O BURACO ENTRE O EMPENHADO E O EFETIVAMENTE PAGO PELA PREFEITURA DE GASPAR NO ANO PASSADO É DE R$47.679.750,56. OU SEJA, MAIS DE 10% DO ORÇAMENTO. PIOR: SÃO R$69.689.659,22 NO PREGO PARA SEREM PAGOS.

Avisei que este blog não estava de férias….

O retrato da “saúde financeira” de uma empresa, quando não manipulado, é o seu balanço com seus haveres, investimentos, patrimônio e as dívidas. O balanço de um município – que terá que ser auditado pelo Tribunal de Contas do Estado – e com algumas diferenças técnicas, também. E olhando para o balanço de 2023 de Gaspar fechado há poucos dias, ele é assustador. Não só para a atual administração de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, PP, o quer sucedê-lo, mas, principalmente, para quem for eleito para 2025/28.

Há anos que escrevo ser a peça orçamentária de Gaspar uma ficção. Os números, todos eles aprovados, e remanejados numa montanha de Projetos de Lei de anula e suplementa as dotações orçamentárias em pleno exercício fiscal, onde 95% deles, sequer sofrem qualquer questionamento por parte dos vereadores na Câmara, torna-os, principalmente os da Bancada do Amém (MDB, PP, PSD, PDT e PSDB), cúmplices deste mau resultado. Nem mais. Nem menos.

Eu, ainda vou detalhar, algumas rubricas nas diversas secretarias com o passar do tempo para o desespero dos gestores, curiosos e políticos no poder de plantão e em campanha para ficar onde estão, comprometendo ainda mais o futuro da cidade. Hoje, vou me dedicar aos números macros, geridos por quem diz estar sempre em reunião de planejamento – há milhares de fotos sugerindo isso nas redes sociais por anos seguidos – com a sua equipe e parece, que não enxergou, não corrigiu e complicou ainda mais, o que dizia já estar complicado. Nunca provou nada. O antecessor, Pedro Celso Zuchi, PT, por sua vez, por sua tropa de combate, diz que entregou a prefeitura redonda e com dinheiro em caixa.

É de se perguntar se os que se vestiram até agora de candidatos a prefeito em até aqui para disputar em outubro deste ano e para suceder Kleber e Marcelo, sabem deste estado complicado de endividamento do município de Gaspar? O que vão fazer para reverter, ou minimamente, equilibrá-los? Pelos números, sabe-se bem a razão pela qual a gravação do vídeo da prestação de contas do município do segundo quadrimestre sumiu dos anais da Câmara. Aliás, perguntar não ofende: o controlador geral do município pode ser um comissionado?

A persistir este quadro, o eleito estará amarrado numa camisa de força e iniciará o mandato sem tinta na caneta. Vai se desgastar no primeiro mês de mandato. Simples assim. E pior. Há uma dívida alta e não se tem avanços na cidade que justifiquem esta dívida. Obrinhas, no máximo e algumas delas caríssimas, como o pagamento de R$12 milhões por menos de um quilômetro de asfalto. Ah, mas é diferente! É! E é só comparar esta obra com a duplicação da BR 470, em terreno com as mesmas implicações de solo instável. 

A simples manutenção da cidade está jogada às traças. O secretário de Obras e Serviços Urbanos, Roni Jean Muller, MDB, é um curioso na área. Está lá, para aparecer e alavancar a sua candidatura a vereador na cidade a partir da Margem Esquerda. E quem paga por esta escolha de Kleber e Marcelo é a cidade, os cidadãos e as cidadãs. O mato tomou conta da cidade. Avança, capim!

Vamos aos números e contra eles não há contestação, ao menos. 

