A data base do funcionalismo público municipal de Gaspar está estourando. E daqui a duas semanas roda a folha de pagamento de março dos servidores e agentes políticos e isto terá, em tese que estar votado na Câmara de vereadores. Até hoje, quando escrevi este artigo, nada havia sido enviado ou constava no site da Câmara, antigamente, bem atualizado. E as negociações estavam “em segredo”.
Mas, se o governo não mudar a postura, logo se tornará um problema tão desgastante quanto está sendo o dos plantões das creches por pura teimosia e falta de habilidade do governo e base aliada do delegado prefeito Paulo Norberto Koerich e do engenheiro Rodrigo Boeing Althoff, ambos do PL. Este caso continuou ontem na Câmara. E na mesma toada.
O pessoal do governo não conseguiu dar um nó e virar a página para seguir adiante. Gente teimosa. Fez de uma formiga um elefante numa cristaleira. Impressionante como lhes relatei em “ELES AINDA PENSAM QUE ESTÃO NUMA DELEGACIA DE POLÍCIA” RECLAMA DIONÍSIO AO SER SUPREENDIDO PELA REJEIÇÃO DO SEU PROJETO. ORA, SE TODOS QUEREM O PLANTÃO DAS CRECHES EM GASPAR, POR QUÊ O GOVERNO DE PAULO E RODRIGO APOSTOU NO DESGASTE E PERDEU POLITICAMENTE UMA PARADA SIMPLES NOS VOTOS? VEJA O JOGO DOS SETE ERROS
Voltando
Fontes do Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público de Gaspar – Sintranspug – acham que estão sendo enrolados e por argumentos emocionais: falta de dinheiro, início de governo e outras lenga-lenga do tipo, como se eles não estivessem escolados para esse tipo de manha.

O Sintraspug promete mobilização e ao mesmo tempo, colocar a boca no trombone por aumento e melhorias de trabalho para mais de dois mil servidores que serão beneficiados pela proposta e a pauta que está na rua. O ex-prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, com o mesmo chefe de gabinete que é o chefe de gabinete do “delegado prefeito” Paulo, Pedro Inácio Bornhausen, PP, tentou a mesma coisa. Não deu certo. Na foto ao lado, ele está ao centro, ao receber a proposta do sindicado no dia 26 de fevereiro. Esta semana, todos voltariam a se reunir mais uma vez.
Kleber teve que recuar até porque não tinha, naqueles dias, votos suficientes para sustentar os seus argumentos. Só depois se livrou da armadilha de estar nas mãos da oposição e no mandato seguinte fez a tal Bancada do Amém (MDB, PP, PSD, PDT e PSDB) onde tinha onze votos caixão dos 13 possíveis na Câmara.
Um parêntesis. Uma negociação séria com o Sindicato, incluiria à mudança desta data base. Não é desejável, que um governo em que está assumindo, sem saber direito como está as finanças da Casa que recebeu de outro governo, tenha que partir para negociações tão delicadas, onde ele fica exposto logo de cara pois se se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. O policial Paulo, como líder de classe, conhece bem esse jogo que já jogou em favor dos seus representados.
AUMENTO REAL PEDIDO É MAIOR QUE A REPOSIÇÃO
A pauta econômica é bem simples: 9,17% entre recuperação da perda inflacionária do período (4,17%) e o ganho real (5%). O auxílio alimentação, no qual voltam a insistir em dinheiro ou então a melhoria da aceitabilidade do cartão, vai dos atuais R$750,00 para R$1.000,00, ou seja, quase 34% de aumento, bem superior a inflação dos alimentos do período.
As pautas setoriais e sociais, revelam pegadinhas bem estranhas. Algumas delas buscam a consolidação da isonomia para quase todos trabalharem só 30 horas semanais, sem se mexer nos respectivos vencimentos (ganhos reais), acumulando intermináveis e descontrolados bancos de horas. Estas cláusulas, por outro lado, mostram bem claramente que os governos passados – e isto vem desde Francisco Hostins (1989/92) PDC e para quem Paulo serviu como chefe de gabinete -, que faltou a reforma do serviço público em Gaspar. E foi proposital. Favorece os puxadinhos. A mesma coisa acontece em outro ambiente institucional: à falta de revisão do Plano Diretor.
Retomando à proposta do Sintraspug.
Para se ter uma ideia e comparar. No ano passado, o mesmo Sintraspug tocado pelo mesmo presidente, Jeferson Debus, pediu 3,82% de reposição das perdas inflacionárias do período e um ganho real de 4,16%, num total de 7,98%. Levou ao total apenas 4% (3,82 + 0,18). Por outro lado, pediu 20% sobre os R$620,00 do auxilio alimentação, compensatoriamente, conseguiu que este auxílio fosse fixado nos atuais R$750,00, ou seja, 21% de reajuste. Este foi o pulo do gato.
Noves fora, ou seja, não foi uma má negociação, se considerar que o Auxílio Alimentação está livre de Imposto de Renda. Porteira aberta, daí o exagero neste ano. E talvez seja por aí o ajuste do encontro de contas.
FALTA DE TRANSPARÊNCIA
Este aumento da folha de pagamento no ano passado impactou em R$5,23 milhões no Orçamento de 2024 (1,1277711%) e carregou, se não houvesse nenhum reajuste com aumento este ano, R$6,9 milhões no Orçamento deste ano.
É claro que diante da obrigatoriedade de se reajustar ao mínimo, perguntei ao “delegado prefeito” Paulo, qual o impacto da proposta do Sindicato se atendida naquilo que pediram. Um silêncio só. E ninguém em seu socorro. A transparência prometida por ele no palanque já se perdeu, e há muito pelo caminho pela frente. Não é à toa que está sendo triturado na Câmara em algo tão simples, quando terá pela frente duras batalhas, incluindo a Reforma Administrativa que para que diz estar sem dinheiro, todos os cálculos conhecidos vão tornar a nova cara da máquina municipal, mais cara.
Paulo está jogando fora, gratuitamente, o crédito de todo o vencedor. E olha que foi por esmagadora maioria. E para mudar.
Retornando para encerrar.
A folha do município de Gaspar considerando a prefeitura, a Câmara, o Samae e a Fundação Municipal de Esportes e Lazer, chega a R$12 milhões por mês. Mas, até isto não está disponível no Portal Transparência, que continua com a cara do governo de Kleber, MDB, derrotado entre tantas, por causa disso.
A diretoria do Sindicato, mesmo com canais amplamente abertos até aqui, está desconfiada de que o atual governo está lhe testando. Se isto for verdade, o Sindicato está pronto para mais um enterro. Porque além de clara falta habilidade para negociar, falta-lhe transparência, porta-vozes confiáveis na sociedade e críveis no governo. Pior do que isso, até ontem – como se viu na sessão da Câmara – faltava-lhe votos e encerrar pautas perdidas: só birra continuada ao modo bolsonarismo, como aconteceu no plantão das creches.
Ou esta “negociação” se acerta a seis mãos (governo, Câmara e Sindicato) com menos danos ao erário público que se diz sem caixa, mas não se prova, e exatamente por falta de transparência e comunicação, ou então Sindicato vai iniciar o baile com a música no ritmo dele, numa repetição daquilo que o próprio Kleber experimentou em 2017. Muda, Gaspar!
TRAPICHE
Já escrevi sobre isto. E quando os loteadores, investidores e empresas de terraplanagens leem alguma coisa aqui, ficam arrepiados. Há um movimento entre eles, e com aval das instituições locais, para que, finalmente, o Plano Diretor de Gaspar seja revisado.
