Depois de empossados e de cara, um mês de férias, ou tecnicamente, chamado de recesso, os sete novos e seis reeleitos vereadores de Gaspar voltam nesta terça-feira às sessões deliberativas. Os vereadores, mais uma vez, discursarão para os seus – e da defesa deles próprios – de que não estavam de férias. Elas vêm, de verdade, desde a metade de dezembro do ano passado. Entretanto, neste meio tempo, não houve nenhuma sessão deliberativa, mesmo que extraordinariamente. Outros municípios já fizeram isso logo que foram empossados, como Balneário Camboriú… As circunstâncias para alguns líderes e políticos se sobrepõem ao regimento usado sempre como escudo.
Voltando. Uma Câmara de Vereadores é um ente essencialmente deliberativo. Há um rito de admissibilidade dos projetos, das discussões e que começa nas Comissões. Em Gaspar, estas Comissões – aqui são só três -, só foram conhecidas na semana passada. E conhecidas as Comissões, a presidência delas, só então uma Câmara se reúne para votar, para como dizem no linguajar próprio, deliberar, ou seja, formar consensos contra e a favor, representando o povo da cidade e os interesses partidários, do governo e da oposição. E até esta segunda-feira, já Comissões (faltava definir a presidência delas), sem convocação, sem sessão, a Câmara de Gaspar não deliberou nada. O resto é conversa fiada ao povo que votou nessa gente achando que tudo vai mudar de agora em diante. Simples assim!.
Ah, alguns vereadores viraram atores de si próprios e entupiram as redes sociais – ou muitos dos canais de aplicativos de mensagens desde que foram eleitos ou empossados. Viraram. É a nova moda. Todos querem ser um Nícolas Ferreira, o deputado Federal do PL de Minas Gerais. Mas, no fundo, trabalhar naquilo que é obrigação constitucional, circunscrito à Lei Orgânica e até a Regimento Interno, não fizeram quase nada. A pauta da sessão de amanhã, por exemplo, até o momento em que publico este comentário, não é conhecido dos vereadores e principalmente da cidade feita de seus eleitores e eleitoras. Teve-se um mês para fazer isso.
No registro de Projetos de Lei, nenhum que o prefeito tenha protocolado na Câmara. O vereador de terceiro mandato, Dionisio Luiz Bertoldi, PT, protocolou um projeto para fazer os CDIs funcionarem em regime de plantão durante as férias. O novato Thimoti Thiago Deschamps, União Brasil, quer vasinhos furados para as flores de plástico voltarem aos túmulos dos cemitérios de Gaspar como prometeu na campanha. E só.
A MONTANHA DE INDICAÇÕES MOSTRA À FALTA DE MANUTENÇÃO DA CIDADE

O que se entupiu, de verdade, por conta dessa propaganda – até porque tem gente com agência de publicidade a tiracolo e está irritando outros vereadores da mesma base ideológica – foram as tais inócuas Indicações: 284 registradas só até sexta-feira passada.
Uma limpeza de vala aqui, um asfalto arrebentado lá, um meio fio torto ali, capim à vontade em todo lugar, uma lâmpada queimada… são os pedichos dos antigos e novos vereadores à prefeitura por todos os cantos da cidade, em nome dos seus eleitores e eleitoras, os quais receberam cópias dos pedidos.
No fundo, de verdade, este é o retrato do desleixo do poder público com a cidade do governo que saiu corrido por falta de votos nas eleições de outubro do ano passado e é uma advertência ao que assumiu um janeiro. O mais visível, porque permeou a campanha eleitoral, foi o cemitério municipal do bairro Santa Terezinha (foto ao lado). Mas, mesmo assim, a roçada não foi ampla e total.
O presidente da Casa, Alexsandro Burnier, PL, puxou a fila das 284 Indicações: ele quer que o “delegado prefeito” Paulo Norberto Koerich, PL, faça uma “auditoria pública no setor de iluminação pública de Gaspar”. Não por acaso, a última indicação feita no ano passado, entre as 1047 que todos os 13 vereadores daquela legislatura protocolaram em 2024, pedia para o ex-prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, trocar a lâmpada queimada na rua João José Schmitz, bairro do Bela Vista. A indicação foi feita pelo reeleito Giovano Borges, PSD, da base de Kleber.
Como se vê, sai governo, entra governo, muda-se a base de apoio ao governo, os problemas do varejinho continuam os mesmos e nunca se resolvem. O maior problema é a soma dos pequenos problemas não resolvidos. Uma lástima.
Até a primeira moção já entrou na Câmara: é de aplausos a uma professora pela forma como ela conduziu a obrigação dela no educandário até aqui. A coisa vai melhorar quando inventarem a moção repúdio – aliás já existe – aos que ocupam cargos e funções e não produzem o resultado esperado. Mas, antes é preciso criar métricas, para que se possa aplaudir ou repudiar alguma coisa ou alguém. Se em Gaspar, até a queda do Ideb – antes da pandemia – entre os nossos estudantes rendeu a eleição – e não punição da sociedade – como vereadora da secretária de Educação que produziu tal desastre…
O ponto essencial com a volta dos trabalhos na Câmara de Gaspar, todavia, não é este, antigo, velho, ultrapassado e que não vai mudar. E sim, como essas melancias vão se encaixar no governo de Paulo e do seu vice, Rodrigo Boeing Althoff, PL.
O presidente do partido, Bernardo Leonardo Spengler Filho, nascido no velho MDB, ao permitir que Alexsandro se tornasse presidente da Câmara logo no primeiro ano de governo de Paulo, abriu – pela inexperiência, com muita água para passar por debaixo dessa ponte e somada à quase cega necessidade que Alexsandro possui para ser candidato a deputado estadual no lugar de Ivan Naatz, PL, se Naatz realmente conseguir a vaga no quinto dos advogados no Tribunal de Justiça -, uma brecha. A oposição que está caladinha, agradeceu. Ela só espera a hora certa de aparecer, crescer, encurralar o governo e abrir tretas de negociações. Dossiês já circulam por aí com este sentido.
UM JOGO POLÍTICO ARRISCADO NA PROTEÇÃO DO NOVO GOVERNO
E qual a razão disso? Todo governo se estabelece os seus quatro anos nos seus primeiros seis meses. E para isso, precisa da Câmara para referendar por leis este marco. Evitar enfrentamentos tão cedo para não se desgastar é a lição básica de todos os governantes tão logo tomam posse e querem colocar a prefeitura em ordem ou ao seu gosto.
Bernardo, Paulo e aparentemente Rodrigo, jogaram essa oportunidade fora. Ou possuem muito chumbo – e do bom – para gastar; ou então blefaram, e quando se descobrir o tamanho do blefe, serão eles que receberão o chumbo que esperavam esparramar contra os adversários. E Paulo se não se cuidar vai ficar no “fogo amigo” cruzado, perdendo tempo, energia e imagem.

