Hoje, mais uma vez, vou ser ameno. Vou me repetir na preguiça. Meus leitores e leitoras – que não existem além de mim mesmo – entram no meu lugar neste espaço sem credibilidade mas, que os poderosos querem-no, estranhamente, fraco e silenciado para sempre se eu não mudar o tom para aplaudir como já fazem os outros.
Pincei um depoimento de um servidor efetivo. Entretanto, esta mesma ladainha, já ouvi e li de outros que me procuram para socorro e denúncias O depoimento sinaliza, e não é de hoje, reflete como o “novo” governo – e não me refiro apenas aos eleitos e sim a parte dos escolhidos para a composição dele e alguns já fora prematuramente do núcleo de poder -, está sem uma identidade. Isto gera medo, insegurança e instabilidade. Qual a causa? É que emprestaram sinais do governo anterior.
Retomando.
Sem dizer quem é ele ou ela, e naturalmente por motivos óbvios, até porque não tenho a devida autorização dele ou dela para assinar o que ele ou ela escreveu a um terceiro, vou, como escrevi, à preguiça. São olhares e opiniões relevantes. Elas vagam pela cidade com nuances de incredulidade. O servidor ou servidora autor ou autora desta observação é reconhecido ou reconhecida no ambiente da prestação qualificada de serviços públicos e já teve suas incursões políticas e militância partidária no passado. Hoje é um ou uma mero ou mero integrante da cena político-administrativa. Abaixo, no depoimento, que está entre colchetes, é minha observação ampliada.
O primeiro trecho diz: “Felizmente ou infelizmente…perdeu o bonde da limpeza [colocar a casa em ordem na prefeitura]. Eles (Paulo/Rodrigo) receberam uma vassoura nova para fazer a faxina, mas [saindo do foco] preferiram contar quantas palhas tinha em cada maço. Quando terminou a contagem do primeiro [maço ou bloco dos supostamente errados], os demais já estavam unidos. Não conseguiram e não irão conseguir desfazer o nó. Aguardemos 28. Eleição de 28? Não! O berro dos 28 patrocinadores de campanha. Batata assando“.
O segundo trecho, num tom de desespero, ainda revela por esperanças, o que bem demonstra à expectativa que se tinha e está indo embora sob grossa frustação, diz: “há possibilidades, remotas, muito remotas, de virar o vento para este barco [atual governo de Gaspar]. Mas, juntos, remadores já pularam na água. Não há possibilidade de resgatá-los. Daqui prá frente… salve-se quem puder. Isto é, [para] quem tem remo/boia…“
QUANDO O PODER TRAZ JUNTO A SOLIDÃO E EXCLUI A SOLIDARIEDADE
Vou excluir à tese da possibilidade da ditadura do poder. Ela sempre toma conta de quem consegue algum status de mando que deveria ser liderança e compartilhamento, mas se se nega a isto. Não vou longe. As tiranias, sob vários pretextos, estão aí para serem exemplificadas. Até as que juram defender a democracia, a justiça e a liberdade de expressão. E não precisamos ir longe nas estruturas sofisticadas de poder no ambientes políticos, administrativos e corporativos. Basta que fiquemos bem perto de nós mesmos, como num relacionamento a dois, onde em nome do domínio e mando impõe-se, machuca-se e até se mata a quem se dizemos amar. Há manchetes por todos os cantos. Há sussurros de fatos tão monstruosos e que se escondem em histórias íntimas.
Então, para não me delongar vou à solidão do poder. Esta eu conheço. E bem.
Uma das minhas tarefas profissionais era ( ou é…) a de enfrentar estes solitários no poder, furar a bolha deles, descontruir verdades deles – as vezes corretas, mas mal gerenciadas -, os múltiplos fantasmas que criam por conta disso – algo freudiano no espanto que nos acompanha – e minimamente, integrá-los à realidade. Alguns queriam este exercício de equilíbrio. A maioria temia, uns relutavam e havia até, os que entravam em estado de negação completo diante de fatos e provas expostos.