Isto deveria ter sido feito em 2016 como manda o Estatuto das Cidades. ex-prefeito Pedro Celso Zuchi, PT, até tentou via a Iguatemi, de Florianópolis. Uma dinherama perdida. nada foi adiante. Mexia em interesses e no fundo, a proposta era um control C, control V, de algo que não batia com a nossa realidade e futuro da cidade.
Mas, porque esse pessoal, unido, que queria puxadinhos via secretaria de Planejamento Territorial – de onde geraram os áudios cabulosos que cortaram cabeças – e a Câmara que tudo aprovou, está unido mais uma vez, mas para algo mais próximo da legalidade e da normalidade? Porque estão perdendo oportunidades e dinheiro. Simples assim.
A invenção deles para o ex-prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, com uma Superintendência do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável local e autônoma, mas à margem da lei e coalhada de comissionados que não podiam por isso, assinar o que assinaram, para assim favorecer os empresários e seus sonhos empresariais, desmoronou e está lhes causando dores de cabeças, além e principalmente, prejuízos reais, sem perspectivas de que novas gambiarras assemelhadas.
O que mudou, então, se os mesmos que sempre apoiaram o ex-prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, nas facilidades, trocaram o apoio ao “delegado prefeito” Paulo Norberto Koerich, PL, e o experimentado neste assunto, o engenheiro Rodrigo Boeing Althoff, PL, que estava vestido de dono do pedaço onde já reinou no governo de Pedro Celso Zuchi, PT? É que Kleber foi obrigado pelo Ministério Público a fazer concurso e substituir os comissionados. E os efetivos, mesmo sob pressões, pois muitos deles ainda estão no estágio probatório, não estão cedendo e se socorrendo do próprio MP e Justiça naquilo fazem e agem.
E tanto os resultados, bem como as perspectivas não são nada animadoras para loteadores, investidores e empresários da terraplanagem. E o buraco da emergência, fraudulenta, na Defesa Civil e Proteção, também foi fechado. Um embargo total de um mega loteamento na entrada da cidade está sendo analisado no MP: apresentação de documentos supostamente falsos; Um outro no bairro Sete de Setembro ou Centro, ou tira a tubulação de água de bica, recupera as margens e perde lotes, ou não vai adiante a sua comercialização, com decisão no Tribunal de Justiça; o maior de todos, no bairro Figueira, correr sério risco de não ter a sua parte licenciada e um outro no Figueira, já recuou, cedeu e caminha para a regularização.
Então, os empresários e investidores, entenderam, depois de dez anos, que o melhor caminho é mudar a lei geral, sem puxadinhos, com áreas definidas claramente para seus negócios. Trata-se de segurança jurídica para todos, sejam eles locais, de fora, amigos, adversários, puxa-sacos ou críticos do poder. Tanto que, o ex-servidor efetivo, ex-secretário de Planejamento Territorial, e hoje vereador, Carlos Francisco Bornhausen, MDB, está liderando este processo. É bom e perigoso ao mesmo tempo, se não houver vigilância da sociedade. E na Câmara este assunto é suprapartidário, por enquanto.
E onde estra o “delegado prefeito” Paulo Norberto Koerich, PL, que foi apoiado pela maior parte dos loteadores, investidores e empresários de terraplanagem de Gaspar? Deixar o barco correr e levar os louros. E por que? Não há outra saída possível para esta paralisia e falta de segurança numa cidade que pode aproveitar o gargalo e legislações mais duras de Blumenau, por exemplo. Muda, Gaspar!
E se a cidade vai expandir, é preciso não só de um Plano Diretor teórico que dê proteção jurídica mínima aos investidores. É preciso infraestrutura. Há 20 anos se discute o fornecimento de água na localidade de Pocinho na divisa de Gaspar com Ilhota. Lá a água é atendida pela Águas de Ilhota, que já não dá conta para a cidade de Ilhota em expansão.
Não é que este assunto voltou à tona mais uma vez e no governo do “delegado prefeito” Paulo Norberto Koerich, PL, e do engenheiro Rodrigo Boeing Althoff, PL. O presidente do Samae, Cicero Giovane Amaro, PL, foi lá discutir o assunto com a comunidade. Normal, se estrategicamente esta não deveria ser a prioridade do presidente, do prefeito e do vice, mas como levar água para a Margem Esquerda aberta a expansão logística e industrial, bem como a implantação da rede de soleta e tratamento de esgotos.
Este assunto da coleta e tratamento de esgotos se enrola por quase 20 anos e sob um Termo de Ajustamento de Conduta do Ministério Público. No início do mês, o “delegado prefeito” foi a Brasília tentar resolver este assunto. Até hoje, passado um mês nada se sabe sobre a evolução deste assunto. Um segredo só. Transparência zero.
E como vai se atrair investimentos de forma coordenada e ordenada para Gaspar se até agora, 70 dias da posse, ainda não foi nomeado o Diretor Geral de Gestão de Convênios. Em tese, ele é o técnico ou com habilidade para buscar recursos, emendas e cadastrar projetos para receberem recursos totais e parciais de várias fontes Federais e Estaduais. Muda, Gaspar!
Então. Nada como um dia após o outro. Um vídeo nas redes sociais, bombou e desmascarou políticos gasparenses eleitos. Colou os discursos deles com a omissão, ou ainda falta de estrutura de hoje. Em campanha, juraram à causa animal, coisa que por aqui, é lixo ou propaganda enganosa. Um cachorro, com uma pata possivelmente quebrada, foi abandonado, criminosamente, saliente-se, no Morro da Garuva, em Gaspar. E lá ficou. E ficaria assim em qualquer lugar do município.
A prefeitura de Gaspar está numa campanha publicitária para lembrar que a primeira parcela do IPTU com descontos está para vencer na segunda-feira, dia 10. O desconto é de 5%, menor do que a inflação do período e da projetada para a mesma data do ano que vem. Ou seja, não há vantagem financeira nenhuma para esta antecipação. O que se pretende arrecadar, mal dá para pagar o 13º salário. Muda, Gaspar!
15 comentários em “SINDICATO QUER AUMENTO REAL DE 5% PARA OS SERVIDORES MUNICIPAIS DE GASPAR. NA PREFEITURA UM SILÊNCIO SÓ. PERGUNTADO SOBRE O IMPACTO DISSO, O “DELEGADO PREFEITO” PAULO EMUDECEU. TRANSPARÊNCIA É TÃO OPACA QUANTO A DO GOVERNO ANTERIOR.”
Pingback: VEM AÍ A NOVA BATALHA DO DELEGADO PAULO NA CÂMARA. A REFORMA ADMINISTRATIVA VAI CRIAR SECRETARIAS, PRIORIZAR SEGURANÇA E CUSTAR MAIS NUM ORÇAMENTO QUE ELE PRÓPRIO GOVERNO ARGUMENTA E DIZ SER INSUFICIENTE PARA AS DEMANDAS MÍNIMAS ATUAIS - Olhando a M
DELFIM NETTO FAZ FALTAS A LULA, por Elio Gaspari, nos jornais Folha de S. Paulo e O Globo
O professor Antonio Delfim Netto faz falta. Ele era um eventual conselheiro de Lula e morreu em agosto.
Diante da carestia dos alimentos, Delfim poderia mostrar a Lula como é possível fabricar quedas artificiais ou momentâneas de preços. Poderia, sobretudo, mostrar que algumas medidas servem para nada.
