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ENCERRADA UMA TRISTE NOVELA DE QUASE 16 ANOS NO DISTRITO DO BELCHIOR. E FOI O TÉCNICO DA DEFESA CIVIL QUE NÃO SERVIA PARA KLEBER QUE RESOLVEU, NO AMBIENTE POLÍTICO, O PROBLEMA PARA O “DELEGADO PREFEITO” PAULO: CABECEIRAS PARA SE TER UMA PEQUENA PONTE

Na terça-feira, uma ação do poder público esperada pela comunidade por quase 16 anos no Belchior Alto, Distrito do Belchior, concretizou-se em algo muito simples: a colocação de quatro vigas (que chamaram impressionantemente de entrega do kit de transposição) da ponte da Rua Celso Theiss (a do Clube de Bocha) sob o ribeirão Belchior, sucessivamente levada pelas enxurradas e agravada por um desassoreamento mal autorizado no passado. Quem deu conta do recado em algo tão necessário e simples? Mário Hildebrandt, PL, ex-prefeito de Blumenau, e hoje vestido de secretário dede Defesa Civil e Proteção e de pré-candidato a deputado Federal.

E o que faltava para que isso acontecesse? Que a prefeitura de Gaspar fizesse duas cabeceiras de concreto para receber o tal kit. Ele inclui as quatro vigas de transposição, o pavimento e os guarda corpos. Esta era a condição dada pela Defesa Civil estadual ao município de Gaspar no processo de 23 de junho de 2022, ao tempo em que o secretário de Defesa Civil estadual era David Busarello. Ou seja, nada referente a última enxurrada deste ano como ensaiaram os políticos, mal assessorados ou intencionalmente mal informados, nas falas jogral suas redes sociais. Aliás, eles falaram em enchentes… Não é o caso de lá.

De verdade? A agonia do povo daquela parte do Belchior Alto (e não de toda a região, como se propagou) começou em 2009. De lá para cá, várias quedas, improvisos, interdições, discursos, culpados, promessas, promessas e mais promessas, até a decisão de 2022 (o processo é o DC 2363/2022). E de lá para cá, quase três anos para fazer duas simples e baratas cabeceiras de concreto, que ilustra a abertura do artigo? Ufa! Resolvido em dias, apesar do atual governo já ter cem dias.  Credo! Esta é a Gaspar que lava a minha alma e que os políticos, nossos heróis sem causas, detestam vê-los retratados aqui onde seus personagens são protagonistas de enredos da enganação, dos equívocos, da propaganda em tempo de redes sociais e do atraso.

A SOLUÇÃO

E quem foi atrás das duas cabeceiras dentro da prefeitura com a secretaria de Planejamento Territorial e principalmente a secretaria de Obras e Serviços Urbanos, depois que recebeu o aval do “delegado prefeito” Paulo Norberto Koerich, PL? Um técnico. O sargento do Corpo Bombeiro Militar, Rafael de Araújo Freitas, licenciado das suas funções na corporação para ser o Superintendente de Defesa Civil em Gaspar, que nem nas fotos apareceu nas fotos que os políticos e autoridades, amontoados, fizeram por lá. Rafael fez bem. Vai que os políticos encontrem na eficiência técnica dele problemas ao marasmo dos políticos e gestores públicos…

Não é a primeira vez que Rafael ocupa esta função em Gaspar. Em janeiro 2017 ele foi escolhido por Kleber Edson Wan Dall, MDB, mas de verdade só foi nomeado em abril após superar entraves de ordem burocráticas – entre os dois empregos públicos – supostamente conflitantes e que precisaram do aval da Câmara de Vereadores. Já era um sinal e prenúncio de que os políticos não gostam de técnicos neste ambiente de gestão, mesmo que seja para emergência. 

Em dezembro 2018, depois de estruturar minimamente o órgão, que nem tinha régua para medição oficial das enchentes aqui no Centro do Rio Itajaí Açú – mesmo estando ao lado de duas cidades exemplos em Defesa Civil com o Brusque e Blumenau -, Rafael sempre boicotado pelo governo Kleber, o superintendente da Defesa Civil pediu o boné e o então cabo foi cuidar da sua carreira militar.

Não vou escrever no que se tornou a Defesa Civil de Gaspar, praticamente tomada de curiosos e local de empregos para arranjos políticos, fora da abrangência da sua autoridade e da técnica, ao tempo da gestão de Kleber com Luiz Carlos Spengler Filho, PP e Marcelo de Souza Brick, PP. Em decorrência desta distorção, agora, por exemplo, ela está enrolada em órgãos ambientais e até no Ministério Público, por se meter em dar aprovações para os amigos do poder de plantão em loteamentos, empreendimentos de terraplanagem e extração de terras, não licenciadas no IMA, ou órgãos de mineração. Falsamente, embrulhou tudo como emergência fossem.

A FESTA DOS POLÍTICOS E NÃO O PODER DA COMUNIDADE

Vou ressaltar a cara de pau dos políticos.

Durante mais de uma década, e eleições afio, os políticos usaram este pequeno problema comunitário provocado pela natureza violenta lá do Belchior Alto como uma relíquia para apoio e caça aos votos dos líderes e moradores de lá. Até viagens inúteis, como se provou agora, foram feitas para Florianópolis levando moradores de lá e com dinheiro do povo. E por quê? O problema não estava crucialmente em Florianópolis ou na Defesa Civil do estado. Estava aqui em Gaspar: a prefeitura não fazia a sua parte no que acordou ou que era exigido de contrapartida e naquilo que é praticamente feito on-line. 

Era a política, os políticos e principalmente a burocracia contra a cidade, cidadãos e cidadãs. Tanto que agora, pela mesma iniciativa do novo gestor, vão sair mais três pequenas pontes derrubadas por enxurradas no mesmo esquema da Defesa Civil estadual: uma no Arraial do Ouro e duas no Gaspar Alto. Quem ganha? As comunidades e os políticos que podem reverter isso como solucionadores.

Retomando. 

E os políticos estavam lá no Belchior Alto, na terça-feira de tarde de chuva, na maior cara de pau, misturados à população, fotografando-se, sendo filmados por assessores pagos pelo povo, usando carros oficiais de luxo e ocupando as redes sociais, tirando lasquinhas como se pais da criança fossem e ofuscando o brilho de quem fez a pequena obra acontecer de verdade.

Ah, mas o prefeito não tem mérito nisso tudo? Como escrevi acima, se o “delegado prefeito” Paulo não tivesse autorizado o titular da Defesa Civil ir atrás do que já estava encaminhado, com solução engatilhada na burocracia, nada teria acontecido. Foi isso que aconteceu ao tempo de Kleber e Zuchi.

