Alterado parcialmente o texto principal às 10h30min, de 25.04.2025. Eu deveria estar escrevendo sobre a CPI que a Câmara de Gaspar montou para o espetáculo e mais uma cortina de fumaça, mesmo sob novo governo. Nela a metragem nunca teve o metro como parâmetro. Impressionante. É uma CPI, seja qual o resultado que ela chegar, foi criada para desmoralizar a polícia da nossa região especializada em pegar corruptos e desbaratar corrupção. Aviso aos navegantes. Estamos numa cidade em que o prefeito é um delegado. Mais do que isso, no passado era conhecido como desvendador de casos tão ou mais complicados do que este. Uma CPI onde a sua líder de governo na Câmara, ex-subordinada dele, é uma policial civil e sabe que se equilibra no fio da navalha (afiadíssima).
O que está explícito e estabelecido neste quadro de Dante? A contradição. Os políticos eleitos em Gaspar (rotulados como novos, mas que nada mudaram), vivem dizendo por aí, para justificar os quase 120 dias de inércia, que não sabem por onde começar a colocar à coisa em ordem na prefeitura daqui. Dizem que ela e a cidade estão um caos. Todavia, mesmo assim, conseguiram se ocupar com coisas já bem encaminhadas nos fóruns competentes de investigação, quando poderiam avançar em outras que estão escondidas e latentes, que a cidade inteira sabe, e apostava que os novos tirariam sob o tapete da sala onde está.
Repito, eu deveria estar escrevendo sobre a CPI, mas, não. Vou, mais uma vez, olhar a maré. Parece que tem gato na tuba. E por isso, a tuba não toca. A assessoria de imprensa da Câmara está quieta. O presidente da Câmara, até então fanfarrão no assunto, quieto. Os vereadores, quietos. Os envolvidos, quietos. E a cidade ansiosa.
Vou escrever nesta sexta-feira, véspera do enterro do líder espiritual e carismático da Igreja Católica Apostólica Romana, o Papa Francisco, o argentino Mário Bergoglio, 88 anos, algo de Nicolau Maquiavel: “a política não tem relação com a moralidade“. Uma vez, perguntado por Gérson Camarotti, para a Globonews, sobre a eterna rivalidade de brasileiros e argentinos, o recém papa, saiu-se com a seguinte afirmação, insinuando um provável pacto celestial: “já combinamos: o Papa é Argentino e Deus, é brasileiro”.
Mas, Deus, parece que nos abandonou, como o próprio Jesus, seu filho, na versão dos evangelhos de Mateus e Marcos, teria pronunciado em tom de questionamento pouco antes de morrer na cruz e bem lembrado recentemente na liturgia das estações da Sexta-feira Santa.
Francisco revigorou a Igreja, no sinal deixado na renúncia do alemão Joseph Ratzinger, o Bento XVI. Havia reformas interrompidas iniciadas pelo grande papa reformador, João XXIII, no Concílio Vaticano II. Havia disputas e ainda há. Havia caixinhas de segredos nas finanças, na gestão e nas questões criminais. Havia e há modismos e a Igreja de Pedro. Os modismos precisavam ser vistos como passageiros. Separados da necessária atualização. Os que condenam a Igreja Católica, na maioria, que nem católicos foi, é ou será. Para os modismos há tantas outras seitas.
A Igreja, como Igreja, está obrigada à Moral. Esta é a base de todas as religiões. Uma Igreja, como Igreja, em si, é um código moral. Os políticos não. Eles, antes estão obrigados à ética e a lei, que eles próprios referendam em nosso nome. A ética decorre de uma moral aceita. Mas, isto é muito complicado para se explicar aqui.
Então, por que os políticos quando em campanha apontam o dedo para a suposta falta de moralidade dos adversários?
Porque falam com os mais simples, os fervorosos, os sem discernimento e ignorantes. E eles, que procuram o céu, nutrem esperanças e acreditam na vida eterna, entendem o bom e o supostamente ruim quando rotulados pela moral vigente naquela sociedade. E eles são maioria.