Confrontados com a carestia, presidentes e hierarcas passam por duas fases. Na primeira, culpam o povo que compra gêneros caros (Lula já queimou essa etapa). Na segunda, acreditam em medidas pontuais (Lula entrou nesse estágio).
Delfim alertaria o presidente contra os colaboradores que oferecem soluções mágicas. Nesse ramo, ele superou o grande Houdini, mas não acreditava nos próprios truques. Ele conhecia as limitações do poder de Brasília e por isso tornou-se um valioso conselheiro longe dela.
Na quinta-feira, o vice-presidente Geraldo Alckmin reuniu hierarcas para anunciar medidas de combate à carestia. Repetiu-se o cenário do anúncio do pacote de contenção de gastos, anunciado por Haddad. Estava todo mundo lá, menos Lula. Como disse um sábio à época, se fosse para dar certo, Lula faria o anúncio.
Lula não dispõe mais dos conselhos de Delfim e está diante de um processo de fritura de Fernando Haddad, seu ministro da Fazenda. Trata-se de uma fritura especial. Há quem traga o óleo e também a frigideira, mas falta o sujeito que controla o fogão, e ele é o presidente da República.
Lula não fritou Antonio Palocci no seu primeiro mandato, apesar dos sinais emitidos por Dilma Rousseff, chefe de sua Casa Civil. (Hoje, quem está na cadeira é Rui Costa, com sua malquerença em relação a Haddad).
Como ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento, Delfim mandou na economia até 1985. Deixou o governo com a inflação em 224% enquanto cantava-se “O povo está a fim, da cabeça do Delfim”. (Ele tinha na sua sala um Delfim sem cabeça emoldurado.)
Depois que ele foi embora, fritaram-se nove ministros da Fazenda, até que Itamar Franco colocou Fernando Henrique Cardoso na cadeira. Ambos sabiam o que fazer, a inflação foi derrubada e o Brasil voltou a ter uma moeda, o Real. Fritar ministros era fácil. Difícil era decidir o que fazer.
Graças ao Banco Central, a inflação está contida, mas a carestia está solta e o governo, sem saber o que fazer, mostra que sabe organizar eventos. No de quinta-feira, o som das perguntas falhava.
GLEISI NO PLANALTO
A ida de Gleisi Hoffmann para a Secretaria de Relações Institucionais pode ser vista como uma indicação de que Lula infletiu seu governo para a esquerda. Afinal, ela tem sido uma crítica de algumas medidas de Haddad.
Pode, mas pode também indicar que Lula não sabe para onde ir, até porque nessa segunda metade do mandato ele pressente a erosão de sua base parlamentar.
A MISTERIOSA SUBMISSÃO DE ZELENSKY
Na terça-feira, depois da reunião teatral com Donald Trump na Casa Branca, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky disse que “está pronto para trabalhar sob sua forte liderança.”
À primeira vista, foi um caso de inédita submissão. Pode ter sido, mas há um padrão nas reações de chefes de Estado às bravatas diplomáticas e tarifárias do presidente americano. Europeus, canadenses e mexicanos estão reagindo de forma mais ou menos coordenada, e Zelensky aconselhou-se com o primeiro-ministro inglês e o presidente da França.
Pelo andar da carruagem, as vítimas das bravatas acreditam que Trump acabará amarrado nas próprias cordas.
A China anunciou-se pronta para “qualquer tipo de guerra”: “Bullying não funciona conosco.”
Trump corre o risco de virar valentão do colégio.
ESPERANÇA
Alguns militares presos por conta do golpismo de 2022/23 acreditavam que seriam libertados depois da denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR).
Ela veio, e nada.
BOLSONARO NÃO PAGARÁ CADEIA
Se for condenado, Jair Bolsonaro não pagará um só dia de cadeia. Irá para uma embaixada e pedirá asilo diplomático.
Em fevereiro de 2024 ele já dormiu uma noite na embaixada da Hungria, mas não pediu asilo. Se pedisse, corria o risco de ficar lá por algum tempo, até que o governo brasileiro lhe concedesse um generoso salvo-conduto, pois a Hungria (como os Estados Unidos) não é signatária da Convenção de Havana de 1928, que regula o asilo diplomático.
Se resolver ir para a embaixada da Argentina, a concessão do asilo é certa e o salvo-conduto não deverá demorar.
O asilo diplomático é uma especiaria latino-americana e pode ser concedido ao cidadão que entra numa embaixada de país signatário da convenção e se declara perseguido político.
PRESSÃO SOBRE TARCÍSIO
Pelo andar da carruagem, o PP do senador Ciro Nogueira se afastará de Lula e terá candidato a presidente em 2026.
Nogueira não esconde sua preferência pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.
Tarcísio insiste em dizer que pretende disputar a reeleição. Aliados como Nogueira acreditam, mas estão certos de que ele não resistiria num cenário em que teria uma forte base de apoio, bafejada por pesquisas a seu favor e adversas para o governo.
PAPA JOÃO XXIV
Com o Papa Francisco internado aos 88 anos, começaram as inevitáveis especulações em torno do seu sucessor. Neste século, os cardeais escolheram dois Papas, Bento XVI e Francisco. O primeiro, Joseph Ratzinger, estava nas listas dos favoritos. O segundo, Jorge Bergoglio, surpreendeu por ser argentino.
Oito anos antes, no primeiro escrutínio, Ratzinger teve 47 votos, seguido por Bergoglio, com dez. No dia seguinte, a disputa continuou entre os dois. Na segunda votação o cardeal alemão conseguiu 65 x 35. Na terceira, 70×40. Na quarta, Ratzinger teve 84 votos, batendo a marca exigida dos 75 e tornou-se Bento XVI.
Entre a terceira e a quarta votação, o cardeal arcebispo de Milão, Carlo Maria Martini, procurou Ratzinger e ofereceu-lhe seus votos (pelo menos nove) em troca de uma promessa: eleito Papa, ele reorganizaria a máquina do Vaticano. Se não conseguisse, renunciaria. Bento XVI renunciou em 2013.
Martini temia que, num impasse entre Ratzinger e Bergoglio, a Cúria produzisse uma tertius italiano.
Essas revelações vieram de um diário mantido por um cardeal e da entrevista de um padre amigo e confessor de Martini, dada depois de sua morte, ocorrida em 2015.
Não se sabe quando, nem quem será eleito no próximo conclave, mas, se dependesse de Francisco, ele escolheria o nome de João XXIV, indicando que continuaria o pontificado renovador de João XXIII (1958-1963).
Bergoglio chegou a pensar nesse nome para seu pontificado, mas o cardeal brasileiro Cláudio Hummes o teria convencido a ser Francisco
MENSAGEIRO DO CAOS, por Lourival Sant’Anna, no jornal O Estado de S. Paulo
Donald Trump está derrubando os pilares da relativa igualdade de oportunidades, justiça racial, tolerância, prosperidade e segurança, conquistadas pelos americanos com esforço e talento ao longo de décadas. Ele anunciou o fechamento do Departamento de Educação, encarregado de conceder bolsas para alunos de baixa renda e com deficiências, e verbas para capacitação profissional. O departamento não influi em currículos e conteúdos, a cargo de Estados e municípios.
É um ataque à mobilidade social, que garante não só justiça e paz social, mas também o máximo aproveitamento do potencial dos americanos, independentemente de renda e condição física. Isso contribui para o êxito do capitalismo americano.
