Se você é leitor ou leitora habitual deste espaço, então você já leu esta observação abaixo, MUITAS outras vezes. Vou repeti-la pela QUARTA vez este ano – em tão curto espaço de tempo -, ou refrescar à memória dos “esquecidos”, ou, tornar claro para os novos por aqui, os quais inventam e encontram nas entrelinhas de “interesses” naquilo que publico.
AVISO NECESSÁRIO E REPETIDO MAIS UMA VEZ: este blog não é e nunca foi impulsionado, não montou nenhum grupo de WhatsApp – ou em outros aplicativos de mensagens – para dar volume de acessos – apesar de ousadas propostas neste sentido – , não é e nunca foi monetizado pelos acessos que recebe, não é e nunca foi patrocinado por particulares, empresas, dinheiro público ou de políticos, também nunca “pediu ajuda de custos” a políticos e empresários para se manter.
Acrescento: não monta premiações, não “cria” agências para disfarçadamente intermediar negócios de comunicação aos interesses dos poderosos “amigos” de plantão e também, não dá assessoria privada para políticos locais.
Se você quer republicar os artigos, por favor, só na íntegra para não descontextualizar a análise, comentário ou à crítica. E ao final de cada artigo, há botões facilitadores para replicar estes artigos via aplicativos de mensagens, e-mails e redes sociais. Estes botões fazem isso automaticamente para você. Há também espaço para a sua opinião, correções e contraponto.
Os políticos – e amigos e patrocinadores desses políticos – querem que os artigos esclarecedores como o abaixo, em novo governo que veio para mudar, sejam banidos, estão se articulando, desacreditando e farão de tudo para isso. Até poucos dias, aplaudiam-me, porque eram os beneficiados diretos com a minha clareza. E no fundo, essa forma dessa gente aplaudir quando na oposição, sufocar, desacreditar, perseguir e até processar é contra você e a cidade.
Então, exatamente por causa deles, é que este espaço é de vigia e continuará “olhando a maré” para o descontentamento dos políticos sustentados por nossos pesados impostos, cada vez mais altos e on line – ou os que manipulam à sombra do poder, descaradamente. E falsamente, ainda pregam a transparência dos atos deles; dizem que vão desnudar os dos outros, mas tudo, de verdade, que querem é que se escorra mansamente para debaixo do tapete do esquecimento eterno.
O ARTIGO
No domingo à tarde, meramente por questões de agenda, antecipei o artigo de segunda-feira OS 100 PRIMEIROS DIAS DO GOVERNO DO “DELEGADO PREFEITO” PAULO E DO ENGENHEIRO RODRIGO, FORAM ATÉ AQUI, UM EXPERIMENTO SEM RESULTADOS . Prá que?
Surpreendido e com atraso de duas horas, pressionado pelas circunstâncias do grupo de bruxos que o cerca e criado, pelo jeito, para arrumar mais confusões, fofocas e falta de estratégias aos resultados mínimos esperados – e prometidos – de mudança pela sociedade, também naquilo que estava programado pela comunicação do governo para se publicar na segunda-feira, obrigado a antecipar para domingo, o “delegado prefeito” Paulo Norberto Koerich, PL, distribuiu memes dos supostos avanços da sua administração.
Todavia, a sua “prestação de contas” teve outro alvo e objetivo: o de limpar a sua barra com o funcionalismo público municipal, como um funcionário público que é; como é seu vice, Rodrigo Boeing Althoff, PL; como é a sua líder de governo na Câmara, a policial civil Alyne Karla Serafim Nicoletti, PL. O “delegado prefeito” deu uma resposta atrasada de quase dez dias sobre a percepção, quase unânime da cidade, de que ele é a continuidade de Kleber Edson Wan Dall, MDB. A resposta de que está “economizado” réis numa prefeitura afundada em dívidas em milhões, segundo ele próprio, foi lateral à agressão tosca, imatura e gratuita do líder do PL – partido do prefeito e vice, os “chefes” dos agredidos – na Câmara, Carlos Eduardo Schmidt Sobrinho. Segundo o vereador, parte dos funcionários públicos de Gaspar são “tranqueiras”, “vadios” e atrapalha o atual governo com isso.
Por outro lado…
A AUTORIDADE DO NOVO GOVERNO
…quem estava na rádio 89 FM, com uma semana de atraso pois isto deveria ter acontecido na semana passada, fazendo nesta quarta-feira, dia 16 de abril, a tal “prestação de contas dos 100 dias de governo” do “delegado prefeito” e do engenheiro Rodrigo Boeing Althoff, PL? O chefe de gabinete Pedro Inácio Bornhausen, PP. Ou seja, ex-chefe de gabinete, vejam só, do ex-prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB. Pedro é o novo prefeito de fato de Gaspar? Quantos votos ele recebeu? Foi diplomado pelo Tribunal Eleitoral?
Mais e para complicar este ato, o da entrevista, no seu simbolismo, reforçou a mistura do antigo e do novo que se faz na cidade. Para os eleitores e eleitoras confusos, no fundo tudo é uma continuidade, ou a mesma coisa.
O partido de Pedro, o PP, não esteve na aliança que elegeu o “delegado prefeito”, pois tinha candidato próprio, Marcelo de Souza Brick, PP, com apadrinhamento explícito de Kleber. E eles levaram uma surra sem tamanho nas urnas de seis de outubro do ano passado. A percepção na cidade hoje é de que ganhando um ou ganhando o outro, tudo estaria em casa, vai tomando forma e força, mesmo que isso não seja verdadeiro. E por sinais como os de hoje onde quem deveria se explicando publicamente na entrevista, prometendo e colhendo os louros, seria o “delegado prefeito” Paulo.
Mais observações necessárias, antes de voltar ao artigo, objeto de hoje.
Primeiro: o ato de hoje de Pedro pelo governo da mudança de Paulo e Rodrigo, lavou a minha alma mais uma vez e avalisou integralmente o meu artigo e respectivo título de domingo. Impressionante. Uma atrás da outra.
Segundo: a prestação de contas de um prefeito à sua cidade, cidadãos e cidadãs em meios de comunicação de audiência da sua cidade, é indelegável. Impressionante, pela segunda vez.
Terceiro: a ida do chefe de gabinete, que não representa a mudança, mas acentua os fortes laços com o governo que não deu certo e por conta disso havia à promessa de mudá-lo nesta inércia, dúvidas e caos elegeu o atual e outro erro tático impressionante (pela terceira vez. Por isso, ele não possui qualquer credencial de porta voz escolhido – mesmo que ele a tivesse credenciais profissionais – para prestar contas dos 100 primeiros dias de um suposto governo de mudanças é politicamente errática sob todos os aspectos.
Quarto: o atual governo parece não tem nada a comunicar como mudanças, a começar pela área de comunicação? Impressionante. Estão certos os que desconfiam e seus críticos? Kleber tinha os “çábios”. Este, bruxos e poções mágicas e de venenos.
Retomando.
CONTRA-ATAQUE A CONTA GOTAS NA COMUNICAÇÃO COMO SE FOSSE PRESTAÇÃO DE CONTAS DO TODO DOS 100 DIAS
Este truque é manjado pinçar o micro e torná-lo como obra do todo.
Surpreendido com o artigo no domingo publicado aqui, aquilo que estava atrasado e mofando na gaveta do governo, fê-lo tirar dela às pressas, sob emergência e espalhá-lo nas suas redes sociais no próprio domingo: “Redução de cargos comissionados e economia para Gaspar“. No mínimo, é um jogo de palavras da propaganda oficial abrindo a série de quatro. E explico mais adiante isto.
Outro meme da rede do “delegado prefeito” diz: “atualmente, a prefeitura de Gaspar possui 141 cargos comissionados“. São vagas. Porque no mesmo meme é esclarecido: “destes, apenas 117 estão ocupados”. As 141 vagas nunca saíram. Podem ser ocupadas a qualquer momento. E há pressão do PL por empregos de alinhados em outros municípios e que estão sem empregos às vésperas de uma campanha eleitoral acirrada. O terceiro meme diz que “destes [117], 27 são ocupados por servidores públicos de carreira“. Finalmente, o quarto dá números nos centavos: “o que representa uma economia de R$114.435,19 em salários, além de R$18.000 mensais em vale-alimentação“
Não se trata de uma prestação de contas, mas de uma justificativa numa embrulhada em que o governo do “delegado prefeito” Paulo e seu partido se meteram, por exatamente, não haver liderança na condução política no partido e na prefeitura dos que estão no poder de plantão.
RECADO PARA O PÚBLICO INTERNO USADO PARA O EXTERNO
O que os memes estão dizendo? De que Paulo, Rodrigo e o PL estão prestigiando uma ínfima (27 para 117) parte dos servidores efetivos e que eles, não seriam “tranqueiras, vadios” que atrapalham o governo como afirmou o líder do PL na Câmara.
Mesmo sendo a tribuna da Câmara um espaço de livre expressão, o líder do partido, o vereador Carlos Eduardo, ligado ao vice, Rodrigo, resolveu malhar os servidores municipais naquilo que a cidade reclama, não exatamente, culpa deles, mas por falta de gestão do atual governo. O vereador teve que voltar atrás. Pressionado pelas redes sociais no bafo de mais de dois mil servidores, ele pediu desculpas tanto nas redes sociais, bem como na própria tribuna da Câmara, pressionado por uma nota do Sintraspug – Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público de Gaspar.
O prefeito e o vice ficaram quietinhos neste meio tempo entre a acusação e o meia-volta volver do vereador na terça-feira passada. Esperaram a reação. E no domingo, com a poeira baixa, o “delegado-prefeito” publicou. O “delegado prefeito” aproveitou para fazer uma salada mal amassada, com recados cifrados. Disse que dos exagerados 141 cargos que é possível tê-los, só ocupa 117. Das duas uma: ou não foi capaz de ocupá-los, ou não se precisa fato que não deixou claro. O que está provado é que a cidade não está andando, e no mínimo, faltam transparência, liderança, zeladoria e manutenção seja com 141 ou 117 comissionados.
O “delegado prefeito” foi mais adiante. Disse que destes 117 cargos usados como aparelhagem política, 27 são servidores efetivos. Há controvérsias. Poderia ser mais, poderia ser menos. O que vale mesmo, neste caso, é como os agentes públicos investidos nestes cargos de confiança convertem o emprego deles em resultado diferencial e emergencial para a sociedade, num ambiente, declaradamente de crise pelo próprio “delegado prefeito”.