O que eu quero ressaltar?

A diferença a escolha do “delegado prefeito” feita para dar soluções aos simples e adiados problemas como este, bem como aos outros mais graves da cidade (saúde, planejamento territorial, obras e serviços urbanos). Escolheu um jovem, ao mesmo tempo técnico, aparentemente sem pretensões políticas eletivas. Mas, esta é uma exceção no governo dele. A outra, exceção, claramente, está na Educação. E por isso, o “delegado prefeito” que tem que disputar as luzes da ribalta com o vice-prefeito Rodrigo Boeing Althoff, PL. E por fazer isso, patina, está envolto em fofocas e disputas, insiste em ser delegado e não prefeito, ou fica exposto como na Câmara com uma bancada que se fez por ela mesma menor, dividiu-se, está sem liderança e mais do que isso, está cheia de vaidades. Chegará um dia, que o “delegado prefeito” terá que governar e confiar no MDB, PP e PSD. Muda, Gaspar!

TRAPICHE

Para que servem normalmente os entes estatais: para serem aparelhados, serem ineficientes e atrasar a vida das pessoas, quando no fundo, são criados, exatamente para melhorar o ambiente competitivo e de proteção do cidadão. O ex-prefeito de Gaspar de três mandatos (2001/04, 2009/12 e 2013/16) e derrotado em 2004 e agora no ano passado, Pedro Celso Zuchi, PT, 72 anos, acaba de ser nomeado Diretor Geral de Administração e Finanças do Porto de Itajaí. O porto daqui agora um apêndice do Porto de Santos. 

Quem tem padrinho, não morre pagão, diz o ditado popular. Pedro Celso Zuchi, PT, foi indicado pelo itajaiense, ex-prefeito de Blumenau e Deputado Federal, hoje presidente do Sebrae Nacional, Décio Nery de Lima, marido da deputada Federal Ana Paula. Zuchi assumiu com uma penca de outros diretores e superintendentes a burocracia gestora do porto de Itajaí. Uau!

Não vou tratar nada, nadinha de nada sobre as condições e capacidades de Pedro Celso Zuchi, PT, para a função. Afinal, ele não é nenhum neófito no que tange à gestão e até porque, tem nas costas os três mandatos de prefeito (12 anos) que retiram qualquer dúvida sobre a impossibilidade de ele ser indicado para esta diretoria, mesmo que seja ela, puramente, de ocupação político-partidária entre os companheiros. Além disso, uma equipe técnica azeitada é capaz de suprir qualquer deficiência do indicado.

Mas, vou comparar o Porto de Itajaí com a produtividade, eficiência e atualização tecnológica do porto de Navegantes que fica do outro lado do Rio do Itajaí Açú. Navegantes parou algum dia? Perdeu clientes? Desempregou, mesmo que fossem os temporários? O município de Navegantes deixou de receber impostos por estes tipos de intercorrências? A diretoria e burocracia do porto de Navegantes é tão inchada e cara quanto a do porto de Itajaí? O Porto de Itajaí teve o primeiro terminal privado do Brasil, o da Braskarne (Ceval, de Gaspar, para exportação de congelados da Seara prioritariamente). Quando isso aconteceu nos anos 1990, os sindicatos, os petistas e a esquerda do atraso foram protestar fechando a entrada e saída de navios na Barra do Rio e tentaram armar uma greve nacional. Então Itajaí sabe o que está comemorando.

A língua é o chicote do dono. Sabe quanto custou o aluguel de 20 dias daquela decoração de Páscoa, com dez peças temáticas, defronte a prefeitura de Gaspar? R$58,5 mil, sem licitação, uma prática corretamente condenada pelos atuais mandatários contra o antigo governo e que se tornou algo meio comum aos que estão hoje no comando da prefeitura. 

Então perguntar também não ofende, numa prefeitura que faz discursos para a população de que está quebrada, este dinheiro da decoração pascoalina não deveria estar prioritariamente na roçação, bem como melhoria no atendimento dos postinhos de saúde, na secretaria de Obras e Serviços Urbanos, bem como em projetos para buscar emendas e recursos no Estado e em Brasília entre tantas outras prioridades neste suposto cenário de crise?

Manchete do “Informe Blumenau” sobre os primeiros 100 dias de Governo do delegado e ex-deputado estadual, Egídio Maciel Ferrari, PL, como prefeito de Blumenau: “Feijão com arroz”. E por aqui? Nem isso. Diante da falta de planejamento, transparência, resultados, aliada à brigaçada de vaidades da sua própria base (PL e União Brasil) que deixou mais exposto o “delegado prefeito” Paulo Norberto Koerich, PL, só casca de chuchu em água sem sal. Não é um governo de ruptura. É um governo de continuidade daquilo que não funcionava e prometeu não ser assim, inclusive nas vinganças. Por enquanto, possui o DNA próprio.

Constatação. Numa semana o vereador Carlos Eduardo Schmidt Sobrinho, PL, chama alguns servidores públicos municipais de tranqueiras e vadios. Pressionado, desculpa-se, mas nem tanto. Diz que foi mal entendido e reafirma que eles – os tranqueiras e vadios existem. Na segunda-feira, em pleno horário de trabalho, ele e seu padrinho político, o vice-prefeito Rodrigo Boeing Althoff, PL, são vistos, fotografados e filmados fazendo dancinhas funcionais no Distrito do Belchior.

Chamando para dançar I. Na segunda-feira, o governo de Gaspar transferiu-se, simbolicamente, para a sociedade Harmonia. Foi para comemorar os nove anos da criação do Distrito do Belchior, ao tempo do governo de Pedro Celso Zuchi, PT. No governo Kleber Edson Wan Dall, MDB, com apoio e voto da vereadora do Distrito, a ex-campeã de votos, Franciele Daiane Back, MDB, a Superintendência se tornou um apêndice e mendiga sem Orçamento próprio. A autonomia e Orçamento foram tirados e repassados para tampar o buraco das necessidades da secretaria de Obras e Serviços Urbanos. E com isso, atender outras necessidades por outros cantos de Gaspar.

Chamando para dançar II. O que faltou de verdade a um governo que foi eleito como mudança? Decisão e orientação. Paulo Norberto Koerich, PL, teria marcado um gol de placa e se diferenciado do governo anterior, se no Clube Harmonia, diante da comunidade, na primeira palavra do seu discurso tivesse dito, que estava assinando e encaminhando à Câmara, a volta da autonomia e do Orçamento do Distrito. Não fez. E por que? Está e continua mal orientado estrategicamente e por gente do governo anterior.