Trump indultou dois policiais brancos condenados pela morte do jovem negro Karon Hylton-Brown. Agora, Elon Musk, dono do X e mais influente assessor do presidente, defende o indulto ao policial branco Derek Chauvin, que asfixiou até a morte o negro George Floyd, com o joelho sobre seu pescoço.
Trump só pode anular as condenações federais, que somam 20 anos. Chauvin também cumpre penas estaduais, de 22 anos e meio. Mas esses indultos passam a mensagem de que a vida dos negros vale menos do que a liberdade de seus assassinos brancos.
No primeiro dia de governo, Trump decretou que o Estado americano só reconhece os sexos masculino e feminino. Seguiram-se expurgos nas Forças Armadas de oficiais vinculados à diversidade e eliminação de programas de saúde de transição de gênero, entre outras supressões de direitos.
O presidente está desorganizando a economia americana e solapando sua competitividade, com as tarifas de importação, aplicadas ou anunciadas. Todos os setores produtivos do país estão integrados à cadeia de valores global e se beneficiam de matérias-primas, insumos, partes e componentes de menor custo, assim como os consumidores têm acesso a produtos mais baratos, graças às tarifas baixas.
Tanto é assim que os índices das bolsas de valores americanas têm sofrido sucessivas quedas. O mercado sofre com as ameaças de tarifas e com as incertezas de Trump.
A Agência de Segurança e Infraestrutura Cibernética recebeu ordens de não monitorar nem relatar ameaças russas – sua principal atividade. Trump quer derrubar a lei, aprovada com apoio de republicanos, que baniu o acesso da China a chips sofisticados. Esses são apenas alguns exemplos de como o presidente americano governa contra os interesses de seu país.
Qualquer semelhança do título com o “novo” governo em Gaspar não é mera coincidência. Aqui está virando com o PP na tábua de salvação da mesmice do atraso
LULA SE REFUGIA ENTRE ADULADORES E REFORÇA ERROS DO GOVERNO, editorial do jornal Folha de S. Paulo
Por uma mistura de falta de visão estratégica, apego a ideias obsoletas e má leitura do equilíbrio de forças na política, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) avança pela segunda metade de seu mandato sem um projeto claro sobre o que pretende fazer daqui para a frente. Na dúvida, ele vira à esquerda.
Na economia livrou-se dos últimos vestígios daquele verniz que vez ou outra o fazia prestigiar a agenda de mínima responsabilidade orçamentária proposta pelo seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad. A opção pela gastança, que sempre foi a preferida de Lula, agora está escancarada.
O presidente está à caça de “medidas” como liberações de créditos e recursos do FGTS que, de acordo com a sua cartilha primitiva de gestão pública, possam ajudá-lo a combater a impopularidade. Como decidiu torrar recursos no início da administração, as opções agora são restritas.
O custo de continuar pisando no acelerador também ficou difícil de enfrentar. Não dá para empurrar a conta para o mandato seguinte, um clássico na política, com a inflação à porta. Toda pressão extra no gasto federal vira carestia, toda heterodoxia populista impulsiona a cotação do dólar e as taxas de juros da praça.
Esse será o efeito de qualquer “atitude mais drástica”, palavras de Lula, que o presidente vier a tomar para frear na marra a inflação da comida. A ida ao supermercado não deixará tão cedo de ser uma experiência desagradável para milhões de brasileiros.
Diante desse quadro desfavorável, o chefe do governo tem basicamente duas linhas de resposta.
A mais promissora, embora desconfortável para um líder vaidoso, passa pelo exercício da autocrítica e pela inculcação da necessidade de alterar a rota. Trata-se de se reaproximar das racionalidades econômica —que exige neste momento austeridade fiscal— e política —a aliança com as forças moderadas na sociedade e no Congresso.
A segunda vereda é a de reforçar o que já se provou um equívoco. Dar as costas à agenda do controle da dívida pública e encastelar-se entre forças sociais e políticas de ideias envelhecidas e pouca representatividade parlamentar foi a escolha de Lula.
Ele preferiu a familiaridade de assessores e aduladores que atribuem o declínio da popularidade à má comunicação do governo, e não à desconexão com o Brasil atual. Nomeou uma imoderada, Gleisi Hoffmann, para articular as pautas do governo no Legislativo e cogita nomear outro, Guilherme Boulos (PSOL), para o ministério.
Os titulares da Previdência e do Trabalho ainda não superaram o século 20 nas suas mentalidades. O mandatário continua achando que posar de pai dos pobres, de provedor-geral da nação, vai lhe render dividendos eleitorais.
Sem inspiração, sem projeto, sem tirocínio, sem nem sequer a sagacidade de outras passagens do maior líder da moderna esquerda brasileira, a terceira Presidência Luiz Inácio Lula da Silva corre grande risco de ser a pior.
8 DE MARÇO – DIA INTERNATIONAL DAS MULHERES, por Aurélio Marcos de Souza, advogado, ex-procurador geral de Gaspar (2005/08) e graduado em Gestão Pública pela Udesc. Extraído das suas redes sociais.
Hoje é um dia de homenagem, mas também de reflexão. Quero dedicar esses dados a todas as mulheres que fazem a diferença na minha vida e na vida de tantas outras pessoas. Mulheres que lutam, que se reinventam, que ensinam e que resistem. Mulheres que carregam o peso do mundo sem perder a doçura, que equilibram mil tarefas e ainda encontram tempo
Mas não podemos nos enganar: hoje também surgiram aqueles que, movidos por um calendário político de homenagens, virão com discursos prontos e demagogia barata. Homenagear as mulheres apenas no dia 8 de março, sem se comprometer com a construção
O que elas precisam não é de flores ou palavras vazias, mas de ações concretas. De oportunidades reais no mercado de trabalho, de igualdade salarial, de políticas públicas que garantam vagas em creches para que possam conciliar maternidade e carreira. Preciso de um sistema de saúde eficiente e de segurança para andar nas ruas sem medo, de r
A luta não é só delas – deve ser nossa. Não basta admirar as grandes mulheres do passado e do presente se continuamos a negligenciar as do nosso convívio. Respeito e direitos não podem ser tema de um único dia, precisa ser compromisso
Chega de discursos. O que importa agora é ação. Que podemos transformar esse 8 de março em algo maior do que uma simples homenagem, e sim no reforço de um compromisso coletivo: um mundo onde as mulheres sejam verdade
Feliz Dia Internacional das Mulheres – e que essa luta continue todos os dias!
QUANDO O ATRAVESSADOR É O GOVERNO, por Carlos Alberto Sardenberg, no jornal O Globo
Não é a primeira vez que Lula acusa atravessadores pelo aumento de preços. Ontem o presidente levantou essa suspeita no caso dos ovos. Antes, havia acusado distribuidores pelo preço dos combustíveis. A tática é manjada. Trata-se de tirar a responsabilidade do governo, encontrar um culpado externo e prometer “ir atrás” dele. Disse ontem que poderia tomar “medidas drásticas”.
Não explicou o que seriam, mas o cardápio é conhecido na história de governos populistas. Uma variável, muito praticada nas gestões peronistas na Argentina, é cobrar imposto sobre os exportadores para encarecer o produto no exterior, de modo que os produtores tenham de vender no mercado interno. Nunca funcionou. O exportador, diante do preço não compensatório, simplesmente deixa de produzir ou produz o mínimo para manter a fazenda funcionando. Fica o pior dos mundos. Negócio ruim para os produtores, perda de divisas para o país, escassez e preço alto para o consumidor.
