👀😱
      Será por cau$a do FUNDO ELEITORAL?
      Todos que lançam nome ao pleito ganham uma fatia suculenta do nosso RIM?

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