Estes emergidos na solidão do poder sabiam o que precisavam entregar à sua corporação, equipe e grupo social. Todavia, quando no poder, por vários aspectos emocionais, sociais, profissionais – e inconcebivelmente até familiares – se perdiam na missão de entregar ou gerar resultados para os quais foram contratados, escolhidos ou investidos. No caso concreto de Gaspar, há a investidura dos votos diante de expectativas, promessas com contratos sociais tácitos.
A BOLHA E OS QUE A INFLAM
No centro de tudo isso, nos casos concretos com que trabalhei, para essa perplexidade para os do outro lado do balcão e que esperavam reações, mudanças, confiança e resultados diferenciais, havia por parte dos contratados, escolhidos ou investidos um misto de êxtase, frustação e o medo da submissão. Preferia, então, eles, ouvir o que queriam ouvir: s ressonância do próprio eco. E aí, neste vácuo, entravam ou entram os aproveitadores de sempre. Eles fazem acreditar ao contratado, escolhido ou investido está certo; o mundo é que está errado. E num mundo todo particular, cegam-se à qualquer mínima e obrigatória revisão de sinais, comportamentos e entregas de resultados.
O que acontece em Gaspar não é novo neste ambiente de análise, muito menos um ponto fora da curva. Não se pode olhar os críticos apenas como um problema – e as vezes são – a ser eliminado. E sim, como uma séria advertência a ser considerada e até descartada, quando bem avaliada.
Não vou a Florianópolis e o exercício que eu fiz no TRAPICHE onde o próprio governador Jorginho Melo, PL, o herói de muitos por aqui, surpreendeu-nos jurando que a Central do Corpo de Bombeiros de uma parte do Vale do Itajaí não estaria em Balneário Camboriú, vou a Brasília. Está na cara de todos, quase sem exceção, a não ser para uma pequena claque palaciana – o retrato da solidão do poder que lhes relatei anteriormente – de que o governo Federal vai mal.
Não se trata uma invenção. Diferente de Gaspar, o caso de Brasília está delineado sob vários ângulos nas sucessivas pesquisas pesquisas públicas tanto nas minudências como nas análises macros. Mas, todos do PT, no governo de Luiz Inácio Lula da Silva e na esquerda do atraso, estão dobrando a aposta no erro, o que faz não apenas desandar a economia, mas a que sacrifica o povo com o surrado mote que não para mais de pé: que está se está salvando os pobres, cada vez mais pobres, tirando dos ricos para os justificar os cada vez mais altos impostos que vão para privilégios, desperdícios e corrupção desenfreada.
Como disse o(a) nosso(a) servidor(a) efetivo(a) na prefeitura de Gaspar e personagem oculto deste comentário: Mas, juntos, remadores já pularam na água. Não há possibilidade de resgatá-los. Daqui prá frente… salve-se quem puder. Isto é, [para] quem tem remo/boia… E a maioria não possui sequer porto, ou margem ou resgate à vista, mesmo que tivesse remo e boias em Gaspar e no Brasil. Seja qual for a ideologia, a solidão de gestores, líderes e políticos, eles se abraçam aos espertos de ocasião que o cercam devido esta solidão poder, fazem o eco do contratado, escolhido ou investido, salvam os interesses particulares ou do grupo e pouco se importam, verdadeiramente, com barco. Ele está a deriva. Está faltando além de uma bussola, comprometimento e solidariedade para os resultados prometidos para os que verdadeiramente colocaram essa gente no poder. Muda, Gaspar!
TRAPICHE

Se os ajeitamentos fora do Plano Diretor viraram casos para serem resolvidos no canetaço da procuradoria geral do município em substituição aos técnicos da Superintendência do Meio Ambiente, secretaria de Planejamento Territorial e até da superintendência da Defesa Civil, talvez o melhor alerta aos “espertos” daqui tenha vindo nesta semana do Ministério Público Federal. E de um caso, aparentemente, sem muita importância. A foto é meramente ilustrativa e não é da região.