Não se fez isso por aqui. Mas a proposta foi considerada dentro do governo. Outra medida extraordinária pode ser o tabelamento de preços. Deu tão errado quando usada, levando a grave escassez no Plano Cruzado de 1986, que nenhum outro governo tentou a coisa de novo. Ainda bem.
Mas a ameaça a atravessadores acende o sinal de alerta. Mesmo porque não há ninguém atravessando os preços de hoje. O ovo está caro por uma combinação de fatores: produção menor, até por causa do calor, demanda maior e custo elevado da ração, o milho. Nos Estados Unidos, o preço do ovo ficou proibitivo por causa da gripe aviária, que exigiu o sacrifício de milhões de aves. Sem a produção interna, os americanos foram ao mercado externo, demanda que causou alta das cotações internacionais.
Por que o milho também ficou caro por aqui? De novo, baixos estoques, demanda alta, mesmo para a produção de etanol, e dólar caro. Milho é commodity, com cotações determinadas pelo mercado internacional.
E os combustíveis? Distribuidores e postos ficam com uma pequena parte do preço, por um serviço complexo — levar o produto das refinarias até o consumidor final, passando por este imenso país de logística cara. Toda semana, a Petrobras publica em seu site a decomposição do preço nacional médio dos combustíveis. Na informação mais recente, a gasolina estava em R$ 6,36 por litro, na bomba. Parte da Petrobras: apenas R$ 2,21.
Entre um valor e outro, se há algum atravessador, é o governo. Os impostos compõem 34% do preço final (ou R$ 2,16). A maior parte é o ICMS estadual. Depois, há a mistura obrigatória de etanol (mais 88 centavos). Distribuidores e postos levam apenas R$ 1,11 por litro, que parece um valor até baixo pela complexidade do negócio.
Nos mercados livres, os preços variam conforme as diversas circunstâncias. Para a população, entretanto, preço alto é sempre culpa do governo. Trump ganhou a eleição atacando o alto custo de vida, embora a inflação estivesse baixa, rodando pouco acima dos 2%. Mas inflação em queda significa apenas que os preços sobem menos — não necessariamente que estejam em queda. É possível ter inflação zero — variação zero de um mês para outro — com preço mantido em nível alto.
A população nem sempre está errada. Não raro, políticas equivocadas desarrumam a economia. No caso do Brasil, o governo tem razoável responsabilidade pela alta do dólar, que eleva a cotação de diversos produtos. Incertezas geradas pela política econômica levam à compra de dólares, ativo seguro, até para tirar dinheiro do país.
Além de tudo, a inflação não é só de alimentos. Está espalhada. Quando a cada mês aparece um “culpado” — ora ovos e café, depois matrículas escolares, preços de passagens aéreas, entrada de shows, roupas ou o que for —, é sinal de que o problema é geral. No nosso caso, isso está ligado ao excesso de gastos do governo, o impulso fiscal que faz o país consumir mais do que pode produzir e importar. Dá em inflação. Indo atrás dos culpados, Lula vai parar no Palácio do Planalto.
A DOUTRINA TRUMP, por Demétrio Magnoli, no jornal Folha de S. Paulo
O Japão nos rouba, economicamente, e a Europa aproveita-se de nós fazendo com que paguemos por sua segurança. As duas mensagens apareceram no primeiro anúncio de TV publicado pelo então incorporador imobiliário Donald Trump, nos idos de 1987. A figura que hoje ocupa o Salão Oval é um oportunista de convicções políticas fluidas, mas mantém uma visão de mundo coerente. Dela emana aquilo que deve ser descrito como Doutrina Trump.
A “cidade brilhante no alto da colina” –a expressão, oriunda do sermão laico pronunciado em 1630 por John Winthrop, o puritano fundador de Boston, a bordo do navio Arbella, ressurgiu vezes incontáveis em discursos de presidentes republicanos ou democratas. Historicamente, para o bem ou o mal, os EUA exibiram-se a si mesmos e aos estrangeiros como um farol de reforma do mundo. Trump substitui a visão luminosa da cidade profética pela visão sombria de uma fortaleza em declínio, traída e explorada por pérfidos aliados.
“Sejamos sinceros: a União Europeia foi criada com a finalidade de ferrar os EUA. É esse o propósito dela –e fizeram um bom trabalho nisso. Mas, agora, sou o presidente” (Trump, 26/2). “A ameaça que mais me atormenta não é a Rússia ou a China ou qualquer ator externo. O que me preocupa é a ameaça de dentro: o recuo da Europa de alguns de seus valores mais fundamentais, que são compartilhados com os EUA” (J.D. Vance, 18/2).
Trump e seu vice não enxergam o perigo nas potências autocráticas, rivais de sempre, mas nas sociedades democráticas que alargaram o espaço das liberdades públicas, ampliaram os direitos civis e toleraram a imigração. Daí, as declarações de apoio de Vance e Musk à AfD alemã, um partido extremista que opera como tentáculo de Putin e flerta com neonazistas. O sonho dourado de Trump é desmantelar a União Europeia e, junto, a aliança transatlântica materializada na Otan.
A ordem edificada no pós-guerra estabeleceu uma economia internacional aberta, que funcionou como moldura para a prosperidade dos EUA. Trump, contudo, a interpreta pelo avesso: o livre comércio seria uma armadilha para nações estrangeiras tirarem proveito do mercado americano. “Fomos roubados durante décadas por quase todos os países da Terra e não deixaremos isso acontecer novamente”, proclamou Trump diante do Congresso. Troque o Japão do anúncio de 1987 pela China, o Canadá, o México e a União Europeia –eis a raiz da guerra comercial deflagrada pela Casa Branca.
PUBLICIDADE
A ordem do pós-guerra moldou um sistema imperfeito de regras de segurança que evitou uma terceira guerra mundial, alavancou a liderança geopolítica dos EUA e propiciou a cooperação multilateral. Trump, porém, a interpreta como um esquema destinado a extrair vantagens dos EUA e almeja substituí-la por um sistema de potências dominantes rodeadas por suas esferas de influência. Sob tal lógica, a paz emanaria de acordos transacionais firmados entre soberanos poderosos: o “triângulo Rússia/China/EUA”, nas palavras do Kremlin. Putin e Xi Jinping são parceiros potenciais; Zelenski, um estorvo a ser eliminado.
Hastings Ismay, primeiro secretário-geral da Otan, definiu a aliança como meio para conservar os EUA na Europa, os russos fora e os alemães por baixo. A Doutrina Trump tende a deixar os EUA fora, a Rússia dentro e os alemães (da AfD) por cima.
ALTA DO PIB ESTÁ ALICERÇADA SOBRE BASES MOVEDIÇAS, editorial do jornal O Globo
Depois de crescer 3,2% em 2023, a economia brasileira cresceu ainda mais no ano passado — 3,4%, segundo o dado oficial do IBGE. Trata-se de resultado fora do padrão. O desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) nos dois anos iniciais do atual governo de Luiz Inácio Lula da Silva foi superior aos obtidos por Dilma Rousseff e Jair Bolsonaro no mesmo período. A média é igual ou próxima às registradas na metade dos primeiros mandatos de Fernando Henrique Cardoso e do próprio Lula. Nos últimos 30 anos, apenas o início do segundo mandato de Lula apresentou números bem superiores. Poucos previam resultado tão positivo. O desemprego está em nível baixo, 6,5%, a informalidade em queda e o rendimento salarial em alta.