O primeiro retrato, ao lado, está o mais longevo dos vereadores, José Hilário Melato, PP, todo sorridente e fazendo “joinha”. Ele sabe o que fez e faz. Ele já “apresentou” e fez publicar à cidade, para não deixar dúvida alguma ao governo, ao PL e União Brasil, a sua capacidade de articular e liderar para resultados políticos para a sua turma. Foi na semana passada: a composição da Comissão de Economia, Finanças e Fiscalização.
Nesta foto, só cobras criadas como o próprio Melato, com os reeleitos Giovano Borges, PSD, Dionísio Luiz Bertoldi, PT, além de Roni Jean Muller, MDB, mesmo sendo um novato, ele é o espírito encarnado de Kleber Edson Wan Dall, MDB, onde já foi chefe de gabinete, presidente da Fundação Municipal de Esportes e Lazer, além de secretário de Obras e Serviços Urbanos onde estabeleceu o bunker da eleição e de dúvidas que terá ainda que explicar. Roni é o sucessor do ex-vereador, ex líder do governo e do MDB, Francisco Solano Anhaia, todos MDB, com passagens pelo PP e PT. Entenderam?
Sobrou nesta Comissão da Câmara para o governo no governo de Paulo e Rodrigo, no quatro a um, o novato Carlos Eduardo Schmidt, PL. Ele vai ter que escolher entre a fidelidade ao vice Rodrigo Boeing Althoff ou ao governo como um todo, e dessa forma, ser tão tigre como foi na campanha e nestes primeiros dias de redes sociais, animadas por profissionais do ramo.
Como se vê, de cara, o Alexsandro Burnier, PL, não jogou para o time. E ainda se escalou como centroavante e capitão do time. Agora, terá que matar a bola no peito e mostrar se é craque também na distribuição do jogo a favor do governo, ou apenas vai tentar salvar o seu futuro como político e candidato a qualquer coisa que o deixe em evidência.
Será que só eu vejo problemas nestas armações e repetições dos mesmos erros? Um leitor meu, publicou na semana passada isto no blog: “o resultado da eleição das comissões da Câmara são o mesmo retrato da falta de habilidade política do chefe de gabinete [Pedro Inácio Bornhausen, PP]. É só lembrar que quando chefe de gabinete do Kleber, a poderosa CCJ [Comissão de Constituição e Justiça e desta vez ao menos ela ficou livre desta armadilha] ficou nas mãos da oposição, porque naquela época eram apenas três membros e o presidente só votava em caso de empate. E foi nas mãos deles que a oposição venceu a eleição da mesa diretora em 2017. Como já disse é mais do mesmo, sem nenhuma articulação política novamente”.
Encerrando.
Do outro lado, está o time manhoso que já ganhou a primeira partida, já mostrou que está disposto a colocar o governo na defesa, impondo trocas, favores e resultados que nem sempre podem ser os da comunidade. Mas, o tempo é o senhor da razão. E seu sei esperar. E estou esperando mais uma vez para pedir desculpas de que estava enganado. Muda, Gaspar!
TRAPICHE

Espetáculo, exemplo, fragilidade ou necessidade? Um grupo de partidários e comissionados, com o vice, o engenheiro Rodrigo Boeing Althoff, surpreenderam e apareceram neste domingo de madrugada para um serviço extra. Lideraram um mutirão para faxinar a Avenida das Comunidades, uma das principais passagens da nossa cidade (foto ao lado). O “delegado prefeito” Paulo Norberto Koerich, PL, também apareceu para as fotos e os vídeos promocionais que inundaram as redes sociais. Belo gesto. Mas, mesmo aí e assim, há vários bons sinais e outros, perigosamente, trocados.
O espetáculo – sim porque isso nos dias de hoje antes de tudo este tipo de ação é carregada de simbologias, propaganda e não há ingenuidade como eram tais gestos de políticos e gestores públicos em décadas passadas – que percorreu às redes socias e aplicativos de mensagens, também traz embutido outros enigmas. O primeiro é de que o governo enxergou o problema e deu o tom para a sua equipe – e a cidade que o elegeu – de como quer resolver, ou seja, com maior engajamento dos servidores comissionados e da própria sociedade. Quem disse que a cidade é só dos políticos e gestores públicos? Apesar dos pesados impostos que pagamos, a cidade também é dos cidadãos e cidadãs, os quais podem por suas próprias mãos melhorá-la. Não podemos apenas delegar e cobrar. Podemos construir, também. Este exemplo está nas nossas comunidades que ergueram tantos capelas e centros de convivência por todos os cantos da cidade, na maioria dos casos, sem ajuda do poder público.
Continuando. O espetáculo de domingo se é bom por sua iniciativa e resultado – incluindo o político para os políticos fazerem politicagem nas suas redes sociais, antes de ser uma resposta que a sociedade está lhes cobrando -, revela também, espetacularmente, por outro lado, a fragilidade do governo para as soluções emergenciais mais simples: uma roçada, uma poda, uma limpeza urbana de uma principal avenida da cidade e o que deixa exposto para os seus e os passantes que o julgam. Falta-lhe, no fundo, estrutura – e que é pequena que até algumas mãos não afeitas a isso foram capazes de dar solução em poucas horas. O próprio prefeito, seu vice, seus comissionados, tiveram que colocar as mãos na massa para resolver a questão, naquilo que deveria ser uma rotina operacional da secretaria de Obras e Serviços Urbanos, a sucateada.

Como está no artigo de abertura de hoje, são essas coisas simples que estão nas centenas de indicações protocoladas pelos vereadores antes mesmo deles começarem as sessões deliberativas. Ou seja, há um flagrante fragilidade. E por conta disso, há muitas necessidades. Se numa rua central, o próprio núcleo duro do governo gasparense teve que pegar na enxada num domingo de madrugada, o que se espera de coisas iguais e bem piores em milhares de outras ruas, praças, ambientes de lazer… Não vão dar conta. Não vai dar certo. Até porque se você telefona, ou tenta conversar no whatsapp 3091-2025 da secretaria de Obras, logo descobre que ele é decorativo e só serve para a propaganda, a que trabalha contra o governo. Há provas de inanição da secretaria aos pedidos dos gasparenses e da semana passada decorrente da enxurrada de duas semanas atrás. Então… Muda, Gaspar!
Isto me lembra um artigo que escrevi e que um leitor e fonte habitual deste espaço recortou e me passou. No jornal Cruzeiro do Vale, quando publicava a minha coluna lá (saudades), na edição do dia 13 de março de 2017, sob o título “Os aprendizes Intencionais I”. Escrevi: “o prefeito de Gaspar, Kleber Edson Wan Dall, PMDB, continua plantando flores pelos canteiros da cidade. Enquanto isso, os iluminados e que verdadeiramente mandam e desmandam na sua administração, continuam semeando armadilhas…” Pergunto o que mudou de lá para cá, mesmo trocando o governo?