Uma perita, numa ação que rola na Justiça Federal, achou estranho que um dos maiores empreiteiros de terraplanagem do município, não pudesse ajudá-la no caso concreto dela, oferecendo dados, referências reais e parâmetros para modulações de uma indenização que um outro empreiteiro terá que pagar a União (e ao proprietário de terreno) por ter extraído barro na região sem o devido licenciamento ambiental e mineral. O que o empreiteiro gasparense alegou para esta escusa? De que ele não possuía antes e agora, jazidas regulares para atender seus clientes.
O que está claro Defesa Civil, Superintendência de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, bem como secretaria de Planejamento Territorial? Que extrair barro pode crime Federal. O que está claro? Que extrair barro hoje em dia em Gaspar é uma atividade regulamentada – e agora fiscalizada – que precisa de autorização Federal.
As movimentações para aterros e loteamentos que pipocaram em escala industrial precisavam estar licenciados para quem retira, de quem recebe e de quem transporta este tipo material. E isso tem um preço, tanto que as empresas de terraplanagem, cobram pelo barro que disfarçam em serviços, incluindo o transporte, a retirada e o espalhamento dele.
Mesmo que este barro fosse gratuito, ele precisa licença Federal de lavra. Ela é demorada, cara e burocrática. Ora, se uma das maiores empresas do setor daqui alega a uma perita de que não possui mina e lavra, a empresa precisa comprar de terceiros que tenha tudo legalizado. E se nem isso, poderá comprovar para o passado e o presente, o futuro está comprometido. Como tudo foi feito nos gabinetes com amparo da burocracia da prefeitura de Gaspar?
Diante deste simples acontecido desta semana, entende-se melhor o tamanho do nó desta questão. Entende-se, por outro lado, como o Ministério Público Estadual está sendo usado para criar, rapidamente, os tais Termo de Ajustamento de Condutas ao que já está irregular e pode até não estar na sua alçada de pactuação. E por quê? Não há ingenuidade. É que todos estão vendo o MPF chegar perto das coisas embrulhadas em Gaspar. E aí o buraco será em outro lugar: não terá arrego para o passado. Entenderam? Muda, Gaspar!
Jornal local, diz em uma de suas colunas, que finalmente o “delegado prefeito” Paulo Norberto Koerich e o engenheiro multititulado Rodrigo Boeing Althoff, ambos do PL, fizeram as pazes. Primeiro: estou de alma lavada. Eu era o único que, publicamente, mostrava esta distância e era sistematicamente desmentido. Aliás, vice foi “eleito” só para esperar, para não mandar e ser mais que o titular. Segundo: não há lua de mel. Há sim, um esperando pelo outro escorregar nas cascas de bananas que jogaram no caminho deles.
Coisa mais estranha. O Hospital de Gaspar, um saco sem fundo sob intervenção municipal, anunciou que vai se especializar em tratar e curar feridas dos outros. Nada contra. Deve ser uma oportunidade na tal busca da vocação daquela casa de saúde. Mas, o Hospital, primeiro, devia tratar das suas. As queixas não param. E não são sobre feridas. São sobre pronto atendimento lotado, socorro, fata de transparência e mortes.
A escuridão I. Na sessão da Câmara, entre tantas, teve a volta do vereador Dionísio Luiz Bertoldi, PT. Ele está indignado que quase seis meses depois da posee do “delegado prefeito”, Paulo Norberto Koerich, e do engenheiro multititulado, Rodrigo Boeing Althoff, ambos do PL, não há licitação para repor os materiais que iluminem Gaspar, mesmo depois do aumento de 40% da Taxa de Iluminação, de um empréstimo milionário aprovado pela Câmara – tudo no tempo do ex-prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB e atual chefe de gabinete, Pedro Inácio Bornhausen, PP, que ocupou igual cargo no governo passado e ter se dedicado à sua vida profissional na Celesc, a que ilumina.