E outra regra. Ser comissionado não é pecado. É a oportunidade da gestão se reinventar, cercando-se de ideias e profissionais diferenciados. O problema está que estas vagas, normalmente, são ocupadas por gente afinada ideologicamente, proximidade e acostumada a moleza, pois o que mais sabem é escolherem padrinhos.
ENCERRAMENTO
Noves fora, faltou uma prestação de contas robusta destes 100 primeiros dias de governo, com mudanças e até esperanças. Não há estratégia. Tudo sob pressão. Não colocaram os cidadãos e cidadãs no centro da soluções dos problemas. Os atuais administradores estão em falta com a sociedade, muito devido à equipe que escolheram e montaram para auxiliá-los. E ela tem a cara do governo rejeitado nas urnas. O resultado, antecipadamente, é previsível.
E sobre a suposta economia de R$114 mil por não se preencher os 141 cargos comissionados?
Primeiro: esta “economia” dos memes não é definitivo.
Segundo: é uma economia boba, pois economia de verdade é gastar menos e trazer mais resultado a partir da suposta economia, ou seja, se estabelecer na tal produtividade. E isto não se viu até aqui.
E em terceiro, está em gestão, sob silêncio, ou falta de transparência um mal herdado com amplitude do governo anterior, um estudo para a nova reforma administrativa. Ela custou, sem licitação, em torno de R$250 mil. E os estudos que vão e vem, estão apontando para um aumento de secretarias, de funções e de custos que deverão ser superiores a R$150 mil por mês. Então o que mudou?
É bom guardar os memes para serem comparados ao que se afirma agora na propaganda e ao que vai se justificar no futuro como “necessário” para não inovar, ousar e frustrar, mais uma vez, as expectativas dos eleitores e eleitoras. Muda, Gaspar!
TRAPICHE

Ontem, na Câmara de Gaspar, foi aprovada a instalação da CPI que vai apurar o que a Polícia Contra a Corrupção de Blumenau já apurou, repito, já apurou e documentou fartamente. Essa gente não olhou para a frente, mais uma vez. É proposital. E por quê? Há tantas outras dúvidas que estão no ar. Seus eleitores e eleitoras estão há anos esperando por respostas. E não se há interesses de ir adiante como, por exemplo, o esclarecimento da contratação da gestão de serviços do Pronto Atendimento do Hospital, uso indevido do Fundo da Infância e da Adolescência no caso Fábrica, a lombada “natural” do pasto do Jacaré, ou entre outras, a milionária compra das floreiras e bocas de lobos inteligentes, sem utilidade alguma até agora…
Perceberam como os políticos manhosos de Gaspar, inclusive os novos, ou aqueles que dizem que querem, ou iriam desnudar ou mudar os velhos esquemas de promoção e espetáculos? Eles se estabelecem na mesmice e na esperteza para seus blocos de apoiadores e fanáticos nas redes sociais. Querem likes. São artistas e não políticos. Não ajudam a cidade. Então, o que vai acontecer, muito provavelmente, olhando o enterro das CPIs das drenagens da Rua Frei Solano e dos áudios cabulosos do ex-secretário de Kleber Edson Wan Dall, MDB, Jorge Luiz Prucino Pereira, PSDB e Jean Alexandre da Silva, PSD (metido no rolo, novamente?
Gastos em duplicidade na Câmara do dinheiro público – e não será pouco para peritos, advogados, especialistas, horas extras para servidores e que se calcula perto de R$100 mil – em algo que estaria bem encaminhado no âmbito da polícia e está chegando ao Ministério Público. Espetáculo de vereadores de primeira viagem, que vão culpar os outros e não eles mesmos por tudo não dar em nada na Câmara, outra vez. Tanto que estão dando entrevistas avisando de que CPI não prende ninguém.
Ora, se uma CPI não encaminha ninguém para prisão e não acha culpados, qual mesmo a razão dela? Espetáculo. Enquanto isso, a cidade, fica envolta em uma cortina de fumaça que esconde os velhos e novos problemas dela. Ao fim, tudo irá para debaixo do tapete. A turma de Kleber Edson Wan Dall, MDB, que é maioria na Câmara, vai atuar para não se manchar o bom nome da turma. A turma do “delegado prefeito”, Paulo Norberto Koerich, PL, que entende do riscado de inquérito e sabe o que é isto, pois já atuou inclusive no Gaeco, vai se manchar e passar vergonha, pois insistirá em desmanchar uma obra pronta. Simples assim. Muda, Gaspar!
Uma outra propaganda que o governo do “delegado prefeito” Paulo Norberto Koerich, PL está usando é a renovação da frota. Excelente. Mas, não basta máquinas novas. Primeiro, é necessário operadores habilidosos (é só ver as causas do sucateamento dos atuais equipamentos). Segundo, não bastam motoniveladoras, é preciso lâminas de reposição; terceiro, não bastam operadores, equipamentos e lâminas, é preciso reposição de macadame, senão fica o que o Paulo Flores, da 89 FM, registrou na foto acima.
Mais, do que isso, é preciso uma agenda de prioridades; é preciso de fiscalização permanente às carências e ao que está sendo feito e entender que o secretário de Obras e Serviços Urbanos, Vanderlei Schmitz, não é um engenheiro feito para colocar a mão na massa. Sinais ele já deu. Em plena enxurrada às áreas alagadas e enlameadas de sapatênis. Ora, se ele é um burocrata de escritório, será lá que pode estar a sua eficiência a favor do governo. Então, é preciso alguém da sua confiança que conheça a cidade e esteja na rua para que as prioridades, estratégias e operações se combinem.
Sempre escrevi aqui e é o que penso. Vice (presidente, governador e prefeito) é, pela Constituição, um reserva no caso de desistência, impedimento e morte do titular. Nem mais ou menos. O titular pode fazer concessões, dar espaços ou até função executiva no governo. São afinidades, necessidades e riscos calculados. Como acho que mulher de eleito, não tem que dar palpite, se ela não tiver uma função clara no organograma do governo ou partido. É só olhar como a tal Janja da Silva destrói a reputação política de um líder até então quase intocável, Luiz Inácio Lula da silva, PT. O STF que o livrou dos processos sem inocentá-lo, também.
Em Gaspar, a relação entre o titular “delegado prefeito” Paulo Norberto Koerich, PL, e o multi-titulado e espaçoso, vindo da esquerda raiz (PV e governo de Pedro Celso Zuchi, PT), engenheiro Rodrigo Boeing Althoff, PV, está azeda. E não é de hoje. E toda vez, que escrevo sobre isso, no dia ou seguinte, eles fazem questão de tirar fotos juntos em algum evento público. Mas, esta semana, o Rodrigo convocou alguns servidores, comissionados e cargos de confiança de segundo escalão para uma “reunião” sem pauta pública conhecida. O prefeito, passou a mão no telefone, e pelos seus, saiu desmanchando o “convite”.

A secretária de Assistência Social, Neuza Pasta Felizetti, PL, vinda de Blumenau bateu o pé: o Projeto Fábrica, no ginásio vereador Gilberto Sabel, e que custou uma baba, invenção do ex-secretário da Educação, o curioso na área, vindo de Blumenau, o jornalista Emerson Antunes, afilhado político do deputado Federal, Ismael dos Santos, PSD, tinha problemas e não poderia continuar pendurado em dúvidas jurídicas como estava, sob séria exposição do atual governo no Ministério Público.
Acostumada a fazer limonada como limões bem azedos, a secretária de Educação, a educadora gasparense, Andreia Simone Zimmermann Nagel, PL, foi atrás de soluções. E em maio três coisas estarão resolvidas: parte das escolas de Gaspar terão contraturno no ensino digital e robótica, não só os da Norma Mônica Sabel, ou os que fossem de forma cara deslocados numa engenhosa logística para a Fábrica, na Rua Itajaí; haverá queda nos custos e não se pagará mais a multinacionais e se prestigiará o polo catarinense de desenvolvimento e inclusão digital do sistema Fiesc, leia-se, Sesi.
Silenciosamente, e ainda sob desconfianças, a secretária de Educação, Andreia Simone Zimmermann Nagel, PL, avança, em terreno movediço seja no ambiente político, pedagógico, social e gerencial num ambiente em franca adaptação aos novos tempos. De pouco mais de cem que tinham acesso a este contraturno escolar digital, ciência e robótica, mais de 1.200 terão acesso. O custo também cai drasticamente. No Google era de R$3.400,00 por estudante com uma hora e meia de aula. No novo sistema, serão R$1.800,00, por duas horas. Uau!
Na foto acima, estão o prefeito Paulo Norberto Koerich, PL, e o presidente da Fiesc, Mário Cézar Aguiar e a secretária de Educação de Gaspar, Andreia Simone Zimmermann Nagel, PL (à esquerda) com José Altino Comper, exibindo o documento que assinala o início da ampliação da inclusão digital de uma parte significativa dos estudantes do ensino municipal de Gaspar.
O advogado gasparense, João Pedro Sansão foi nomeado para a comissão da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político. Ele será membro da recém criada Coordenação de Articulação Parlamentar do Novo Código Eleitoral. Vai atuar na discussão do Projeto de Lei Complementar 112/20121, que trata da consolidação do Novo Código Eleitoral Brasileiro.

A convite do prefeito de Ilhota, Joel José Soares, MDB, o ex-prefeito de Gaspar (2005/08), Adilson Luiz Schmitt, sem partido. Troca de experiência foi o resumo. Adilson ficou impressionado como Ilhota vem resolvendo os problemas de infraestrutura, entre eles o de produção de água e sua potabilidade, bem como suprindo de recursos, com a ajuda técnica da Associação dos Municípios da Foz do Rio Itajaí, e os ambientais via o CIMVI, de Timbó, e que Gaspar rejeitou antes e durante o governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB. Trocou por um sistema de comissionados, que está custando caro hoje e altamente problemático aos investidores, empresários e loteadores.
O Hospital de Gaspar deve a Celesc mais de R$2 milhões de energia elétrica atrasada, mesmo depois de sucessivas negociações. Não é cortada só por misericórdia. Então…
A mágica da troca e economia no Pronto Atendimento do Hospital de Gaspar. A noite, normalmente de maior demanda, devido aos postos estarem fechados, havia quatro equipes de médicos. Agora, serão duas. A maior parte do tempo, segundo do interventor Claudionor de Cruz e Souza, à rádio 90 FM, dois trabalhavam e dois dormiam. Muda, Gaspar!
