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COM TRANSPARÊNCIA INCOMUM PARA POUCOS, O “DELEGADO PREFEITO” PAULO REVELA ALGO ASSUSTADOR: O HOSPITAL DE GASPAR ESTÁ NUM MATO SEM CACHORROS, COM ALTA DÍVIDA ACUMULADA POR ANOS AFIO DE ERROS, MÁ GESTÃO E FALTA DE DEBATE CLARO COM A SOCIEDADE. E NINGUÉM O QUER COMO SÓCIO CONFIÁVEL

Na quinta-feira em SEM ASSUNTO RELEVANTE, O “DELEGADO PREFEITO” PAULO FEZ DA TENTATIVA DE DEPREDAÇÃO DO EQUIPAMENTO DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA DO SAMAE EM GASPAR, ESPETÁCULO E MANCHETE ESTADUAL COMO SE FOSSE A MELHOR REALIZAÇÃO DO SEU GOVERNO ATÉ AQUI mostrei como um governo eleito para mudar, preferiu criar cortinas de fumaças ao que ainda não mostrou a que veio para isto. O prefeito Paulo Norberto Koerich, PL, não gostou. O entorno tóxico, policial, patronal e ideológico bolsonarista dele que sustenta estas fantasias, também.

Numa crise – e há uma crise que não foi criada por este “novo” governo, diga-se à, bem da verdade, mas, o “delegado prefeito” Paulo (foto ao lado no evento que trato a partir de agora) e o engenheiro Rodrigo Boeing Althoff, PL, foram escolhidos pela esmagadora maioria dos eleitores e eleitoras para superá-la – a primeira batalha a ser vencida é a da comunicação pela transparência. No mínimo, isso deve ser feito em respeito aos que os escolheu para este desafio. E a transparência, até aqui se não é nula, é opaca e desastrosa contra o próprio governo.

E este é verdadeiro Calcanhar de Aquiles do governo do “delegado prefeito Paulo”. Ele ainda está vestido de policial e não de prefeito, a nova função que ele, só ele, quis à beira de uma bela aposentadoria, sossegada, depois de atingir o mais alto grau da hierarquia policial como a de Delegado Geral de Santa Catarina e o equivalente hoje, ao de secretário de Segurança. O “delegado prefeito”, com cacoete de policial não gosta de ser contrariado, mas diferente das delegacias em que mandava e desmandava, na prefeitura – e fora dela – está cercado de armadilhas, amadores e mais do que isso, obrigado a dar explicações, mesmo que não goste de fazer isso por hábito.

Retomando.

São duas coisas distintas. Numa ele manda, armava – via inquéritos e as ferramentas operacionais – e prendia. Era prazeroso. Na outra, este prazer é construído. Então está obrigado a liderar, articular, comunicar-se e construir resultados comuns a várias mãos para todos sob o processo crítico. É um suador. Está mais do que na hora dele perceber à diferença entre as duas funções. Numa intimida. Na outra é intimidado. Numa é um protegido agente do aparelho de estado. Na outra é um agente político, exposto e sem controle. Se resistir, como está resistindo, gastará mais tempo e energia ao invés de resultados já no curto prazo. Ou seja, estará embrulhado em mais desgastes.

FRUTAS NUNCA CAEM LONGE DA ÁRVORE ORIGINÁRIAS

Na verdade, este desperdício de energia está dentro do próprio governo; está nos que atuam nos bastidores, alimentam discórdias e fofocas; está, incrivelmente, na negação de governabilidade do seu grupo político de apoio na Câmara; está na falta de transparência do próprio governante com a sociedade

Resumindo e usando na nova palavra de ordem do poder de plantão, “o livre arbítrio”, a maioria das escolhas do “delegado prefeito” além de frágil, está carimbada com os vícios do velho governo do ainda jovem Kleber Edson Wan Dall, MDB, Luiz Carlos Spengler Filho, PP e Marcelo de Souza Brick, PP. É o que a população percebe e no fundo, eles [os vícios] são a antítese de quem disse que mudaria o que não se suportava mais continuar na administração pública em Gaspar. E no voto se sinalizou que deveria ser rompido.

Sobre o grupo que atua nos bastidores, é o mesmo que esteve, com raras exceções, e vem sucedendo desde o tempo dos ex-prefeitos Bernardo Leonardo Spengler, MDB, Andreone Cordeiro dos Santos, sem partido, Pedro Celso Zuchi, PT, Adilson Luiz Schmitt, sem partido e Kleber. E com este grupo a aplaudi-lo, naturalmente, está a mesma pauta de interesses perpetuada ou nem bem resolvida até aqui.