A escuridão II. Na mesma sessão, Dionísio Luiz Bertoldi, PT, reproduziu na telona da Câmara o vídeo do suplente de vereador em Blumenau, Halley Edson da Silva, Novo, sobre as escolhas do governo do delegado prefeito Paulo Noberto Koerich e do engenheiro multititulado Rodrigo Boeing Althoff, ambos do PL, para as áreas de Meio Ambiente e Planejamento Territorial e que mostrei em O GOVERNO DO “DELEGADO PREFEITO” PAULO VAI TENTAR, NO SEU SEXTO MÊS DA POSSE E QUASE DEZ MESES DEPOIS DA EXPLENDOROSA VITÓRIA DE 52,98% VOTOS VÁLIDOS CONTRA A CONTINUAÇÃO DE KLEBER E A VOLTA DE UM PREFEITO DE TRÊS MANDATOS, RECOMEÇAR A PARTE QUE INCOMODA INVESTIDORES
A escuridão III. Dois fatos chamaram a atenção. A primeira delas foi a líder do governo, Alyne Karla Serafim Nicoletti, PL, tão logo o vídeo foi exibido, ela se pôs a filmar com o seu celular como se aquilo fosse uma “novidade”. O vídeo entupiu os aplicativos de mensagens nestes dias por aqui. O segundo ponto, foi à enfática defesa do petista Dionísio Luiz Bertoldi, PT, para que a escolha recaísse sobre o atual vice-prefeito, o engenheiro Rodrigo Boeing Althoff, PL. Dionísio atestou competência do seu indicado. Qual a razão? Rodrigo já foi o homem de Pedro Celso Zuychi, PT, na equivalente hoje secretaria de Planejamento Territorial, quando Rodrigo militava no PV, um partido de esquerda.
A escuridão IV. Noves fora, não entrarei no mérito e qualificação do vice Rodrigo Boeing Althoff, PL, para o cargo e função sugeridos pelo vereador Dionísio Luiz Bertoldi, PT, até porque já escrevi reiteradamente sobre este assunto aqui. Entretanto, com a indicação feita, Dionísio está obrigado dizer duas coisas à cidade: a primeira se este é o desejo do PT e assim sendo, qual a razão da demissão tão prematura de Rodrigo feita pelo ex-prefeito Pedro Celso Zuchi, PT, quando Rodrigo foi um secretário do governo petista. Muda, Gaspar!

Control C, control V. A secretaria de Agricultura e Aquicultura de Gaspar resolveu mudar o que estava supostamente errado. Na contra. Entretanto, logo de cara se soube que a escolha da titular indicava, vinda de fora, que este não era o perfil ideal para isto. Se sabia também, que o operacional da secretaria, gente daqui, aposentada, era a continuidade de tudo aquilo que se praticou até então na secretaria. Mudariam-se apenas os focos. Bingo.
Veio a tal Expofeira (de animais), o maior evento da secretaria de Agricultura e Aquicultura de Gaspar, quando no fundo, a sua função é fomento e apoio técnico aos pequenos e médios produtores agrícolas e da pecuária. Aventou-se não realizá-la. Comoção. Então se desenhou a realização fora dos padrões das anteriores. Nada contra. Um fracasso. Sabia-se o perfil de quem disse que queria mudar. Não mudou. Então não ficaria bem esse vai-e-vem do não realiza, realiza e ao final, morre a Expofeira. Começou-se por isso, pela gestão do problema. Primeiro para arrumar a casa internamente. Ela boicotava à própria iniciativa na nova forma proposta. Depois, suplicar o apoio e a participação de expositores e apoiadores daqui e de alhures.