Mas nem tudo é o que parece. Todo esse avanço está alicerçado em bases movediças. A força propulsora tem sido uma política insustentável de gasto público, que acelera o endividamento, já em patamar altíssimo. Anabolizada, a economia ficou superaquecida e agora precisará girar em ritmo mais lento. A desaceleração já se fez sentir no último trimestre de 2024. O quadro fiscal deteriorado e o cenário global incerto têm obrigado o Banco Central (BC) a manter os juros em alta, com impacto negativo na atividade econômica.
Como mostram as pesquisas, Lula não tem conseguido colher os resultados do PIB na forma de popularidade. Um dos motivos é a alta no preço de alimentos. Enquanto a inflação oficial ficou em 4,83% no ano passado, alimentos e bebidas subiram 7,69%. Nos últimos 12 meses, o pó de café aumentou 50%, o contrafilé 20% e o frango 10%. O problema não é novo, mas se tornou mais agudo. Pressionado, o governo anunciou medidas para tentar reverter a alta dos preços, entre elas a isenção de tarifas de importação para produtos como carne, café e óleo de cozinha. A iniciativa é a melhor entre as que foram cogitadas (chegou-se a pensar no absurdo de taxar exportações), mesmo assim deverá ter efeito limitado. Não existe causa única para a carestia, mas uma confluência de fatores: aumento da demanda no Brasil e no exterior, desvalorização cambial, mudanças climáticas e quebra de safras. No curto prazo, a maior esperança do governo é que se cumpra a previsão de safra recorde neste ano. Haveria um alívio.
Na economia como um todo, a expectativa é menos positiva. De olho nas eleições do ano que vem, o governo tem adotado medidas para manter o consumo em alta, como a recente liberação do FGTS para quem aderiu ao saque-aniversário, que injetará R$ 12 bilhões na economia. De um lado, o BC eleva os juros para conter o ritmo da atividade econômica e reduzir a inflação. De outro, o governo afunda o pé no acelerador, para evitar queda maior na aprovação.
A chegada da deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR) à Secretaria de Relações Institucionais, pasta ministerial responsável pela interlocução com o Congresso, sugere que a ênfase continuará nos resultados políticos de curto prazo (sob Gleisi, o PT chegou a publicar documento chamando uma política fiscal responsável de “austericídio”). É uma pena que o governo não veja o óbvio: o desajuste fiscal continua a ser o maior entrave ao crescimento sustentado. As comemorações pelo resultado do PIB em nada mudam essa realidade. O governo pode se recusar a enxergá-la, mas a queda na popularidade de Lula mostra que, ao que tudo indica, a população já enxergou.
A “GUINADA À ESQUERDA” DE LULA VEIO PARA FICAR? por Vera Magalhães, no jornal O Globo
Existe em Brasília certa perplexidade com as primeiras escolhas de Lula na ainda inacabada reforma ministerial. Desde que foi confirmada a nomeação de Gleisi Hoffmann para a articulação política do governo, a avaliação corrente é que o presidente optou por uma guinada à esquerda e que essa será a escolha do figurino para enfrentar as urnas em 2026 — com o próprio Lula como candidato ou com outro designado por ele.
Sim, porque a decisão de tornar o Palácio do Planalto ainda mais petista é, para muitos caciques de partidos que de alguma maneira integram hoje a base aliada, sinal de que Lula cogita pela primeira vez a possibilidade de não se candidatar a um novo mandato, encerrando sua carreira política com uma “volta às raízes”.
A verdade é que o próprio Lula ainda não falou claramente a respeito das razões por que optou pelo nome da atual presidente do PT. O presidente não gosta, mas, na ausência de declarações, seus interlocutores costumam aventar hipóteses e vazar o que ouvem de conversas de bastidores.
A principal razão da nomeação seria premiar a lealdade a toda prova com que Gleisi se portou nos piores momentos de Lula e do PT, incansável em sua defesa. Não há dúvida de que esse é um dos atributos mais desejáveis quando se escolhe uma equipe, mas a política, da forma como está polarizada, permite cada vez menos nuances nas avaliações, e a imagem mais consolidada de Gleisi é de alguém que se opõe fortemente à política fiscal que Fernando Haddad definiu em 2023 e vem tentando implementar a duras penas nestes dois anos e pouco de gestão de Lula.
Por isso, a despeito das ponderações, todas reais, de que Gleisi é hoje alguém com bom trânsito entre os partidos do Centrão — a ponto de o presidente da Câmara, Hugo Motta, ter feito um périplo junto a bolsonaristas próximos a ele pedindo para não bombardearem sua escolha —, sua imagem pública ainda é de alguém com uma visão de esquerda e contrária ao ministro da Fazenda. E mais: que, com sua chegada, o Planalto contará com uma dobradinha sistemática contra qualquer nova tentativa de ajuste de gastos que Haddad venha a propor.
Daí por que as legendas do Centrão, mesmo tendo bom trânsito com Gleisi, estejam na muda diante das sinalizações dadas pela reforma de Lula. Ainda mais porque seus dirigentes não foram sequer chamados pelo presidente, que não disse nem ao menos se pretende, de fato, tentar contemplá-los de forma a contar com eles no palanque no ano que vem. Em resumo: está todo mundo no escuro.
Numa coalizão em que a maioria dos partidos não tem afinidade programática nem ideológica com o presidente, e os arranjos se dão todos na base de cargos e emendas, momentos assim são propícios ao que está na praça neste pós-Carnaval: as ameaças de debandada, muitas delas blefes à espera de ainda mais cargos e mais emendas.
Resta saber se Lula pagará para ver. No seu núcleo mais próximo, muitos observam que ele não acredita que, ainda que agracie os partidos do Centrão com pastas vistosas e cheias de verbas, obterá deles uma promessa antecipada de apoio à reeleição.
Pelo óbvio: essa escolha só se dará lá na frente e estará condicionada a uma série de variáveis, que vão da escolha do nome (ou dos nomes) da direita para enfrentá-lo à sua avaliação no começo do ano que vem, quando as decisões são tomadas para valer.
Lula vem agindo na base da tentativa e (muito) erro para enfrentar a crise de popularidade que se agravou neste primeiro trimestre, mas há quem veja um problema mais de fundo, de desconexão entre ele e o eleitorado que o elegeu em 2022. A tal guinada à esquerda não ajuda e, pelo contrário, pode fazer de todos os esforços pontuais até aqui letra morta caso se cristalize a ideia de que a frente ampla ficou mesmo para trás, e agora é a hora de só a “companheirada”, outro termo que voltou a circular fortemente nos gabinetes da capital, definir os rumos do governo.
CRAQUE DO DIÁLOGO, LULA QUASE NÃO CONVERSA MAIS, por Andréa Jubé, no jornal Valor Econômico
“Só faltou uma conversa”. A frase foi projetada num cartaz na Praça do Povo, no município de Canudos, na Bahia, na primeira semana de dezembro de 2002, durante um evento que celebrou os 100 anos da publicação de “Os Sertões”, de Euclides da Cunha. O episódio é citado pelo professor da Universidade de São Paulo (USP) Willi Bolle na obra “grandesertão.br”. A afirmação é atribuída ao morador João de Régis, falecido naquele ano, aos 95 anos. Ao longo da vida, ele ouviu relatos sobre a Guerra de Canudos, ocorrida entre novembro de 1896 e outubro de 1897: o conflito entre seguidores de Antonio Conselheiro e o exército da nova República, que resultou num saldo de mais de 20 mil mortos.
