GOVERNO DE KLEBER E MARCELO FAZ ESPETÁCULO FAKE VIA O LÍDER NA CÂMARA PARA ESCONDER DA CIDADE OS PROBLEMAS DE GOVERNANÇA DE GASPAR

De tão manjada a jogada, a cidade inteira sabe que a intenção dos políticos e seus “çábios” no poder de plantão em Gaspar é a de criar cortinas de fumaça para esconder seus erros, incapacidade para resultados coletivos inovadores ou necessários, empreguismo gerador de votos, bem como não se esclarecer as dúvidas. Transparência zero. De tão manjada esta repetida jogada ela está enfraquecida e se tornando um problema, cada vez maior, para os jogadores que se dizem profissionais ou craques desta jogada.

Inconformado, Incomodado e irritado – como de hábito – com a decisão do vereador Dionísio Luiz Bertoldi, PT – claramente vestido como pré-candidato a prefeito no ano que vem e que isso não se esconda para que se compreenda todo este contexto – de levar as dúvidas e denúncias documentadas do Hospital de Gaspar à polícia e ao Ministério Público, o líder do governo – que já foi petista por longo tempo -, o vereador Francisco Solano Anhaia, MDB, resolveu confrontá-lo e repetir o discurso de desmoralização contra quem ensaia por luz em assuntos espinhosos ou nebulosos na prefeitura de Gaspar.

Na falta de explicação e luz, sobra o rotineiro papel do líder de Kleber Edson Wan Dall, MDB e Marcelo de Souza Brick, Patriota, ou PL, sei lá, ou PP, talvez, de esconder o que deve ser esclarecido, criando factoides. Aliás, foi para isso, que Anhaia voltou à Câmara depois de brevíssimas passagens pela chefia de gabinete do prefeito e secretaria de Planejamento Territorial. O governo de Kleber e Marcelo estava sem voz de confrontação na Câmara, ou quem podia fazer isso, mesmo sendo da Bancada do Amém – onde estão onze dos 13 vereadores – não se expor para simplesmente não se desgastar com este papel da enganação. foi assim, por exemplo, com José Hilário Melato, PP e Giovano Borges, PSD.

Retomando.

Na terça-feira passada, sem como contestar à recusa da unanimidade dos vereadores do MDB, PP, PL, PDT, PDS e PSDB em assinar o requerimento do vereador Dionísio para a instalação de uma CPI para investigar o Hospital, Anhaia usou parte de uma conversa gravada em aplicativo de mensagem em um grupo de bolsonaristas para insinuar que todos roubam e que isso é uma normalidade, insinuando de se isso fosse uma justificativa aceitável para que tudo fique como está, que todos tem rabo preso e que o melhor caminho é o acerto de bastidores e o silêncio público. Meu Deus!

Provocado naquele grupo de adversários – onde Dionísio não deveria estar – os inscritos nele insistiam no inconformismo de que mesmo condenado por corrupção, Luiz Inácio Lula da Silva, PT, tinha chegado pelo voto, democrático, à presidência da República, pela terceira vez. Acuado e preso na própria trama da realidade, Dionísio, sem alternativa melhor, resolveu ironizar o perdedor da disputa de 2022, Jair Messias Bolsonaro, PL, o limpo. Disse Dionísio: “Fico pensando. Roubou. Roubou. Roubou. E hoje é presidente, né?”

A afirmação é irônica e sem ser advogado de Dionísio, o experimentado e mesmo assim, pego de calças curtas, está descontextualizada naquilo que Anhaia tentou amarrá-lo. Mas, este será o tom do discurso “do nós contra eles” Este discurso é maroto e obrigatório nas atuais circunstâncias. Ele, continuará na nossa eleição municipal de outubro do ano que vem. E só serve bem a Kleber, Marcelo e outros que no MDB, PP, PSD, PDT e PSDB apoiam o que está aí. Eles, como estratégia, precisam esconder o fracasso do que está sendo ao final o recibo de entrega de sete anos o governo deles. Dessa forma, vão tentar levar a discussão para longe da aldeia (Gaspar) e as mazelas daqui que precisam ser discutidas, corrigidas e feitas de outra forma, qualificando melhor o nosso futuro.

E ela não foi usada apenas para combater a intenção do vereador Dionísio em querer uma CPI para se esclarecer as dúvidas na Saúde, para justificar o silêncio sepulcral de outra CPI espertamente requerida por Roberto Procópio de Souza, PDT, aprovada e montada pelo próprio governo de Kleber e Marcelo na Câmara para abafar os quatro áudios vazados no próprio fogo amigo dos que estão no poder de plantão, cujo material levantou dúvidas sobre um suposto esquema de corrupção que teria o comando do homem forte de Kleber, o presidente do PSDB de Gaspar, ex-secretário de Finanças e Gestão Administrativa, bem como presidente da Comissão de Interventora do Hospital de Gaspar – o saco sem fundo de recursos públicos -, Jorge Luiz Prucino Pereira.

No fundo, ela foi usada para dizer que todos os políticos são iguais – na prática, ação, proteção e forma de esconder as suas feridas expostas – quando no poder de plantão. E que ninguém deve tocar nelas, pois este é um clube protegido, pagos pelos pesados impostos dos cidadãos e cidadãs, avalizados pelos votos de uma democracia de escolhas. Simples assim. Está aí a CPI fantasma plenamente instalada e funcionando na Câmara (foto acima). O segredo de tudo é parte do que se arranjou e se quer esconder sobre os áudios com conversas cabulosas que circularam abundantemente nos aplicativos de mensagens. O único depoimento conhecido é do Jorge Luiz Prucino Pereira, PSDB, porque o suplente de vereador Eder Muller, PL, peitou os poderosos da Câmara e do seu celular a transmitiu o “desconheço, desconheço, desconheço” do depoente para nada se conhecer. 

Mais uma CPI que Kleber enterra. E é claro que ele não quer outra que não seja para também ter a mesma finalidade. Agora, mesmo arrotando estar com o corpo fechado, está zangado que o assunto foi parar na Polícia e no Ministério Público, onde não tem, supostamente, o mesmo controle que possui na Câmara com a sua Bancada do Amém.

Retomando.

O que quis dizer Anhaia ao buscar de improviso e atrapalhadamente no seu smartphone na terça-feira o áudio de Dionísio para dizer que ele – ou pelo menos o seu PT a quem deve fidelidade – é igual ao que está aí? Que tudo é farinha do mesmo saco. De que áudios, números e provas podem ser montados, feitas ao gosto dos clientes, contra a cidade, os cidadãos e cidadãs, principalmente os mais vulneráveis. Que todos são do mesmo balaio e preferivelmente, por isso, se todos possuem o mesmo defeito de origem, não devem olhar para os defeitos dos outros. E quietos, todos ganham. E quem perde então? A sociedade, os sonhos dela, o futuro e o esclarecimento daquilo que não está claro e não quer propositadamente se esclarecer.