Como funciona I. A notícia desta semana é de Blumenau: “durante o jantar anual da Associação dos Amigos do Hospital Santa Isabel”, o hospital de lá recebeu R$12 milhões do governo de Jorginho Melo, PL. E não foi para tampar buracos ou pagar dívidas. Foi para melhorar o que já é referência nacional e internacional. E Gaspar? Está chorando por seu hospital. Por que? Não há transparência, não há plano de recuperação, liderança para conduzir este assunto. Tudo tão continua antigo e se deteriorando. 

Como funciona II. Nem os números da dívida que se disse ser de R$44 milhões, afora outros R$45 milhões necessários por ano para se manter vivo o Hospital de Gaspar nem ao menos são confiáveis. Há quem jura serem esses números do Hospital, porque lida com eles há tempos, mas obrigado a ficar quieto, serem superiores a R$60 milhões. Quem vai encher o pires se não há números e planos públicos e confiáveis?

Como funciona III. Cem dias de governo e nenhuma prestação de contas públicas do Hospital de Gaspar, apesar do “novo” interventor nomeado. Então, quem vai ajudá-lo a sair desta enrascada de vários governos e piorado no de Kleber Edson Wan Dall, MDB? Em Blumenau, o Hospital Santa Isabel, como o Santo Antônio, além de mecanismos estatutários para não serem aparelhados por políticos, possuem uma “Associação de Amigos”. Eles, influenciadores na comunidade, correm o pires na cidade aos que podem ajudá-lo, possuem caminhos abertos em gabinetes de políticos, e aos que já foram ajudados pelo Hospital e possuem gratidão. 

Com funciona IV. Já aqui, não há essas duas vias com a comunidade. E pior. Como uma entidade filantrópica que é, o Hospital de Gaspar está sujeito a uma auditoria externa. Onde ela está auditoria? Quando houve a marota intervenção municipal no governo de Pedro Celso Zuchi, PT, o compromisso firmado para isso, foi a permanente mensal prestação de contas com a comunidade. Ela foi pactuada com o Ministério Público? Onde está ela? Ambos em silêncio e contra a cidade, cidadãos, cidadãs e o futuro de um Hospital vital e forte para a comunidade. Muda, Gaspar!

O Conselho Tutelar de Gaspar, está novamente, com quatro dos cinco conselheiros que obrigação manda ter para ele funcionar a pleno. Ninguém quer a vaga. E nem o Ministério Público e nem o Conselho Municipal dos Direitos da Adolescência querem se meter, aparentemente, este vespeiro. A secretaria de Assistência Social, assiste.

Uma possibilidade. O ex-candidato a prefeito de Gaspar, Oberdan Barni, Republicanos, está cada vez mais próximo ao governo de Paulo Norberto Koerich, PL. A outra é uma observação do ex-candidato a prefeito de Gaspar, Ednei de Souza, do Novo: o segundo gabinete que o vice-prefeito Rodrigo Boeing Althoff, PL, visitou em Brasília, foi da deputada Federal, Ana Paula Lima, PT. Sintomático. Muda, Gaspar!

Credo. O sumiço das caras vacinas contra o HPV do estoque da secretaria de Saúde de Gaspar ganhou a mídia. Mas, só depois que foi publicado aqui. Entenderam a importância deste espaço? É que esta informação não era exclusiva deste blog e já rodava por dias nas redações. Elas fingiram não a tê-la, com medo de retaliações do governo. Transparência zero. Credo. Quando esse comportamento de quem tem culpa no cartório vai mudar?

Uma parte da cabeceira da ponte da Sociedade Alvorada sobre o Ribeirão Gaspar Alto, na Rua Itajaí, já está cedendo. E faz tempo.

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13 comentários em “ENCERRADA UMA TRISTE NOVELA DE QUASE 16 ANOS NO DISTRITO DO BELCHIOR. E FOI O TÉCNICO DA DEFESA CIVIL QUE NÃO SERVIA PARA KLEBER QUE RESOLVEU, NO AMBIENTE POLÍTICO, O PROBLEMA PARA O “DELEGADO PREFEITO” PAULO: CABECEIRAS PARA SE TER UMA PEQUENA PONTE”

  1. TETO CONSTITUCIONALEM RUÍNAS, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

    Após pressões de organizações da sociedade civil, o Congresso Nacional, enfim, pausou a genuflexão que tradicionalmente presta ao poderoso e eficiente lobby dos beneficiários dos “supersalários” no funcionalismo público e decidiu enfrentar o problema. Mas o fez da pior maneira possível. Proposto em 2021, o Projeto de Lei (PL) 2.721, que tinha como objetivo original “identificar as parcelas não sujeitas ao limite remuneratório” – ou seja, definir o que, de fato, merecia a classificação de “verbas indenizatórias”, artimanha que engorda os holerites de uma casta de privilegiados em muitos milhares de reais – criou tantas exceções que, na prática, caminhou na direção diametralmente oposta: ao invés de reduzir o gasto público com o salário de servidores, amplia-o em inacreditáveis R$ 3,4 bilhões.

    O valor foi calculado pelo Movimento Pessoas à Frente, organização independente que se dedica a estudar o setor público. Trazendo para a realidade cotidiana o que os “supersalários” representam de atraso para o Brasil, a diretora-executiva dessa organização, Jessika Moreira, disse ao Estadão uma verdade tão singela quanto incontestável: “O recurso que sai (do Orçamento) para pagamento desses auxílios sai do mesmo cofre do pagamento das principais políticas públicas”. Ou seja, quanto mais dinheiro vai para o pagamento de “supersalários” para a elite do funcionalismo público, menos sobra, evidentemente, para o custeio de ações do Estado que são determinantes para a vida e o bem-estar da maioria dos brasileiros. É tão simples quanto isso.

    No Brasil, há poucas subversões tão grosseiras do ideal republicano quanto o pagamento desses “supersalários” para uma casta de servidores. A bem da verdade, “supersalário” descreve até com certa brandura o que é uma rematada afronta à moralidade pública e à Constituição, que define como teto remuneratório do serviço público o salário de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) – hoje fixado em R$ 46,3 mil.

    Ao que tudo indica, porém, o inciso XI do artigo 37 da Constituição é letra morta neste país onde há leis que “pegam” ou “não pegam”. Dia sim e outro também, o contribuinte é humilhado ao tomar conhecimento de servidores, em sua grande maioria do Poder Judiciário e do Ministério Público, que recebem, quase todos os meses, valores muito acima do que estariam autorizados a receber caso fosse respeitado o teto constitucional. Ao fim e ao cabo, é disto que se trata: de uma desabrida violação da Constituição.