Não vou usar meus escritos da época por eu me dar como suspeito, apesar de nada do que escrevi sobre este assunto se deu diferente nos resultados. No dia dez de fevereiro de 2017, a máquina marqueteira da prefeitura e do então prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, dava a seguinte manchete num dos press release que toda a imprensa deu generosos espaços: “canteiros de Gaspar receberão plantio por voluntários“. Era a então primeira dama, Leila. Ela liderava o plantio de manacás na Avenida das Comunidades, os mesmos que abandonados foram podados no domingo pela atual gestão. O que mudou, mesmo? E o tal programa “Floresça Gaspar” foi dar em vasinhos que estão sob suspeitas e não explicado até agora. Todos vêm lavando a minha alma faz tempo. Afinal, o tempo é o senhor da razão. Como já escrevi, eu sei esperar. Muda, Gaspar!
Enquanto o secretário da Saúde, o servidor de carreira, o consagrado melhor operacional da área por aqui, Arnaldo Gonçalvez Munhoz Júnior é eleito – por que quis, aceitou e foi autorizado – novo presidente da Comissão de Intergestores de Saúde do Médio Vale do Itajaí, desfocando-se dos grandes problemas daqui a cidade amanheceu sem os cinco motoristas da secretaria. Um já tinha pedido demissão na sexta-feira. Outra. A secretaria devolveu 12 veículos alugados a WS, de Curitiba, lá em Curitiba, quando deviam ser apanhados aqui. Os motoristas ganharam diária, horas extras (por ser sábado) e voltaram numa van da prefeitura. O que mudou?
Por outro lado, finalmente, os postos de saúde vão abrir ao meio dia em Gaspar a partir de hoje. Mas, sem consultas, dentistas e vacinação. Médicos, só para emergências. sobre abrir até as 22h, nada. Sobre as filas de exames e procedimentos, nada. Sobre a situação caótica do Hospital de Gaspar que continua comendo dinheiro como poucos gulosos, nada, até agora. Hoje faz um mês que o governo do “delegado prefeito” Paulo Norberto Koerich e Rodrigo Boeing Althoff, ambos do PL, tomou posse.
A propaganda é a alma do negócio. A Câmara de Vereadores de Gaspar está reservando R$280 mil para propaganda. Estes recursos vão ser gerenciados pela Think Brands Publicidade & Propaganda, de Jaraguá do Sul. O contrato, é de 2023 e da época em que o presidente da Casa era Ciro André Quintino, MDB.
É devagar, é devagarinho… diz a música. E não prestamos atenção na letra e somos embalados pela música. Lembram que faz pouco tempo, a Câmara de Gaspar comprou os seus dois Toyotas Corollas de luxo para os vereadores irem a Florianópolis, principalmente, e visitarem os nossos rincões com estradas mal conservadas, poeirentas, esburacadas ou tomadas pela lama. Agora, já são seis.
O ex-prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, está sem assunto para aparecer nas suas redes sociais. Deixou a presidência da Fecam – Federação de Consórcios e Municípios Catarinenses – e está em modo saudade, revivendo os encontros com autoridades e instituições. Quem também, aparentemente, está desempregado, é o lobista, ex-chefe de gabinete, ex-secretário de Planejamento Territorial, ex-presidente da Comissão Interventora do Hospital de Gaspar e ex-secretário de Fazenda e Gestão Administrativa, Jorge Luiz Prucino Pereira, PSDB.
Palavras. Nas redações das resoluções da mesa da Câmara de Gaspar, começou a aparecer nas justificativas a o termo “regras insculpidas…” Credo.
O Brasil parece que não tem jeito. Uma pesquisa da Quaest divulgada hoje dá conta que em quase todos os cenários o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, PT, está competitivo para a reeleição em 2026. E que o seu melhor opositor é um cantor sertanejo, que nunca fez política, que não é de esquerda e de direita, que já declarou voto e apoio a Jair Messias Bolsonaro, PL, Gustavo Lima.
Ao menos há um recado explícito. Se é para mudar, a outra parte não quer um político viciado e enganador. O que esta parte ingênua não entendeu ainda, ou não quer entender, é que há um sistema, invisível, poderoso, que impede mudanças. Olhe para Gaspar.
Tudo velho. O novo poder de plantão percebeu que algumas pessoas de credibilidade na cidade começaram a colocar questionamentos nas suas redes sociais sobre a atual suposta nova administração. O constrangimento não se disfarçou. Quer alinhamento incondicional. É aí que começa o erro de todo gestor, abafar os ruídos. Quando perceber, estará isolado por exatamente não ouvir.
Os vereadores da base do governo “delegado prefeito” Paulo Norberto Koerich e engenheiro Rodrigo Boeing Althoff, ambos PL, já estão fazendo vídeos se justificando pela falta de ações básicas prometidas na campanha por eles e o governo, se fossem eleitos. Culpam o anterior. Isto todo mundo sabia, tanto que o candidato de Kleber Edson Wan Dall, MDB, o vice Marcelo de Souza Brick, PP, levou uma surra na falta de votos nas urnas.
Passou-se um mês. A comunicação é e está falha. Torta. Sem foco. Sem estratégia para resultados ao governo e governantes. Barata tonta que voa. A ação do governo, pior. No fôlego tático, o “novo” governo se recusou a fazer no básico: colocar todas as mazelas do velho governo, tal a herança maldita, como dizem, na primeira semana para a cidade não ter dúvidas do quanto seria difícil, custosa e demorada o cumprimento das promessas de campanha aos esperançosos. Agora o governo, como um todo, paga. E o desgaste, desta decisão e repercussão, tem muito a ver com os velhos “çábios” que continuaram no “novo” governo. E a cobrança está vindo a cavalo. É injusto. Entretanto, foi uma escolha que o atual governo fez.
Pelo menos uma pedra no caminho está sendo colocada de lado momentaneamente: o vice Rodrigo Boeing Althoff, PL, que se ensaiava ser o prefeito de fato e com a sua turma no fogo amigo saiu da cena principal e foi para a ribalta. Há uma trégua. Até quando, não se sabe. Cada um no seu lugar. Por enquanto. Ufa!

Perguntar não ofende. Vamos para a terceira semana da enxurrada acontecida. Aonde estão de fato, os equipamentos que a secretaria de Infraestrutura e Mobilidade, por meio de seu titular, o deputado de Ibirama, Jerry Comper, MDB (na foto acima, à direita), com o testemunho do seu cabo eleitoral, Ciro André Quintino, MDB (a esquerda), prometeram ao “delegado prefeito” Paulo Norberto Koerich, PL, para ajudar na recuperação de Gaspar. Aqui fotos. Na Câmara, diárias. Muda, Gaspar!
Outra da série: perguntar não é ofender. Um mês de governo, três meses depois das eleições, e finalmente, dois encontros em uma semana. O que o novo municipalista e padrinho no PL e da candidatura do “delegado prefeito”, Paulo Norberto Koerich, o governador Jorginho Melo, PL, anunciou como obra para marcar a gestão de Paulo e Rodrigo Boeing Althoff, ambos do PL?