É neste clima que estamos caminhando para a eleição do ano que vem. E nada vai mudar muito. Está cada vez mais óbvio que o que está unido com Kleber, Marcelo, Melato, Ciro André Quintino, MDB, Anhaia, Procópio, Zilma Mônica Sansão Benevenutti, Giovano, Francisco Hostins Júnior, Ismael dos Santos, Jorge Luiz Prucino Pereira, ficará assim para tudo abafar, até porque o novo lema que está na praça é: “a máquina não pode parar”. 

E o PL que deixou o protagonismo dele próprio em Gaspar passar. Está cada vez mais refém das decisões da cúpula instalada em Florianópolis. E não será surpresa se estiver junto no mesmo projeto dos que estão no governo atualmente: a desculpa será combater o “inimigo comum” e ganhar para a “máquina não parar”. É assim, por exemplo, que quer o deputado Ivan Naatz, PL, e até mesmo o governador Jorginho Mello, PL. Ele manobra nas verbas do falecido Plano 1.000 e que está ressuscitando aos poucos conforme avançam os acertos políticos. 

Está sobrando quem? O Republicanos que é ainda uma incógnita. Está sobrando quem? O PT, um velho conhecido e que começou a botar as manguinhas de fora. E se não levar ao palanque o vermelho, a estrela, o descondenado pelo STF e de gente rançosa que está dando cara de ancionato ao partido em Santa Catarina, poderá disfarçar, enganar e estar no baile diante de tantas jogadas previsíveis e desmascaradas contra Kleber e Marcelo. E o pessoal no poder de plantão já percebeu isso. Então a ordem é ligar Lula e Brasília a tudo isso para dar proposital curto-circuito nas pretensões de Dionísio, que a bem da verdade, nasceu no PP e já puxou votos para José Hilário Melato, por exemplo.

A resposta de que o PT em Santa Catarina e na região ainda tem chances quando o conservadorismo se divide, poderá estar, mais claramente, nos resultados das eleições de Brusque no dia três de setembro.

TRAPICHE

Agora o novo foco de negócios e de investimentos de alguns políticos de Gaspar está voltado para o Mato Grosso. Estão encantados com as terras. Inicialmente, não possuem nenhuma pretensão política. Que tenham sorte!

A creche Dorvalina Fachini, no Sete de Setembro, padece. E desde que foi feita por Pedro Celso Zuchi, PT, com verbas federais, num terreno instável e que sempre denunciei. Tudo o que já foi gasto para estabilizar e remendar à obra, daria para construir outra. E se continuar assim, vão colocar mais montanhas de dinheiro fora se antes não houver um acidente grave por lá contra funcionários ou crianças. E os políticos criando discursos pedindo remendos. A Dorvalina Fachini precisa é de uma solução definitiva.  Nem mais, nem menos

Como confiar nos nossos políticos? O governador Jorginho Mello, PL, lançou um bilionário programa de remendos das rodovias estaduais. É um gasta dinheiro. É o cachorro correndo atrás do rabo, mas é uma iniciativa emergencial necessária depois de tanto deszelo. Do jeito que muitas das nossas rodovias estaduais estão, não pode continuar. 

E para emplacar nas redes sociais, o presidente da Câmara de Gaspar, vereador Ciro André Quintino, MDB, correu para publicar uma foto o deputado estadual, hoje secretário de Infraestrutura e Mobilidade, Jerry Comper, MDB, de Ibirama, com um papelinho na mão. E emplacou nas suas redes sociais. Nele, Ciro pede a revitalização da picada entre Gaspar e Brusque – não a necessária duplicação. Mas, esta revitalização já não estaria no anúncio do governador e do secretário, afinal antes dele, é preciso estudos, projetos e escolhas de prioridades, certo? E não é que na relação das 60 obras rodoviárias que o governo do estado vai “revitalizar” não está a Gaspar Brusque? Os políticos, permanentemente, tratam os seus eleitores e eleitoras como tolos. E reclamam quando eles desconfiam disso.

A vida como ela é. A prefeitura vendeu a folha de pagamento dela para o Santander, por R$2 milhões e para explorar por cinco anos. Antes era do Bradesco. Por isso, há migração de contas. E quem deveria fazer isso? O pessoal do banco. E está, mas reduzido para atender a programação. Quem está fazendo parte do papel do banco? Funcionários da prefeitura. E teve até quem colocasse o colete do banco.

Capital Nacional da Moda Infantil de papel. Um ano depois ninguém sabe o que fazer com o título arrumado pelos políticos daqui em Brasília. Não há selo de origem, não há local para se ver, comparar e comprar esta moda, a mão-de-obra é escassa, qualificação inexistente, o faccionismo está cada vez mais distante de Gaspar. Só reuniões. Agora, fez-se outra para ver se há a mínima possibilidade de se construir um Centro Comercial para esta tal Moda Infantil. Será bem mais difícil do que arrumar títulos em Brasília.

Perguntar não ofende. Os vereadores que, agora, estão dando entrevistas alegando que eles não são responsáveis pelas altas taxas do cemitério de Gaspar e sim o prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Sousa Brick, Patriota, ou PL, sei lá, ou PP, talvez, para fazer desesperadamente caixa, fruto de má gestão financeira, estão dizendo que não sabiam o que faziam? É isso? E essa gente gastou dinheiro público em curso para exercer melhor o mandado. Parece que se perdeu tempo e dinheiro.

Mais uma da esperteza que come o dono, do mineiro e ex-primeiro-ministro Tancredo de Almeida Neves. O governador Jorginho Mello, PT, sempre condenou no palanque e tentou na Justiça dar o rótulo de inconstitucionalidade o que ele chamava “Pix do Moisés”, ou seja, a transferência facilitada de recurso do tesouro estadual para as obras municipais no tal Plano 1.000. Gaspar teve merrecas e está contente.

Primeiro Jorginho Mello, PL perdeu na Justiça e mesmo assim, criou uma fake news sobre o assunto. Segundo, mudou o nome do programa para chamar de seu: Santa Catarina levada a Sério”. E por último, criou num pix com um nome diferente, aprovado pela própria Assembleia: TEV – Transferência Especial Voluntária. E teve que ouvir uma advertência do deputado Júlio Garcia, PSD, o qual Jorginho ainda quer dobrá-lo e retirá-lo da liderança natural que possui no parlamento.