    Isso acontece porque os privilegiados engendram toda sorte de ardis para receber valores extrateto à guisa de “indenização” – e sobre os quais, para piorar, não incide o mesmo Imposto de Renda que é pago pelos reles mortais. Em muitos casos aprovadas administrativamente, vale dizer, pelas instâncias de representação dos interesses classistas e/ou funcionais dos próprios servidores, as chamadas “verbas indenizatórias”, que, a rigor, deveriam ser pontuais e destinadas ao ressarcimento do servidor por despesas feitas no exercício do serviço público, passam ao largo de qualquer controle ou limitação e, na prática, acabam incorporadas a seus vencimentos.

    Da forma como o PL 2.721/2021 tem sido tratado pelo Congresso, tudo leva a crer que as “mudanças”, por assim dizer, nos critérios de seleção das prebendas que devem ou não estar sob o teto remuneratório não se prestam a outra coisa senão a manter tudo rigorosamente como está.

    Se deputados e senadores realmente desejam enfrentar o problema dos “supersalários”, só há um caminho possível: rever o PL 2.721/2021 de forma a reconduzi-lo ao seu espírito original, com regras claras e rigorosas que limitem, de fato, os vencimentos dos servidores ao teto constitucional. Qualquer medida em sentido contrário será vista pela sociedade, com razão, como uma vitória da esperteza sobre a moralidade, do privilégio sobre o interesse público e da omissão sobre a responsabilidade do Parlamento.

  2. A LÓGICA DA INSENSATEZ, por Carlos Alberto Sardenberg, no jornal O Globo

    Os Estados Unidos são o principal destino das exportações chinesas, mas essa participação vem diminuindo nos últimos anos. Em 2018, o país recebeu cerca de 20% das vendas externas da China. Hoje, esse valor caiu para 14%. No sentido contrário, algo como 7% das importações chinesas tem como origem os Estados Unidos.

    Portanto o impacto das tarifas é maior para os Estados Unidos. Olhando só os números, parece que não seria muito difícil para os americanos substituir as compras chinesas por produtos fabricados nos Estados Unidos, como é o propósito declarado de Donald Trump. Basta, entretanto, olhar alguns casos para verificar como essa substituição é praticamente impossível.

    Nada menos que 80% dos iPhones são montados na China. Desde o primeiro governo Trump, a Apple tem procurado diversificar suas fontes de suprimento. A Índia foi uma boa escolha. Nas últimas semanas, aviões carregados de celulares têm partido de aeroportos indianos. Mas foram vários anos para tirar da China uma pequena parte da produção. E tudo continuou no sistema de insumos da Ásia.

    E se a Apple quisesse levar a produção para os Estados Unidos? Seriam necessários três anos, ao custo de US$ 30 bilhões, para transferir da Ásia a inexpressiva fatia de 10% de sua cadeia de suprimentos — tal é o cálculo do banco de investimento Wedbush, citado em reportagem publicada ontem no Valor Econômico.

    Considerem agora outro produto essencial: travesseiros. Uma busca na internet mostra que hoje se compra um travesseiro de alto luxo por US$ 100, produzido pela Moso, uma empresa de Denver. O travesseiro é feito com fibras de bambu chinês. Em reportagem do New York Times, o fundador da empresa, Travis Luther, explicou como seria levar toda a produção para os Estados Unidos.

    Primeiro, teria de plantar o bambu e esperar alguns anos até que a planta crescesse. Aí entraria o processo de produção das fibras e, finalmente, o travesseiro. Para uma operação menor, o custo seria de pelo menos US$ 6 milhões. Enquanto isso, ou a companhia deixaria de vender seus travesseiros ou continuaria a importar insumos da China, pagando a tarifa de 145% e vendendo o produto nos Estados Unidos por mais de US$ 200, no mínimo o dobro do valor atual.

    Logo, não há alternativa para a empresa a não ser negociar com os fornecedores chineses como baratear as fibras e desenvolver novos produtos. Mesma situação da Apple. E de milhares de outras empresas. Eis por que subiu a inflação esperada pelos americanos. Alguns estudos apontam que ela pode ir rapidamente para 4% ao ano, o dobro da meta e bem acima dos atuais 2,4%. Especula-se também sobre a possibilidade de recessão. Isso mesmo, recessão com inflação.

    Se um iPhone salta de US$ 1 mil para mais de US$ 2 mil; se um travesseiro vai de US$ 100 a mais de US$ 200, menos consumidores poderão comprá-los. Se cai o consumo, cai a produção, isso num ambiente de aumento de custos para as empresas. Até aqui, estamos considerando apenas as tarifas aplicadas aos produtos chineses. Se forem estendidas aos demais países, o desastre toma proporções inéditas.

    Nessa expectativa, cai o valor das empresas nas Bolsas de Nova York. A imprensa destacou nos últimos dias a pesada perda patrimonial dos donos das grandes companhias. Mas a coisa bate na classe média. As famílias americanas guardam a maior parte de sua poupança em ações. Estima-se que 60% dos americanos adultos, algo como 160 milhões de pessoas, tenham investimento no mercado de ações, diretamente ou por meio de fundos e planos de aposentadoria.

    Aí o desastre está completo. As famílias comprarão produtos mais caros, terão menos empregos e ainda perderão parte de sua poupança. Tudo isso acontecendo na maior economia do mundo. Daí o pânico dos mercados — expressão usada por jornais americanos para descrever situações inéditas. Entre elas, o movimento de vendas dos títulos do governo americano, até aqui considerados o porto seguro dos investidores do mundo inteiro.

    É o custo da insensatez e da consequente perda de credibilidade. Não há como encontrar lógica no governo Trump.

  3. De um lado um esperto. Do outro, uma imensidão de trouxas. No meio, agora, alguns injustiçados na dosimetria servindo de carniça para quem os levou ao cadafalso

    O NEGÓCIO DA ANISTIA, por Carlos Andreazza, no jornal O Estado de S. Paulo

    A anistia está para negócio. Com Bolsonaro, por ora, sobrando. Ele já sacou o que vai em curso. É sujeito transparente. Só aceita a anistia “ampla, geral e irrestrita”. Anistia para si, pois. Os casos de Débora e de outros condenados a sanções desproporcionais lhe servindo de escada à própria impunidade. Já não lhe servem mais. Não exclusivamente. Bandeira doravante disputada.