Então, trata-se de manipulação de um seleto e sabido grupo, religioso ou não, sobre as massas usando a moral, a fé e a esperança. E dá no que dá. Estamos escolhendo nos líderes para dirigir o estado laico com o fígado contaminado pela falsa moral e até com rótulos de seitas ou religiões. E os escolhidos, supostamente, abençoados, ou portadores de uma moral aceita como adequada, estão nos matando. Eu usei no título a palavra suicídio, porque somos nós que, na democracia, escolhemos estes líderes.
Donald Trump, Republicano, depois de empossado, fez-se dono do mundo, mas quem está pagando, é o seu próprio povo dos Estados Unidos nesta louca experiência. Luiz Inácio Lula da Silva, PT, o católico, jura que não sabe a razão pela qual é tão rejeitado. A maioria dos pesquisados, contudo, sim. Jorginho Melo, PL, no espectro político oposto, ou seja, não se trata então de ideologia, igualmente.
E o novo governo de Gaspar?
Está contrariando uma das lições basilares do filósofo e historiador florentino Maquiavel (1469/1527) de que “a sabedoria consiste em saber distinguir a natureza do problema e escolher o mal menor” A política dos dias de hoje, como já se constatava no século, 15 de Maquiavel, não tem a ver com moralidade, mas com resultados comuns para uma maioria, tudo ordenado pela ética e o senso de justiça, estabelecidos nas leis vigentes.
E nos dias de hoje, com as redes sociais na palma da mão, cheia de cliques e aplicativos de mensagens a nos entupir com informações corretas ou falsas, são elas o grande espelho de que tanto se fala na filosofia, mas que o governante se nega a olhar nele e perceber seus próprios defeitos.
Rezar ou orar, é bom. Esperar milagres, melhor ainda. Mas, mudar e fazer, como Francisco fez, diante de tanta turbulência (ou o caos como se alega aqui) é antes de tudo, uma atitude com riscos percebidos, calculados e mitigados. E os políticos carreiristas de hoje dia não querem tomá-los. E a pesada conta, no fundo, quem paga somos nós que os escolhemos. Muda, Gaspar!
TRAPICHE

Expostos I . Avisei a cidade no dia 13 de abril, em duas notas do TRAPICHE do artigo OS 100 PRIMEIROS DIAS DO GOVERNO DO “DELEGADO PREFEITO” PAULO E DO ENGENHEIRO RODRIGO, FORAM ATÉ AQUI, UM EXPERIMENTO SEM RESULTADOS que, a aprovação daquele PL do vereador Dionísio Luiz Bertoldi, PT, obrigando o município de Gaspar a implantar câmeras e sistemas de vigilância nas escolas e creches municipais era inconstitucional e que todos do governo, incluindo a sua base na Câmara, comeram mosca. Bingo.
Exposto II. O que aconteceu? Espetáculo. Mais um desnecessário e reiterado desgaste para o governo. O prefeito Paulo Norberto Koerich, PL, fez o que devia ser feito, por recomendação da sua procuradoria geral: vetou o Projeto de Lei aprovado na Câmara e não o transformou em lei. E o vereador Dionísio Luiz Bertoldi, PT, foi as redes sociais fazer política com o veto, mesmo sabendo de o que ele pede não pode pedir e o que pediu, o atual governo já fez. E em tempo recorde como o governo mal marqueteou. Por outro, lado, arrisca-se e erra o governo de Paulo, em não enviar uma matéria semelhante para a Câmara e com isso, resolver o impasse, tapando a boca do vereador.
Exposto III. Como escrevi lá no dia 13 de abril, Dionísio Luiz Bertoldi, PT, está certo no que pede. Mas, um vereador não pode fazer um Projeto de Lei que implica em criar despesas, dar diretrizes operacionais e mexer no Orçamento municipal. São prerrogativas do prefeito. Como escrevi lá no dia 13 de abril, se a matéria é inconstitucional, como é que este tema não foi motivo de parecer neste sentido da assessoria jurídica da Câmara; como não permeou as comissões a principal delas, a de Comissão de Justiça, Cidadania e Redação, na qual a presidente é a líder do governo, policial, formada em direito, Alyne Karla Serafim Nicoletti – que já barrou outros temas com a arguição de inconstitucionalidade – e não foi motivo de contestação a partir da sua própria base de governo? Esta sexta-feira ela rumou para a prefeitura e foi ter um tete-a-tete com o procurador. Esta conversa não deveria ter sido feito antes?