“Obrigo-me a dar o testemunho, o protagonismo da Assembleia foi fundamental”, disse Júlio Garcia, PSD, ao lembrar ao ex-presidente e várias vezes deputados estadual Jorginho Mello, PL, de como funciona o Palácio Barriga-Verde que ambos tanto conhecem. Esse projeto [TEV] que vamos aprovar hoje [e foi por unanimidade] atende a cada cidadão em cada município que tem um contrato com o governo do estado, não por um governador fulano de tal”. O bafo dos prefeitos moveu a Assembleia e abafou Jorginho, que finge não entender o recado. Simples assim!

Nas redes sociais, um espetáculo dos políticos para se justificar perante os usuários sobre a fiscalização do Deinfra nas rotas, horários e condições dos ônibus da Verde Vale e que possuem a permissão no trecho Ilhota a Blumenau. Esta permissão, não permite que os ônibus urbanos de Blumenau adentrem o bairro Bela Vista e atenda a população de lá que possuem interesses na vizinha cidade, ou os estudantes do Instituto Federal de Educação, também moradores de Blumenau.

Barulho apenas. A permissão não foi cassada. A proibição para os ônibus de Blumenau circularem no Bela Vista diante da permissão continua e os políticos, entre eles e o prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, e o vice Marcelo de Souza Brick, Patriota, ou PL, sei lá, ou PP, talvez, lavando as mãos. Uma linha circular gratuita dentro do bairro até o pondo de ônibus da divisa resolveria este assunto. Não se faz porque não se quer. Preferem discursos e arrumarem outros culpados. E no Bela Vista é o bairro com mais vereadores: três. Dois deles são completamente governistas. Outro, balança.

No dia 21 de agosto vai acontecer o Fórum Municipal de Turismo, no Fazzenda Park. É uma oportunidade para se descobrir que se não fosse iniciativas privadas como o do próprio Fazzenda Park, cascatas, rota da linguiça, do Arraial do Ouro para o ciclismo de aventura, e Villa D’Itália, Gaspar era um iato no Vale Europeu. Nem no calendário de eventos da Embratur conseguiu se inserir.

A Avenida Frei Godofredo foi remendada. Exatamente onde está instalada a lombada. É que com a buraqueira, não apanharia ninguém em excesso de velocidade. bom final de semana. Acorda, Gaspar!

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11 comentários em “GOVERNO DE KLEBER E MARCELO FAZ ESPETÁCULO FAKE VIA O LÍDER NA CÂMARA PARA ESCONDER DA CIDADE OS PROBLEMAS DE GOVERNANÇA DE GASPAR”

  1. OS EMPRESÁRIOS DEBOCHARAM DA CPI, por Elio Gaspari, nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo

    As Comissões Parlamentares de Inquérito têm má fama por causa dos momentos de teatralidade de alguns de seus integrantes. A CPI da rede varejista Americanas está mostrando que figuras da elite empresarial de Pindorama são capazes de superar o desembaraço de um cabo eleitoral de vereador da periferia. Na semana passada deram-se dois episódios significativos.

    Num, Márcio Cruz, o ex-CEO de operações digitais da rede, foi convocado para depor na terça-feira. Não apareceu, nem se explicou. O presidente da CPI, deputado Gustinho Ribeiro (Republicanos-SE), determinou sua condução coercitiva e, horas depois, seus advogados informaram que ele comparecerá à reunião desta semana. Ganha um fim de semana num paraíso fiscal quem souber quem foi o çábio que o aconselhou a tratar uma convocação do Congresso como se fosse chamado de engraxate.

    O doutor Cruz foi um dos executivos mimados pelos bônus milionários da Americanas. Comprou uma casa no Jardim Pernambuco, no Leblon, por R$ 32,6 milhões, pagos à vista. Um ano depois, no segundo semestre de 2022, quando a empresa já estava emborcada, vendeu R$ 5,6 milhões de ações da Americanas. (Ele e seus colegas de diretoria desfizeram-se de R$ 244 milhões de ações da rede publicamente festejada e micada em caráter privado).

    Outro diretor, José Timotheo de Barros, compareceu à CPI. Em tom respeitoso, valeu-se do direito constitucional de ficar em silêncio e autorizou a Polícia Federal e a Comissão de Valores Mobiliários a compartilhar com a CPI os seus depoimentos, realizados em março. Tomara que isso seja feito e suas respostas sejam tornadas públicas.

    Desde junho, sabe-se que numa troca de mensagens, ele escreveu:

    “Não podemos mostrar para conselho e mercado nada acima de 3,3% a 3,5% (de alavancagem). Será morte súbita.” Tradução, tratava-se de esconder o endividamento da empresa.

    Noutra mensagem, o doutor escreveu:

    “Boa tarde! Fábio, como estamos com os bancos para retirar a info das operações com os fornecedores? Vida/morte para nós.” Tradução: Novamente, tratava-se de esconder as dívidas, pois a linha de montagem da fraude transformava débito em lucro, produzindo bons resultados e os consequentes bônus para os diretores.

    O doutor Timotheo não respondeu sequer se reconhecia a autenticidade dessas mensagens.

    O caso das Americanas é a maior fraude corporativa acontecida em Pindorama. As roubalheiras ocorridas na Petrobras envolviam personagens sobre os quais pairavam esparsas suspeitas. Na Americanas eram todos executivos exemplares, pareciam integrar uma seita de administradores que faziam milagres cortando custos.

    Em 2021, a rede anunciou um lucro de R$ 2,8 bilhões. Na realidade, escondia um prejuízo de R$ 700 milhões. Na ponta do milagre, em 2020, os 14 diretores da Americanas receberam R$ 54 milhões entre salários e bônus.

    Em 2023, o milagre virou vinagre, e o valor de mercado da rede, com seu braço digital, caiu de um pico histórico de R$ 186 bilhões em 2020 para R$ 1 bilhão de hoje. A pancada atingiu 146 mil acionistas, sem contar os investidores institucionais de 563 fundos atingidos. Numa só semana de julho a Americanas demitiu 1.404 funcionários. Lutando pela vida, a rede ainda emprega 35,7 mil pessoas.

    Os doutores da Americanas comportaram-se como se uma Comissão Parlamentar de Inquérito fosse coisa administrável por advogados astuciosos e marqueteiros espertos. Atravessaram o espelho com atitudes que, na essência, desrespeitam ou, na melhor da hipóteses, menosprezam uma atividade do Congresso.

    Enquanto foi vinho, a turma da rede era vista como parte de uma elite empresarial. Depois que virou vinagre, revelou-se uma patota de milionários chinfrins.