    Bolsonaro sacou que a escada agora é outra: a própria anistia. Escada àquilo – o justo – que não quer de jeito algum: a redução das penas dos agentes depredadores do 8 de Janeiro. Acomodação – com o Supremo, com tudo – que não o contemplaria. (Não com vistas a 2026.)

    A negociação, liderada pelo presidente da Câmara, está deflagrada – e é a isso que Bolsonaro reage. O discurso é autoexplicativo: “Agora, tivemos um ponto de inflexão. Enchendo a bola da minha esposa aqui, que falou muito bem na Paulista, dirigindo-se ao ministro Fux. Ali, no meu entender, foi uma fissura que apareceu. Um outro lado que parecia impossível. A modulação não nos interessa. Redução de penas não nos interessa. O que nos interessa, sim, é anistia ampla, geral e irrestrita”.

    Acione-se a tecla de tradução do blá-blá-blá: “Não estou instrumentalizando o flagelo desses sorveteiros-pipoqueiros, gastando meus domingos em manifestações, para ficar de fora do arranjo”.

    O arranjo foi encaminhado. Não há fissura. Um suposto racha no tribunal sendo mera expressão do desejo de Bolsonaro. Xandão não deixa. Não está autorizada a divergência na Corte constitucional – para que não se arrisque a unidade da bancada. Ponto de inflexão, sim. Arma-se um acordo: em vez do perdão geral, o ajuste da dosimetria conforme os crimes cometidos.

    A intervenção de Fux ensejou as tratativas entre STF, Parlamento e governo. Pela “modulação” que não interessa a Bolsonaro; que perdeu o controle da manipulação da injustiça encarnada em Débora. A inflexão de Fux abrindo terreno ao esvaziamento da carga pela anistia, em troca da revisão de penas. Tem jogo.

    Gleisi Hoffmann, articuladora política de Lula, lê os ventos e já disse que toparia discutir a possibilidade, desde que os líderes do movimento golpista – Bolsonaro e seus helenos – não fossem perdoados. Recuaria mais tarde. Recado dado: a bola – para reduzir as punições – está com o Supremo e não haveria grandes resistências.

    Teatro dos tarcísios à parte, também a direita – boa parte dos governadores que lhe sobem aos palanques – projeta um porvir sem o ex-presidente na urnas. Ninguém morrerá abraçado à causa impopular – a da anistia – percebida como fachada a agenda egoística, em prol de Bolsonaro, o inelegível. A inelegibilidade do cara dá mais futuro à turma, hoje oposição engessada, que perde tempo em pauta descolada das aflições do povo, que não explora politicamente nem a violência nem a inflação, enquanto Lula, grato, reorganiza-se.

  4. O tradicional e centenário (1875) o então republicano com viés liberal jornal O Estado de S. Paulo, não pode e nunca foi de esquerda, Lula ou PT. Este editorial é para os prefeitos bolsonaristas, principalmente o de Gaspar ler. Há um mundo de prioridades para a cidade e sua gente que está longe da ideologia e do mimi de vinganças, má articulação política e gerencial (principalmente), de reclamações sobre o passado, que deveria ser colocado às claras (inclusive na polícia e meios de inquirição) paralelamente e não é (estão armando uma CPI espetáculo para inocentar quem dizem ser culpado). Esse mimi e passado são usados como cadáver para se ter desculpas esfarrapadas ao necessário ao que não se faz. Como no texto abaixo, Gaspar precisa mudar para só então avançar

    BOLSONARO ATRAPALHA O BRASIL, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

    Jair Bolsonaro – aquele que é, segundo seus bajuladores, o “grande líder da direita no Brasil”, timoneiro do PL, o maior partido da Câmara – não tem nada a dizer sobre a profunda crise mundial deflagrada pelo presidente dos EUA, Donald Trump. Nada. Seu único assunto é a tal de “anistia” para os golpistas do 8 de Janeiro – e, por extensão, para si mesmo. Enquanto o mundo derrete em meio à escabrosa confusão criada por Trump, aliás ídolo de Bolsonaro, o ex-presidente mobiliza forças políticas para encontrar meios de driblar a lei e a Constituição e livrar da cadeia os que conspiraram para destruir a democracia depois das eleições de 2022, sob sua liderança e inspiração.

    Admita-se que talvez seja melhor mesmo que Bolsonaro não dê palpite sobre o que está acontecendo, em primeiro lugar porque ele não saberia o que dizer nem o que propor quando o assunto é relações internacionais. Recorde-se que, em sua vergonhosa passagem como chefe de Estado em encontros no exterior, ele só conseguia falar com os garçons. Mas o ex-presidente poderia, neste momento de graves incertezas, ao menos mostrar algum interesse pelo destino do país que ele diz estar “acima de tudo”. No entanto, como sabemos todos os que acompanhamos sua trajetória política desde os tempos em que era sindicalista militar, o Brasil nunca foi sua prioridade.

    Mas o Brasil deveria ser prioridade de todos os demais. O tema da “anistia” não deveria nem sequer ser discutido por gente séria frente não só às turbulências globais do momento, mas a problemas brasileiros incontornáveis que afligem de fato a população – como a inflação, a violência, a saúde pública, os desafios educacionais, os caminhos para assegurar desenvolvimento em bases sustentáveis ou os efeitos das mudanças climáticas sobre a vida nas florestas e nas cidades.

    Infelizmente, num Congresso que se mobiliza de verdade quase sempre apenas para assegurar verbas e cargos, Bolsonaro está em seu meio. Parece intuir que a liderança que exerce sobre sua numerosa base popular basta para submeter os políticos pusilânimes a seus caprichos pessoais, e é por isso que o ex-presidente dobrou a aposta, lançando repto às instituições, reafirmando-se como candidato à Presidência – apesar de sua inelegibilidade – e convocando os potenciais herdeiros políticos a se tornarem cúmplices de seus ataques à democracia.

    Bolsonaro está a todo vapor: além de mobilizar parlamentares da oposição e fazer atos públicos e declarações quase diárias sobre o tema, reuniu-se fora da agenda oficial com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), para pressioná-lo a colocar em votação a tal “anistia”. Embora esteja resistindo, o presidente da Câmara iniciou conversas com integrantes do governo e do Supremo Tribunal Federal (STF), pregando uma solução negociada entre os Poderes para reduzir a pena dos condenados pelo 8 de Janeiro com o objetivo de “pacificar” o País. Como demonstra não se preocupar de fato com a massa de vândalos do 8 de Janeiro e sim com a própria absolvição, Bolsonaro chegou a minimizar a importância de uma eventual revisão da dosimetria pelo STF. Disse que só lhe interessa a “anistia ampla, geral e irrestrita” – obviamente uma piada de mau gosto.