O orçamento de Gaspar para 2023 estava fixado em R$462.000.000,00. Sabe quanto Kleber e Marcelo contrataram em dívidas? R$531.689.659,22, ou seja, R$69.689.659,22 a mais do que o orçamento autorizava

Ah, mas parte deste montante vem do passado – e quase todos dos sete anos de Kleber – e de dívidas que podem ser amortizadas em médio e longo prazos, nos tais financiamentos, cuja capacidade de endividamento está toda esgotada e a prefeitura não consegue mais financiamento novo junto aos bancos, apesar da autorização dada pela Câmara há seis anos, sob muita pressão e uso político contra os questionavam detalhes desta autorização. O resultado do cheque em branco está aí aos olhos de todos.

Podem até ser parte das dívidas ter amortização de médio e longo prazos. Mas, é enrolação. até porque o próximo prefeito terá que pagá-las, ou seja, tirar dinheiro bom do caixa e ainda por cima, estará sem crédito para novos financiamentos para fazer a cidade rodar minimamente.

Quer ver uma outra conta que mostra que o fluxo de caixa da prefeitura está comprometido? 

O orçamento do município era de R$462 milhões, a dívida de R$531,7 milhões em 2023, mas a prefeitura durante o ano passado só empenhou – ou seja, está comprometida para efetivamente quitar R$417.884.108.02, as quais inclui as despesas de custeio da máquina como as pessoas que emprega, luz… E destes mandou para a liquidação só R$394.880.190,33 e destes, olhem bem, só pagou efetivamente R$370.204.357,46 aos credores, fornecedores e vencimentos. Ulala. 

Noves fora, ou seja, mandou R$47.679.750,56. nas manobras contábeis e de fluxo de caixa, embarrigou mais de 10% do orçamento do ano passado, para comer expressiva parte dos R$508 milhões previstos para serem arrecadados neste ano.

Estes números são públicos. E qualquer contador pode explicar a criatividade contábil do governo de Kleber e Marcelo. E não há nenhum indicador de que isto vai ser saneado este ano. Até porque, na exposição de motivos para aprovar lá em novembro do ano passado o Orçamento deste ano na Câmara e passou quase sem qualquer questionamento nenhum, o governo de Kleber e Marcelo alegou que 95% dos R$508 milhões que previu arrecadar – e já comprometidos de cara por R$47,7 milhões – virão de impostos, taxas, contribuições e transferências, como o ICMS.

Até hoje, pelos números que aconteceram até aqui, será preciso de milagres para esta conta equilibrar. E milagres são necessários quando a gestão falha e é feita por curiosos, os quais renegam a transparência com a cidade e falta nela, a começar pelos próprios vereadores e os assessores deles que não entende nada deste assunto ou estão orientados a não mexer neste vespeiro. Acorda, Gaspar!

TRAPICHE

Começou: enquetes rotuladas de pesquisas eleitorais. Rodam em Gaspar, dia sim, outro dia também, supostas “pesquisas” realizadas via redes sociais sobre a intenção de votos para a eleição a prefeito neste ano. Primeiro não são pesquisas. São enquetes. E enquetes não possuem qualquer plano amostral e metodologia. “Vota” quem quiser – até gente que não é de Gaspar que é mobilizada pela turma do candidato – quantas vezes quiser para dar volume no escolhido. E normalmente, estas “pesquisas” acontecem dentro da bolha da conta virtual, do candidato, da estrutura eleitoral, ou do campo ideológico onde o candidato está.

Elas surgem do nada, normalmente a noite. De manhã se espalham. Quando os adversários descobrem e entram na mesma brincadeira, os resultados mudam e aí a “pesquisa” é fortemente questionada pelos grupos de interesses que se viam em vantagens.

Uma delas apareceu no “Gaspar Linda” no Instagran. Está aí do lado após 24h quando se encerrou. O que chama atenção, mais uma vez? O resultado pró o outsider, o empresário Oberdan Barni, Republicanos. Ele nuca foi candidato a nada e está enfiado a quem já foi três vezes prefeito, a quem é vice-prefeito e quem já foi vereador, secretário do governo petista e está saindo de uma disputa onde teve mais de 22% votos válidos para prefeito.