Exposto IV. O que mostra tudo isso? Como a base política do governo do “delegado prefeito” Paulo Norberto Koerich e de Rodrigo Boeing Althoff” está frágil, sem foco e com a liderança na Câmara pisando em cacos de vidro, desde que aceitou ficar em minoria para fazer de Alexsandro Burnier, PL, presidente da Casa, com o vice-prefeito nos bastidores “controlando” dois vereadores. Então perguntar não ofende: quando o veto do prefeito chegar na Câmara, a Comissão de Justiça terá parecer diferente? Os cinco vereadores da base do governo de Paulo e Rodrigo com votos (presidente só em caso de empate), vão voltar atrás e serem razoáveis com a Constituição que dizem ser o pilar nas causas da direita? E por derradeiro: precisava de mais este desgaste todo? É uma atrás da outra.
Exposto V. Depois da farra do vereador Dionísio Luiz Bertoldi, PT, ontem à tarde e noite nas redes sociais, reclamando contra o veto e colocando as crianças como vítimas da insegurança, exatamente o termo mais caro ao discurso dos bolsonaristas no governo de Gaspar e onde um delegado é prefeito, e a líder de governo é policial civil, Paulo Noberto Koerich, PL, em raríssima aparição e agilidade, rebateu, nas redes sociais, o vereador e esclareceu a cidade. E fez isso, porque a coisa pegou. E pegou por que? Porque está devendo na expectativa de mudanças que a vitória dele deu a maioria dos eleitores e eleitoras gasparenses. Simples assim.
Exposto VI. O vice Rodrigo Boeing Althoff, PL, o presidente da Câmara, Alexsandro Burnier, PL, e os da base, até o momento em que posto este comentário, estão, providencialmente mudos. Mas, falar o quê se são parte desse circo que se armou contra o próprio governo deles? A oposição, que aos poucos vai ocupando espaços no governo da mudança, é que tem sido mais coerente até o momento. Nos primeiros 100 dias de governo, a bancada governista por vezes pareceu que não era ela governo. Este é um exemplo. É preciso mudar. E o problema está dentro de casa. E esta CPI poderá ser outro tiro n’água.
Em Blumenau, o outro delegado – que também atuou em Gaspar nesta condição – que se tornou prefeito de lá, Egídio Maciel Ferrari, PL, sentiu o bafo daquilo que mal explicou e que a maioria da Câmara está trabalhando contra os próprios eleitores e eleitoras: os exorbitantes duplos “reajustes” na taxa de esgoto que somados chegam a 16%. Para driblar a condição de minoritários para reclamarem, o vereador Jean Volpato, PT, entrou com uma Ação Popular.
O Juiz da Comarca de lá, Bernardo Augusto Ern deu prazo de 72 horas para o prefeito de Blumenau e a BRK, concessionária do serviço público de coleta e tratamento de esgotos de lá, bem como o Samae se explicarem. Ao mesmo tempo, mandou o Ministério Público entrar na parada. Quem são os patronos desta Ação Popular? João Pedro Sansão, Doraci Vanz e André Luiz Soares.
Na segunda-feira, feriado, o secretário de Infraestrutura e Mobilidade, o deputado de Ibirama, Jerry Comper, MDB, estava aqui em Gaspar, na sua propriedade. Quem estava na terça-feira no gabinete do secretário em Florianópolis, batendo o ponto, e afirmando que estava atrás de recursos para Gaspar? O vereador Ciro André Quintino, MDB.
O vereador Roni Jean Muller, MDB, já foi secretário de Obras e Serviços Urbanos. Mando um ofício para a prefeitura de Gaspar querendo saber como estavam as tratativas para a recuperação daquela galeria que ruiu na Estrada Geral da Lagoa. Quase três meses depois do evento, e sob improviso, a resposta de 20 de março, é que estudos preliminares terão que ser feitos para ver o que precisa ser feito. Credo. Realmente, o governo de Paulo Norberto Koerich, e Rodrigo Boeing Althoff, este engenheiro multi-titulado, não precisa de oposição.
Era uma vez a Havan. A primeira “parceria” de desenvolvimento do primeiro mandato do governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, foi a abertura das Lojas Havan, ali no Bela Vista. Nos discursos, uma lambeção só. O prédio começou ruir. Tentaram remediar. Técnicos me diziam que não daria certo. Foi desmentido. Depois de quatro meses fechada, a loja reabriu em primeiro de maio de 2019. Avisei que iria fechar e para sempre. Fui desmentido. Há alguma dúvida sobre o que aconteceu há cinco anos?