    Já que a maioria dos brasileiros é contra a anistia, segundo recentes pesquisas, as patranhas do ex-presidente seriam apenas irrelevantes caso se resumissem a ele e ao clã Bolsonaro. Mas é perturbador observar que algumas das principais autoridades do Brasil estão realmente se dedicando ao tema. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, por exemplo, encontrou tempo em sua decerto atarefada rotina para ligar pessoalmente a todos os deputados do seu partido com o objetivo de convencê-los a assinar o requerimento de urgência para o projeto de anistia, como se isso fosse de fato relevante para os paulistas.

    Não é. Se Bolsonaro for condenado e preso, e se os golpistas forem todos punidos, rigorosamente nada vai mudar no País. No entanto, se as forças políticas do Brasil não se mobilizarem rapidamente para enfrentar o novo e turbulento mundo que acaba de surgir, aí, sim, os brasileiros sofreremos todos. Está na hora de deixar a Justiça cuidar de Bolsonaro e seguir adiante. O Brasil tem mais o que fazer.

  5. REVOLUÇÃO TRAZIDA PELO AGRONEGÓCIO SE TORNOU MAIOR INIMIGO DO MST, editorial do jornal Folha de S. Paulo

    O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) costuma marcar com invasões o mês de abril, em memória dos 21 militantes do movimento mortos em choque com a polícia no município de Eldorado dos Carajás (PA) em 1996. Neste ano, quando o MST completa 40 anos, o Abril Vermelho começou com a ocupação de 11 propriedades em cinco estados: Minas Gerais, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e São Paulo. Depois das invasões, o governo costuma se pronunciar defendendo a negociação entre as partes, os proprietários acionam a Justiça, a polícia é mobilizada, as áreas são evacuadas ou se instala um acampamento para posterior solução. Desde que o PT assumiu o governo, o ciclo se repete, numa tentativa do MST de pressionar seus aliados no poder por concessões. A repercussão tem sido cada vez menor.

    O principal motivo é que a retórica do MST ficou datada. Perdeu o sentido para os próprios partidos de esquerda. Com o avanço do agronegócio e da agropecuária moderna, a defesa do modelo de agricultura familiar, o combate ao “latifúndio improdutivo” e o discurso inspirado nos anos 1950 e 1960 parecem tão atuais quanto os telefones de baquelite ou os mimeógrafos a álcool. Novas tecnologias difundidas no campo, como espécies adaptadas ao solo brasileiro, trouxeram um salto de produtividade às grandes propriedades rurais, criando dificuldades intransponíveis a um movimento que ainda defende o modelo agrícola baseado no pequeno produtor.

    Ao mesmo tempo, os assentamentos rurais promovidos por sucessivos governos foram reduzindo a população que poderia se seduzir pelo MST. Nos anos 1990, o movimento já se via obrigado a atrair adeptos na periferia das cidades. No governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), 69,2 mil famílias foram assentadas. Em 2003 e 2004, no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foram 40,6 mil. Em 2007 e 2008, no segundo, 40,5 mil. Mesmo a gestão Jair Bolsonaro, distante da causa agrária, distribuiu propriedades a 4,3 mil famílias. Em 2023 e 2024, nos dois primeiros anos do atual governo Lula, mais 25,8 mil foram assentadas. A tendência de queda mostra que já houve mais procura por terra.

    É certo que ainda há espaço para pequenos e médios produtores, sobretudo no abastecimento às cidades. Outro exemplo é a rede de pequenos criadores de suínos e aves desenvolvida no Sul, para fornecer a grandes frigoríficos. Mas também aí há alta tecnologia envolvida, com garantia de uniformidade genética e alto padrão de qualidade para carnes e embutidos. Ainda no Rio Grande do Sul, com apoio de crédito e agrônomos, pequenas propriedades produzem arroz orgânico, cuja área plantada não chega a 0,6% do total no estado. Essa talvez continue a ser a principal vitrine do MST. Mas nenhum ideólogo revolucionário do século passado imaginaria que grandes, pequenos e médios proprietários conviveriam de forma integrada, alimentando cadeias agroindustriais competitivas e rentáveis.

  6. O ESTARDALHAÇO QUE MOBILIZA, por Vera Magalhães, no jornal O Globo

    Enquanto o governo Lula abre a caixa de ferramentas de políticas públicas e lança uma nova campanha publicitária, tudo para tentar estancar a sua queda de popularidade, o espetáculo promovido por Donald Trump e o showzinho de Jair Bolsonaro para pressionar pela anistia aos condenados do 8 de Janeiro são os assuntos que mais mobilizam a imprensa e as instituições aqui e no mundo.

    Em outras palavras: nos tempos atuais, é o espalhafato, o estardalhaço que gera engajamento e, muitas vezes, continua vencendo eleições, a despeito das evidências de quanto essa maneira de fazer política é deletéria para a democracia e para a economia.

    Como sair da armadilha e retomar algum grau de previsibilidade em governos e relações entre países é uma pergunta cada vez mais difícil de responder de forma taxativa e aceita pela maioria de populações cada vez mais divididas e intolerantes.

    Não há ganhadores com a destruição que Trump promove em ritmo alucinante nos Estados Unidos. Aqueles que o elegeram colherão em igual medida dos que votaram em Kamala Harris os efeitos de suas arbitrariedades em rigorosamente todas as frentes em que um governo pode atuar.

    Sobretudo no bolso, uma vez que, caso ele em algum momento resolva realmente implementar sua guerra tarifária nos moldes que anunciou, o céu é o limite para a inflação, e haverá uma reconfiguração completa no próprio modo de vida do americano médio — a prova disso são os vídeos mostrando a correria por compras de tudo que ninguém de fato precisa, só pelo medo do preço a que chegarão amanhã ou depois.

    Como já tinha acontecido em Trump 1, os jornais, as TVs, as revistas, os portais, todo o ecossistema informativo não só dos Estados Unidos, mas dos quatro cantos do mundo, estão com seus recursos mobilizados para tentar explicar o que muitas vezes não tem lógica nem explicação razoável.

    O frenesi vem depois de uma modorra de quatro anos do governo Biden, em que jornais tiveram de apostar em toda sorte de produtos não jornalísticos e nem assim obtinham os números de audiência que alcançaram durante o primeiro mandato do republicano, nem de longe tão imprevisível quanto o atual. A normalidade não vende, não gera clique, não engaja.