O que está claro nesta “pesquisa” que o PT não é o bicho papão, que a máquina de Kleber está manca e que a direita e o conservadorismo têm muitos mais votos em Gaspar. Esta “pesquisa”, mais uma vez, desconstruiu algumas verdades de botequim, os quais não querem um intruso neste jogo eleitoral de outubro deste ano. E o intruso é o Oberdan Barni. Talvez pelo clamor de mudanças ao que foi e está aí.

Passou no escurinho. Na última sessão do ano a Câmara de Gaspar aprovou o tal “namming right” ou “brands right” (direito de nominar), ou seja, a prefeitura pode vender, por um período, o nome de um bem ou espaço público para alguém explorá-lo e com isso, botar mais dinheiro no caixa vazio da prefeitura. Foi a toque de caixa. Não está claro, como ficará um bem que já tem nome de uma personalidade gasparense.

O artigo quarto da lei aprovada, diz a “cessionária incluirá na placa de anúncio indicativo, presente nas testadas do equipamento público, após o nome do equipamento”. Isto é conflitante com a Lei Orgânica do Município, no artigo 109, e que não foi alterada. Ela veda a alteração de nomes já aprovados pela Câmara. Tudo genérico, feito para dar confusão e insegurança jurídica ao investidor.

Por exemplo. O ginásio de esporte vereador Gilberto Sabel, que fica anexo ao ginásio prefeito João dos Santos, poderia vir ser chamado, pela lei aprovada, “Fábrica de Ideias Google”. E onde ficaria a nominação dele de Gilberto Sabel? No lixo? Na falta de memória que já sem tem contra ele na própria assessoria de imprensa da prefeitura? Qual o investidor que vai querer Fábrica de Ideias Gilberto Sabel Google”?

Também cai por terra, a defesa ferrenha que se fez na Câmara por algum tempo, só para ganhar espaços e votos, de nominar os bens e locais públicos de Gaspar com nomes de gente que viveu ou nasceu em Gaspar ou teve relevante ação comunitária, política e esportiva com a nossa cidade, ao invés de dar nomes de árvores, flores, pássaros etc

Detective. Placas em postes de Gaspar anunciam o número de celular de um suposto detective. Ele estará mais preparado do que as instituições para desvendar o escurinho dos nossos políticos?

Depois de tantas críticas contra o óbvio, roçaram o cemitério do bairro Santa Terezinha. Depois de quase três meses interditada, foi restabelecida ontem a ligação entre os bairros do Gaspar Mirim e Gasparino, sob o ribeirão Gasparinho na ligação das ruas Rodolfo Vieira Pamplona e Fausto Dagnoni. Precisou de um quase acidente para a prefeitura se mexer.

Para ver o grau de indignação pessoas com a atual administração de Gaspar, basta dar um rolê pelas redes sociais. Isto não acontecia até bem pouco tempo atrás. Sintomático da perda de controle e aumento dos desgastes. O governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, PP, está exposto. Um exemplo vem do Distrito do Belchior.

Ali, no Belchior Alto, Carlos Eduardo Schmitt Sobrinho, que não é nenhum adversário político do atual governo, postou a foto dele no ponto de ônibus cercado de mato. “Não dá para negar que o nosso bairro está cada vez mais verde“. Choveu de intervenções no mesmo tom de indignação na sua rede social. E diante da repercussão, a prefeitura correu para lá, para pelo menos, deixar o ponto de ônibus acessível aos moradores. 

Carlos Eduardo Schmitt Sobrinho retrucou. Ele não pediu uma ação pontual, mas à volta da normalidade da roçada no Distrito, parada há 60 dias. O que Carlos Eduardo não disse, mas talvez não saiba, o governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, PP (morador no Distrito) raspou o tacho do Orçamento da Superintendência para colocar na secretaria de Obras e Serviços Urbanos, para atender as demandas de toda a Gaspar. E como o voto da vereadora do Distrito, Franciele Daiane Back, PSDB.

Como se vê, destampou um santo para mal cobrir outro. O resultado é este retratado nas queixas dos moradores de lá. Acorda, Gaspar!