Aos cristãos e católicos, Feliz Páscoa. E aos que puderem, bom feriadão. Estarei de plantão.
17 comentários em “DEPOIS DE 100 DIAS O “NOVO” GOVERNO, PELO PREFEITO ANUNCIOU NAS REDES SOCIAIS DELE “ECONOMIA” DE R$114 MIL DE SALÁRIOS E R$18 MIL EM VALE ALIMENTAÇÃO DOS COMISSIONADOS. ESQUECEU DE CONTAR QUE ESTA “ECONOMIA” NÃO COBRE AS DESPESAS QUE SE ARMAM NA OUTRA PONTA SEM SEREM ELAS, EFETIVAMENTE, RESULTADOS DAS MUDANÇAS PROMETIDAS À CIDADE”
O SUPREMO E SUA REPUTAÇÃO, por Marcus André Melo, no jornal Folha de S. Paulo
Raros ministros de cortes supremas foram objeto de reportagens em revistas internacionais de prestígio, como The Economist. O tom da reportagem sobre o ministro Alexandre de Moraes é de reprovação. O desgaste da corte é evidente —e agora se internacionaliza. A questão relevante é: a reputação judicial importa? Segundo Nuno Garoupa e Tom Ginsburg, importa muito.
Em Judicial Reputation: A Comparative Theory, os autores argumentam que a reputação é central para a autoridade e eficácia das cortes, especialmente porque os juízes carecem, como diria Hamilton, “do poder da espada e do dinheiro”. A partir de um modelo principal-agente, o livro propõe que os juízes são agentes da sociedade (o principal) e que a reputação funciona como um mecanismo para garantir conformidade, acesso a recursos e proteção institucional.
A reputação é moldada por audiências internas (membros da corte e atores judiciais) e externas (mídia, políticos, público e academia). Os autores sustentam ainda que há uma tendência crescente de os juízes se voltarem para audiências externas, especialmente em contextos de maior transparência se há pressão pública. Entre essas tendências, destaca-se a internacionalização da reputação, por várias razões, como uma dinâmica praticamente inexorável.
Por outro lado, existe um importante trade-off entre a reputação individual dos juízes e a reputação coletiva da corte. No nosso caso, as decisões monocráticas exacerbam o problema. Entre os fatores que os autores identificam como prejudiciais à reputação do Judiciário está o envolvimento individual de juízes em funções não judiciais —empresariais, participação em comissões, elaboração de políticas públicas. Examinar o Supremo à luz dos achados do livro é um exercício de catalogação de anomalias.
As implicações mais graves do declínio da reputação judicial dizem respeito à vulnerabilização paulatina da instituição. Todas as tentativas bem-sucedidas de intervenção em cortes superiores na América Latina foram precedidas por uma perda gradual de confiança no Judiciário, motivada por ataques à sua reputação. É o que demonstra Gretchen Helmke em um estudo minucioso sobre interferências dos poderes Executivo e Legislativo nas supremas cortes de 18 países latino-americanos ao longo de 30 anos. Essas interferências assumiram formas diversas —nomeações e demissões irregulares, impeachments, aumento unilateral do número de juízes. Tais ataques são reações de líderes populistas a ameaças percebidas à sua sobrevivência política e tendem a ocorrer no início dos mandatos. A probabilidade de interferência é inversamente proporcional ao grau de confiança da população no Judiciário. E há aqui um mecanismo perverso: a popularidade presidencial tende a subir após os ataques.
A confiança nas instituições judiciais na América Latina é, em geral, baixa —e apenas mediana no Brasil. É curioso observar que todos os ministros do STF têm avaliação negativa superior à positiva, segundo pesquisa da Atlas/Intel. Ou seja, as reputações individuais não superam a reputação coletiva.
Quanto mais poder acumulam os tribunais superiores, maiores são os incentivos para controlá-los. O controle do STF tornou-se o objetivo central da disputa política no país. O que afeta sua reputação. As consequências são incomensuráveis
MORRE MÁRIO JORGE BERGÓGLIO, AOS 88 ANOS, O PAPA FRANCISCO
Não foi comentar. Não vou me estender. Não é minha área. Não possuo conhecimento. E com a internet, está a um clique várias informações e várias camadas opinativas sobre a pessoa, o religioso e o papado de 12 anos deste primeiro sul-americano (argentino) de 88 anos a ser eleito para o trono de Pedro, aos 76 anos, não serei eu mais um a se estabelece na mesmice. Mais, que a morte ocorrida as 7h35min, do Vaticano (2h35min daqui) horas depois de gestos, vozes, bençãos e aparições públicas do Dia de Páscoa na Casa Santa Marta e na Santa Sé, está o Conclave. Ele falará muito mais sobre o futuro da Igreja Católica no mundo.
O que nos mostra esta morte? Que somos passageiros e infalíveis. No máximo, podemos deixar um legado
PT É UM PÉSSIMO DEFENSOR DAS ESTATAIS, editorial do jornal Folha de S. Paulo
Mais de três décadas depois de lançado o programa de privatizações, o governo federal ainda controla diretamente 44 empresas, entre as quais algumas gigantes reúnem 78 subsidiárias, segundo a contagem oficial mais recente.
Nesse conglomerado de 122 estatais se encontram a maior empresa do país, a Petrobras, cinco bancos, portos, aeroportos, os Correios, serviços de informática, de comunicação, hospitais e uma produtora de hemoderivados, além de algumas dezenas de companhias menos conhecidas e outras que mal merecem esse nome, dado que não geram receitas para bancar suas operações.
Os defensores da manutenção desse enorme e custoso aparato —caso do PT de Luiz Inácio Lula da Silva— argumentam que tais empresas têm importância “estratégica”. Isto é, atuam em áreas sensíveis para o desenvolvimento ou para a soberania nacional e levam adiante empreendimentos que a iniciativa privada não pode ou não quer assumir.
A mesma alegação é feita quando as estatais têm prejuízos e déficits, o que se dá com frequência.
Assim sendo, então, estruturas com papéis tão importantes deveriam ser geridas com o máximo de profissionalismo e qualificação, certo? Nesse ponto, porém, o discurso ideológico dá lugar à real prática política e fisiológica.
Como apontou levantamento da Folha, a gestão petista distribuiu postos em conselhos de administração de estatais para aliados e correligionários cuja formação tem pouca ou nenhuma relação com as áreas de atuação das empresas —que incluem especificidades como pesquisa de recursos minerais e abastecimento de produtos agrícolas.
É amostra que ajuda a entender por que o governo Lula investiu contra a Lei das Estatais, aprovada em 2016 para estabelecer normas mínimas de governança após os escândalos de corrupção e má gestão revelados na Petrobras e em outras companhias.
Por meio de uma iniciativa do aliado PC do B, por exemplo, obteve-se em 2023 uma liminar do então ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski, hoje ministro de Lula, que permitiu nomeações políticas proibidas pela lei. Estas permaneceram válidas quando, no ano passado, a corte enfim decidiu que a norma obviamente não contrariava a Constituição.
O controle das estatais também dá ao governante de turno o poder de influir no comando de entidades a elas ligadas, como fundos de pensão. É o caso da poderosa Previ, dos funcionários do Banco do Brasil, hoje alvo de uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) devido a um déficit de R$ 17,7 bilhões em 2024.
Distribuição de sinecuras, loteamento político, maus negócios e corrupção são péssimos exemplos vindos de quem pretende defender as estatais —ainda mais quando o argumento do papel estratégico se esvazia diante de privatizações bem-sucedidas como as da telefonia, da Embraer e da Vale, outrora tidas como tabu.
APAGÃO ORÇAMENTÁRIO, por Elio Gaspari, nos jornais Folha de S. Paulo e O Globo
Na semana passada os brasileiros souberam de duas novidades: é possível que haja vida no planeta K2-12b, a 124 anos-luz de Brasília, e foram avisados por Fernando Haddad e Simone Tebet de que em 2027 o governo não terá dinheiro para honrar os compromissos de verbas para a Educação e Saúde.
A primeira novidade pertencia ao campo da busca do conhecimento. O telescópio James Webb varre o espaço desde 2021 procurando sinais de vida. A segunda novidade pertencia ao campo da empulhação, pois nada há de novo no fato de que o governo ficaria sem dinheiro para fechar suas contas, honrando os compromissos constitucionais.
Sabe-se pouco sobre o K2-12b, pois ele está a 124 anos-luz, e uma notícia vinda agora de lá teria sido emitida em 1901, quando aqui na Terra um sinal de rádio de Guglielmo Marconi atravessou o Atlântico. Já o apagão orçamentário é coisa atual, por perene.
Em 2016 tentou-se conter os gastos do governo criando-se um teto constitucional para as despesas. Deveria vigorar por 20 anos, mas pfff. Apareceram PECs emergenciais, e o teto acabou virando arcabouço. O teto caiu e o arcabouço está ruindo. Como avisa um sábio: “Lula não sabe governar com pouco dinheiro”.
Percebidos o buraco de R$ 10,9 bilhões e a possibilidade de um apagão, entrou em cena o lero-lero: “Tem muitos desafios aí pela frente. Tem a questão dos precatórios. A gente precisa abrir uma discussão com a sociedade e com o próprio Poder Judiciário de como tratar esse tema, que ganhou tração no último governo”, avisou o ministro da Fazenda. Fernando Haddad.
Os precatórios são dívidas da União que a Justiça mandou pagar. A sociedade tem pouco a ver com isso, afinal, ela é composta por famílias que pagam suas dívidas ou caem nas listas negras. Margaret Thatcher (1925-2013), ensinava: “Esse negócio de sociedade não existe. Existem homens, mulheres e famílias.” Se existe, no Brasil seu santo nome é usado em vão, sobretudo para onerar homens, mulheres e famílias.
A possibilidade de um apagão orçamentário para o próximo governo será cruel com o de Lula 3.0. Ele chegou à segunda metade do mandato sem qualquer vestígio de austeridade. Ministros aninharam-se em conselhos de estatais e até mesmo em empresas privadas para bombar seus rendimentos. O pacote de contenção de gastos revelou-se exercício de marquetagem. A única despesa deixada de lado foi a da compra de um novo avião, com chuveiro, para o presidente.
Antes de tudo, governos obrigam-se a passar a impressão de austeridade. Se o presidente dos Estados Unidos pede um hambúrguer à cozinha da Casa Branca, paga por ele. A Viúva só paga por eventos oficiais. Caronas privadas do Air Force One pagam pela viagem. Na Corte Suprema dos Estados Unidos, só o presidente tem carro oficial. Com seu gosto por gestos, quando o general De Gaulle foi para o palácio, em 1958, instalou um relógio na ala residencial para pagar a conta de sua luz.