Registro I. De um prócer do PT de Gaspar. “Não que eu defenda o Kleber [ex-prefeito, MDB]. Longe disso. Mas, Acho uma loucura a facilidade como a imprensa de Gaspar muda de lado. Sem qualquer constrangimento“. Primeiro, eu mesmo já registrei isso. Segundo, por isso não sou tido com imprensa e tenho audiência expressiva, mas que ninguém me lê. Terceiro, o resultado é credibilidade que perpassa governo e ideologias, apesar das perseguições e prejuízos. Quarto, não dependo financeiramente de ninguém, o que é um problema para essa gente e por outro lado se explica essas mudanças de humores da imprensa. Finalmente, o PT, também, não tem do que reclamar da imprensa.
Registro II. Finalmente o PL Mulher de Gaspar foi para alguém identificada com o PL. Estava sendo presidido com gente identificada com o União Brasil. E não é de hoje. Por meses.

Registro III. O médico veterinário, formado na Federal do Paraná, Adilson Luiz Schmitt (na foto acima é o último à direita), fará no dia dois de março 35 anos de formatura e profissão. Mas, neste mês, ele fez 40 anos do seu primeiro estágio: a Fazenda Modelo Juçara, e que agora é parte da engronha chamada Arena Multiuso. Na foto, Adilson que já foi prefeito (2005/08) de Gaspar e eleito pelo MDB e hoje no PL, registrou no portal da antiga Fazenda este fato relevante da sua vida profissional. Estava com amigos e remanescentes daquela Fazenda.
Como são os políticos. Quando era senador e da base do governo de Jair Messias Bolsonaro, PL, Jorginho Melo, PL, era um ferrenho defensor da desoneração fiscal contra os combustíveis para, em primeiro lugar, segurar a inflação que ameaçava ficar fora de controle e segundo lugar, para dar popularidade a reeleição do ex-presidente.
O que aconteceu? Jair Messias Bolsonaro, PL, perdeu. Jorginho Melo, PL, se tornou governador. E mudou literal e rapidamente de posição e se vencesse Bolsonaro também teria mudado. Tudo voltou como era antes, pois o guloso e incontrolável caixa dos governos precisa cada vez mais de altos impostos. No sábado o ICMS subiu mais um a vez onerando os combustíveis a favor do caixa do governo do estado e até municípios, na participação que eles possuem no retorno deste tributo.
Esta semana, só haverá dois artigos inéditos aqui. Um é este. A não ser…. Os comentários serão postados e aprovados normalmente. Boa semana, na medida que Donald Trump, o Republicano, nos deixar. Ainda não se sabe o quanto do latido será mesmo transformado em mordidas. Mas, que todos estão assustados, ah isso estão. E o Império corre um sério risco, desta vez, de ficar isolado. E se o Brasil tivesse governo, comeria quieto pelas beiradas. Mas…
10 comentários em “PRONTO. A CÂMARA DE GASPAR VOLTARÁ AOS TRABALHOS NA TERÇA-FEIRA. É AGORA QUE VAI SE VER, VERDADEIRAMENTE, COMO A PORCA TORCE O RABO NO GOVERNO DE PAULO E RODRIGO”
POBRE DIREEITA E TRANS INTOLERANTES, por Mariliz Jorge Pereira, no jornal Folha de S. Paulo
O episódio do cancelamento de Karla Sofía Gascón, primeira mulher trans indicada ao Oscar, não é apenas mais um daqueles corriqueiros na agenda progressista, protetora do manual das boas virtudes. É um importante sinal de que a esquerda, seja ela qual for, continuará apanhando nas urnas nos próximos anos, sem saber de onde vem a surra.
Seria interessante saber mais sobre a Gascón dos tuítes e menos sobre a dos tapetes vermelhos. Respostas sinceras e não os pedidos de desculpa protocolares ou desesperados poderiam nos levar a camadas mais reveladoras do nosso zeitgeist do que publicações que tratam de forma simplória o pobre de direita, o gay de direita, mulheres antifeministas ou trans preconceituosos.
Pessoas são complexas, incluindo aquelas que se submeteram à transição de gênero e passaram a fazer parte de minorias marginalizadas, que precisam ter seus direitos garantidos. Desde, claro, que abracem o pacote completo da cartilha identitária. Gascón cometeu o pior dos pecados ao ter opiniões em desalinho com o que se esperava dela como mulher trans.
É aí que a esquerda se perde porque se recusa a enxergar que existe diversidade de pensamento dentro de grupos minoritários, o que inclui fobias e intolerância. No Brasil, o julgamento de Gascón tem sido impiedoso, também pela presença de Fernanda Torres na competição, ainda que ela mesma tenha sido exposta pela patrulha dos costumes.
Mas nem disso tiraremos uma lição.
O episódio do blackface desencavado para macular a imagem da brasileira não foi tratado com condescendência pelo público por bom senso. Regina Duarte arderia na fogueira do cancelamento mesmo por um esquete feito no século passado. O assassinato de reputações, tão comum na política, chegou há algum tempo ao Oscar e a outras premiações. Ao responder a cobranças de mais diversidade parecem ter arranjado outra pendência, escarafunchar o passado dos atores e se certificar de que suas opiniões sejam tão corretas ou melhores do que suas performances.
TRUMP PÕE TODOS NO COLO DA CHINA, por Elio Gaspari, nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo
Donald Trump entrou na Casa Branca com a cabeça no fim do século XIX. Naquele tempo, o vigor da economia americana contrapunha-se a uma Europa dividida e a uma América Latina sonolenta. Se os Estados Unidos tinham rivais, depois de 1914 eles resolveram brigar com duas guerras. Em 1945, terminada a briga, a economia americana era, disparada, a mais forte do mundo. Do outro lado estava a falecida União Soviética. Veio a Guerra Fria, e ela desmoronou.
Em poucas semanas o presidente americano ameaçou a Europa, encrencou com os dois vizinhos e com a China, a segunda economia do mundo.
Falta ao trumpismo a percepção de um lugar-comum: a paciência chinesa. No final do século XIX, o Império do Meio estava em franca decadência e, ao final da Segunda Guerra, em 1945, era uma nação conflagrada pela guerra civil. Hoje, a situação é outra. Misturando protecionismo e expansionismo, Trump joga uma parte do mundo no colo da China.
No dia de sua posse, Trump teve um sinal de que a famosa “destruição criadora” do capitalismo está num país teoricamente socialista. Na verdade, trata-se de uma ditadura de partido único, economicamente capitalista. Trump reclama porque consórcios chineses mandam no Canal do Panamá, mas isso só acontece porque as empresas americanas deixaram de competir.
Foi-se o tempo em que a China treinava guerrilheiros. De 1964 a 1968, cerca de 40 militantes do Partido Comunista do Brasil receberam treinamento militar em Pequim, e pelo menos dez morreram na Guerrilha do Araguaia. Naquele tempo, a China e a União Soviética competiam com os Estados Unidos ideologicamente. Hoje a competição é exclusivamente econômica.