    Por aqui, a comparação entre o esforço de Lula para voltar à crista da onda pelas vias normais e o furdunço que Bolsonaro provoca mesmo às raias da condenação é nossa comprovação de que a barulheira egoica de líderes populistas ainda atrai as atenções de quem deveria se ocupar de outros assuntos, de jornalistas a deputados.

    Hugo Motta engrossou a voz e disse que não via prioridade no projeto que propõe anistia aos condenados do 8 de Janeiro, que é, todo mundo sabe, apenas um cavalo de Troia para o perdão que realmente interessa a Bolsonaro: o dele próprio, lá na frente, e quem sabe de alguns dos que arrastou para a micareta golpista que tentou patrocinar.

    Mal sabia o presidente da Câmara que sua vida se transformaria num inferno e que não teria um dia de paz, porque o ex-presidente colocaria a máquina do PL e se empenharia pessoalmente em lembrar a ele todos os dias as conversas que teve para obter o apoio do partido a sua eleição para o lugar de Arthur Lira.

    Tudo indica que, com todo esse barulho, a tal anistia, caso passe, será brecada pelo Supremo Tribunal Federal. Ainda assim, o Legislativo para tudo que está fazendo, e todo mundo cai na cilada de ficar contando quantas assinaturas faltam para a urgência do tal projeto. Ponto para quem aposta no fuzuê para sequestrar a agenda nacional.

    O papel coadjuvante do governo, que não consegue desarmar a arapuca, evidencia quanto o estilo Lula de fazer política, em que o país vive de solavanco em solavanco, está distante desse caos que temos perigosamente normalizado, que produz muito calor e nenhuma luz.

  7. O passado de Gaspar é o atestado desta decepção

    CENSO ESCOLAR DO MEC APRESENTA RESULTADOS DECEPCIONANTES, editorial do jornal O Globo

    Não são animadores os resultados do último Censo Escolar, divulgado pelo Ministério da Educação (MEC). Os números da pré-escola recuaram no ano passado. As crianças em creches aumentaram ligeiramente, mas ainda ficaram abaixo da meta. O Ensino de Jovens e Adultos (EJA), destinado a estudantes que não completaram a educação básica, retrocedeu. As matrículas em cursos profissionalizantes cresceram, porém aquém do desejado. A melhor notícia é o crescimento das matrículas em tempo integral, mesmo assim também abaixo do ritmo ideal.

    A pré-escola registrou 34 mil matrículas a menos, caindo para 5,3 milhões. Pelas metas do próprio MEC, o segmento já deveria ter sido universalizado desde 2016, mas 7% das crianças entre 4 e 5 anos ainda estão fora da sala de aula. Não é muito diferente com as creches, para crianças de até 3 anos. As matrículas subiram de 4,12 milhões para 4,18 milhões no ano passado, mas a meta era contemplar ao menos 50% da faixa etária, ou 5 milhões. A falta de creches tem impacto relevante no mercado de trabalho, pois elas representam apoio importante para mães que trabalham fora.

    O EJA também desapontou: perdeu 198 mil alunos em 2024, oitavo ano seguido de queda. Mesmo o Nordeste, que concentra o maior número de estudantes (1,2 milhão), perdeu 90 mil alunos. É uma lástima num país que deveria se esforçar para aumentar a escolaridade de seus cidadãos, permitindo que eles busquem melhores oportunidades de trabalho. A queda está ligada à pouca flexibilidade dos cursos e à falta de apoio aos estudantes. Quase metade da população brasileira (49,2%) não concluiu o ensino médio.

    Há também notícias positivas. Uma delas é o aumento de matrículas em tempo integral, caminho conhecido para melhorar a qualidade do ensino. Houve 624 mil novas matrículas, e o total alcançou 7,9 milhões. Mas o ritmo de crescimento arrefeceu em relação a anos anteriores. O ensino profissionalizante e técnico, essencial para ampliar a conexão com o mercado de trabalho, cresceu 6,7%, chegando a 2,57 milhões de matrículas, mas ainda está longe da meta de 4,8 milhões.

    O MEC tem resistido a dar publicidade aos dados do ensino. O Censo Escolar foi divulgado com atraso de três meses. Os números da alfabetização só se tornaram públicos na semana passada, depois de sonegados por meses, sob o argumento de que havia discrepâncias. Por que não divulgar e apontar a discrepância? Não é deixando de publicar informações que o MEC conseguirá melhorar a qualidade do ensino. Cedo ou tarde, elas sempre vêm à tona, expondo as deficiências. Em que pesem os avanços, o retrato traçado pelo Censo Escolar é de estagnação, mostrando que o governo não consegue cumprir nem as próprias metas. É nisso que o MEC deveria se concentrar, em vez de esconder informações.

  8. odete.fantoni@gmail.com

    Boa tarde.
    Sobre a ponte do Alvorada,a passarela metálica está com boa parte das placas SOLTAS, e com vários pontos de ferrugem a mostra.
    Se está assim onde a vista alcança, como será que está por baixo? 😱

    Aí olhando pro ponto onde desemboca as águas do ribeirão no rio Itajaí-açú, além do estreitamento provocado pelo aterramento em uma das margens, do outro lado uma árvore de grande porte está deslizando pra dentro do leito.
    Acho que dará b.o. em época de chuvas intensas..

    Já em outro trecho do mesmo ribeirão, também no centro, em frente a loja Colombo, ruínas retorcidas ameaçam DESABAR pra dentro do curso d’água.
    Quem será RESPONSABILIZADO: o guverno krebis que INICIOU a lambança;
    o atual governo que mesmo avisado, não tomou providências,
    ou o ônus ficará pra comunidade que, se atingida pelo represamento das águas, não terá a quem recorrer?

    Aproveito pra agradecer ao senhor por esse espaço que tanto auxilia e esclarece a população gasparense sobre as muitas cortinas de fumaça para ESCONDER os acordos de porões e os desmandos POLÍTICOS na nossa aldeia.

    Que Deus o abençoe sempre com muita saúde e paz!

      1. odete.fantoni@gmail.com

        O senhor viu que amanhã terá sessão na Câmara de Vereadores para decidir sobre a CPI que investigará irregularidades com o contrato de limpeza urbana?
        Me senti mal por ter incitado essa atitude… agora pode acontecer, como o senhor falou, que enterrem tudo.