Percebida a possibilidade do apagão orçamentário, os çábios de Brasília sopraram que poderá faltar dinheiro para os compromissos com a Saúde e a Educação. Para gastar, os ministérios são 39, mas quando se fala que vai faltar dinheiro, surgem logo esses dois.
LULA NA CHINA
No próximo dia 12, Lula descerá em Beijing. Poucas vezes uma viagem presidencial foi tão favorecida e ela tem tudo para dar certo. Tratando-se do maior parceiro comercial do Brasil, quanto mais certo der, melhor. Essa será a quarta visita de Lula à China. Dilma Rousseff foi lá em 2011.
As visitas de brasileiros à China e de chineses ao Brasil sofrem com a verborragia nacional. Na primeira viagem de Lula, saiu de sua comitiva a informação de que seria discutida a cooperação no setor de energia nuclear. Os chineses assustaram-se.
Quando o presidente Hu Jintao visitou Brasília, em 2004, um intérprete inexperiente traduziu fluxo comercial (maoy) como se fosse volume de investimentos (touzi). Pareceu que ele anunciava iniciativas da ordem de US$ 100 milhões. Os chineses fizeram uma discreta correção.
Quando Dilma Rousseff foi a Beijing, sua comitiva anunciou que a empresa Foxconn investiria US$ 12 bilhões no Brasil, fabricando equipamentos da Apple e gerando cem mil empregos. Passados, quatro anos, gerou cinco mil, de baixa qualificação.
Em 2015, o primeiro-ministro Li Keqiang veio a Brasília, e saiu do Planalto a informação de que a China financiaria a construção de uma ferrovia até o Oceano Pacífico. Lorota nacional.
Lula ainda nem embarcou e já tem gente falando que os chineses comprarão bilhões de dólares do agro brasileiro. No lado chinês, fala-se pouco e calcula-se muito.
No mundo das compras e vendas reais, as montadoras de veículos brasileiros pedem que seja antecipada a elevação de 25% para 35% da tarifa de importação para os carros elétricos. Razão: o mercado brasileiro teve um pico de entrada de carros chineses. As montadoras têm pressa, porque sabem que depois do embarque de Lula, essa elevação fica mais difícil. Antes, envenenará a agenda.
A ideia de que os chineses estão prontos para comprar seja o que for é um velho mito, e os americanos acreditaram nele. Deu no que deu.
ENERGIA MAIS BARATA
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, anunciou um pacote típico da busca de Lula 3.0 pela popularidade perdida. Pretende baixar as contas de luz de 60 milhões de pessoas e zerar as tarifas de 16 milhões de famílias carentes.
Junto com o benefício, o governo pretende atender a um antigo pleito do mercado tradicional, reduzindo os estímulos à geração de energia solar e eólica.
O atraso ganhou mais uma. Afinal, uma coisa pouco tem a ver com a outra.
TRUMP X HARVARD
Quando a universidade Harvard topou a briga com Donald Trump ela sabia seu peso.
Saída do espólio de um taverneiro em 1636, pelo seu gramado passaram oito presidentes americanos e 188 bilionários vivos.
Sua máquina é tão segura de si que, segundo a lenda, em 1971, deu-se o seguinte diálogo entre o professor licenciado Henry Kissinger, então poderoso assessor do presidente americano para assuntos de segurança nacional e um burocrata da administração:
Quero lhe comunicar que resolvi renunciar.
A qual dos dois cargos? Perguntou o funcionário.
OLHEM PARA O BRB
De um papeleiro com décadas de traquejo.
Está todo mundo olhando para o banco Master, com sua moderna e folclórica rede de conexões. Estão frangando a cena do BRB, um banco estatal que ecoa os costumes do Banespa ou do Banerj, com suas conexões do século passado.
ARCABOUÇO JÁ ERA, por Carlos Alberto Sardenberg, no jornal O Globo
Quando o governo Lula criou o arcabouço fiscal, muitos analistas e jornalistas, inclusive o autor desta coluna, sustentaram que só funcionaria com expressivos aumentos de receita. Como a carga tributária já era elevada, parecia tarefa impossível. Vá lá que se conseguisse algum ganho inicial, mas imaginar que se poderia tirar mais dinheiro do contribuinte por anos a fio era ilusão.
Do outro lado da conta, o arcabouço garantia crescimento da despesa de 2,5% ao ano, acima da inflação. E esse era o verdadeiro objetivo do governo Lula: voltar à velha política petista do aumento permanente do gasto público. Como a dívida pública já estava em níveis muito elevados, foi preciso criar o tal arcabouço, apresentado como sistema mais sofisticado que o teto de gastos.
Havia aí um argumento: o teto de gastos havia sido furado no governo Bolsonaro. Mas o teto serviu bem durante o governo de Michel Temer, com Henrique Meirelles no Ministério da Fazenda. A regra, introduzida naquele mesmo governo, era de uma simplicidade brilhante, facilmente compreensível. Dizia: o gasto do governo de um ano será igual ao do ano anterior, mais a inflação do período. Não haveria aumento real da despesa.
Como a economia normalmente tem crescimento real, com o tempo a despesa diminuiria em proporção oPIB. Assim, não era preciso aumentar a carga tributária. O ganho com impostos, resultante de maior produção econômica, formaria superávit primário, com que se poderia abater a conta de juros e reduzir o endividamento do governo. Assim funcionou.
Incluídas as reformas — previdenciária (encaminhada), trabalhista, introdução das Parcerias Público-Privadas e revisão da Taxa de Juros de Longo Prazo,
eliminando subsídios nos financiamentos do BNDES —, o governo Temer deixou uma herança extremamente positiva: um país preparado para crescer em
regime de estabilidade fiscal.
O governo Bolsonaro conseguiu concluir a reforma da Previdência, mas foi só. Verdade que houve a pandemia, que exigiu gastos enormes para apoiar famílias e empresas, mas, em cima disso, o teto começou a ser furado com diversas exceções — despesas feitas, mas não contabilizadas.
No governo Lula, o ministro Fernando Haddad decretou a morte do teto de gastos e inventou o arcabouço fiscal, apresentado como grande sacada: permitiria o aumento de gastos com equilíbrio fiscal. Curioso: ele dizia que o teto de gastos não tinha como funcionar, pois engessaria um governo
que precisava gastar para atender os mais pobres. Mas, na prática, o que fez o ministro? Criou um teto mais alto: a despesa de um ano passou a ser igual à
do ano anterior, mais a inflação, mais 2,5% reais.
Não deu certo. O arcabouço nasceu torto porque o governo criou ou aumentou despesas que cresceram mais que 2,5% ao ano. São os gastos obrigatórios com Previdência, funcionalismo e programas sociais (Benefício de Prestação Continuada, abono e seguro-desemprego).
Ora se a maior parte da despesa cresce mais que os 2,5% permitidos, os demais gastos terão de ser cortados. Como o governo não quer cortar, aumenta os
impostos. Como mesmo o aumento de impostos é insuficiente, volta-se à prática de excluir despesas do teto. Não entram na conta, de modo que a meta de equilíbrio está cumprida formalmente, mas a dívida pública aumenta onde mora o problema maior.
Dá nisso: para equilibrar as contas deste ano, o – governo precisa aumentar receitas. Para o ano que vem, conforme o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias recém-enviado ao Congresso, o governo precisa rá tirar mais R$ 118 bilhões dos contribuintes. Não há a menor indicação plausível de como isso será feito. Em 2027, segundo as previsões oficiais, o dinheiro acaba. Feitos os gastos obrigatórios, não sobra dinheiro nem para o cafezinho do pessoal.
Esqueçam isso de equilíbrio ou arcabouço fiscal. O governo aumentará o déficit e a dívida. Isso será mais inflação, juros mais altos e menos crescimento.
Claro, claríssimo
CORRUPÇÃO VAI, IMPUNIDADE VEM, por Plabo Orttelado, no jornal O Globo
Muitas vozes reagiram indignadas quando Donald Trump concedeu perdão aos vândalos e golpistas que invadiram o Capitólio, nos Estados Unidos. Outras vozes se escandalizaram quando o ex-presidente Jair Bolsonaro concedeu indulto ao ex-deputado Daniel Silveira, acusado, entre outras coisas, de incentivar a agressão a ministros do STF. A maioria dessas vozes, porém, se calou quando o presidente Lula concedeu asilo, intercedeu por um salvo-conduto e enviou um avião da FAB para resgatar Nadine Heredia no Peru.
Nadine foi condenada pela Justiça peruana por gerir o caixa dois da campanha do marido, o ex-presidente Ollanta Humala, e por ter recebido pelo menos US$ 3 milhões de doação ilegal da empreiteira brasileira Odebrecht. Segundo delações premiadas dos executivos da Odebrecht no Brasil, o pedido para a doação ilegal veio do PT. De acordo com a delação do ex-ministro Antonio Palocci, diretamente do então presidente Lula.
A atuação da Odebrecht no Peru é escandalosa e deriva de sua atuação no Brasil, investigada pela Operação Lava-Jato. A Odebrecht foi acusada pela promotoria peruana de ter fraudado licitações e financiado ilegalmente campanhas políticas, tal como fez no Brasil. Pelo menos quatro ex-presidentes peruanos foram envolvidos no escândalo.
Mais Sobre Peru
Desde 2024, o ex-presidente Alejandro Toledo (2001-2006) cumpre pena de 20 anos de prisão por receber US$ 35 milhões em subornos da Odebrecht. Em 2019, outro ex-presidente, Alan García (2006-2011), se matou no momento em que seria preso, também acusado de receber propinas da Odebrecht. Um terceiro ex-presidente peruano, Pedro Pablo Kuczynski (2016-2018), também foi acusado por corrupção no caso Odebrecht e está em prisão domiciliar. Finalmente, na última terça-feira, a Justiça do Peru condenou o quarto ex-presidente, Ollanta Humala (2011-2016), a 15 anos de prisão por lavagem de dinheiro e recebimento de fundos ilícitos para sua campanha, originados da Odebrecht.