A Justiça de Santa Catarina derrubou a liminar em plantão judiciário que impedia a nomeação e posse de Felipe Melo, filho do governador Jorginho Melo, PL, para a titularidade da Casa Civil. Era óbvio. A Justiça, mais uma vez. foi, desnecessariamente, para o foco do desagaste, quando ele deveria estar na atitude política de Jorginho. Jorginho e Felipe saíram como vítimas deste processo. Impressionante.

O convescote de ontem em Brasília vai repercutir nos resultados das eleições de outubro deste ano. O PT e a esquerda do atraso derem tiros nos próprios pés. São tantas as incoerências. A começar pela frase do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, PT, no evento: “perdão soaria como impunidade e salvo conduto para novos atos terroristas“. Ele sabe o que falou. O perdão dado a Lula por manobras processuais na Justiça o levou ao terceiro mandato de presidente.

Amanhã toma posse os novos cinco membro do Conselho Tutelar de Gaspar. Há quem aposte em desistência e a chamada de suplente. Acorda, Gaspar!

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5 comentários em “O BURACO ENTRE O EMPENHADO E O EFETIVAMENTE PAGO PELA PREFEITURA DE GASPAR NO ANO PASSADO É DE R$47.679.750,56. OU SEJA, MAIS DE 10% DO ORÇAMENTO. PIOR: SÃO R$69.689.659,22 NO PREGO PARA SEREM PAGOS.”

  1. É A SEGURANÇA, SENHORES, por Elio Gaspari, nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo

    As celebrações do 8 de Janeiro tiveram todos os ingredientes típicos dos eventos de Brasília: as enfadonhas nominatas, com os intermináveis registros de presenças e discursos em louvor da democracia. Faltou uma só peça: a discussão dos fatores que permitiram a ocorrência das invasões.

    Os ônibus convocados trazendo milhares de pessoas para a “Festa da Selma” chegavam a Brasília desde a véspera. Candidamente, diversos ministros contaram que, no início da tarde, estavam almoçando. Nenhum depoimento revelou alguém que, desde o início da manhã, estivesse organizando qualquer tipo de resistência.

    A tentativa de golpe vinha sendo articulada havia semanas. Hoje culpa-se o culpado, e seu nome é Jair Bolsonaro. Contudo, se um sujeito tem uma joalheria, e ela é assaltada, a culpa é do ladrão, mas o dono da loja deveria ter pensado na proteção de seu patrimônio. O que houve em Brasília foi o colapso do sistema de segurança pública, que está bichado em todo o país.

    Em São Paulo, o governador diz que câmeras corporais colocadas nos uniformes dos PMs não protegem os cidadãos. No Rio, o chefe de uma grande milícia decide se entregar à Polícia Federal. Pudera, Ecko, irmão de Zinho, morrera baleado quando estava preso, dentro de uma viatura da PM. (Nada de novo, há mais de 50 anos a poeta americana Elizabeth Bishop contou a morte do bandido Micuçu numa favela. Na verdade, ele saiu vivo do morro e foi executado dentro de uma viatura.)

    Olhando para o 8 de Janeiro pelo retrovisor, aprende-se que as forças encarregadas da segurança mal se falam. No Rio, prenderam-se pessoas que nada mais deviam à Justiça. O erro foi descarregado sobre o equipamento de reconhecimento facial. Daí, foi repassado a outro equipamento, que deveria informar a situação dos detidos. Traduzindo, compraram suas traquitanas de última geração, para nada. Um dos milicianos mais procurados do Rio deixou a cadeia, com alvará. São diversos os casos de bandidos libertados por juízes plantonistas. Em sete anos, a Justiça de São Paulo soltou 30 quadros do Primeiro Comando da Capital. Um desembargador do Rio que praticava esse tipo de gracinha foi investigado pelo Conselho Nacional de Justiça e retomou seu cargo. A mulher do chefe de uma organização criminosa frequentava gabinetes do Ministério da Justiça. Exposto o absurdo, a cavalaria governista investiu contra uma jornalista.