A visão de mundo do trumpismo quer ser expansionista e, ao mesmo tempo, isolacionista. O sonho dos Anos Dourados, que ficaram no passado, é hoje uma contradição em si mesma, e a China se beneficia disso. Ela investe na infraestrutura mundo afora, ocupando o espaço dos Estados Unidos. Além disso, se os chineses fazem carros numa fábrica que foi da Ford, o problema é da Ford e, portanto, da indústria americana. Para ficar no caso panamenho, são os chineses que constroem a ponte sobre o canal, coisa de US$ 1,3 bilhão. Os americanos nem sequer competiram.
No dia em que Trump encrencou com a Colômbia, o embaixador chinês em Bogotá disse que as relações entre os dois países estavam em “seu melhor momento”. Aí está a vulnerabilidade do surto trumpista: onde ele encrenca, lá entra o chinês.
O trumpismo tem algo de subversivo em relação aos valores seculares da democracia americana, enquanto o governo chinês prossegue na tradição milenar de seus imperadores. Às vezes essa tradição leva a desastres, com fome e até casos de antropofagia. Há décadas, nem mesmo Trump é capaz de achar que a máquina chinesa anda para trás.
O presidente americano tem um gosto pela bravata, e esse é mais um problema. O Império do Meio tem horror a estridências. A ideia de impor tarifas ao México e ao Canadá, para suspendê-las temporariamente dias depois, é coisa que a China jamais fez, nem durante seus momentos de delírio. Afinal, seus governantes não precisam cultivar diariamente o público interno.
Um artigo para ser lido e relido, refletido. Trata uma maioria, ou quem nem está, como culpada daquilo que nem contribuiu e nem pode ser culpada, é um exagero que remete a uma reação também desmedida, e até irracional.
A EXTREMA DIREITA SEQUESTROU A REBELDIA, por Wilson Gomes, no jornal Folha de S. Paulo
Há, evidentemente, muitas razões pelas quais pelo menos metade dos eleitores norte-americanos tem preferido Trump nas últimas três eleições. E essas razões provavelmente são muito parecidas com aquelas que levam pelo menos metade dos eleitores brasileiros a continuar optando por candidaturas presidenciais da extrema direita desde 2018.
O que me preocupa, no entanto, é a resistência da esquerda e dos progressistas em se implicar nessa virada eleitoral para a extrema direita, que tem se repetido ao longo desta última década.
“Implicar-se” significa reconhecer que a própria esquerda está errando e que seus erros são parte das razões que alimentam o vertiginoso crescimento do apoio a extremistas, desta vez em conformidade com as regras do jogo da democracia eleitoral.
O que tem sido constante nas promessas de campanha de Trump, no seu discurso de posse, nas suas primeiras ordens executivas e em suas declarações? Duas coisas. Um etnocentrismo sem limites, expresso na retórica radical de colocar os interesses americanos acima de tudo, proteger a segurança nacional, romper com compromissos multilaterais e restaurar o orgulho e a prosperidade do país. E uma promessa direta e sem concessões de desmontar a agenda e a cultura progressista e de esquerda, especialmente no que diz respeito à ideologia e às práticas identitárias.
O que há em comum entre essas duas diretrizes? Uma posição moral baseada na força e na audácia e um líder que se vende como inabalável, sem compaixão, que nunca pede desculpas, recua ou demonstra vulnerabilidade. Esse é um etos vitalista e afirmativo, não há margem para dúvida.
Enquanto isso, para qualquer lado que se olhe, o que os progressistas estão fazendo? Na semana passada, exigiam o desligamento de um sócio de uma editora que se comportou mal com sua mulher há 15 anos. Nesta semana, pedem que uma cantora seja condenada por racismo religioso, proibida de se apresentar e obrigada a pagar uma indenização milionária por ter trocado o nome de Iemanjá pelo de Jesus em uma performance.
Os progressistas estão presos a uma lógica de retaliação e revanche. O que oferecem não é uma nova cultura afirmativa, mas uma ênfase na culpa coletiva e histórica, que reforça a ideia de que o indivíduo está eternamente preso a um passado que o condena. Seu motor é, em grande medida, o ressentimento.
Uma grande parcela da sociedade experimenta o identitarismo como uma moralidade imposta, em que a linguagem deve ser reformulada (novos pronomes, palavras proibidas, vocabulário “neutro”) e o passado deve ser reescrito. Direitos considerados básicos passam a ser vistos como privilégios injustificáveis, e o indivíduo deve carregar culpas históricas e sociais que não são diretamente suas.
Quando o politicamente correto é vivido e sentido por milhões de pessoas como uma forma de opressão, a alternativa a ele aparece como libertação. É perfeitamente plausível afirmar que um dos principais atrativos do trumpismo reside na oferta de um vitalismo afirmativo para amplos segmentos da população que se sentem oprimidos por essa mentalidade e suas formas institucionais.
Essa dinâmica se assemelha muito às revoluções morais do passado. Em certo sentido, o trumpismo promete ser para os conservadores o que os movimentos contraculturais dos anos 1960 foram para os progressistas —uma rebelião contra normas repressivas e sufocantes. A diferença é que, agora, a rebelião é contra a esquerda, seus novos dogmas, sua insaciável sede de compensações e cotas.
A extrema direita sequestrou o imaginário da rebeldia, um papel que por muito tempo foi exclusivo da esquerda. Durante o século 20, eram os progressistas que desafiavam normas conservadoras e pregavam a liberdade contra a repressão. Agora, com o politicamente correto transformado na nova ortodoxia cultural, a extrema direita se apresenta como a verdadeira força rebelde.
Isso permite ao trumpismo se vender como um movimento de insubmissos, de gente que não se dobra à patrulha ideológica. E, pelo menos na fachada, isso evoca o “sim à vida” do vitalismo positivo, exalta o impulso, a espontaneidade e o desprezo pelo conformismo social e moral.
Se a esquerda quiser reconquistar o terreno perdido, precisa abandonar a lógica da punição e do ressentimento e oferecer algo mais do que culpa e vigilância moral. Enquanto continuar gritando por mordaças, reparações e humilhações, seguirá entregando à extrema direita o argumento da rebeldia e da liberdade. Mas é claro que continuar pensando que quem vota em Trump é fascista é muito mais consolador.
Enquanto os nossos administradores públicos estiverem atrás de likes, ao invés de buscar resolver os problemas da cidade veremos o prefeito delegado, repetindo tudo que o ex-prefeito fazia.
Sempre que reclamavam da roçada, os apoiadores do Pl sempre mostravam as fotos dos mutirões da primeira dama e do Kleber no início do mandato em 2017.
A cada dia me convenço que este início de governo do Paulo é muito parecido ou igual com o mandato do Kleber, será que terminará igual?
Será que veremos o então todo poderoso Jorge reassumindo a secretaria da fazenda no lugar da indicada do também todo poderoso Roberto Pereira.