Segundo depoimento de Jorge Henrique Simões Barata, ex-diretor da Odebrecht no Peru, Marcelo Odebrecht ordenou “apoiar a campanha do senhor Ollanta Humala” com “3 milhões de dólares”, esclarecendo que o pedido veio “do Partido dos Trabalhadores” — o esclarecimento se deveu ao fato de Humala não ser o melhor candidato para os interesses econômicos da empresa. Em sua delação premiada, Marcelo Odebrecht explicou que a doação para Humala era de “interesse geopolítico do PT”. Na delação de Palocci, o pedido para a doação partiu diretamente “de Lula para a campanha de Ollanta Humala”.
No dia do anúncio da sentença que a condenou e ao marido, Nadine Heredia se dirigiu à embaixada brasileira e pediu asilo político. O Brasil não apenas aceitou o pedido, como o presidente Lula intercedeu junto à presidente do Peru, Dina Boluarte, para que lhe fosse concedido salvo-conduto, a fim de que pudesse transitar entre a embaixada e o aeroporto sem o risco de prisão. Lula ainda enviou um avião da FAB, com recursos do contribuinte, para resgatá-la. Ao conceder asilo, o governo brasileiro não apenas acolheu Nadine Heredia, mas também endossou, indiretamente, a narrativa de sua defesa — segundo a qual não cometeu crime, mas foi vítima de perseguição política por parte da Justiça peruana. O reconhecimento de perseguição política é pré-requisito legal para a concessão de asilo.
Ao aceitar o pedido de asilo e ainda interceder junto à presidente do Peru, Lula mostrou, na melhor das hipóteses, falta de compostura institucional, demonstrando arrogante desprezo pelos protocolos de lisura e decoro. Na pior das hipóteses, protagonizou um gesto obsceno de autoproteção, ao tentar livrar da Justiça a responsável pelo caixa dois de uma campanha que ele próprio ajudou a financiar ilegalmente.
Em entrevista à rádio CBN, o diretor da Transparência Internacional no Brasil, Bruno Brandão, resumiu o episódio com precisão: o Brasil, que exportou corrupção, agora importa impunidade.
REDUÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO NÃO PASSA DE ENGODO, editorial do jornal O Globo
Os projetos em tramitação no Congresso defendendo a redução da jornada semanal de trabalho ganharam apoio de setores da esquerda com base numa visão idealista e distorcida da realidade econômica. Defensores do fim da jornada de 44 horas semanais — ou 6×1, com seis dias trabalhados e um de folga — ignoram (ou fingem ignorar) que a mudança teria consequências dramáticas para o crescimento e a geração de riqueza.
Num cenário otimista, reduzi-la para 40 horas, com duas folgas semanais, provocaria queda de 14,2% no PIB, com perda de 16 milhões de empregos e de R$ 102 bilhões em impostos, segundo estudo da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). Tal cenário considera que haveria aumento de 1% na produtividade do trabalho, patamar muito superior ao 0,2% anual registrado entre 1981 e 2024. Sem esse aumento, a queda no PIB chegaria a 16%, com perda de 18 milhões de empregos e de R$ 118 bilhões em impostos, destinados a investir em educação, segurança ou saúde.
Estimando a perda com base noutra metodologia, o economista Fernando de Holanda Barbosa Filho, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre), calculou que a redução da jornada para 36 horas resultaria em queda de 11,3% no valor adicionado pelo trabalho à economia. Independentemente do método, é consenso que haveria encolhimento da riqueza produzida, portanto menos oportunidades e maior miséria.
Não é difícil entender os motivos. De olho nos votos, ninguém no Congresso defende diminuir salários de forma proporcional à redução das horas trabalhadas. Sem isso e sem maior produtividade, a redução da jornada não passa de um aumento salarial sem lastro. Muitas empresas não podem absorver o baque, e os custos seriam repassados ao consumidor, aumentando a inflação. As incapazes de repassar tudo seriam forçadas a demitir ou a substituir trabalhadores formais por informais.
Defensores da redução da jornada argumentam que a medida ajudaria a aumentar a produtividade. Trata-se de uma falácia. De acordo com esse pensamento mágico, os trabalhadores gerariam a mesma produção trabalhando menos horas — como se estivessem fazendo corpo mole à espera da mudança. A realidade é o oposto disso. Setores que conseguem se manter produtivos já reduziram a jornada para cinco dias semanais. De resto, a produtividade do trabalho no Brasil tem evoluído de forma medíocre há décadas, e nem Congresso nem governo têm tomado medidas para resolver essa deficiência, a principal da economia brasileira.
Os países que reduziram a jornada com sucesso viviam conjuntura bastante distinta. A Coreia do Sul introduziu a semana de cinco dias em 2004. O novo sistema começou no setor público e nas empresas maiores antes de ser adotado pelas demais. De lá para cá, o desemprego se manteve abaixo dos 5%, mesmo durante a pandemia. Coreanos trabalham mais horas que empregados nos países ricos, mas dedicam cada vez menos tempo ao emprego. Como conseguem? A produtividade cresce a altas taxas. Três garçons coreanos dão conta de atender o mesmo número de mesas, trabalhando menos. Com isso, pode haver mais folgas. No Brasil, a situação é outra. Levando em conta férias e feriados, o brasileiro trabalha muito menos que a média global. Sem que se torne mais produtivo, não é hora de reduzir a carga ainda mais.
EUA vivem nostalgia, que olha com receio para o passado, em vez de mirar o futuro com confiança, by Farred
TRUMP REPETE ERRO DA DÉCADA DE 1930, por Farred Zakaria, para a Newsweek, traduzido e publicado no jornal o Estado de S. Paulo
Quando Donald Trump tomou posse, pela maioria dos indicadores, os EUA eram a economia mais forte do mundo. O crescimento era robusto, o desemprego estava um pouco acima do mínimo histórico, a inflação havia caído para um nível controlável e a produtividade – elixir da economia – havia aumentado. Trump pegou a economia em expansão e a derrubou com aumentos de tarifas. Já houve algo parecido antes?
Bem, nada tão autodestrutivo, mas as tarifas Smoot-Hawley também foram impostas depois de uma década de crescimento inebriante. Vale a pena relembrar essa história, porque há paralelos surpreendentes com a situação atual.
Lembramos a década de 1920 como os “loucos anos 20”. Em termos econômicos, isso é apropriado. A taxa de crescimento anual foi superior a 4%. O desemprego permaneceu baixo durante a maior parte dela. Inovações revolucionárias definiram o período, permitindo a produção em massa de carros, aviões, telefones, rádios e filmes. A televisão nasceu nessa época, assim como os band aids, que muitos consideraram a melhor coisa desde o pão fatiado, também inventado nessa época.
Henry Ford aperfeiçoou o sistema de produção em massa que definiu a manufatura moderna por décadas. O sentimento em relação aos anos 20 era de celebração pela criação de uma nova economia, assim como as décadas de 1990 e 2000.
Mas havia outra história sobre aquela década, que tratava do esvaziamento de um setor americano central, da remessa de empregos para o exterior e da perda da alma do país. A agricultura estava no centro da economia americana, respondendo pela maior parte da força de trabalho até o fim do século 19.
Mesmo em 1900, 40% da força de trabalho americana estava no setor agrícola. O país era definido por seus fazendeiros. Cada um dos primeiros presidentes americanos – Washington, Adams, Jefferson – possuía fazendas. Mas o aumento da produção industrial resultou na erosão desse cenário.
MUDANÇA.
Em 1920, mais da metade do país havia se mudado para as cidades, e só 26% dos americanos trabalhavam na agricultura. O estilo de vida americano estava em perigo.
O primeiro grande movimento populista dos EUA nasceu no final do século 19, em resposta ao declínio da agricultura. Por um breve período, ele conquistou o Partido Democrata, com o ardente orador populista William Jennings Bryan tornando-se três vezes o candidato do partido à presidência.
Na década de 1920, o movimento havia se enfraquecido e se movido para facções minoritárias de democratas e republicanos. Ele voltou a ganhar terreno quando a agricultura foi atingida durante a década de 1920. Isso aconteceu porque após os anos de expansão da 1.ª Guerra – quando os EUA alimentaram uma Europa em guerra – houve uma queda acentuada na demanda quando as fazendas da Europa voltaram a produzir.
O establishment republicano se opôs aos subsídios e à lei de apoio aos preços que beneficiava a agricultura. Calvin Coolidge vetou medidas que ajudavam os agricultores nos anos 1920. Mas, em 1930, após o crash da bolsa, os republicanos de Estados agrícolas estavam convencidos de que os agricultores precisavam de apoio.
Eles se aliaram a legisladores que queriam proteger o setor industrial e produziram um “grande e belo projeto de lei” que aumentava as tarifas industriais e agrícolas. Mais de mil economistas escreveram uma carta aberta ao presidente Herbert Hoover pedindo que ele não assinasse o projeto, porque aumentaria os preços e prejudicaria as exportações. Mas Hoover assinou.
A reação global foi semelhante à atual. Os países ficaram indignados, muitos retaliaram e aqueles com laços econômicos mais estreitos com os EUA responderam com mais força. As tarifas abalaram as relações com o Canadá. O surto de protecionismo enfureceu os canadenses, que retaliaram com suas próprias tarifas. O nacionalismo canadense aumentou e, nas eleições daquele ano – um paralelo assustador – o partido visto como o mais antiamericano venceu.
NOSTALGIA.
Os estudiosos discordam sobre os efeitos das tarifas Smoot-Hawley. Atualmente, poucos argumentam, como no passado, que elas causaram a Grande Depressão, mas muitos dizem que elas a exacerbaram. O que ninguém discute é que elas não preservaram os empregos dos agricultores. Hoje, a agricultura emprega 1% da força de trabalho do país.
No século 20, considerávamos a agricultura como algo especial. É importante cultivar coisas. Por isso, tributamos o país inteiro para proteger os agricultores. No século 21, temos opiniões semelhantes sobre a manufatura. É importante fabricar coisas.
Portanto, estamos tributando todo o país, mais de 80% do qual trabalha com serviços, para subsidiar os 8% que trabalham com manufatura. É uma política de nostalgia, que olha com receio para o passado, em vez de mirar o futuro com confiança.
Um desenho racional (e possível) para o futuro chinês (e mundial), a partir de uma decisão irracional (e prejudicial) de Trump para os Estados Unidos a médio prazo
A CHINA DE AMANHÃ, por Demétrio Magnoli, no jornal Folha de S. Paulo
A China representa 19% do PIB global, mas responde por 32% da produção industrial mundial. O desequilíbrio, cujas implicações contribuíram para a ascensão de Trump, não é sustentável. No fim do percurso, o triunfo chinês na guerra tarifária depende da “normalização” de sua economia.