Um servidor resume bem, mais uma vez, esta “batalha” sobre o nada. Além do preço do metro quadrado estar mais caro do que a Exposição de Esteio, no Rio Grande do Sul, cada imposição foi caindo a medida que os dias passavam e o fracasso se desenhava. Agora, tudo o que estava “proibido”, ou seria feito de forma “diferente”, está liberado como era antes e com um agravante: uma banda colocou uma nota oficial nas redes sociais de que ela está sendo anunciada e não foi contratada. Ah, é terceiro? Mas, faltou controle E se for atrás…
Faltando uma semana para a Expofeira começar as permutas estão liberada e correndo soltas (não seriam permitidas); as horas extras igualmente; vão pagar o frete das movimentações de animais (que estava fora do escopo); vão distribuir a serragem para as camas dos animais (iriam cobrar e vender por saquinhos.. credo; agora será por metro cúbico)…
Foram dois meses de discussões e desgastes para supostas mudanças. Foram dois meses de negativas e teimosias bobas e pequenas. Ao final, diante de um possível fracasso, tudo ficou tão igual ao que era antes. E perguntar não ofende: precisava disso, quando a essencialidade disso é o que Gaspar vai ganhar com este tipo de exposição e as suas picuinhas criadas em torno dela. É um retrato que vai se tornando comum por aqui. Há exceções. E boas. Mas que ficam ofuscadas por este tipo de repetição. Muda, Gaspar!
Então quer dizer que a praça Getúlio Vargas, agora, virou área de treinamento para comissionados, mas em ciclomotores? Hum
3 comentários em “COMO PARTE DOS SERVIDORES EFETIVOS ENXERGAM OS NOVOS POLÍTICOS DE GASPAR NO PODER DE PLANTÃO, AQUELES QUE IRIAM MUDAR GESTÃO PARA RESULTADOS E PRINCIPALMENTE, TRANSPARÊNCIA AOS CIDADÃOS E CIDADÃS”
Pedindo demais aos que nos representam no Congresso Nacional
QUE TAL CONGRESSISTAS CORTAREM NA PRÓPRIA CARNE? por Bráulio Borges, no jornal Folha de S. Paulo
Após uma série de idas e vindas, o governo federal publicou uma medida provisória nesta semana apresentando um conjunto de novas medidas para compensar um aumento menor do IOF (em relação à majoração anunciada por decreto há algumas semanas). A despeito disso, o Congresso sinalizou que irá pautar na semana que vem a votação de um projeto de decreto legislativo (PDL) para sustar a elevação do IOF.
Em meio a esse clima conflagrado, vários congressistas têm justificado essa postura argumentando que não vão aceitar mais aumento de carga tributária e que o Executivo deveria “cortar na própria carne”, reduzindo despesas. Bem, é importante lembrar, em primeiro lugar, que o governo anunciou um bloqueio/congelamento de despesas bastante expressivo, de R$ 31 bilhões em maio, para viabilizar o cumprimento das metas fiscais deste ano.
Também é importante assinalar que, embora a arrecadação bruta federal tenha subido de 2023 para 2024, atingido 22,8% do PIB, ela se situou em um nível semelhante àquele de 2006-10 (e abaixo dos 23% de 2022). Contudo, a parcela que sobra para o governo federal caiu de 19,1% em 2006-10 para 18,4% do PIB em 2024, já que os repasses para estados e municípios se elevaram na mesma magnitude (refletindo, entre outras coisas, decisões tomadas pelo Congresso de elevar as transferências para os municípios em 2007, 2014 e 2021).
No final de 2007, o Congresso extinguiu a CPMF (que arrecadava cerca de 1,2% do PIB), mas não indicou nenhuma compensação para isso, correspondendo ao primeiro grande desrespeito à Lei de Responsabilidade Fiscal (algo que aconteceria com frequência dali em diante).
Do lado da despesa, em 2006-10 o gasto da União foi de 17,2% do PIB, valor que saltou para 18,8% em 2024 (elevação de 1,6 p.p.). Dessa alta de 1,6 p.p., 0,2 p.p. refletiu aumentos de despesas que na verdade são transferências para os estados e municípios (sobretudo pela decisão do Congresso, em 2020, de quase triplicar os valores do Fundeb de 2021 em diante). Outro 0,4 p.p. do PIB decorreu do aumento expressivo dos gastos com emendas parlamentares (incluindo as emendas Pix, que são repasses para municípios).