    Com o crescimento do crime organizado e dos índices de letalidade das polícias, o governo federal fingiu que acordou e lançou mais um plano. O que aconteceu em Brasília no dia 8 de janeiro de 2023 foi um genérico das PMs amotinadas no Ceará, no Espírito Santo e na Bahia. Esses motins são, por sua vez, genéricos de polícias que saem matando “suspeitos”, como ocorreu na Baixada Santista há algumas semanas.

    Sabe-se lá quem Lula colocará no Ministério da Justiça. Até agora, o favorito é o ex-ministro do STF Ricardo Lewandowski. Seria um ministro tipo exportação. Tem biografia e currículo, mas nunca prendeu um bandido.

    A segurança pública está bichada, e, nos próximos meses, com as campanhas municipais, o tema reaparecerá. É certo que será central em 2026. Se o governo começar a trabalhar amanhã, poderá mostrar resultados. Se acreditar nos próprios planos grandiosos, acordará tarde.

  2. LULA, O PRESIDENTE SOL, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

    Não há mais dúvida: o Brasil gira em torno de Lula. Esse arremedo de Luís 14 considera que a história dele e a do PT são a “garantia”, segundo suas próprias palavras, de que a democracia brasileira existirá “inabalável” no País.

    O demiurgo petista detalhou sua teoria lulocêntrica perto do final de seu discurso por ocasião do evento de anteontem, em Brasília, que lembrou o primeiro aniversário da tentativa de golpe de Estado promovida por hordas bolsonaristas.

    Era para ser um pronunciamento adequado ao momento solene – no qual era preciso enfatizar o papel das instituições na resistência à barbárie dos liberticidas que, insuflados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, pretendiam criar o caos a partir do qual, conforme seus delírios, produzir-se-iam uma ruptura e o estabelecimento de um regime de exceção liderado por tiranetes bolsonaristas.

    Lula até que salientou, corretamente, “a coragem de parlamentares, governadores e governadoras, ministros e ministras da Suprema Corte, ministros e ministras de Estado, militares legalistas e, sobretudo, da maioria do povo brasileiro” naquele dia infame.

    No entanto, em vez de ater-se ao script à sua frente, cujo tom, malgrado alguns exageros retóricos, parecia no geral correto, Lula foi fiel à sua vocação palanqueira e transformou aquela cerimônia de defesa da democracia em comício para atacar seus adversários e louvar a si mesmo e a seu partido – exatamente como previam os vários governadores de oposição que, por essa razão, se recusaram a comparecer.

    Lula chamou Bolsonaro de “golpista” e fez diversas insinuações de malfeitos do ex-presidente. No trecho do discurso em que claramente estava improvisando – e, portanto, foi mais autêntico –, Lula chegou a sugerir que os três filhos de Bolsonaro que se elegeram para cargos políticos renunciassem a seus mandatos em protesto contra as urnas eletrônicas, que, dizem os extremistas bolsonaristas, foram fraudadas para impedir a reeleição do ex-capitão.

    Ora, não era isso o que se esperava do estadista que Lula julga ser. Nem se discute que a cantilena bolsonarista contra a lisura das urnas eletrônicas era e é profundamente antidemocrática, como já dissemos repetidas vezes neste espaço, mas Lula, na condição de presidente da República e sendo o principal orador de um evento voltado à celebração da democracia e à pacificação nacional, deveria ter se limitado a louvar a manutenção do regime de liberdade e de respeito à lei.

    Mas a natureza é implacável. Lula não conhece outra língua senão a do enfrentamento. Aproveita todo e cada momento para estimular o rancor contra aqueles que considera seus inimigos, o que é particularmente inapropriado no momento em que as autoridades públicas, sobretudo o presidente da República, têm o dever de esfriar os ânimos e buscar convergências.