O modelo exportador da China ancora-se no excesso de poupança doméstica –ou, dito de outro modo, num consumo interno reprimido. O segredo repousa no sistema político totalitário, que mantém baixos salários, veta políticas de bem-estar social e recusa-se a erguer um sistema decente de seguridade social.
Desde o ingresso chinês na OMC, em 2001, à base de uma intrincada rede de subsídios estatais, o modelo propiciou a expansão da indústria em saltos tecnológicos sucessivos, até a produção de veículos elétricos, painéis solares, baterias e softwares de IA. Os bens chineses inundaram o mercado mundial, eliminando competidores, devastando antigas regiões industriais e, nesse passo, deslocando os sistemas políticos nacionais.
A reação dos EUA começou com as tarifas seletivas de Trump 1, que buscavam estimular a relocalização industrial nos EUA ou em países parceiros. Prosseguiu com Biden, que deflagrou políticas industriais eficazes de subsídio a setores estratégicos (semicondutores, veículos elétricos, aeroespacial) e fracassou na tentativa de sancionar empresas de ponta chinesas, algo ilustrado pela Huawei e pelo Deep Seek. Trump 2, contudo, jogou o tabuleiro pela janela, apostando numa aventura mercantilista sem rumo.
Trump tinha a possibilidade de radicalizar as políticas seguidas por Biden. Nessa linha, em coordenação com os aliados na Europa e Ásia, iniciaria uma escalada tarifária coletiva e gradual sobre a China, ao longo de um horizonte plurianual. A pressão sustentaria negociações baseadas na exigência de redução dos subsídios industriais chineses e, imitando as práticas do rival, obter o deslocamento de unidades produtivas da China para os EUA em joint ventures com empresas nacionais.
O objetivo seria alcançar um reequilíbrio da economia mundial, não edificar uma muralha protecionista em torno dos EUA. Trump, porém, enxerga o comércio como um jogo de soma zero orientado pela busca obsessiva de superávits. Partindo dessa superstição ideológica, resolveu declarar uma guerra tarifária contra o mundo.
Xi Jinping desenhou seu caminho. A China exibe-se como campeã do livre intercâmbio e das regras comerciais multilaterais. Enquanto aplica retaliações aos EUA, promete abrir seu mercado interno e controlar os preços de suas exportações, evitando uma inundação global de produtos excedentes. De olho na Europa, os chineses exploram as oportunidades criadas pela investida de Trump contra a União Europeia.
O sucesso da estratégia depende de uma revisão estrutural do modelo econômico chinês, com a absorção do excedente de bens industriais pelo mercado interno. No cenário da guerra tarifária, dramatizado pelo envelhecimento demográfico, a China precisa transformar poupança doméstica em consumo, o que demanda reformas sociais profundas.
A China de amanhã não será a “fábrica do mundo”, mas uma economia industrial normal. A mutação inevitável foi acelerada por Trump. Ironicamente, o custo principal do reequilíbrio recairá sobre os EUA.
O continuado e insistente ativismo da Justiça do Trabalho “trabalha” contra ela própria e no fundo, contra os trabalhadores
O BUSÍLIS DA “PEJOTIZAÇÃO”, editorial do jornal Folha de S. Paulo
O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu a tramitação de todos os processos sobre a chamada “pejotização”. Trata-se de uma modalidade de contratação de autônomos ou prestadores de serviços na condição de pessoas jurídicas, como médicos, advogados, corretores, profissionais de tecnologia da informação, entre outros, que tem causado conflito entre o Supremo e a Justiça do Trabalho.
Não raro, magistrados trabalhistas afirmam que atrás de um contrato civil ou comercial de prestação de serviço há uma fraude contratual trabalhista. Reconhecem, então, o vínculo de emprego, previsto na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em razão da subordinação, quando identificam, por exemplo, a exigência de cumprimento de jornada.
A controvérsia sempre existiu, mas ganhou contornos superlativos após o STF declarar, acertadamente, a constitucionalidade da terceirização da atividade-fim, válida desde a reforma trabalhista. O Supremo editou duas teses, de modo a enquadrar a Justiça do Trabalho, que, como se sabe, tende a afrontar as regras trabalhistas aprovadas durante o governo de Michel Temer.
Numa das teses, ficou estabelecido que “é lícita a terceirização de toda e qualquer atividade” e que a contratante se responsabiliza subsidiariamente por violações de normas trabalhistas e previdenciárias. Na outra, o STF afirmou que “é lícita a terceirização ou qualquer outra forma de divisão do trabalho entre pessoas jurídicas distintas”. Com esses dois precedentes, esperava-se que as divergências fossem superadas. Foi quando surgiu a confusão em torno da “pejotização”.
Advogados de empresas condenadas por fraude contratual trabalhista passaram a alegar que a “pejotização” é lícita por causa da terceirização irrestrita. Em reclamações, instrumentos pelos quais se queixa de descumprimento de precedentes, alguns ministros do Supremo aderiram a esse argumento. O STF parece confundir os conceitos. A terceirização exige três requisitos: a empresa contratante, a empresa terceirizada e o empregado dessa empresa, que geralmente tem carteira assinada. Já na “pejotização”, o contrato é entre duas partes: o “pejotizado”, sem qualquer direito assegurado, e a empresa.
Como nunca discutiu a “pejotização” em plenário, o STF decidiu julgar um recurso extraordinário com repercussão geral sobre o tema. No caso concreto, um corretor de seguros contestou uma decisão da Quarta Turma do Tribunal Superior do Trabalho (TST), que negou, com base nos precedentes sobre a terceirização, o seu vínculo de emprego. Relator do caso, Gilmar fez bem ao impedir “a multiplicação de decisões divergentes sobre a matéria” e privilegiar “o princípio da segurança jurídica”.
O STF terá de decidir sobre “a competência e o ônus da prova nos processos que discutem a existência de fraude no contrato civil/comercial de prestação de serviços” e “a licitude da contratação de pessoa jurídica ou trabalhador autônomo para essa finalidade”. Eis o perigo.
O STF poderá declarar a Justiça do Trabalho incompetente para tratar desse tema, transferindo-o à Justiça Comum – menos acessível aos trabalhadores comuns. Em que pese o fato de que a Justiça do Trabalho frequentemente extrapole em suas decisões e abuse do ativismo, não foram revogados os artigos 9.º da CLT, que declara nulo o contrato que frauda a lei trabalhista, nem o 114 da Constituição, que dá a esse ramo especializado do Judiciário a competência para julgar “as ações oriundas da relação do trabalho”.
Se o STF liberar uma “pejotização” irrestrita, ignorando vínculos de trabalho, é possível que muitos celetistas se vejam pressionados a aderir a esse tipo de contrato. O Supremo poderá dessa forma, de maneira generalizada, prejudicar direitos trabalhistas, como férias e décimo terceiro salário, previstos no artigo 7.º da Constituição, e também direitos previdenciários. Sem contar o risco à Previdência Social, já imensamente deficitária, pois haveria diminuição drástica de contribuintes.
A redução dos encargos trabalhistas é uma necessidade para o País, mas isso não pode ser feito à custa da precarização total das relações de trabalho, ao arrepio da Constituição. Diante disso, espera-se que o Supremo tenha juízo com a decisão que venha a tomar.
HUGO MOTA GANHA TEMPO, por Vera Magalhães, no jornal O Estado de S. Paulo
O recesso branco da Câmara neste feriadão foi interrompido pela greve de fome do deputado Glauber Braga e pela precipitação do PL, que não esperou o coelho da Páscoa para protocolar o pedido de urgência ao projeto de anistia dos condenados do 8 de Janeiro. Nos dois casos, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), agiu com o mesmo expediente: à distância, procurou ganhar tempo e empurrar os pepinos para a frente.
Como se sabe que problemas adiados não deixam de existir, apenas se prolongam, a pauta da Casa presidida por Motta segue à mercê de fatos que passam ao largo daquilo que, ele prometeu, seria sua prioridade quando sucedeu a Arthur Lira: os grandes temas econômicos de interesse do Brasil, que não dissessem respeito apenas à polarização a cada ano acentuada entre PT e bolsonarismo.
Ao delegar ao colégio de líderes a decisão sobre o projeto de anistia — que, conforme o ministro Gilmar Mendes apontou, de forma absolutamente pertinente, é apenas um cavalo de Troia de dentro do qual sairão Jair Bolsonaro e seus aliados na tentativa de golpe —, Hugo Motta posa de democrata, mas mostra que sua imagem como presidente da Câmara ainda está em construção.
A depender da maneira como conduzir as tratativas, pode ser visto pelos pares e pela imprensa como democrata —distante, portanto, do perfil centralizador que marcou os dois mandatos de Lira —, mas também pode se mostrar hesitante, inexperiente ou pouco corajoso para o desafio de, tão jovem, comandar uma das Casas do Legislativo federal. O limite entre sucesso e fracasso em pauta tão divisiva quanto complexa é quase imperceptível.
O mesmo se aplica à discussão a respeito do pedido de cassação do mandato de Glauber Braga. O psolista só está com o mandato por um fio por suas posições muitas vezes contrárias a grupos econômicos com grande ascendência sobre as bancadas e a interesses corporativos dos próprios colegas. Em outras palavras: a antipatia e o gostinho de ir à forra explicam que Braga seja alvo de uma dureza que não se viu com outros deputados autores de agressões similares à dele ou acusados de crimes concretos.
Qual é o papel de Motta nisso? De novo, tentar equilibrar pratinhos para evitar a escalada da crise. Aliados seus e de Braga convergem para o mesmo diagnóstico: a mão invisível que move as peças nesse tabuleiro é de Lira, cujo poder acumulado em quatro anos foi tamanho que não se extinguiu com a passagem do bastão e do gabinete.
Adiar para o segundo semestre o desfecho da novela ajudou o atual maestro da Câmara a evitar que a situação de saúde de Braga se deteriorasse a ponto de se tornar preocupante. Um prolongamento da greve de fome que o levasse a ser internado em estado grave faria com que a responsabilidade recaísse sobre a presidência da Câmara, não só pelos óbvios dois pesos e duas medidas na pena, como pela desmobilização da cúpula da Casa no feriadão.
Colegas de Motta atestam que, até aqui, nada muda no prognóstico de que Braga deve, no segundo semestre ou agora, perder mesmo o mandato. Mas a suspensão de sua greve de fome evita o pior para a imagem da instituição e dá a ele, ao menos, a chance de articular a própria salvação por mais tempo.