“Foi a falta de diálogo entre os representantes da então recente República brasileira e os rebeldes de Canudos que acabou levando àquela guerra fratricida”, analisou Bolle. “É a ausência de um verdadeiro diálogo entre os donos do poder e o povo que caracteriza também a nossa época”, acrescentou na mesma obra.
A história vem mostrando que a falta de diálogo é um problema estrutural, antigo e atual do Brasil. Quase dez anos após a abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, no fim de 2015, não é raro ouvir de lideranças políticas, em conversas reservadas, que não teriam sido as “pedaladas fiscais” a verdadeira causa da queda da petista, mas, sim, sua inabilidade para o diálogo.
Quando Jaques Wagner, quadro histórico do PT e reconhecido pela arte do diálogo, foi chamado para ajudar, sendo nomeado chefe da Casa Civil em outubro daquele ano, era tarde demais, e o processo foi deflagrado menos de dois meses depois. “Só faltou uma conversa”, diria o morador de Canudos.
Igualmente reconhecido pela arte do diálogo, desde os tempos de negociador nas greves do ABC paulista na década de 70, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recolheu-se como um caramujo no gabinete presidencial. A menos de dois anos do fim do mandato, com baixa popularidade, mas empenhado na reeleição, ele precisa decidir qual recado mandar aos aliados para que o acompanhem em 2026: o de um político disposto a conversar, ou recluso em um casulo no Palácio do Planalto.
Nesse cenário, a nomeação da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, para a Secretaria de Relações Institucionais a fim de atuar como interlocutora do governo com o Congresso foi recebida com ressalvas por alguns aliados, principalmente do Centrão. Nos últimos dias, a notícia de que Lula avalia o nome do deputado Guilherme Boulos (Psol-SP) para a Secretaria-Geral da Presidência preocupou o mesmo grupo. A percepção é de que Lula estaria imprimindo uma feição radical ao palácio, e portanto, ao governo. Uma sinalização contrária àquela feita à população no pleito de 2022, com a frente ampla que ajudou a elegê-lo.
Há meses, lideranças do Centrão, que garantem a governabilidade, reclamam do modelo instituído por Lula de um palácio formado exclusivamente por ministros do PT. Com a queda de popularidade, intensificaram as cobranças para que um quadro não petista assumisse a articulação política para “arejar” o Planalto, como se deu nas gestões Lula 1 e 2. Mas o presidente dobrou a aposta, mantendo o PT na função.
Em contraponto, entretanto, uma liderança governista abriu a divergência, afirmando à coluna que Gleisi tem qualidades que a credenciam para a interlocução com o Parlamento, e que devem consolidá-la no cargo. Uma delas é ser reconhecidamente porta-voz de Lula. “Quando ela fala, sabemos que é a palavra do presidente”, exemplificou. O outro atributo é ser direta e transparente. “Com ela é sim ou não”, disse o mesmo líder.
Além disso, ela foi fiadora no PT da candidatura de Hugo Motta (Republicanos-PB) à presidência da Câmara, construindo uma relação sólida com o chefe do Legislativo. Em paralelo, mantém bom diálogo com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), de quem foi contemporânea quando foi senadora pelo Paraná.
O mesmo líder observa que dificilmente o Centrão se contentaria com a articulação política, se Lula cedesse e entregasse ao bloco a cadeira no Planalto. “Eles pediriam mais”. Lembrou como expandiram o território no governo Jair Bolsonaro, quando assumiram todos os cargos ligados à articulação política, com o PP na Casa Civil e na liderança do governo na Câmara, e o PL na Secretaria de Governo.
Sem a pasta da articulação política, no entanto, ministros que representam o centro político no governo entraram em campo para que o presidente nomeie um de seus quadros para o cargo de líder do governo na Câmara, hoje ocupado pelo deputado José Guimarães (PT-CE).
O indicado do grupo é o líder do MDB, Isnaldo Bulhões (AL), um dos parlamentares mais próximos de Hugo Motta. “Ele tem como trazer o centro cada vez mais para o governo”, justificou um ministro.
O mesmo líder que elogia Gleisi faz coro à indicação de Isnaldo, ao argumentar que o estilo direto da petista nem sempre será o mais adequado. “A arte da política não é enrolar, é também dizer sim ou não sem criar aresta”, ensinou. Em suma, Lula não pode se fechar aos aliados nem restringir a frente ampla. Para ganhar fôlego para 2026, vai precisar de muita conversa.
A GERINGONÇA DE LULA, por Malu Gaspar, no jornal O Globo
Circulam em Brasília diferentes teorias para explicar a escolha de Gleisi Hoffmann para a Secretaria das Relações Institucionais (SRI) de Lula. Para os articuladores do Centrão, ao nomear uma petista puro-sangue, o presidente desistiu de fazer articulação política com o Congresso. A premissa é que, se Alexandre Padilha, com perfil mais conciliador, não conseguia cumprir acordos de liberação de verba e cargos, com Gleisi a relação pode até não piorar, mas melhorar é que não vai.
Aliados bem próximos do presidente avaliam que Lula pôs Gleisi na SRI não para negociar emendas, mas para que comece já a trabalhar na composição da aliança para disputar a reeleição em 2026. Lembram que, em 2022, ela exerceu exatamente o mesmo papel no comando do PT e deu certo. É mais ou menos isso o que a própria Gleisi tem dito sobre a missão que recebeu, tanto em público quanto nos bastidores.
Embora pareçam divergentes, as duas visões partem do mesmo diagnóstico: Lula se rendeu aos fatos e aceitou que a SRI não tem poder para negociar votações com o Congresso em troca de emendas ou cargos.
Com R$ 50 bilhões por ano garantidos para usar sem precisar do Executivo, os parlamentares não aceitam mais a liberação de recursos a conta-gotas, como ocorria no passado. Hoje dependem muito mais dos presidentes do Senado Federal, da Câmara dos Deputados e dos líderes partidários, que organizam o destino dessas emendas, que do governo.
“Toda vez que tem algum projeto importante, eles apresentam a conta direto ao presidente. E são sempre eles que entregam a conta, são eles que resolvem”, resume um desses aliados.
Sabendo disso, Jair Bolsonaro não teve problemas em delegar a Arthur Lira (PP-AL), como presidente da Câmara, e a Ciro Nogueira (PP-PI), senador que ocupava sua Casa Civil, a missão de “resolver” os projetos com o Congresso. Em tese, o caminho inevitável para Lula seria fazer o mesmo e empoderar um de seus ministros palacianos, como Rui Costa (Casa Civil) ou a própria Gleisi. Ou então escalar alguém do Centrão para a missão.
Não fez isso, avaliam os operadores da política, porque preferiu apostar no dique de contenção do Supremo Tribunal Federal (STF), que concentra as negociações sobre a regulação das emendas via Flávio Dino e ainda abriga uma série de investigações sobre desvio na aplicação dos recursos que miram diretamente deputados e senadores. Nesse contexto, há quem não veja como piada a afirmação corrente no Congresso segundo a qual Dino é o verdadeiro líder do governo.
Durante o carnaval, ele fechou acordo com os presidentes da Câmara e do Senado para que se identifique claramente quem são os donos das emendas, permitindo rastreamento e fiscalização da aplicação dos recursos. Em tese, parece tudo resolvido, mas não há nesse novo plano de trabalho nada muito diferente do que já vinha sendo exigido antes e não estava funcionando.