É isto, mais uma vez, o que está aos olhos da população, longe do debate da imprensa, porque está controlada, ou está com medo de parar na delegacia para ser assustada ou humilhada. Com a imprensa sufocada, os assuntos, todavia, rolam pela cidade em várias perigosas versões. Qual o canal em massa e sem controle? O escurinho dos aplicativos de mensagens. Ou seja, é a continuada antítese de quem disse que mudaria o que a população pedia nas urnas de seis de outubro do ano passado.

Sobre a base do governo. E aí que o perigo aumenta. 

Não há mais nada do que comentar depois que, por vaidade, seis votos de uma minoria incômoda – mas, gerenciável – viraram cinco para ser uma minoria burra e refém; não há mais nada do que comentar depois que esta minoria dá sinais explícitos de rachaduras e rachadinhas ao vivo em sessões da Câmara, deixando rastro de pecados, que juraram à cidade em nome da ética combater; não há mais nada do que comentar depois que, sem maioria, contrariando parecer de recomendação técnica da assessoria da própria Câmara, tenta se armar um espetáculo para deixar o governo mais exposto e possivelmente derrotado, com os indiciados ganhando tempo, cantando vitórias e se não forem inocentados pela oposição que já enterrou duas CPIs, todas com tantos ou mais indícios e provas cabais do que está exposto na apuração policial especializada no contrato da Ecosystem. Trato disso no TRAPICHE.

Ou alguém acha que a mídia de Gaspar vai entrar em divididas com quem no passado lhes tratou com o devido carinho financeiro e está metido no rolo central desta apuração policial que está chegando ao Ministério Público para dar na Justiça? Credo!

“E NÓS VAMOS TER QUE DAR UM JEITO. É UM PROBLEMA DA CIDADE!

Retomo pela segunda vez.

Sobrou, mais uma vez, para a falta de transparência, a que abundava no passado e contamina impressionantemente o presente. E por que contamina? Por ser cacoete do novo governante. Ele como policial, escondia as operações e investigações para surpreender e enquadrar e pegar o suposto criminoso, ou o bando. Se lá era uma tática recorrente e aceitável, no ambiente político é venenosa. Levanta suspeitas ainda maiores.

Vamos por partes, como diria Jack, O Estripador.

O que fez o “delegado prefeito Paulo”, sem meias palavras, a um grupo reduzido de amigos do novo poder de plantão, uma boa parte ainda esperando por mudanças, ou por milagres que eles sabem terem contribuído no passado para o estado de lástima em que Gaspar chegou? Abriu o verbo aos que acham que o problema é só dele, ou aos que a qualquer momento, acham que sem rezas e sacrifícios, virá um milagre da tal Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.

O que leem este espaço – incluindo o próprio “delegado prefeito”, seu vice, seus vereadores, seus apoiadores, os que estão em postos de comando nas secretarias de Saúde e na de Fazenda e Gestão Administrativa, o novo interventor do Hospital, mesmo trabalhando em Blumenau – sabiam de tudo isso há anos: o Hospital de Gaspar está quebrado, com dívidas milionárias, e que por conta disso, ninguém quer ser parceiro dele, se antes, estas dívidas e à falta de perspectivas de sustentabilidade econômica, contábil e financeira, não forem resolvidas. 

Simples assim!

Estou, tristemente, mais uma vez, de alma lavada e desta vez pelo “delegado prefeito”. E o Hospital – com ajuda da prefeitura, a interventora dele – processando-me porque eu digo isso, insisto, sem esconder o que eles querem que se esconda da cidade, dos cidadãos e cidadãs, os que sofrem e pagam a pesada conta sem retorno às angústias e sofrimentos deles. Escondeu-se tanto, que chegou num ponto sem retorno. Afinal, qual foi a vantagem desta tática burra e suicida contra a cidade? Contudo, caros leitores e leitoras – e que este pessoal diz não existirem vocês, pois para eles, eu escrevo para mim mesmo – isto tem origem: há responsáveis, ou melhor, irresponsáveis

Entretanto, mais uma vez, sem olhar a lição que está diante dos nossos olhos, estão fazendo tudo igual. É o cachorro correndo atrás do próprio rabo. O problema chegou aos anos 2025 do século 21. Estamos lidando com possíveis soluções e teorias do século passado. Não tem mais como passar o pires. Não há esmola e corações bondosos que dê conta. Incrível. E se isso fosse pouco: não querem buscar os responsáveis, muito menos penalizar, a não ser os que, como eu, denunciam esta situação.