Com as decisões que empurraram os prazos no calendário, Motta espera que o governo Lula deixe de ser um espectador das crises e passe a agir. Aliados lembram que não é função do presidente da Câmara apagar incêndios que atingem o Executivo, como a proposta da anistia, e que ele tem sido um aliado confiável na intenção de facilitar a tramitação de projetos de interesse do governo, como o do Imposto de Renda. Mas, para que eles andem e os bodes sejam tirados da sala, Lula precisa mostrar força, algo cada vez mais distante da realidade, a cada semana que passa.
Na quadrilha, ladrão protege ladrão, se estabelece na irresponsabilidade fiscal, no aparelhamento do estado e nos desvios dos cada vez mais altos pesados impostos on line contra o povo. E depois o PT, a esquerda do atraso e Lula não sabem a razão pela qual o seu governo é tão rejeitado, mesmo diante de tanta marquetagem com cheiro de mofo do século passado, mesmo estando em pleno 2025 do século 21
O ESTRANHO CASO DA PRIMEIRA-DAMA PERUANA, editorial do jornal Folha de S. Paulo
Logo após ser condenada por lavagem de dinheiro pela Justiça peruana na terça (15), a ex-primeira-dama Nadine Heredia escapou da pena de 15 anos de prisão ao ser acolhida na embaixada brasileira em Lima. Em seguida, obteve asilo concedido pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O episódio parece não ter gerado rusgas diplomáticas. Afinal, a presidente Dina Boluarte, de centro-direita, emitiu o salvo-conduto para Heredia embarcar num avião da Força Aérea Brasileira para São Paulo (SP), aonde chegou na quarta (16).
O caso, todavia, é intrigante, sobretudo pela falta de explicação da gestão petista para decidir com base na Convenção sobre Asilo Diplomático (1954) e no artigo 4º da Constituição brasileira.
Isso porque, a rigor, Heredia não sofre perseguição política em seu país —critério fundamental para a concessão de asilo. Sua condição é de condenada por um crime comum pelo Tribunal Superior Nacional peruano, com direito a apelação à Corte Suprema de Justiça, o que inviabilizaria qualquer pedido de acolhida.
O governo Lula poderia ter negado a solicitação. Mas preferiu desconsiderar o rito judicial do vizinho e se apoiar no argumento dos advogados da ex-primeira-dama, segundo o qual não havia provas para a condenação.
Heredia e o marido, o ex-presidente de esquerda Ollanta Humala, foram penalizados por lavar cerca de US$ 3 milhões recebidos ilegalmente da empreiteira brasileira Novonor (à época, chamada Odebrecht) e US$ 200 mil de Hugo Chávez, ex-presidente da Venezuela já falecido, para financiar as campanhas eleitorais de 2011 e 2006, respectivamente.
Humala está no mesmo presídio onde dois outros ex-presidentes peruanos cumprem penas por corrupção. São sequelas das relações nefastas da Odebrecht com líderes estrangeiros. A empresa também esteve envolvida no escândalo que levou a punições pela Justiça de figuras do alto escalão do PT —a condenação de Lula foi posteriormente derrubada.
O inquérito contra o casal, iniciado em 2016, considerou as provas obtidas no acordo de leniência fechado pela Odebrecht no âmbito da Operação Lava Jato, que foram mantidas pela promotoria peruana mesmo depois de o Supremo Tribunal Federal (STF), no Brasil, tê-las anulado em 2023.
Tal dissenso entre as Justiças peruana e a brasileira, contudo, não exime o governo Lula de explicar por que decidiu abrir o precedente de conceder asilo político a uma condenada por crime comum que tem garantido o direito à ampla defesa em seu país
Trump desvia os nossos olhares e questionamento. Cria cortina de fumaça de ocasião. Lula, PT, a esquerda do atraso comanda a irresponsabilidade fiscal com aval do Congresso Nacional, que se diz nosso representante. Ao menos, elegemos os deputados como tal. E eles fazem isso, farreando com os bilhões de reais das emendas feitas todas com os nossos pesados impostos, cada vez mais altos e on line
NA ZORRA DE TRUMP, O BRASIL SE ESQUECE, por Vinicius Torres Freire, no jornal Folha de S. Paulo
Desde 2023, sabia-se que o gasto do governo explodiria o arcabouço fiscal em algum momento em torno de 2027. Isto é, a coisa iria para o vinagre ao final de Lula 3 se não houvesse mudança maior no ritmo de crescimento de despesas, grosso modo determinado por leis, “gasto obrigatório”, piorado desde fins de 2022.
Pois bem. Nesta semana, o roteiro da explosão até 2029 foi desenhado pelo próprio governo, que apresentou as linhas gerais do Orçamento de 2026 (o projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias).
Prestou-se atenção ao fato de que, em 2027, será preciso incluir nas contas (de despesa, de saldo primário) o gasto inteiro com sentenças judiciais (“precatórios”). Até lá, para certos fins fiscais oficiais, finge-se que um gasto de uns R$ 50 bilhões não existe (reaparece no aumento sem limite da dívida pública). Note-se, porém, que, pelo menos a partir de 2028, o que sobra para o governo gastar, além do obrigatório, é achatado com ou sem precatório. Ou se muda o limite de gastos, ou a meta de superávit primário ou se faz alguma gambiarra ou não vai sobrar nada. Bum.
Vai ter mudança já em 2026, ano eleitoral? De que tipo? Reforma fiscal? Empurra-se com a barriga? Lula 4, caso eleito, diria, em 2027, “olha, deu ruim”? Como Dilma Rousseff em 2015?
Seria bom pensar no assunto, parece, né. Mas o Brasil político, “oficial”, parece esquecido de si. O Congresso não voltou do recesso, afora para resolver seus dinheiros de emendas e para tocar a anistia, a lei pró-golpe. O governo apareceu com o projeto da isenção do Imposto de Renda. O ano agora começa depois da Páscoa?
Muito ainda se fala de como o Brasil pretende negociar o aumento do imposto americano de importação do aço nacional, como se o caldo não fosse muito mais grosso —um espanto. Pelo menos, não falam mais da tolice de retaliar os EUA tributando batom, óculos de sol ou sei lá. E daí?
Houve meses de aviso. Deveríamos estar tratando do que fazer das relações com a China. Do que fazer do risco de desova, por aqui, de produtos chineses ou sabe-se lá mais quem. Deve haver superoferta global —concorrência com indústria doméstica, com um pequeno bônus de queda de preços. Vamos esperar chover?
A provável perda de ritmo da economia tende a criar algum problema para a receita do governo. Preços menores de commodities, em especial petróleo, tiram outro pedaço da receita e da atividade. Sim, pode haver o bônus da redução do preço dos combustíveis, quando alguém tiver noção vaga no que var dar a baderna sinistra de Trump. Mas não estamos otimistas demais com essa receita prevista no Orçamento? É um modo ameno de perguntar.
Pode ser que a desaceleração global, superoferta e, talvez, dólar mais barato permitam que o Banco Central não leve a Selic além de 15% e, quem sabe, baixe juros até o final do ano.
Para pensar nisso tudo, é preciso levar em conta o efeito direto da redução de comércio com os EUA, dos desvios de comércio, do destino dos juros americanos e do dólar no mundo, do preço das commodities, do efeito geral da incerteza e das condições financeiras do mundo. Logo, está muito mais difícil de dar chutes informados do que de costume. Mas o mundo está do avesso e nossos problemas profundos mais imediatos permanecem, e graves (“o fiscal”). Vamos acordar?
O Brasil oficial parece no decúbito eterno —deitado em berço esplêndido.
Leia. Matute. Tente entender. É esta a “democracia” que o STF defende, a liberdade de roubar os pesados impostos do povo para políticos, o PT, a esquerda do atraso e empresários amigos seus se esbaldarem?
COMO É BOM SER AMIGO DE LULA, editorial do jornal O Estado de S. Paulo
Por decisão do presidente Lula da Silva, o Brasil concedeu asilo político a Nadine Heredia, mulher do ex-presidente do Peru Ollanta Humala, após ambos serem condenados a 15 anos de prisão por corrupção, num desdobramento do escândalo flagrado pela Operação Lava Jato. Ou seja: depois de exportar a corrupção, o Brasil agora exporta a impunidade.
O Peru é um dos 12 países envolvidos em esquemas de propina da Odebrecht em contratos públicos. Entre dezenas de políticos, servidores e empresários, a Justiça peruana investiga quatro ex-presidentes. Humala, que governou de 2011 a 2016, foi o segundo a ser condenado, por, entre outros crimes, ocultar, com a cumplicidade de Heredia, cofundadora do Partido Nacionalista, US$ 3 milhões recebidos pela Odebrecht para a campanha de 2011.
Aparentemente, a Justiça peruana não tem um similar local do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), segundo quem os casos de corrupção da Odebrecht e outras empreiteiras foram na verdade uma ilusão de ótica fabricada pelo juiz Sérgio Moro numa conspirata contra empresários brasileiros e contra Lula. Não foi por falta de esforço de Toffoli, que em 2023 declarou nulas as provas obtidas contra Humala.
Tal como com outros países com os quais o Brasil firmou acordo de colaboração, Toffoli proibiu procuradores brasileiros de tomarem depoimentos de colaboradores da Odebrecht e barrou o depoimento de testemunhas brasileiras a autoridades peruanas. Tudo isso com a conivência de seus colegas no STF, que em 20 meses não se dignaram a julgar os recursos às decisões monocráticas de Toffoli que anularam mais de uma centena de casos no Brasil e estão beneficiando réus em países onde executivos da Odebrecht confessaram subornos multimilionários, como Equador, Argentina, Colômbia, Panamá e México. Felizmente para os peruanos, sua Justiça fechou acordos de delação diretamente com a empresa e seus executivos.
Mas, se Toffoli não foi capaz de iludir a Justiça peruana, lá está Lula para eludi-la. Sua proximidade com o casal Humala-Heredia é conhecida. Lula até destacou o marqueteiro petista Luis Favre para ajudar na campanha de Humala, financiada por dinheiro ilícito. Não por mera coincidência, o advogado de Heredia no Brasil é um dos líderes do grupo de juristas petistas intitulado Prerrogativas.
O Ministério das Relações Exteriores brasileiro invocou a Convenção sobre Asilo Diplomático de 1954, que concede asilo a perseguidos políticos. Faltou explicar por quais razões o governo crê que Heredia esteja sendo perseguida por motivos políticos. Afinal, ela não foi condenada por crime político, mas por crimes comuns. Tampouco o Brasil se deu ao trabalho de apontar qualquer violação às suas garantias processuais.