No final de 2023, contrariando o Ministério da Fazenda, o Congresso não somente prorrogou a desoneração da folha de pagamentos até 2027 como estendeu sua abrangência para municípios pequenos —medida que gerou uma renúncia de receita de cerca de R$ 30 bilhões em 2024.
O STF determinou que o Congresso aprovasse medidas compensatórias (respeitando a Lei de Responsabilidade Fiscal), mas o que foi aprovado pelos congressistas levantou, pontualmente, apenas R$ 9,4 bilhões em 2024 e não irá arrecadar quase nada em 2025-27 (período ao longo do qual essa medida deverá custar cerca de R$ 35 bilhões).
O governo federal tentou encerrar o Perse em 2024, já que essa desoneração emergencial criada na pandemia para o setor de eventos não fazia mais sentido, mas o Congresso não aprovou isso, limitando-se apenas a reduzir a abrangência dessa renúncia (que custou R$ 18 bilhões em 2024).
Portanto, o Congresso Nacional brasileiro também tem grande responsabilidade pelo atual quadro ainda estruturalmente deficitário das contas públicas. Já que os congressistas vêm dizendo que não aceitam mais aumento da carga tributária e que apoiam um ajuste fiscal estrutural, que tal também cortarem na “própria carne”? Reduzir os gastos com emendas parlamentares, dos atuais R$ 50 bilhões por ano para o nível médio real observado em 2015-19 (R$ 9,3 bilhões, ou quase R$ 16 milhões por deputado/senador), geraria uma economia anual de mais de R$ 40 bilhões. Não resolve, mas ajuda bastante, muito mais do que uma reforma administrativa (que também é necessária).
SE GOVERNO FINGE NÃO HAVER CRISE FISCAL, CONGRESSO DEVE AGIR, editorial do jornal O Estado de S. Paulo
Diante da inércia do Executivo em tomar as medidas necessárias para ajustar as contas públicas, o presidente da Câmara, Hugo Motta, afirmou ter passado da hora de discutir cortes em despesas obrigatórias: “O Brasil caminha para a ingovernabilidade completa para quem quer que venha a ser presidente”. Ele tem razão. E faria bem em se adiantar. A questão não diz respeito só ao Executivo, mas também à Câmara e ao Senado. Todo mundo está cansado de saber as medidas necessárias para conter a explosão da dívida — e, definitivamente, aumentar impostos não está entre elas.
O pacote frustrante ensaiado pelo governo é mais uma ofensa ao brasileiro. Depois de muito suspense, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se reuniu com os presidentes da Câmara, do Senado e líderes partidários para discutir alternativas à alta do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) rechaçada pela classe política e pelo setor produtivo. O próprio Haddad falara em medidas de longo prazo. O que se viu foi a enganação de sempre: o avanço sobre o contribuinte para tapar o rombo de um governo perdulário.
Pela Medida Provisória editada ontem, o governo volta atrás na alta do IOF em algumas operações e muda regras ou alíquotas noutras. Ainda tenta compensar a perda de arrecadação aumentando a taxação sobre as bets (de 12% para 18%) — além da insegurança jurídica, isso empurra empresas de apostas à ilegalidade, depois de todo o esforço pela regulamentação. Por fim, aumenta a contribuição sobre lucros, unifica a alíquota de Imposto de Renda sobre aplicações financeiras e acaba com a isenção para títulos como LCIs e LCAs — medida com impacto nos dois setores, ensejando aumento no preço de alimentos e construção civil.
Ninguém aguenta mais a voracidade sobre o bolso do brasileiro para compensar a inépcia e a gastança do setor público. Ou o governo entende que precisa cortar gastos, ou a situação só piorará. Motta deixou claro que o Congresso não tem compromisso em aprovar um pacote que desagrade a todos. Até União Brasil e Progressistas, partidos com cargos no Planalto, são contra. Um alvo óbvio dos cortes são as emendas parlamentares, uma das distorções mais escandalosas do Orçamento, foco de desperdício e corrupção.