Voltando ao mutirão do Paulo, o papel do prefeito é dentro do gabinete resolver os problemas que ele identifica andando pela cidade. Deveria ele ter informado qual medida está tomando para roçar o mato da cidade, contratação de uma nova empresa, concurso público para novos servidores executarem esse serviço. E não adianta dizer que não tem recurso, pois estamos em novo ano com orçamento proposto pelo Kleber e aprovado pelo PL, com novas e velhas despesas, mas também com enorme receita.
Excelente. A sua opinião parece ser dominante na cidade. Falta uma pesquisa séria para desmentir isso. Os políticos, eleitos, entram numa bolha e nela se isola. Com o “delegado prefeito” Paulo Norberto Koerich, PL, incrivelmente, não é diferente e em tão pouco tempo. É assim com Jorginho Melo, PL. É assim com Luiz Inácio Lula da Silva, PT.
Paulo, deveria ao menos olhar o que está acontecendo com o seu ex-subordinado Egídio Maciel Ferrari, PL. Está sendo mais eficaz neste início e com mais coragem. Está desmanchando igrejinhas. Está agindo como delegado e os políticos do sistema, ao menos, já botaram as barbas de molho. Estão chiando, mas não enfrentando…
O STF IDEAL E O REAL, editorial do jornal Folha de S. Paulo
Ladeado pelos chefes do Executivo e do Legislativo, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, inaugurou o ano judiciário apresentando dados protocolares da Justiça e tecendo considerações genéricas sobre sua missão, como, aliás, convém a uma cerimônia desse tipo. Mas, como dizia a célebre ponderação do filósofo José Ortega y Gasset, “eu sou eu e minha circunstância”, e a circunstância da Corte é bem mais tumultuosa do que sugere o discurso de seu presidente.
“Todas as democracias reservam uma parcela de poder para ser exercida por agentes públicos que não são eleitos pelo voto popular, para que permaneçam imunes às paixões políticas de cada momento”, disse Barroso. “O título de legitimidade desses agentes é a formação técnica e a imparcialidade na interpretação da Constituição e das leis.” A fala, em tese, é irretocável. O problema é a sua discrepância com as práticas da Corte.
Pesquisas registram que a credibilidade do STF está em franco derretimento. No núcleo da desconfiança está justamente a percepção de que sua atuação é movida por paixões políticas, não só para interpretar a Constituição e as leis, mas reformulá-las.
“Somos contra todo tipo de abusos”, disse Barroso. Mas como conciliar essa intransigência com o fato de que mais de 90% dos magistrados e procuradores recebem acima do teto estabelecido pela Constituição que deveriam guardar?
“Celebramos a vitória das instituições e a volta do País à normalidade plena”, disse Barroso. Mas será normal haver inquéritos secretos que já duram milhares de dias, ao abrigo dos quais já se praticaram desde suspensões de perfis em redes sociais a censuras a veículos de comunicação? Quando Dias Toffoli dizima monocraticamente provas, confissões e punições no âmbito da Operação Lava Jato com fundamento na narrativa conspiratória petista, é de “técnica” e “imparcialidade” que se está falando? O próprio Barroso, supostamente a salvo das paixões políticas, vangloriou-se, num evento estudantil, de ter ajudado a derrotar o bolsonarismo.
“Decidimos as questões mais complexas e divisivas da sociedade brasileira”, disse Barroso. Eis o maior problema: a esmagadora maioria dessas questões deveria ser decidida pelo Parlamento. A parte que toca ao STF é crucial, mas limitada: exercer o controle de constitucionalidade.
A Corte, entretanto, vem ampliando a compreensão a respeito de suas próprias competências, ora atuando como uma espécie de Poder moderador entre os outros Poderes, ora agindo no lugar deles. Só no ano passado, o STF emitiu ordens executivas que abrangem desde as políticas de câmeras em uniformes policiais, passando por medidas de combate a queimadas até os preços de sepulturas, e disfarça cada vez menos sua ambição de legislar sobre questões como o aborto, liberação das drogas e regulação das redes sociais.
Alternando entre o triunfalismo e o vitimismo, os ministros frequentemente atribuem o descrédito à desinformação dos “inimigos da democracia”. Mas as pesquisas mostram que a desconfiança grassa à esquerda e à direita, e vai muito além da militância bolsonarista. As críticas mais contundentes não atingem o papel da Corte na defesa da democracia, mas justamente os abusos cometidos em nome dessa defesa.
Barroso está correto. O ideal da Justiça é de um quadro de servidores qualificados que arbitram conflitos sobre os quais não têm parte, aplicando leis que não criaram. Mas o sentimento predominante é de uma Corte instável, conivente com abusos e politizada.
Se os ministros não querem se fiar neste jornal, ouçam seus próprios pares. “Cabe sempre observar o limite da Constituição”, disse recentemente o vice-presidente da Corte, Edson Fachin. “Ao Direito o que é do Direito, e à política o que é da política”, declarou Fachin, que acrescentou, sabiamente, que, “numa democracia, não cabe ao árbitro construir o resultado”, ou seja, “o juiz não pode deixar de responsabilizar quem violou as regras do jogo, mas não lhe cabe dizer quem vai ganhar”.
Essas advertências foram feitas no aniversário do infame ataque do 8 de Janeiro às sedes dos Três Poderes, e deixam uma questão incômoda: seriam necessárias se o País gozasse mesmo de “normalidade plena”?
HARMONIA ENTRE PODERES, por Carlos Andreazza, no jornal O Estado de S. Paulo
“Todo poder emana do povo e em seu nome é exercido”. Hugo Motta chamou o fundamento da Constituição para uma releitura corporativista do valor da representação, que respaldaria – em nome da soberania popular, como se expressão da democracia – as distribuições autoritárias e opacas de dinheiros públicos na forma de emendas parlamentares.
Esse é o tamanho do buraco. Que continuará a ser cavado. Consagrada a perenidade. Sai Alcolumbre, entra Alcolumbre. Sai Lira, entra Lira. Ainda estamos aqui. Aclamado o orçamento secreto. Reeleito o esquema de perversão das emendas.
Votação que é produto de acordo pela defesa da “prerrogativa” de o Congresso disparar obscuramente bilhões de dinheiros públicos e garantir cabresto sobre currais Brasil adentro – acordo pela manutenção da autonomia degenerada do Legislativo, fundada no controle absolutista de fundos orçamentários.
Foi em decorrência desse pacto que se uniram lulistas e bolsonaristas. Bolsonaro, empregado de Valdemar, não soltou a ordem unida por Alcolumbre e Motta em troca de apoio à agenda de anistia aos condenados do 8 de janeiro etc. Mandou que os seus lhes votassem para que o PL tenha lugar nas comissões e alguma cota no ratatá das emendas de comissão.
Decorre dessa acomodação o desaparecimento das disputas. Não há oposição. Porque ninguém quer perder boquinha. Os parlamentares, com raras exceções, calam-se, transformados em vereadores federais, ante o poder dos donos do Congresso, os que dominam a grana e autorizam as destinações.