    O ENIGMA DE MIGUEL GUTIERREZ

    Miguel Gutierrez, o ex-CEO da rede Americanas, sempre foi uma pessoa reservada. Nas últimas semanas, tornou-se incompreensível. No final de julho ele havia recebido do Supremo Tribunal Federal uma licença para ficar calado. Depois, pediu à CPI que o dispensasse de um depoimento presencial, marcado para 1º de agosto. Ofereceu-se para depor a qualquer momento por videoconferência, ou presencialmente “em data posterior a 25 de agosto”. Nos dois casos, pedia para ser ouvido “em sessão reservada”. Gutierrez está na Espanha, onde informa que trata da saúde. Ele tem a cidadania espanhola.

    O executivo conhece a vida das Americanas de cor e salteado. Trabalhou lá por mais de 30 anos; 20 comandando-a. O que ele não tratava na sua sala do terceiro andar da sede da empresa, operava em outra, no segundo, onde as persianas ficavam baixadas.

    Em 2021, quando a Americanas era vinho, sua remuneração ficou em R$ 24 milhões, R$ 6 milhões em dinheiro e R$ 18 milhões em ações. Em 2022, quando a empresa havia virado vinagre, ele teria vendido R$ 156 milhões em ações, a preço de vinho.

    Entre 26 de setembro de 2022 e 2 de janeiro de 2023, quando foi substituído por Sérgio Rial, Gutierrez transferiu a propriedade de três imóveis com valor declarado de R$ 2,1 milhões para parentes.

    Na segunda-feira, em nova petição, abriu mão da sessão reservada, e não mais se referiu à possibilidade de um depoimento presencial para depois de 25 de agosto. Oferece-se para falar por videoconferência. Traduzindo: fala, mas fica na Espanha.

    Como a esta altura o que importa são suas respostas, vá lá.

    Até agora o caso da Americanas tornou-se um episódio capaz de dar inveja a Agatha Christie, a grande autora inglesa de romances policiais. No seu Crime do Expresso Oriente, os passageiros do vagão eram 13, um foi assassinado, e o detetive Hercule Poirot descobriu que o crime foi praticado por decisão de todos.

    No caso da Americanas, deu-se o inverso: houve um rombo de pelo menos R$ 20 bilhões e, até agora, ninguém teve nada a ver com ele.

    A PALAVRA DE NELSON TEICH

    O médico Nelson Teich tem uma rara credencial. Queria ser ministro da Saúde de Jair Bolsonaro e acabou conseguindo, quando Luiz Henrique Mandetta foi demitido. Ficou na cadeira menos de um mês e foi-se embora porque não quis perfilhar a maluquice da administração de cloroquina durante a pandemia de Covid.

    Contrariando opiniões de médicos e da burocracia do governo, Lula autorizou o uso da ozonioterapia por profissionais de saúde como tratamento complementar em determinadas situações. Diz Teich:

    “Na minha opinião, essa liberação da ozonioterapia foi um erro. Agora não temos o caos, o medo, a pressão, a politização e a polarização do período agudo da Covid-19, por isso as duas discussões podem parecer diferentes, mas não são. Esse fato mostra como é difícil o sistema de saúde ser conduzido de uma forma técnica e científica. (…) É um erro achar que o tratamento será usado apenas nas situações hoje liberadas e que somente profissionais altamente qualificados farão uso do medicamento. Extrapolação de indicações e uso inadequado sempre podem acontecer.”

  2. O que faltou a Gaspar

    ALTERNÂNCIA PRECIOSA, editorial do jornal Folha de S. Paulo

    Torna-se mais claro, a cada novo dia, que Jair Bolsonaro (PL) de fato contava com a impunidade na hipótese de ser reeleito presidente. É difícil identificar outra explicação razoável para a desfaçatez com que ele e aliados atacaram as instituições democráticas e escarneceram da coisa pública.

    No episódio mais recente, investigações da Polícia Federal indicam que Bolsonaro se valeu da estrutura do governo federal para negociar bens preciosos recebidos de autoridades estrangeiras.

    Entre os suspeitos de participar da falcatrua está Frederick Wassef, o advogado de Bolsonaro notabilizado após o policial aposentado Fabrício Queiroz ter sido preso na sua propriedade em Atibaia (SP).

    Além dele, são alvo das apurações Osmar Crivelatti, tenente do Exército que atuou na ajudância de ordens da Presidência, e Mauro Lourena Cid, general da reserva e pai de Mauro Cid, também ex-ajudante de ordens e personagem recorrente nas tramas bolsonaristas.

    Coube ao tenente-coronel Cid, como se sabe, armazenar em seu celular um arsenal de teorias heterodoxas que justificariam uma possível intervenção militar depois da eleição vencida por Lula (PT).

    Em outra frente, Silvinei Vasques, ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal, é investigado sob suspeita de ter utilizado a corporação para interferir no segundo turno das eleições de 2022.

    Apura-se ainda se a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) se conectou a um famigerado hacker para, entre outras finalidades, prejudicar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

    Todos esses, para não citar rol ainda mais extenso de aliados do ex-presidente, tornaram-se alvo da PF neste ano —e é pouco provável que encontrassem destino semelhante num eventual segundo mandato de Bolsonaro.

    Colhem-se, dessa forma, alguns dos benefícios da alternância de poder: o aparelhamento das instituições de Estado se desfaz com a chegada de um novo grupo político e, ao menos na teoria, elas operam durante certo tempo sob a lógica pura da administração pública.

    Disso decorre que as investigações, bem como as determinações judiciais, precisam de máximo rigor ao seguir a lei, para que de nenhum modo se confundam com um revanchismo rasteiro. Prisões mal fundamentadas como a de Silvinei Vasques, por exemplo, em nada ajudam na recuperação do vigor democrático brasileiro.

  3. ESTADO E DESENVOLVIMENTO, por Marcos Lisboa, no jornal Folha de S. Paulo

    Existem exemplos no Brasil de combinação de políticas públicas, empreendedorismo privado e inovações tecnológicas que permitem aumentos recorrentes da produtividade, da renda das famílias e de crescimento econômico.

    Esta coluna trata de duas experiências de sucesso: o Porto Digital do Recife e o agronegócio. Ambas têm em comum o desenvolvimento de novas tecnologias e o cuidado técnico no desenho da intervenção pública.

    A forma da intervenção pública tem detalhes específicos em cada caso, revelando a necessidade da análise cuidadosa das características do setor e das condições de contorno.

    No fim dos anos 1990, Recife tinha um excelente centro de formação em ciência da computação. Entretanto, a falta de empregos em tecnologia resultava na emigração de técnicos bem formados.

    Surgiu a proposta de criar um polo de tecnologia, ou Ecossistema Local de Inovação (ELI), que incentivasse o empreendedorismo e a inovação em temas de ciência da computação.

    Houve uma sugestão de implementar o ELI na Universidade Federal de Pernambuco, mas foi rapidamente rechaçada. A UFPE fica longe do centro, dificultando reter pessoas e atrair empresas, que preferem áreas mais densas, com vida cultural e oportunidades de encontros inesperados que resultem em ideias inovadoras.