O que torna o desvio de finalidade e o desrespeito do governo brasileiro à Justiça peruana ainda mais acintosos é o fato de que o caminho legal nem sequer está fechado no Peru. A condenação ocorreu em primeira instância e ainda é passível de apelação.
Corruptos de toda a América Latina já sabem onde se refugiar da Justiça de seus países. Nem precisam provar que são inocentes ou perseguidos políticos, basta serem amigos de Lula.
A IGNORÂNCIA DA DEMOCRACIA DE TRUMP, por Elio Gaspari, nos jornais Folha de S. Paulo e O Globo
Não se pode exigir que os presidentes dos Estados Unidos conheçam a América do Sul. Franklin D. Roosevelt (1933-1945) chamou Getúlio Vargas de general, e George W. Bush (2001-2009) perguntou a Fernando Henrique Cardoso se havia negros no Brasil. A ignorância pontual é uma condição do gênero humano. Afinal, ninguém é obrigado a saber tudo, mas o problema se agrava quando o sujeito recicla a própria ignorância e acredita ter conseguido sabedoria. Esse é o caso de Donald Trump e de sua turma.
O secretário de Defesa, Pete Hegseth, disse que “o governo Obama (…) permitiu que a China se infiltrasse em toda a América do Sul e Central com sua influência econômica e cultural”, e acrescentou:
— Estamos retomando o nosso quintal.
O doutor falava do Canal do Panamá, onde empresas chinesas se estabeleceram no vácuo deixado pelos interesses comerciais dos Estados Unidos.
A China investe em matérias-primas e na infraestrutura na Ásia, África e América Latina de acordo com seus interesses. Não há um só caso de iniciativa chinesa contra a vontade de um país. (O Canal do Panamá foi arrancado da Colômbia no início do século XX.)
A miopia de Trump e sua turma está em querer fazer uma política a um só tempo isolacionista e expansionista, avançando sobre o Panamá, a Groenlândia, o Canadá e “retomando o nosso quintal”. Querem curar ressaca tomando mais um gole.
Deixando de lado considerações genéricas, pode-se ir ao mundo dos fatos. Enquanto os Estados Unidos estrangulam centros de estudo como o Wilson Center, de Washington, a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) se reunirá em maio. Onde? Pequim.
O Império do Meio é paciente, metódico e discreto. Em 1996, enquanto Donald Trump cuidava de imóveis a cassinos, a China mandou uma missão comercial a Fortaleza. Nela, mais magro e com cara de garoto, estava o vice-governador da Província de Fujian, Xi Jinping. Voltou em 2014, para uma reunião do Brics. Xi já esteve com três presidentes brasileiros e voltará a se encontrar com Lula no evento da Celac.
O governo americano teve, mas não tem mais, uma diplomacia atuante na América Latina. Roosevelt achou que Getúlio Vargas era um general, mas mandou Adolf Berle, um de seus principais assessores, para a embaixada no Rio. Hoje, os laços culturais dos Estados Unidos com seu “quintal” continuam fortes, mas o trumpismo hostiliza estudantes estrangeiros e avacalha suas universidades. Tudo bem. Foi-se o tempo em que Ralph Della Cava corria pelo Ceará estudando a vida do Padre Cícero e Alfred Stepan estava no Rio pesquisando a política dos militares. Veio o novo tempo, com a intimidação das universidades americanas e o objetivo de silenciar um pensamento radical. Vá lá, mas o problema está em outro lugar.
O agronegócio brasileiro deve parte de sua prosperidade às vendas que faz para a China (perto de US$ 50 bilhões em 2024). Quando Della Cava e Stepan eram jovens pesquisadores, um dos grandes frigoríficos que operavam no Brasil era o Armour, com o nome do magnata que ajudou a revolucionar a indústria de alimentos dos Estados Unidos no século XIX, para onde Trump quer levar seu país e, junto, o “quintal”.
QUEM DEFENDE A DEMOCRACIA? por Vera Magalhães, em O Globo
Estados Unidos e Brasil lidam neste momento com um dilema comum: como responder a diferentes graus de ameaça à democracia que aconteceram nos últimos anos e, por lá, se intensificam a cada dia no novo mandato de Donald Trump?
Enquanto aqui uma corrente política tenta convencer a sociedade de que o Judiciário exagera e persegue ao punir com rigor aquilo que a sua Corte mais alta, o Supremo Tribunal Federal, decidiu por ampla maioria ter sido uma tentativa de golpe de Estado, nos Estados Unidos as diferentes instituições começam a dar sinais de que perceberam quanto subestimaram a capacidade de destruição de todo o arcabouço democrático erigido nos últimos séculos por parte de uma oligarquia disposta a fazê-lo.
Vale a pena olhar para o que se passa em ritmo acelerado na maior potência do mundo para analisar com a frieza e a responsabilidade devidas as atuais tentativas de minimizar episódios como o 8 de Janeiro e a trama golpista urdida ainda na vigência do governo de Jair Bolsonaro.
Muito da sem-cerimônia com que Trump nomeou pessoas movidas por interesses particulares — muitas das quais notoriamente avessas às premissas básicas das áreas que foram designadas para comandar — e passou a investir simultaneamente contra os vários pilares sobre os quais a história democrática americana foi assentada se deve ao fato de que ele já tinha tentado fazer isso antes e não foi punido. Não só isso: foi ungido de volta, como se a maioria do eleitorado não só respaldasse ações impensáveis como a invasão ao Capitólio e a tentativa de não reconhecer o resultado das eleições de 2020, como pedisse mais.
Trump entendeu assim e está oferecendo muito mais. Se isso, por si só, já foi espantoso tratando-se de um país que sempre cantou em prosa e verso a solidez de sua democracia, a facilidade com que o presidente eleito novamente conseguiu amedrontar o Congresso, atemorizar as universidades a ponto de fazê-las sucumbir a censura e pressão financeira e desmontar agências, coalizões e departamentos, inclusive ligados à soberania nacional, faz qualquer filme distópico parecer fichinha.
Levou quase quatro meses para que personagens como Bernie Sanders, Alexandria Ocasio-Cortez ou instituições como Harvard começassem a erguer a voz, dizer “não” ao arbítrio e arregaçar as mangas. E precisou que os ditames de Trump começassem a bater no bolso daqueles que o reconduziram à Casa Branca para que a população começasse a ir às ruas e a dizer que não aceitaria mais avanços autoritários.
E também nesse aspecto há paralelos a ser construídos com o Brasil. O STF e, mais específica e sistematicamente, o ministro Alexandre de Moraes foram aqueles que pararam Bolsonaro quando se tentava passar a boiada na legislação de proteção ambiental, negar vacina e tratamento a populações específicas na pandemia, colocar em xeque o sistema eleitoral consagrado havia décadas e até impedir eleitores de votar, numa última tentativa desesperada de influir na vontade popular.
Nada disso, nem a invasão à sede dos três Poderes, foi brincadeira. Punir os responsáveis por essa sucessão de atos e decisões não é perseguir donas de casa indefesas, mas proteger a democracia, um bem tão frágil que basta dar poder a um autocrata para que venha a ser rapidamente reprimido.
Em 2022 e 2023 o Brasil se mostrou mais maduro e equipado que os Estados Unidos em 2020 e 2021 para lidar com as turbas, as eleitas e as alistadas, que tentaram conspurcar a ordem constitucional. Mas os ventos de lá sopram aqui quando tributários do trumpismo enxergam em sua volta ao poder a deixa para tocar o terror da pressão para que os Poderes sucumbam e passem a relativizar as tentativas de golpe em vários atos que vivenciamos.
Que a reação tardia e insuficiente da sociedade americana seja também um sacode nos que estão aos poucos sendo levados na conversa mole de que tudo que vimos ao vivo e em cores não passou de delírio do Xandão.
QUANDO A POTÊNCIA NÃO SE CONCRETIZA, por Aurélio Marcos de Souza, advogado, ex-procurador geral do município de Gaspar (2005/08), graduado em Gestão Pública, pela Udesc. Publicado orginalmente, nas redes sociais do autor.
Nem todo espermatozoide gera uma vida. Assim como nem todo discurso é capaz de transformar uma realidade. Ambos carregam uma promessa — um, a de um novo ser; o outro, a de um novo tempo. Mas promessas, sem verdade, sem direção e sem escuta, acabam se perdendo no caminho. E o que poderia ser fecundação, vira frustração.
Vivemos uma era de vozes em excesso e escuta em escassez. São discursos por todos os lados: nas redes sociais, nos palanques políticos, nas igrejas, nas empresas, nas escolas. Palavras e mais palavras. E, no entanto, algo parece faltar. A sensação de vazio depois de tantos discursos é quase física. O coração ouve, mas não se move. A mente entende, mas não se convence. Fica só o cansaço — o mesmo de quem já ouviu tudo, mas nunca viu nada acontecer.
E é aí que mora o problema: o discurso só pelo discurso. Falar por falar. Prometer por costume. Convencer sem crer. É uma forma de ruído polido, mas ainda assim ruído. No início, pode até seduzir. Mas o tempo cobra. O povo, por mais paciente que seja, percebe quando está sendo embalado em palavras bonitas, mas vazias. A verdade, mais cedo ou mais tarde, fura a bolha da retórica.
Muitos falam para impressionar, não para transformar. Usam frases ensaiadas, metáforas bonitas, voz firme. Mas falta o principal: escutar quem está do outro lado. Falta humildade para reconhecer que um bom discurso não nasce do ego, e sim da escuta sensível e do compromisso com algo maior do que a própria imagem.
Assim como o espermatozoide precisa do ambiente certo para fecundar, o discurso também exige um contexto de confiança, escuta e empatia. Palavras sem verdade não geram mudança. E quando o discurso se torna repetição, ele não apenas perde a força — ele começa a incomodar. E, com o tempo, se torna insuportável.
O povo pode até se encantar por um tempo. Mas não se engane: o povo sente. E, quando percebe que foi levado apenas por palavras vazias, se afasta. Porque falar bonito é fácil. Difícil é fecundar ideias, provocar sentimentos, gerar ações. Difícil é transformar fala em vida.
E talvez o mundo precise, com urgência, de menos vozes em alto-falantes e mais verdades ditas de perto, olho no olho. Palavras que não gritem, mas que toquem. Que não prometam, mas que realizem. Porque de discurso o povo já está cansado. O que falta agora é transformação.