“Não existe ditadura com Parlamento forte” – discursou Motta. Com o orçamento secreto forte, existe o quê? O Parlamento, em termos republicanos, é fraco. Rico e fraco. Fortes são os liras. Os operadores da riqueza. O funcionamento do Congresso é imperial – e os congressistas, instrumentalizados, falando em independência do Legislativo… Que tem suas comissões aterradas, que vive sob regime de urgências, que vota sem saber no quê.
O Parlamento altivo reelegeu a sua subordinação a um punhado de patronos – os que apontam, entre os parlamentares, os que podem apadrinhar emendas. O Senado elegeu um dos senhores do orçamento secreto. A Câmara, um vip do orçamento secreto. Esses são os independentes de verdade.
Ainda Hugo Ulysses Motta: “Todos passamos, mas as instituições ficam”. Todos passamos, o orçamento secreto fica. É uma instituição – a “transformação histórica” da era Lira. A cuja proteção vêm Alcolumbre e Motta. Que doravante irão, pós-Lira, conforme agendou Dino, sentar com o senador-togado por um encaminhamento que, sem ferir as vaidades, desembarace o leito de continuidade do orçamento secreto. O governo mediará a conversa. O cenário menos ruim para Lula nos próximos dois anos depende desse arranjo.
FRAQUEZA DE HADDAD SE DEVE À POLÍTICA ECONÔMICA DE LULA, editorial do jornal Folha de S. Paulo
Podem-se apenas formular hipóteses sobre os motivos que levaram o presidente do PSD, Gilberto Kassab, a fazer crítica pública ao ministro Fernando Haddad, chamado de fraco por não ter o comando da política econômica. Tal exercício especulativo será dificultado pela maleabilidade do líder partidário, dado a jogar ao centro, à esquerda e à direita.
Na essência, porém, a declaração suscita questões pertinentes quanto ao papel de titulares da Fazenda em geral —não raro os ministros de Estado de maior visibilidade no noticiário nacional— e do atual em particular.
Dos ocupantes do cargo espera-se, idealmente, que sejam capazes de expor com autoridade as diretrizes e os próximos passos da gestão da economia; de transmitir segurança quanto ao cumprimento de compromissos; de falar com o respaldo do presidente da República sobre sua área.
Haddad realmente não faz das melhores figuras nesses quesitos —e isso independe de não ser um especialista, pois entre os ministros mais fortes das últimas décadas estão o sociólogo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que foi uma espécie de premiê do Plano Real, e o médico Antonio Palocci (ex-PT), que contrariava com desenvoltura as teses do partido que ajudou a fundar.
Haddad, embora tenha conquistado respeito fora do governo por afirmações responsáveis, com frequência é obrigado a ressalvar que ainda aguarda o sinal verde de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para levar a cabo esta ou aquela medida. Não poucas vezes, aliás, o chefe desautorizou abertamente os planos do auxiliar.
Existem peculiaridades no caso de Haddad. Trata-se de um quadro importante do partido, que chegou ao ponto de substituir Lula na disputa presidencial de 2018. Ao mesmo tempo, precisa conviver com as contestações de correligionários que incluem ninguém menos que a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, ora cotada para uma vaga na Esplanada.
Durante entrevista coletiva, o mandatário respondeu às farpas de Kassab com longos elogios ao ministro, que pareceram mais protocolares. Na mesma ocasião, disse que, se depender só dele, não haverá novas medidas para conter o déficit do Orçamento. O trecho no condicional não deixa de abrir alguma possibilidade de influência da Fazenda.
Desde o início deste governo, os comportamentos de Haddad e Lula se repetem. O primeiro, ainda que diplomaticamente, mostra ter consciência da péssima situação das contas públicas e acena com ajustes mais ambiciosos, enquanto o segundo desdenha sem meias palavras da austeridade fiscal e, quando muito, permite algum remendo aqui e ali.
Esse vaivém talvez tenha lá seu sentido para as maquinações palacianas e eleitorais do presidente. Para a política econômica, como se mostra óbvio a esta altura, o resultado é perda contínua de credibilidade que leva de roldão o ministro, a solvência do governo e a estabilidade do país.
TRUMP, PAVLOV, por Demétrio Magnoli, no jornal O Globo
O russo Ivan Pavlov (1849-1936), pioneiro do condicionamento clássico, tornou-se célebre por suas experiências com a mudança comportamental de cães. Donald Trump aplica os mesmos princípios de estímulo e resposta na moldagem do debate público. Sua decisão de abolir os programas federais de DEI é uma armadilha pavloviana dirigida aos “progressistas”.
Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI), eufemismo cunhado nos Estados Unidos para designar a expansão universal de políticas identitárias, abrange uma coleção sempre crescente de “minorias”: negros, latinos, indígenas, mulheres, trans et alii. O amplo guarda-chuva recobre universidades, empregos públicos e privados, instituições sociais, eventos culturais e até Hollywood.
Nas universidades, as preferências identitárias saltaram da admissão à graduação para o ingresso na pós-graduação e a contratação de docentes. Nesses últimos casos, contam pontos o “lugar de fala”, o alinhamento ideológico (o candidato promoveu DEI em sua vida profissional pregressa?) e a especialização nos “novos saberes”, como estudos étnico-raciais e de gênero, disciplinas sobre “branquitude”, “negritude” e “políticas do corpo”, historiografia comparada do “imperialismo de colonos”.
Nas empresas privadas, a “diversidade” orienta contratações e promoções. O ideal é, além de pertencer a uma “minoria”, atuar como militante da causa. Os empresários entenderam o valor de marketing da cooptação. Nelas, soporíferos cursos de DEI adestram a camada gerencial no uso correto da novilíngua identitária.
A DEI instalou-se no núcleo do Partido Democrata e atingiu um ápice quando Biden selecionou Kamala Harris ao posto de vice em 2020. O fracasso constrangedor da campanha de Harris nas primárias democratas daquele ano foi ignorado, pois ela preenchia quase todas as caixinhas identitárias imagináveis.
Equidade é o termo-chave da DEI. Trata-se da réplica identitária ao princípio da igualdade perante a lei. A doutrina filosófica e legal nela sintetizada advoga o tratamento desigual aos desiguais — e toma como implícito que desigualdade não é uma referência à renda, mas a atributos essenciais (cor da pele, etnia, gênero, orientação sexual). Segundo tal lógica, as filhas do casal Obama mereceriam preferência na concorrência com jovens brancos de baixa renda.
A raiz principal da DEI encontra-se na noção de que as sociedades ocidentais são palco da opressão de homens brancos héteros sobre um extenso conjunto de vítimas, as “minorias”. (Disso, aliás, resulta a concorrência intraidentitária para determinar as “minorias” mais vitimizadas, as mais merecedoras de preferências.) A esquerda pós-moderna trocou o conceito de luta de classes pela doutrina da hegemonia identitária, convertendo os trabalhadores brancos numa seção do estamento opressor.