    Decidiu-se implementá-lo no bairro do Recife, região onde a cidade se iniciara, mas que se tornara uma área decadente com prédios históricos degradados. O projeto passou a ter um segundo objetivo: recuperar o centro antigo.

    Foi criado o Núcleo de Gestão do Porto Digital (NGPD), conduzido por um conselho de administração com 19 pessoas representando governo, universidades, empresas e outras representações da sociedade civil. As decisões são colegiadas, e a gestão é profissional.

    O município aprovou a Lei do Porto Digital, que reduzia o ISS das empresas ali instaladas. A concessão dos benefícios é gerida por um comitê com representantes da prefeitura e do NGPD. O governo do estado concedeu R$ 30 milhões para restaurar três prédios históricos e financiar por algum tempo o NGPD.

    Mais de duas décadas depois, os resultados impressionam. Prédios foram restaurados pelo NGPD, que hoje tem nos aluguéis importante fonte de recursos. A região foi revitalizada com a atração de empresas privadas, que restauraram ainda mais prédios.

    As empresas embarcadas no Porto Digital já somam 365, faturando R$ 4,75 bilhões por ano e empregando mais de 17 mil pessoas. Existem sete instituições de C&T, incluindo o Cesar, órgão de referência na área, que fatura cerca de R$ 400 milhões por ano.

    Das 10 maiores empresas do Porto Digital, 7 foram iniciadas ali. Recife tem cerca de 700 doutores em ciência da computação, sendo perto de 600 formados na UFPE, nota 7 na Capes, a maior possível. Não há restrição à ida de profissionais brasileiros para o exterior. É comum saírem do Brasil e voltarem anos depois, com mais experiência e conhecimento.

    Recentemente, o Porto Digital, em parceria com universidades privadas, iniciou um programa de bolsas integrais para jovens que se formam em escolas públicas. São cerca de 600 bolsistas por ano, mais de 60% negros.

    Recife tem a maior proporção por habitante de formandos em áreas que envolvem programação de computador no país, e esse número irá dobrar em três anos, transformando a demografia da região com pessoas que vieram das periferias da cidade.

    A história do agronegócio tem resultados semelhantes, mas por meios bem distintos. No fim dos anos 1960, o Brasil tinha dificuldades na agricultura. Nossas exportações dependiam principalmente do café, cujas oscilações de preço no mercado internacional geravam volatilidade na taxa de câmbio, prejudicando os demais setores, inclusive a indústria.

    O governo apoiou pesquisas para adaptar as culturas das zonas temperadas, como a soja, para o trópico brasileiro, além de desenvolver pessoas que pudessem resolver outros problemas, como a inadequação do solo para a agricultura no Centro-Oeste, por ser demasiadamente pobre em nutrientes e ácido.

    A Embrapa financiou a formação de cerca de 2.000 técnicos em boas universidades, muitas fora do Brasil. Além disso, existiam pesquisadores competentes em universidades públicas, como Esalq, Viçosa e várias outras, assim como em centros privados e públicos de pesquisa.

    Em paralelo, empreendedores migravam para o Centro-Oeste, buscando desenvolver a produção agrícola, experimentando novas abordagens, por vezes fracassando.

    Os resultados do agronegócio nos últimos 50 anos são de tirar o fôlego. A sua produtividade cresceu cerca de 2,9% ao ano. Em média, os preços dos alimentos pesquisados pela Fipe-USP caíram em termos reais perto de 2% ao ano, barateando a oferta de alimentos para a população. Entre 1975 e 2022, a redução real acumulada dos preços passa de 60%.

    O aumento de produtividade permitiu o crescimento e a diversificação das exportações, gerando um círculo virtuoso. A expansão da escala de produção induziu novos aumentos recorrentes de produtividade, inclusive para enfrentar a concorrência de outros países.

    O Brasil foi o que mais aumentou a produtividade total dos fatores na agricultura entre os principais países produtores e exportadores nas últimas duas décadas. Tornamo-nos referência internacional na produção de soja ou em setores como papel e celulose.

    A expansão do agronegócio incentivou o desenvolvimento de insumos e da indústria de equipamentos. Impressiona o aumento de novas empresas de tecnologia (agtech) em áreas como agricultura de precisão, automatização e robotização, biotecnologia, entre outras.

    A renda por habitante do Centro-Oeste, mesmo sem Brasília, cresceu bem mais do que a do Sudeste no último meio século.

    Em meados dos anos 1990, a renda média por habitante dos moradores do Maranhão era de R$ 335 por mês, apenas 35% da renda média do Brasil. A chegada da soja ao sul do estado permitiu que a renda média dos moradores da região crescesse 235% desde então, muito acima do que ocorreu na renda média do país e nas outras áreas do MA.

    Existem diferenças nas políticas adotadas no Porto Digital e no agronegócio. Mas ambos os casos têm em comum mecanismos sofisticados para incentivar a inovação tecnológica e a formação de gente para resolver problemas e aumentar a produtividade.

    Documentar as experiências bem-sucedidas pode contribuir para evitar repetir os erros tão frequentes no desenho da nossa típica política industrial, que distribui subsídios e proteções de roldão a empresas locais, como se isso fosse suficiente para garantir o desenvolvimento.

    Aparentemente, aprendemos pouco com nossos muitos fracassos e somos desatentos aos detalhes dos ocasionais casos de sucesso.

  4. NOVO PAC PODERÁ PROVOCAR A MESMA RESSACA DO VELHO, editorial do jornal O Globo

    Chama a atenção o ineditismo da escolha do Theatro Municipal do Rio para relançar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), marca dos governos petistas que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta ressuscitar. Para transformá-lo em bandeira política, o governo faz de tudo para torná-lo o maior possível. Estarão sob o PAC investimentos de empresas públicas, como a Petrobras, e projetos de parcerias público-privadas. Tudo somado, o programa resulta em R$ 1,7 trilhão, cifra sob medida para reforçar o discurso do Planalto.

    Carimbar qualquer obra como se fosse do PAC é o de menos. O país precisa de investimentos em infraestrutura. O erro, mais uma vez, é achar que o crescimento econômico precisa ser puxado pelo gasto público, como querem os petistas. Em sua encarnação anterior no Planalto, o partido já seguiu esse caminho, produzindo dívida e recessão.

    Dado o histórico, espanta a iniciativa do Planalto de aumentar em R$ 5 bilhões o orçamento do programa usando lucro de estatais. Pior: descontando o valor da meta fiscal de 2024, manobra de “contabilidade criativa” de natureza similar à das que levaram ao impeachment de Dilma Rousseff em 2016.