    No mesmo fôlego em que atacou duramente seus adversários políticos numa cerimônia supostamente apolítica, Lula foi capaz de declarar que a democracia brasileira viceja, vejam só, porque ele e o PT existem. “Eu queria dizer para vocês, e sobretudo aos companheiros da Suprema Corte e ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral: quando alguém colocar dúvidas sobre a democracia no Brasil, seria importante que vocês não tivessem receio de utilizar a minha história e a história do meu partido como garantia da existência inabalável da democracia neste país”.

    Mais autorreferente do que nunca, o presidente mostra que nada aprendeu com os fatos recentes. Se a democracia resistiu ao 8 de Janeiro, foi em razão da força de suas instituições, testadas até o limite nos últimos anos, e da união da sociedade, que ignorou suas diferenças para derrotar um de seus maiores inimigos. O mérito é de muitos, inclusive de alguns que se ausentaram ou que não se sentiram representados no evento comemorativo.

    É realmente lamentável que uma data que tinha tudo para se firmar como uma efeméride relevante para a democracia brasileira tenha sido convertida por Lula em uma festa em louvor a si mesmo e à companheirada. Do mesmo modo que Bolsonaro tentou sequestrar o 7 de Setembro, Lula quer se apropriar do 8 de Janeiro. Se depender dos verdadeiros democratas, não conseguirá.

  3. Pra resolver as manobras no orçamento da prefeitura de Gaspar, além de esmiuçar a vida regressa dos candidatos ao pleito de 2.024, teremos que passar a vassoura na metodologia que AUTORIZA o Executivo e legislativo Municipal empossar essa turma “nem nem”, “estacionadas” nas Secretarias e gabinetes em cargos comissionados e gratificados no paço Municipal.
    Aém do PREJUÍZO financeiro PELA INÉRCIA, os inúteis eliminam a possibilidade do município otimizar os recursos para desenvolver as suas potencialidades.
    Só assim, EXIGINDO MUDANÇAS, iremos garantir o mínimo de habilidade nos empossados pelo executivo municipal para ADMINISTRAR A NOSSA CIDADE.

    Sem essa FAXINA teremos só mais do mesmo.
    Eles são INSACIÁVEIS nas manobras pra manutenção das suas mordomias PALACIANAS, independente se elas são oriundas do sangue, suor e PRIVAÇÕES da “sua gente” 👀😱.

  4. DA BOCA PARA FORA, por Dora Kramer, no jornal Folha de S. Paulo

    De verdade a direita nem a esquerda têm interesse na pacificação dos ânimos na política. Pelo simples fato de que a moderação não é eleitoralmente sexy. Políticos se movem ao ritmo da demanda dos que lhes dão votos e estes não se mostram inclinados a aderir à calmaria celebrada na teoria, mas na prática rejeitada.

    As pesquisas comprovam. Em dezembro, o Datafolha mostrou que com erros e acertos, derrotas e vitórias de um lado e de outro, 90% dos eleitores de Luiz Inácio da Silva e de Jair Bolsonaro continuam apegados às escolhas de 2022.

    Nesse universo, 30% declaram-se petistas convictos, 25% estão com Bolsonaro e não abrem, 10% se dizem mais próximos do petismo e 7% transitam na área de influência do bolsonarismo. Os ditos neutros, os menosprezados “isentões”, somam 21%.
    Como se vê, sobra pouco espaço à conciliação que, diga-se, não significa o abandono de convicções, mas disposição para ouvir, compreender, tomar decisões racionais e, sobretudo, não fazer do adversário um inimigo a ser dizimado.

    Passado um ano da demonstração de unidade nacional no 8 de janeiro de 2023, o ambiente de harmonia democrática se desfez e assim ficou ao longo do período do fim do qual a cisão se expressou nas ausências do ato de ontem.

    A intolerância dos oposicionistas foi diretamente proporcional ao sectarismo dos governistas e a intenção de reviver aquela união com caráter de adesão a um projeto político-eleitoral-partidário específico.