        1. Pois é. Os nossos políticos, não diferem em nada da esperteza daqueles que repudiamos dos de Brasília

          Samos mestres em nos ensacar na aldeia

  9. A FRATERNIDADE DE LULA, por Malu Gaspar, no jornal O Globo

    Nos quatro dias que passou entre o Japão e o Vietnã, no final de março, o presidente assinou dez acordos bilaterais e 80 instrumentos de cooperação, celebrou a venda de 15 aviões da Embraer para uma companhia japonesa e fez lobby pelo fim de restrições ao etanol e à carne brasileira nos mercados asiáticos. Como em toda viagem internacional, porém, os resultados parecem um tanto vagos e incertos. Os efeitos mais concretos da excursão que levou 84 pessoas para o outro lado do mundo, incluindo oito parlamentares, apareceram mesmo no front doméstico.

    Depois do tour, o senador Jaques Wagner (PT-BA) contou que Lula se apaixonou por Davi Alcolumbre, e auxiliares disseram que ele e o presidente da Câmara, Hugo Motta, estavam muito entrosados. Na entrevista que deu ainda no Japão, Lula fez questão de afirmar que foi uma viagem “de muita fraternidade”, e que ela inauguraria “o melhor momento da relação do Congresso com o Executivo”.

    Embalado por toda essa fraternidade, Motta anunciou que daria prioridade à tramitação da PEC da Segurança Pública, que busca integrar as ações do governo federal, estados e municípios para combater o crime organizado, e desceu do muro em que estava encarapitado em relação à anistia os presos pelos ataques de 8 de janeiro de 2023.

    “Diante de um Brasil que tem tantos desafios pela frente, esse cenário internacional, os nossos problemas internos, não podemos nos dar ao luxo de achar que aumentando uma crise institucional nós vamos resolver esses problemas”, afirmou. “Nós não vamos. Definitivamente não vamos e não embarcaremos nisso”.

    Como prometeu à oposição, nos bastidores da campanha para a presidência da Câmara, que pautaria o projeto, ele agora tenta costurar uma solução que envolva a revisão de parte das penas pelo próprio STF, enquanto sonha convencer Lula a patrocinar um indulto ou instrumento parecido aos que “só vandalizaram” os prédios públicos.

    A costura, que envolve diversos outros atores, já fez efeito no Supremo, que soltou alguns presos e começou a relaxar medidas cautelares, além de retirar de pauta dois casos que estavam prontos para serem julgados. Ao rejeitar a pressão do bolsonarismo sobre o Congresso e o Supremo, porém, Motta mostrou que escolheu seu lado.

    No caso de Alcolumbre, que tem sido muito mais parceiro do governo e já disse que não vai pautar a anistia, a missão de Lula era outra: desarmar algumas bombas.

    Uma delas tinha a ver com a insistência do presidente do Senado em tirar do posto o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, seu desafeto declarado. Lula já disse em público e nos bastidores que não vai demitir Silveira, mas já sabia que em breve precisaria se livrar de Juscelino Filho, ministro das Comunicações e apadrinhado de Alcolumbre denunciado nesta semana pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por organização criminosa, fraude licitatória, peculato e corrupção ativa.

    Em meio a piadas, fotos sorridentes e conversas de pé de ouvido, Lula e Alcolumbre se acertaram. O deputado Pedro Lucas Fernandes, que é do União Brasil e do Maranhão como o ministro que sai, e que também estava na fraternidade japonesa, deve assumir o posto para garantir que nada mude.

    Já Silveira ganhou fôlego, mas não terá paz.

    Alcolumbre é um homem de propósitos firmes, assim como o presidente da República. E Lula está convencido de que aprovar a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil e a PEC da Segurança Pública é o que vai ajudá-lo a recuperar popularidade até 2026.

    Para ele, portanto, é muito mais importante agradar os caciques do Congresso do que sair por aí trocando ministros e negociando no varejo. Desde que sua autoridade não pareça diminuída, o presidente fará o que estiver ao seu alcance para manter Motta e Alcolumbre por perto. Mesmo para isso tenha que aboletar o pessoal no Aerolula e sair pelo mundo

  10. CAOS PROMOVIDO POR TRUMP ATRAI RECESSÃO E INFLAÇÃO, editorial do jornal Folha de S. Paulo

    A maior tentativa de mudança na ordem comercial e geopolítica após a Segunda Guerra Mundial ainda está longe de um desfecho, mas já causa impactos tectônicos no mercado financeiro, produzindo riscos de aumento da inflação e de recessão global.

    Há uma semana, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou uma tarifa mínima de 10% sobre todas as importações e instituiu cobranças adicionais, que chamou de recíprocas, a uma série de países.

    Os mais penalizados de início foram a China, com taxa de 54%, e os que servem como etapa intermediária na cadeia de fornecimento chinesa, caso do Vietnã.

    A partir daí, instalou-se o caos. A China retaliou com tarifa de 34% sobre produtos americanos; os EUA elevaram as taxas cobradas do gigante asiático para 104%. Nesta quarta (9), Pequim respondeu com 84% e foi retrucada com 125% por Washington.

    Trump também adiou por 90 dias a cobrança extra das nações que não adotaram medidas protetivas e que iniciaram negociações para manter acesso ao mercado americano —que representa 30% do consumo mundial. A tarifa mínima geral de 10%, que se aplica ao Brasil, fica mantida.

    Por trás das decisões do republicano está a crença de que o comércio internacional não se dá em bases justas, por causa de subsídios e barreiras não tarifárias aplicadas por outros.

    Essas seriam as causas do déficit comercial do país (cerca de US$ 1 trilhão anual), que erode a base industrial e os empregos, além de contribui para manter a posição devedora internacional —receita para o enfraquecimento geopolítico no médio prazo.

    Trata-se de visão das mais obsoletas. As importações superam as exportações quando um país compra mais do que produz, e nada há de necessariamente errado nisso. Os EUA têm acesso a uma oferta global de artigos, da comida à alta tecnologia, que contribuem para o vigor de sua economia e o bem-estar da sociedade.

    Na prática, o efeito do tarifaço é o fechamento dos mercados, que provoca grande perturbação no mecanismo delicado das cadeias mundiais de suprimentos. É difícil antever a amplitude do rearranjo das relações comerciais e políticas nos médio e longo prazos. Por ora, dada a incerteza absoluta, a tendência geral é de retração de investimentos, porta de entrada para uma recessão.

    Resta esperar por negociações, mas dificilmente o objetivo principal —impedir a continuidade da consolidação da China como único centro produtivo competitivo— será abandonado, ainda que imponha custos ao mundo e aos próprios EUA.

    No Brasil, a balbúrdia se reflete em piora das condições financeiras, volatilidade do câmbio e queda de cotações de produtos exportados, como petróleo, que afetará inclusive a arrecadação federal. Mais do que nunca, o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) precisa conter o ímpeto gastador para evitar que inflação e juros não subam ainda mais.

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