Após longa experiência, o fastio da maioria com a bíblia identitária tornou-se indignação explícita. A aversão chegou aos latinos e difunde-se entre parcela crescente dos jovens negros. Trump é inculto, mas sobra-lhe inteligência política. Ao detonar a DEI, captura o discurso sobre igualdade e oportunidade. Dias atrás, dobrou a provocação com sua irresponsável conexão entre a DEI e o acidente aéreo em Washington.
A militância acadêmica esculpiu um campo “progressista” hipnotizado pela noção de que o motor das sociedades democráticas é acionado pelas turbinas do racismo e do patriarcalismo. O delírio propicia ao líder da direita extremista a invocação eficaz de Martin Luther King e do sonho de uma nação “cega diante da cor”.
Os truques de Pavlov provocavam salivação canina. O truque de Trump tem o objetivo de causar reações histéricas entre os “progressistas”, prendendo-os às narrativas identitárias e à carcaça da DEI, enquanto seu governo concentra-se na xenofobia, no protecionismo e na retórica imperialista.
Kamala Harris evitou definir sua campanha presidencial pela simbologia da “mulher-negra-imigrante-asiática”. Trump almeja interromper o tardio ensaio de correção de rumo. Quer os democratas de volta ao padrão habitual, que lhes fecha o diálogo com o povo em geral. Estímulo e resposta.
Você precisa ler isso e entender como os nossos pesados vão rubricados como ajuda social e desenvolvimento econômico de áreas que nunca melhoram do ponto de pista social e econômico, porque se isso acontecer, os coronéis delas desaparecem e os nossos pesados impostos teriam, talvez, destinos, mais nobres. Nossos deputados e senadores contribuíram e contribuem para esta disfunção e bandalheira que está a olhos vistos de todos. Ai, tem
CORONELISMO, TRATOR E VOTO NA NOVA REPÚBLICA, por Bruno Carazza, no jornal Valor Econômico
Às margens da rodovia Josmar Chaves Pinto, que liga a capital Macapá ao balneário de Fazendinha e ao movimentado porto de Santana, situa-se a sede da superintendência da Codevasf no Estado do Amapá.
Sim, a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco tem uma de suas “filiais” a mais de 3.100 km da nascente do rio, localizada na Serra da Canastra, em Minas Gerais, e 2.600 km distante da sua foz, na divisa entre Alagoas e Sergipe.
Um dos primeiros experimentos brasileiros de desenvolvimento regional, a Codevasf foi concebida na Constituição de 1946 tendo como inspiração a Tennessee Valley Authority, uma das prioridades do New Deal do presidente americano Franklin Delano Roosevelt para levar infraestrutura e fomentar a economia da região mais pobre dos Estados Unidos. A ideia era reproduzir no Nordeste brasileiro a estratégia de, a partir de uma hidrelétrica (a usina de Paulo Afonso, na Bahia), prover energia, irrigação e navegabilidade para uma das áreas mais atrasadas do país na época.
Nascida como Comissão do Vale do São Francisco em 1948, a Codevasf virou estatal em 1974 e desde então vem ampliando os seus domínios geográficos. Se o São Francisco era conhecido nos livros escolares de antigamente como o “rio da integração nacional”, a Codevasf foi agregando novos territórios às suas competências para muito além do seu leito principal e afluentes, movida não pelos propósitos do planejamento regional, mas em função dos interesses políticos.
Em 2000 a Codevasf chegou ao Maranhão e ao Piauí, acrescentando o “Parnaíba” ao seu nome. Em 2009 anexou o Ceará e em 2018 ampliou sua área para o Tocantins e o Pará. A chegada ao Amapá deu-se em 2020, por influência direta do senador Davi Alcolumbre, então presidente do Senado, que voltou ao cargo no fim de semana.
O jurista mineiro Victor Nunes Leal (1914-1985), em seu clássico “Coronelismo, Enxada e Voto”, expõe como as relações de poder se articulam do plano federal às oligarquias municipais. Utilizando dados estatísticos e informações legislativas, trata-se de uma das primeiras obras da ciência política moderna no Brasil, revelando como o sistema eleitoral conecta, pelo voto de uma população carente das necessidades mais básicas, os interesses das elites nacionais com o poder dos líderes políticos locais.
Na visão de Nunes Leal, essas relações eram alimentadas, pelo alto, com a distribuição de recursos do erário, de empregos públicos e de outros tipos de favores, enquanto na base imperavam o filhotismo e o mandonismo – ou seja, a promoção dos vínculos de parentesco e amizade, de um lado, e as perseguições, muitas vezes violentas, aos adversários políticos, de outro.
Publicada em 1948 como fruto de sua tese para ingressar como professor na Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil (atual UFRJ), a obra de Nunes Leal está longe de ser uma reflexão sobre a política brasileira da primeira metade do século XX.
Davi Alcolumbre e Hugo Motta detêm o título de parlamentares mais jovens a ocupar as presidências do Senado e da Câmara, respectivamente. A ascensão de ambos, porém, está diretamente ligada ao velho do coronelismo brasileiro, atualizado a cada geração.
Hugo Motta descende, tanto pelo lado materno quanto paterno, de famílias de políticos que dominam a região de Patos, no sertão da Paraíba, desde o final do século XIX. Já Davi Alcolumbre, embora seja proveniente de um Estado jovem – o Amapá foi território federal de 1943 a 1988 -, não deixa de possuir laços com uma longa tradição oligárquica. O novo presidente do Senado entrou na política tendo como padrinho José Sarney, que foi senador pelo seu Estado de 1991 a 2015 e teve como suplente durante dois mandatos Salomão Alcolumbre, tio de Davi.
As vitórias esmagadoras de Motta e Alcolumbre, com o apoio de praticamente todos os partidos e votos de mais de 85% dos parlamentares de cada Casa, representam a defesa da mais poderosa arma à disposição do coronelismo brasileiro: as emendas parlamentares.
Apesar da pouca idade, Motta ganhou espaço na Câmara ao se aliar a Eduardo Cunha, um dos artífices da imposição ao Executivo da obrigatoriedade de aplicar os recursos segundo a indicação dos parlamentares. Já Davi Alcolumbre, na sua primeira passagem pelo posto mais importante do Senado, foi um dos cocriadores do orçamento secreto no governo Bolsonaro, ao lado de Arthur Lira, padrinho de Motta.
Os muitos milhões de reais destinados a cada deputado e senador via emendas se materializam em obras, tratores, caminhões de lixo e outros equipamentos nos seus redutos eleitorais.
Não é por outro motivo que o rio São Francisco foi desviado até o Amapá. Com regras mais flexíveis de aquisição e contando com a complacência dos órgãos que deveriam fiscalizar seus recursos, a Codevasf tornou-se uma das principais ferramentas para os políticos angariarem o apoio dos velhos e novos coronéis de Norte a Sul do país.
No lugar da enxada, o trator. De resto, com as emendas de Orçamento e estatais como a Codevasf, a conexão entre o coronelismo e o voto está ainda mais forte no Brasil.