O ex-presidente Fernando Collor de Mello, foi preso por corrupção no âmbito da Lava Jato. Ele saiu do governo há 33 anos pelo mesmo motivo via o impeachment: corrupção. E se livrou dela na Justiça, na época: falta de provas. A prisão de Collor é manchete nos jornais de hoje. O que estranha, sem livrá-lo de culpa, é a certa seletividade da Justiça. Quase todos os grandões se livraram das acusações na Lava Jato, entre eles, Luiz Inácio Lula da Silva, PT. Não porque não eram culpados, mas, porque o processo foi declarado viciado. O STF declarou conluio entre o Juiz Sérgio Morro e os procuradores Pelo visto, Collor não conseguiu tal equidade.
3 comentários em ““A POLÍTICA NÃO TEM RELAÇÃO COM MORALIDADE”, MAS ESCOLHER NOSSOS GOVERNANTES COM O FÍGADO BEIRA AO SUÍCÍDIO COLETIVO DE NÓS MESMOS”
Vereador de Gaspar interessado em vender o mandato para por a mulher assessora, fazendo caipirinha… Se a moda pega.
ESCÂNDALO NO INSS EXIGE AÇÃO MAIS FIRME, por Vera Magalhães, em O Globo
As revelações ainda parciais de um esquema antigo de desvio de recursos de benefícios de aposentados e pensionistas em favor de entidades sindicais, consolidado e que vinha em franca expansão, exigem ação mais firme por parte do governo. Trata-se de um escândalo da categoria inadmissível, porque mexe naquilo que é mais vital na vida de pessoas vulneráveis, justamente aquelas em nome de quem Lula prometeu ao longo da vida toda governar.
Foi preciso que a Polícia Federal deflagrasse uma operação para que o ministro da Previdência, Carlos Lupi, viesse a público. E, ainda assim, sua primeira preocupação foi sair em defesa do agora ex-presidente do INSS Alessandro Stefanutto, cuja permanência naquele momento já era impraticável, e que cairia poucas horas depois.
A diferença de tom entre o responsável por gerir o INSS e seus colegas de ministério é um sinal cristalino de que Lupi não deu ao caso o sentido de gravidade que ele exige e de que não está apto a conduzir investigações internas e uma devassa no pagamento de benefícios que a fraude bilionária requer.
Enquanto o pedetista passava pano para seu apadrinhado político e tergiversava sobre o escândalo, fazendo muxoxo porque o caso corre em segredo de Justiça, os ministros da Justiça, Ricardo Lewandowski, e da Controladoria-Geral da União, Vinícius Marques de Carvalho, deram declarações na única direção possível: esse tipo de roubo em algo tão essencial como aposentadorias e pensões é inadmissível, e o governo falhou em detectar o esquema — aqui, pouco importa que ele tenha começado no governo anterior, porque não só se manteve sob Lula, como ganhou mais tração e atingiu valores mais expressivos.
O presidente tem de entender que não é possível, nesse caso, segurar um ministro com o discurso-padrão do benefício da dúvida ou da necessidade de esperar o avanço das investigações.
Lupi já está em sua segunda encarnação ministerial. Não há nada nos seus feitos administrativos, aliás, que justifique sua volta depois de ter sido demitido no governo Dilma Rousseff por causa de denúncias envolvendo favorecimento a ONGs no Ministério do Trabalho, pasta que ocupava na época. Apenas o fato de ser dono do PDT justifica sua nomeação para a Previdência.
O próprio Lula já se queixou, ao longo de dois anos e meio, das filas e da ineficiência do INSS. Não custa lembrar que mais da metade deste mandato já foi, a hora de mostrar serviço passou, e reduzir essa fila fez parte das promessas de campanha do petista, porque se trata de algo que diz respeito a sua trajetória política: o discurso de defesa do trabalhador e do aposentado.
Também não deveria ser preciso lembrar ao presidente e a seus ministros mais próximos que qualquer esforço de recuperação de popularidade será jogado no ralo caso esse escândalo ganhe proporções ainda mais graves (e tudo indica que ganhará), uma vez que o estigma da corrupção é marca indelével das gestões petistas para imensa parcela da população brasileira, como atestam inúmeras pesquisas.