    Investimentos são gastos primários, como todas as despesas do Estado, por isso precisam ser considerados no cálculo da meta fiscal. Se o governo decidir elevar o gasto num item do Orçamento, terá de cortar o mesmo valor noutro. É o princípio que norteia a Lei de Responsabilidade Fiscal. Mesmo que pareça pequena, a manobra contábil de usar os lucros das estatais emite um sinal preocupante, bem no momento em que as agências de avaliação de risco melhoram a classificação do Brasil com base na esperança de aprovação do novo arcabouço fiscal.

    Embora as novas regras fiscais tenham trazido alívio — pois qualquer regra é melhor que nenhuma regra —, fica a cada dia mais claro que as metas ambiciosas anunciadas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não serão cumpridas. Daí os “puxadinhos contábeis” para conciliar o desejo político de Lula de anunciar programas de impacto como o PAC e a necessidade econômica de financiar toda a gastança.

    A deterioração já é visível nas contas deste ano — a previsão de déficit primário subiu de R$ 108 bilhões para R$ 146 bilhões. Para cumprir a meta de déficit zero no ano que vem, será necessário um ajuste da ordem de R$ 145 bilhões. Como a despesa sempre cresce pela nova regra fiscal, Haddad só tem falado em medidas para aumentar receita: taxação de contas no exterior, de fundos exclusivos, mudança de regras nos julgamentos da Receita Federal para favorecer a União e outros sortilégios arrecadatórios por ora apenas hipotéticos.

    Nada se compara, claro, à ressurreição da contabilidade criativa. Além da manobra para financiar o PAC, também se estuda transformar o pagamento de dívidas reconhecidas pela Justiça, os precatórios, em “despesas financeiras”, para que deixem de ser gastos primários que pressionam as metas.

    Toda essa criatividade poderia ser aplicada na formulação e na execução de uma política econômica capaz de atrair investimentos privados para infraestrutura e outras necessidades do país. Insistir no modelo que já deu errado — por meio de iniciativas como o novo PAC — poderá trazer de volta, além da contabilidade criativa, a ressaca que costuma acompanhá-la, com mais dívida, mais inflação, mais juros e menos crescimento.

  5. A POLÍTICA DOS TRUQUES, por Carlos Alberto Sardenberg, no jornal O Globo

    O Novo PAC tem uma pegada ambiental. Como exatamente? Bem, o governo promete algo como um arcabouço institucional que deve induzir práticas sustentáveis nos investimentos e programas públicos e privados. Uma generalidade. Os planos de exploração do petróleo na Margem Equatorial são, em contrapartida, bem concretos.

    São exatos 19 poços a explorar, incluindo aquele colocado na área mais sensível, a foz do Amazonas, cuja licença ambiental foi negada pelo Ibama. A estatal comparece no PAC com planos de pesados investimentos em petróleo, tudo carbono puro.

    A contradição está na cara. Há um discurso ambiental, metas não específicas de descarbonização e investimentos definidos na direção contrária. Parece que estamos falando de dois governos. E estamos mesmo, pelo menos nesse caso. E mais: um governo tentando enganar o outro.

    Eis o truque para driblar o veto do Ibama à exploração na foz do Amazonas: um parecer da Advocacia-Geral da União (AGU) esclarecendo que não é preciso licença ambiental. Mais exatamente: que a licença estaria, digamos, implícita no leilão feito pela Agência Nacional de Petróleo em 2013, quando a Petrobras adquiriu o direito de explorar o referido poço, ao longo do litoral do Amapá.

    Um governo nega a exploração. Outro autoriza. Qual valerá?

    Pelo Novo PAC, ganha o da AGU. No programa, a Petrobras deve voltar a construir navios, plataformas de exploração e refinarias, em grande estilo. O que introduz uma segunda contradição. Se a estatal investirá como no “glorioso passado” de Lula 2 e Dilma 1, obviamente precisa de muito dinheiro. Mas a companhia, na prática, reduz seus ganhos — e as margens para investimento — ao manter o preço dos combustíveis mais baixo. E ao vender no mercado interno, com prejuízo, produtos importados a preços mais altos. Essa contradição apareceu no passado e foi superada da única forma possível: tomar dinheiro emprestado, tornando a Petrobras a petrolífera mais endividada do mundo.

    De novo?

    Parece que sim, pois o pessoal nem se preocupou em explicar por que as refinarias saíram muito mais caras que o previsto e não foram concluídas por isso mesmo. Agora serão retomadas com que dinheiro? Com os lucros do óleo da Margem Equatorial, aquele sob restrição ambiental? Ou a volta ao passado seria completa, incluindo as dívidas?

    Há outros truques em andamento, especialmente nas contas públicas. A questão é mais ou menos esta: como gastar sem registrar que é gasto? Os investimentos do PAC, por mais que Lula diga o contrário, estão na categoria dos gastos primários (despesas não financeiras) que deveriam ser equilibradamente pagos com receitas de impostos.

    Quando a despesa não cabe na receita, o que se faz? Dois truques: um, tirar a despesa da conta. Isso mesmo: gastar, mas não colocar na contabilidade. O outro truque: prever receitas enormes para sabe-se lá quando. Também há um drible aqui: aumenta-se a carga tributária jurando de pés juntos que não há aumento de impostos. Empresas e cidadãos pagarão mais, mas a coisa aparece como ajuste, correção, eliminação de injustiças fiscais.

    Nos governos petistas tornou-se bem conhecida a “contabilidade criativa”. Pois parece que a imaginação avançou. Tome o exemplo dos precatórios. É assim: o governo deixou de pagar ou pagou a menos para cidadãos ou empresas. Estes vão à Justiça, ganham o processo, e a Justiça manda o governo pagar. São os precatórios, conta pesada.

    No governo Bolsonaro, aprovou-se uma emenda constitucional adiando o pagamento desses precatórios. A bomba estoura no atual governo, todo mundo sabe disso. Como pagar, se a administração Lula já aumentou diversos gastos, promete novos e ainda assegura que fará déficit zero em 2024?

    Não tem jeito de fazer tudo ao mesmo tempo. A menos… a menos que se considerem os precatórios como despesa financeira, outro truque em gestação. O gasto é feito, o governo fica mais endividado, e o déficit sai limpo dessa conta.

    Mas vai-se a credibilidade.

    Criatividade, às vezes, dá nisso.

  6. TENDA DO MAGO, por Demétrio Magnoli, no jornal Folha de S. Paulo

    Numa esquina perto de casa surgiu uma faixa de propaganda de uma certa Tenda do Mago, que vende “produtos esotéricos, místicos e religiosos”. É um negócio inútil: já existe uma mais poderosa Tenda do Mago, de alcance nacional, ramificada em todas as capitais e em 3.024 municípios (54% do total). O nome oficial dela é PNPICs (Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares). Seus produtos esotéricos, místicos e religiosos são pagos com dinheiro do SUS –ou seja, teu, meu, nosso.