Por isso o que parece ter sido garantido é uma trégua até maio, quando o Congresso tem de demonstrar se tem cumprido os compromissos. A menos que o cenário mude em relação ao que se viu no ano passado, a tendência é que, ali na frente, surjam novos atritos.
Enquanto isso, Lula precisa de uma agenda mínima que o ajude a recuperar popularidade e chegar forte a 2026. A reforma ministerial deveria ser parte do plano. Mas até agora só se viu uma dança das cadeiras entre petistas. Quanto mais o tempo passa, mais caro fica para os líderes do Centrão aderir a um governo com aprovação em queda, que ruma claramente para a esquerda.
Lula não é nenhum neófito e já conseguiu na política muita coisa inédita. Mas fazer essa geringonça, ops, coalizão, levá-lo à vitória em 2026 exigirá um nível a mais de inventividade e perícia.
Bom dia.
Sobre os loteamentos e empresas de terraplanagem da cidade, os donos da zorra toda, os que brindavam champanhe sem se preocupar com os impactos do entorno,
a vida entrega de volta todo bem ou todo o mau que praticamos no mundo antes de juntarmos os pés nos sete palmos de terra lá no cemitério.
Então, humildade e RESPEITO é igual canja de galinha: não faz mal pra ninguém.
Sobre o posicionamento do prefeito por conta da pilha de irregularidades que envolvem os empreendimentos e empresas de terraplanagem de Gaspar, se está botando ordem na casa, o nosso muito obrigada!!
Tava uma ZONA 👀
Agora só falta verificar a AUTENTICIDADE das licenças distribuídas ás mineradoras nas áreas das nascentes que abastecem a região sul de Gaspar.
BRASIL E SEU UMBIGO, por Willian Waack, no jornal O Estado de S. Paulo
Donald Trump ouviu as preces, vindas também do Brasil, e está empenhado em destruir a pax americana (“pax”, nesse contexto, significa “ordem”). Azar nosso, pois ironicamente o mundo que está indo embora servia melhor a uma potência média e vulnerável como o Brasil se comparado à situação que está se desenhando rapidamente.
O problema que se apresenta já não é mais manter a necessária equidistância entre China e Estados Unidos, sendo bastante conhecida nossa dependência de mercados na Ásia e de insumos vindos de países ocidentais. Uma das lições centrais deixadas por Trump no tratamento da questão da Ucrânia é a de que ele considera que as potências “menores” não têm opções – só as que ele determina.
Assim é a ordem dos “fortões” e a implícita divisão tripartite do planeta, com seus ecos distantes de Yalta. Não está muito claro ainda o que Trump designou para “seu” pedaço do bolo, que parece ser o hemisfério das Américas (a Europa e a Eurásia são problema de Putin e a Ásia, de Xi Jinping). Mas está claro que não há “caminhos próprios” para os menores, não importa quais sejam.
Isso pode parecer primitivo ao extremo, mas Trump é primitivo ao extremo – o que inclui sua falta de compreensão para o fato de que superpotências são fortonas pois presidem um sistema de alianças, com um mínimo de reciprocidade em várias instâncias e o reconhecimento de algum grau de interdependência. É bastante provável que “America First” acabe pagando um preço altíssimo por conta de tamanha ignorância, mas isto está um pouco adiante ainda.
Por motivos comerciais e ideológicos, o Brasil aumentou como alvo aos olhos de Washington. E, se uma guerra comercial entre EUA e China eventualmente abre oportunidade de curto prazo para exportações do agro brasileiro, a evolução da situação geopolítica, tal como verificamos agora, tende a fechar oportunidades para o Brasil.
Esse resultado não se deve apenas a Trump. Está associado em larga medida ao fato de que, em termos de política externa, nos últimos anos a vida foi nos levando. Sem que o País tivesse desenvolvido qualquer coisa remotamente parecida com uma “estratégia”, ou sequer um debate abrangente sobre o que o País quer ser e qual seu lugar no mundo. Durante décadas fizemos a opção preferencial de olhar para nosso umbigo.
O que Trump está expondo brutalmente é o fato de que somos altamente vulneráveis ao que outros pretendem decidir sobre nossos destinos. E é limitada nossa capacidade de reação ao que possamos considerar inaceitável ou indigno. Ou contrário aos nossos interesses. Quais, mesmo?
O PIX DO PCC, editorial do jornal O Estado de S. Paulo
A Polícia Federal e o Ministério Público de São Paulo deflagraram recentemente uma operação para combater a lavagem de dinheiro do tráfico de drogas do Primeiro Comando da Capital (PCC) por meio de instituições de pagamento, também conhecidas como fintechs. Segundo os investigadores, esse crime é possível graças a lacunas de fiscalização que foram muito bem exploradas pela facção, cujo fortalecimento financeiro ameaça o País.
Entraram na mira da Operação Hydra a 2Go Instituição de Pagamento Ltda. e a Invbank Solução de Pagamentos. Entre os donos de uma dessas empresas está um policial civil de São Paulo, que foi preso. E um integrante do PCC seria sócio de outra delas.
A delação do empresário Antônio Vinicius Lopes Gritzbach, que trabalhou com o bando, depois entregou seus esquemas e foi executado no Aeroporto de Guarulhos, levou os investigadores às duas instituições. Segundo Gritzbach, uma intrincada rede de laranjas, com empresas de fachada e até beneficiários de programas sociais, lavava dinheiro do PCC, sobretudo por meio do Pix.
Relatórios de inteligência do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) ampliaram as suspeitas. Depósitos de dinheiro em espécie eram feitos aos montes, em valores picados, para que, posteriormente, os bandidos pudessem comprar imóveis de luxo, realizando os pagamentos via Pix.
Essa engenhosidade mostra a forma como essa facção tem operado seus inúmeros tentáculos. E a cada golpe desferido pelos investigadores, o PCC de algum modo se refaz, o que revela sua ampla rede de atividades ilícitas. Por isso, medidas eficazes para cortar as ramificações dessa organização criminosa não podem ser negligenciadas.
Não faz muito tempo, a Receita Federal, por meio de uma portaria, tentou ampliar a fiscalização sobre o Pix, justamente para flagrar operações do crime organizado. A ideia era obrigar operadoras de cartão de crédito e instituições de pagamento – veja só – a notificar o Fisco em caso de movimentação mensal superior a R$ 5 mil por pessoas físicas e a R$ 15 mil por pessoas jurídicas. A medida, contudo, foi revogada a mando do presidente Lula da Silva, porque foi tratada pela oposição ao governo como um primeiro passo para “taxar” o Pix.
Ou seja, a tibieza do governo, incapaz de sustentar uma medida correta apenas porque a oposição a transformou em munição para desgastar o governo, tornou mais difícil flagrar o crime de lavagem de dinheiro, essencial para a manutenção dos negócios do PCC e de outros bandos criminosos.
Operações como a Hydra só reforçam que o Banco Central precisa endurecer os mecanismos de controle das fintechs, com rigor semelhante ao imposto aos bancos. Já do governo federal se esperam normas que permitam rastrear com eficácia movimentações suspeitas a fim de cessar tantos negócios espúrios. E dos políticos se espera que, doravante, medidas sérias que ajudam a combater o crime organizado não sejam sabotadas pela oposição nem abandonadas pelo governo por cálculos exclusivamente eleitoreiros.