Já que o Executivo continua fingindo que não há crise fiscal, o Congresso tem o dever de conter a explosão inexorável das despesas. Se a intenção é buscar uma trajetória sustentável para a dívida pública, é fundamental desvincular do salário mínimo o reajuste de aposentadorias e benefícios previdenciários. Não adianta se iludir. Sem isso, o rombo só crescerá. Outra medida necessária é acabar com a vinculação das despesas de saúde e educação à arrecadação, restaurada pelo arcabouço fiscal. Sem isso, as despesas obrigatórias consumirão espaço cada vez maior no Orçamento. E o caos será inevitável.
O governo deveria saber que qualquer nova taxação afugenta investimentos, pressiona a inflação, os juros e contribui para puxar o freio da economia. Em dois anos e meio de mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não deu sinais de que esteja preocupado com o ajuste fiscal. Tudo o que faz é lançar programas populistas sem respaldo no Orçamento. Mais uma razão para que o Congresso assuma suas responsabilidades. Executivo e Legislativo precisam enfrentar as questões estruturais e cortar despesas. Ninguém tolera mais aumento de imposto.
BOLSONARO E A HISTÓRIA, por Willian Waack, no jornal O Estado de S. Paulo
No exercício de sua autodefesa no julgamento do STF, o ex-presidente Jair Bolsonaro fez jus à fama de “autêntico”. Deixou claro que chegou à Presidência sem saber muito bem como, governou no improviso sem saber muito bem como e agora tenta se livrar da cadeia sem saber muito bem como.
Surge desse interrogatório como um personagem quase literário. Para usar a imagem do filme do mesmo nome, um Macunaíma parido com farda em vez de fralda. Nas entrelinhas reconhece ter sido o pior adversário de si mesmo. A ponto de se desculpar.
Espera-se que seja “técnico” o julgamento de Bolsonaro. Esperança inútil, pois o que se julgam são atos políticos, derivados de contexto histórico político, no qual uma crescente e relevante parcela da sociedade enxerga o julgador como uma das instâncias políticas participantes no embate – portanto, com “lado”.
Por óbvio Bolsonaro esboçou uma defesa política frente a acusações de caráter criminal. Parte delas não só seus advogados consideram carentes de provas, assim como contestam o foro (deveria ser o plenário do STF), e o papel do ministro Alexandre de Moraes, ao mesmo tempo vítima, investigador e juiz.
O curioso é que essa defesa “política” passou longe de esgrimir argumentos sobre a legitimidade do processo, a consistência das decisões enquanto presidente da República, a natureza das suas convicções ideológicas, como os fatos se encadearam na linha do tempo. Bolsonaro nem de longe ensaiou um discurso do tipo “a História me julgará e absolverá”, capaz de transformar um tribunal em tribuna.
O que ele defendeu foi a causa própria e, sobretudo, pessoal. Tudo na figura do líder populista (não importa se direita ou esquerda) gira em torno de sua pessoa, na qual se fundem interesses de nação, Estado, povo ou o que seja. Assim como a direita brasileira, gostem ou não, no momento gira em torno de sua pessoa.
Bolsonaro se exibiu no interrogatório como personagem muito mais reativo às circunstâncias da luta política do que capaz de conduzi-las. E, quando tentou, tropeçou no próprio temperamento (“minha retórica”), nas alterações de ânimo, na falta de convicções claras que lhe dessem rumo, na ausência de qualquer estratégia até quando admitiu ter procurado “alternativas” diante da vitória eleitoral do adversário.
Sua “piada” dirigida a Moraes, convidando-o para ser vice numa chapa para concorrer novamente à Presidência, é um brilhante momento cinematográfico. Moraes riu do que não deveria. O convite sugere que o autêntico Bolsonaro viu no algoz qualidades que tanto admira em quem manda segundo os próprios limites.