    A vasta lista das PICs abrange homeopatia, termalismo social, antroposofia, dança circular, Reiki, Shantala, aromaterapia, constelação familiar, imposição de mãos e florais, entre outras crendices chiques. A Medicina Tradicional Chinesa, uma tradição milenar inventada por Mao Tse-tung 70 anos atrás, está dentro, é claro. João de Deus ficou fora, graças a deus.

    Quanto tempo demorará para um cartel qualquer de curandeiros retrucar com a acusação de que cometo o crime de atacar o SUS? Mas é o contrário: a proteção do SUS exige o direcionamento integral de recursos públicos escassos para a medicina baseada em ciência. Cada real gasto na Tenda do Mago é um real a menos destinado a médicos, enfermeiros, medicamentos, vacinas, luvas ou seringas.

    Quantos reais, não se sabe: o Ministério da Saúde (MS) não divulga valores oficiais. O NHS britânico, referência em serviço de saúde pública, baniu a homeopatia após cuidadosa avaliação de sua (in)eficácia (https://shorturl.at/foKO2). Por aqui, ignorando as regras da própria PNPICs, o MS não faz acompanhamento periódico de resultados. A Tenda pratica o ocultismo em mais que um sentido.

    Cloroquina? Ivermectina? O curandeirismo criminoso de Bolsonaro e cia provocou justa indignação durante a pandemia. Entretanto, a maioria das vozes que clamavam pelo respeito à ciência, usando a palavra com maiúsculas reverenciais, silencia diante da Tenda do Mago erguida no SUS –e, inclusive, em diversos casos, exprime ativa aprovação.

    “Ciência”, aqui –como, aliás, “democracia” no caso dos que celebram Cuba ou Venezuela– funciona exclusivamente como arma retórica no jogo político. De fato, repetindo os argumentos difundidos pelos bolsonaristas, os defensores das PICs invocam supostas curas anedóticas obtidas pelas “terapêuticas alternativas” ou alegam que, no fim das contas, elas “não fazem mal a ninguém”. Os produtos esotéricos elencados pelo SUS são a cloroquina deles.

    Mas, efetivamente, a incorporação das tais “terapêuticas alternativas” ao SUS faz mal –e não apenas aos cofres públicos. De um lado, o recurso a elas retarda ou impede diagnósticos de enfermidades reais. De outro, sua legitimação oficial confere um ilusório selo de eficácia aos comerciantes de ilusões. Nesse passo, deseduca-se a sociedade pela diluição da fronteira entre medicina e curandeirismo: afinal, se o SUS paga o Reiki, por que não experimentar a cura milagrosa prometida pela cloroquina?

    A PNPICs nasceu no primeiro mandato de Lula e engordou com o tempo, no ritmo de um sistema político que sempre premia os lobbies. Atualmente, cozinha-se a inclusão de mais uma dezena de PICs na Tenda em permanente ampliação. O atentado perene contra a saúde pública, cometido por governos de todos os matizes ideológicos, realiza-se sob o pano de fundo da politização do Conselho Nacional de Saúde, que abandonou há muito o estatuto de órgão técnico.

    As varetas que sustentam a PNPICs não são leis, mas meras portarias. A Portaria 971, de 2006, criou o monstrengo e a 849, de 2017, alargou seus tentáculos pela introdução de 14 novas “terapêuticas alternativas”. Isso significa que a ministra da Saúde, Nísia Trindade, cantada em prosa e verso como uma cientista num mar de políticos, tem a prerrogativa de derrubar a Tenda do Mago com uma simples canetada. Por que não o faz?

  7. A TROPA NO CHOQUE, por Dora Kramer, no jornal O Estado de S. Paulo

    O tratoraço do governo sobre a CPI do MST pareceu desperdício de munição, dado que a comissão vinha sendo vista no Palácio do Planalto como mero palco para bolsonaristas dançarem ao som de uma orquestra de lacrações em série, sem maiores chances de desdobramentos danosos.

    Foi assim, mas deixou de ser quando a oposição conseguiu aprovar a convocação do ministro da Casa Civil, Rui Costa. Aí o alerta foi aceso, tanto em decorrência dos questionamentos a ele sobre suas relações com os sem-terra enquanto governador da Bahia quanto a novas convocações que acentuassem a leniência dos petistas com ilegalidades do movimento.

    Algo fatal para a reconstrução de relações com o agronegócio, mas não só. Havia também o receio de que a CPI enveredasse por quebras de sigilos indesejáveis (correu neste terreno o nome de João Pedro Stédile) e pudesse alcançar também supostos acordos de governadores do Nordeste —parte deles hoje ministros— para criar obstáculos ao cumprimento de ordens de reintegração de terras. Se essa linha fosse adiante, poderia haver complicações legais para os que tivessem confrontado a

    Justiça. Ante o risco, o governo preferiu não flertar com o perigo. Daí a convocação da tropa recentemente reforçada com a reforma ministerial em andamento.

    O apelo foi prontamente atendido. Os partidos do centrão trocaram seus representantes na CPI por outros mais permeáveis aos interesses do Planalto a fim de marcar, com o gesto, a inauguração da nova fase e alterar de forma radical a correlação de forças na comissão.

    A tropa atuou no choque, mas deixou claro que a fidelidade não inclui necessariamente as votações em plenário. Estas seguirão o acerto feito entre os presidentes da República e da Câmara: temas de interesse comum terão apoio; agenda que implique retrocessos não andará; e assuntos de natureza marcadamente ideológica serão disputados no voto.

  8. O porquê o PT e a esquerda do atraso são contra o Brasil das oportunidades

    GOVERNO AMARRA A PETROBRÁS, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

    A Petrobras está “no limite do preço marginal” dos combustíveis e qualquer alta dos preços internacionais será repassada ao mercado doméstico. Essa declaração do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, em entrevista recente, leva a duas conclusões óbvias. A primeira é o iminente reajuste de gasolina e diesel, diante dos preços aquecidos no mercado externo. A segunda é que a política de preços da Petrobras extrapola os limites da companhia. É uma decisão do governo, atada a interesses políticos.

    Desde a extinção da Política de Paridade Internacional (PPI), em maio, ficou clara a ausência de critérios para balizar os preços da Petrobras. Antes, apesar de a fórmula exata não ser conhecida, havia alguma previsibilidade ao atrelar a evolução dos preços domésticos aos padrões do câmbio e das cotações de petróleo e derivados. “Abrasileirar” os preços, como havia prometido o presidente Lula da Silva na campanha do ano passado, significou, afinal, dar ao governo o poder de decidir o momento e a intensidade dos reajustes.