    Nenhum dos dois lados dá chance ao centro que, desprovido de sex appeal em sua essência, tampouco faz a sua parte no esforço da conquista. Segue como sujeito oculto das vitórias e derrotas eleitorais.

    Serve para decidir —Lula não teria vencido sem a ajuda dos chamados neutros, mas não tem tido força para caminhar com as próprias pernas.

    Aos chefes das torcidas interessa mantê-las mobilizadas enquanto pregam a união de todos desde que seja em torno de si.

  5. RISCO DE POLITIZAR ATO É QUE HAVERÁ O DIA SEGUINTE, por Vera Magalhães, no jornal O Globo

    Atos como o desta segunda-feira, para marcar efemérides históricas, sejam elas virtuosas ou infames, como o 8 de Janeiro, são benéficos para a Histórica e educativos para a sociedade. Assim, feriados em datas de grandes tragédias ou guerras, ou museus como o do Holocausto, o de Hiroshima ou de diferentes ditaduras mundo afora têm o caráter de evitar que esses eventos sejam esquecidos, minimizados ou repetidos.

    O grande problema é quando o caráter cívico e institucional descamba para a partidarização, porque isso tisna o objetivo e dá munição aos que tentam desvirtuar os fatos. A solenidade desta segunda-feira teve o mérito de se inscrever na primeira modalidade, mas teve momentos em que incorreu na armadilha da politização.

    Foi Lula que, no último dos discursos, forneceu à oposição bolsonarista os recortes de que precisava para dizer que o ato era uma “celebração” “petista” à “baderna” de um ano atrás, que, por sua vez, não teria nada a ver com Jair Bolsonaro. Ou seja: uma série de falsificações históricas que se valem dos detalhes para tentar confundir a opinião pública.

    Todos os oradores que precederam o presidente tiveram a inteligência e o cuidado de não citar Bolsonaro. Pesquisas nos dias anteriores, como a da Quaest, ou divulgadas ontem mesmo, como a do instituto Atlas, mostram que o repúdio ao 8 de Janeiro é generalizado na sociedade, mas a imputação de responsabilidades é algo ainda em disputa. E as narrativas se prestam justamente a atuar nesse terreno, que é o mesmo da polarização.

    Nesse sentido, Lula joga contra o patrimônio dando pano para manga para aqueles que, cinicamente, tentam imputar às vítimas a responsabilidade por uma tentativa de golpe — sim, houve uma clara deliberação de se buscar uma ruptura institucional, e o outro mérito de efemérides é revisitar imagens, documentos e processos.

    Ele ajuda, assim, não a romper, mas a cristalizar a polarização, para usar o termo que vem sendo usado na literatura internacional e, aqui, está bem explicado na obra recente de Felipe Nunes e Thomas Traumann, “Biografia do Abismo”.

    Esse risco de que a coisa descambasse para a partidarização, presente desde a concepção do ato e agravado pelo fato de o Planalto ter concentrado a sua organização, ajuda a explicar por que Arthur Lira decidiu de última hora não ir à cerimônia desta segunda. E ainda que pareça que Lula não ligou ou até gostou da ausência, ele deveria, de novo, dar alguns passos atrás e pensar que a democracia pode até ter escapado inabalada, mas há um dia seguinte e ele pressupõe que haja governabilidade na Câmara.

    Deveria acender um sinal amarelo no Planalto o fato de que não foi só o deputado alagoano a faltar ao ato, mas toda a cúpula da Câmara. Com a necessidade de regulamentação da reforma tributária, mais vetos indigestos na pauta e a contrariedade (comum ao Senado, aliás) com a MP da reoneração, qualquer ruído com o Legislativo agora é pedir um segundo ano de mandato mais complicado que o primeiro.

    Passada a necessária rememoração da infâmia de 2023, o governo tem de ser estratégico a ponto de deixar Bolsonaro e os bolsonaristas com a Justiça e a Polícia Federal e cuidar de remontar sua base para lá de esgarçada no Congresso. Isso vai requerer descer do palanque, engolir Lira e olhar para a frente.

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