Não se trata nem de discutir se essa percepção é correta, porque ela está sedimentada, e a única maneira de debelá-la é com transparência e ação, como uma ala do próprio Executivo já percebeu. Basta ver que o titular da CGU disse com todas as letras que não é possível atestar se Lupi sabia dos descontos em benefícios feitos sem anuência dos aposentados e pensionistas.
Aliás, não se trata nem disso: sabendo ou não, o ministro demonstrou imensa incompetência em gerir um órgão vital para a vida de milhões de pessoas, e isso contribuiu para uma fraude de mais de R$ 8 bilhões que o governo terá de dar um jeito de ressarcir aos que foram covardemente lesados. Se isso não é motivo para trocar um gestor, o que mais será?
Sindicalismo de resultados. É certo que este crime começou no governo de Jair Messias Bolsonaro, PL. É mais certo ainda, que no governo do sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva, PT, isto se tornou uma máquina de roubar bilhões de reais de milhões idosos, pobres e quase sempre doentes, mesmo diante de tantas denúncias que poderiam parar o mecanismo pelos próprios meios de governança do governo. É a tal volta à cena do crime, que lembrou, quando na oposição, o vice de Lula, Geraldo Alckmin, PSB
CIDADÃOS FORAM ROUBADOS SOB A GUARDA DO INSS, editorial do jornal Folha de S. Paulo
Uma quadrilha desvia parte do valor dos benefícios de aposentados e pensionistas para associações de classe e sindicatos, que em tese prestariam serviços a essas pessoas.
Parte dessa organização criminosa atua no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Facilita o tráfico de dinheiro para as entidades, que firmaram “acordos de cooperação técnica” com o órgão federal a fim de receber esses “descontos associativos”.
Os associados não sabem que o são nem deram autorização para o desconto. Pessoas com deficiência limitadora ou sem alfabetização, indígenas que moravam em aldeias ou moradores no exterior, milhares foram esbulhados.
É o roubo consignado.
A história vai além de um enorme caso de polícia. A leitura de uma recém-divulgada auditoria da Controladoria-Geral da União, entre outras investigações e evidências, mostra que o comando de várias gestões do INSS se comportou com negligência, na melhor hipótese, diante dos indícios gritantes de desvios.
Cinco servidores da cúpula do instituto foram afastados ou demitidos, incluindo o seu agora ex-presidente Alessandro Stefanutto. Ainda não está claro quem é acusado de tal ou qual crime, mas a CGU comprovou irresponsabilidade escandalosa.
Entre abril e julho de 2024, foram entrevistados 1.273 beneficiários do INSS, escolhidos aleatoriamente, dos quais 97,6% disseram não ter autorizado descontos; 95,9% diziam não fazer parte de associação.
Uma explosão do montante descontado não chamou a atenção. Em 2022, a média mensal era de R$ 58,8 milhões; na primeira metade de 2023, de R$ 81,8 milhões; em julho daquele ano, R$ 113,7 milhões; em maio de 2024, último dado considerado, foram mais de R$ 200 milhões.
Aumentaram ainda mais os pedidos de cancelamento dos descontos por parte da clientela do INSS. De cerca de 15 mil pedidos mensais nos 12 meses até junho de 2023, passou-se a quase 85 mil mensais nos 12 meses seguintes.
Em 2019, a Procuradoria da República no Paraná alertara o INSS do problema, pedindo providências, sem reação suficiente. Em julho de 2024, o instituto recebeu da CGU texto preliminar de sua auditoria —e, de mais incisivo, apontou que desde 2024 havia exigência mais rigorosa para autorização de desconto, por meio de biometria, sem prestar contas a respeito dos sinais de fraude.
Não há notícia de que a Previdência tenha procedido a uma intervenção saneadora, que apenas ocorreu depois da operação policial. É um escândalo de incompetência e desleixo.
O trabalho de CGU e Polícia Federal é apenas o começo de uma limpeza que deve continuar por responsabilização administrativa e política. O esquema decerto começou antes, mas é ao governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que cabe agora responder com providências e explicações pelo roubo em larga escala ocorrido sob a guarda de um órgão público.