    Nos últimos dois meses os preços do petróleo registraram altas consecutivas. Em julho, o produto do tipo Brent, usado como referência pela Petrobras, subiu mais de 12%. Passa de US$ 86 o barril e deve continuar subindo. O Departamento de Energia dos Estados Unidos elevou a previsão de alta do barril neste segundo semestre, como consequência de cortes de oferta por Arábia Saudita e Rússia. Apesar do cenário persistente, o discurso do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, é de que não repassará aos preços essa volatilidade.

    O diesel segue inalterado há quase três meses, e a defasagem em relação aos preços internacionais beira os 25%. Como mostrou reportagem do Estadão, o descasamento eleva o risco de desabastecimento, já que mais de 24% do combustível consumido no País é importado. A gasolina, depois dos cortes de maio e junho – este último sem impacto ao consumidor, apenas para compensar a reoneração dos impostos federais dos combustíveis –, também mantém estáveis os preços.

    O freio teve grande contribuição no controle da inflação e, por tabela, no relaxamento da política monetária, com o início do ciclo de queda de juros. Trata-se, portanto, de política de governo, apesar da negativa retórica de representantes da empresa e do Executivo. O detalhe é que, embora o controle acionário seja exercido pela União, o capital privado responde por 63,4% do total de ações da companhia, e a estes investidores a empresa deve transparência e previsibilidade.

    O ministro Silveira disse que estava querendo “tranquilizar os investidores” ao reconhecer que a Petrobras está atuando “no limite da competitividade externa”. Ora, mas este é um sinal inverso, de clara interferência. Não cabe a ele, ou a qualquer outro integrante do governo, falar sobre o tema. Somente a Petrobras deveria falar pela Petrobras.

    O balanço financeiro do segundo trimestre, o primeiro depois do fim da PPI, revelou queda de 47% no lucro da empresa em relação ao mesmo período de 2022, de R$ 54,3 bilhões para R$ 28,8 bilhões. Alguns analistas atribuíram o resultado, em parte, à mudança na política de preços. O desconforto é natural, diante de experiências passadas malsucedidas de controle artificial de preços. Tanto a empresa quanto o governo alegam que a Petrobras não está perdendo dinheiro. Não convencem.

    O fim da política de paridade também foi uma medida governamental. “PPI é um verdadeiro absurdo”, disse o ministro de Minas e Energia em abril, em entrevista inflamada à Globonews, quando declarou que a política de preços iria mudar. “Vamos exigir, como controladores, que ela (Petrobras) respeite o povo brasileiro”, disse. Parecia discursar de um palanque. As ações despencaram de imediato.

    A Petrobras foi obrigada a desmentir formalmente o ministro. Estancou momentaneamente a queda na bolsa e se viu livre de uma eventual punição pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que regula e fiscaliza o mercado de ações. Menos de um mês depois, a política de preços de fato mudou, deixando patente quem decide. O nó estatal, que continua a amarrar e limitar a Petrobras, precisa ser desatado.

  9. DIREITA, PRESENTE E FUTURO, por Eliane Cantanhêde, no jornal O Estado de S. Paulo

    A extrema direita brasileira está acossada pelos escândalos do governo Jair Bolsonaro e a “nova direita” é ameaçada pelas ações e manifestações absurdas de prováveis herdeiros de Bolsonaro, os governadores Tarcísio Gomes de Freitas (SP) e Romeu Zema (MG), que não preenchem o vácuo de uma direita mais arejada, preparada e, claro, não golpista.

    Mauro Cid é tenente-coronel da ativa do Exército. Anderson Torres, delegado de carreira da Polícia Federal (PF). Silvinei Vasques foi da Polícia Rodoviária Federal (PRF) de 1995 até o ano passado. Os três foram presos por armações contra as eleições, boas práticas da administração pública e a própria democracia. São provas vivas do quanto Bolsonaro corrompeu as instituições e as forças que são armadas.

    Ele tratou de salvar a própria pele, deixando para subordinados indícios e provas. Cid com Rolex e estojos de joias, atestados falsos de vacina, vazamento de inquéritos da PF, mensagens e até uma minuta de intervenção no TSE. Torres é suspeito de golpe, tanto no Ministério da Justiça quanto, depois, na Secretaria de Segurança Pública do DF. E Vasques usou a PRF para impedir o voto de petistas em 2022.

    Sem falar dos generais do Planalto na era Bolsonaro, o general da ativa que virou piada no Mistério da Saúde e em palanque político, Roberto Jefferson com fuzis e granadas e a deputada Carla Zambelli correndo de revólver em punho pelas ruas e contratando um hacker contra as urnas eletrônicas. Hacker, aliás, ouvido pelo Ministério da Defesa.

    Se a direita bolsonarista vai ladeira abaixo, o que dizer da “nova direita”? Zema chocou com uma entrevista ao Estadão, ao se referir ao Nordeste como “uma vaquinha que produz pouco” e atiçar Sul e Sudeste, ricos, contra o Nordeste, pobre. E Tarcísio se atrapalhou ao tratar das 16 mortes em ações policiais no Guarujá e tem projetos espantosos para a educação.

    Segundo a repórter Renata Cafardo, o governo paulista tentou acabar com livros impressos na rede pública, usar diretores contra professores e instalar app em celulares de professores e alunos, sem avisar. A ideia de digitalizar 100% caiu, mas o governo trocou 10 milhões de livros didáticos do MEC por livros para chamar de seus (e impor sua ideologia?). Na versão oficial, tudo foi por “engano”, mas o secretário de Educação, Renato Feder, é sócio de uma empresa da área… digital.

    A era Bolsonaro borbulha, a pós-Bolsonaro ferve, com Zema e Tarcísio, e a direita parlamentar (Centrão) aproxima-se de Lula. Irritado, Tarcísio ameaça sair do Republicamos. Pode ser bom para ele e para o partido.

  10. Bom dia.
    Não conheço pessoalmente o senhor Jorge Pereira, mas, pela semelhança, acho que era ele, o prefeito Kleber e o Secretário da Educação reunidos em conversa animada em um café próximo ao paço Municipal ontem depois do almoço.

    Perguntar não ofende:
    Será que comemoravam a CPI do “desconheço” da bancada do AMÉM?
    Será que celebravam a inocência e a “recolocação” do “amigo” na folha de pagamento da prefeitura?

    Secretário: o senhor já completou o quadro de PROFESSORES EM SALA DE AULA ou está aguardando a chamada pra 2.024?

    1. Este problema na Educação é grave, e como sempre escrevo, dá o tamanho do atraso do governo – nos dois mandatos – e de como querem burros as nossas crianças e jovens

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