O TAMANHO DO BURACO É, POR BAIXO, DE R$44 MILHÕES

Ou alguém acha que um doente [Hospital de Gaspar] vai ser curado sem remédios amargos, sem a extração cirúrgica complexa e delicada da bicheira encravada nele, livrando-o ou isolando-o dos elementos contaminantes? Está certo o prefeito Paulo, desta vez, em rara oportunidade, com convicção e autoridade, falando como prefeito e não como delegado de que vai encontrar a solução e que precisa de todos. 

Todavia, não será numa sala com alguns iluminados, e repito, que já sabiam disso, já contribuíram para isso e não vão meter a mão no bolso deles para salvá-lo [o Hospital e o prefeito]. Eles não são todos. E o Hospital não é o interesse prioritário deles, mesmo que isso tragam desgastes políticos e de imagem para quem eles apoiaram e agora estão dizendo, “embale, o filho é teu”. Este saneamento só será possível com liderança, credibilidade, união, rompimentos drásticos e mudando o rumo das coisas que quase todos não querem nem romper e nem mudar..

Então será preciso sair do platô e vir para a planície. É preciso envolver a cidade. E para isso, é preciso franqueza, transparência, humildade e enfrentamentos.

Quando reabriram o Hospital, onde fui o vice-presidente da reconstrução física, recusei-me estar à festa de araque que os políticos armaram – e já escrevi várias vezes isto – porque os empresários e entidades se recusaram pactuar, antes de reabrir o Hospital, com os políticos, sobre o mínimo de sustentabilidade econômica e técnica daquele. Bingo!

Os que foram e fizeram a festa precisavam de massagens nos seus egos. Queriam ouvir palavras públicas elogiosas e de reconhecimento de algo que é muito “fácil” de fazer: reconstruir paredes. Queriam aparecer. O difícil é gerenciar e se manter sustentável o que está entre paredes de um Hospital, que não é feito para dar lucros, mas não pode ser fonte de permanentes de prejuízos incontroláveis, ou de lucros para alguns que não entende a missão de um Hospital público paras a sua comunidade.

Pedro Celso Zuchi, PT, ganhou a eleição de 2008 com discursos falsos de que o ex-prefeito Adilson Luiz Schmitt, então no MDB, tinha fechado o Hospital. Zuchi “ganhou” um hospital novo. Para as minguadas verbas que mandava para lá como prefeito que mal cobriam o Pronto Atendimento, entupido porque os postinhos mal funcionam, como é até hoje, inventou a tal intervenção. Era, segundo ele, para descobrir os ladrões do dinheiro que a prefeitura repassava ao Hospital. Até hoje, ninguém apurou nada. O verdadeiro motivo, foi o aparelhamento partidário e o cabide de empregos, a sanha ideológica petista. 

Veio Kleber. Ao invés de dar solução como prometeu à cidade nos discursos das campanhas eleitorais (dois mandatos), ao que parece achou a intervenção interessante e lucrativa. E a perpetuou no que se tornou num bicho cada vez mais podre. 

O resultado está aí: por baixo R$44 milhões de buraco sem que se tenha prestado contas à sociedade em 100 dias de governo; um câncer em plena metástase. E por que? Apesar desse rombo milionário, a prefeitura gasta outros R$45 milhões por ano para deixá-lo aberto. Ou seja, dos R$510 milhões do Orçamento da prefeitura: R$100 milhões estão indo para a Saúde cheia de problemas e desses R$45 milhões, só para o Hospital que tem uma dívida de R$44 milhões, na boca do “delegado-prefeito”, dito a um grupo reduzido de amigos, pois na prestação de contas à cidade, nada se sabe oficialmente. Credo!

A VOLTA POR CIMA SÓ QUANDO DESTRAVAR OS SEGREDOS

A primeira coisa que precisa entrar no Hospital de Gaspar é a transparência dele para com a cidade, cidadãos, cidadãs, os verdadeiros beneficiários, e assim se estabelecer na credibilidade como um ente recuperável e viável. Foi assim com o Hospital Santo Antônio, de Blumenau, que esteve em igual situação nas mãos do governo petista de Décio Neri de Lima, caixa para até o jornalismo boca-alugada de lá. O ex-prefeito João Paulo Kleinubing, na época no PFL, rompeu o elo político de aparelhamento partidário e de incompetentes no Hospital de lá. Criou mecanismos estatutários para livrá-los dos políticos, colocando a sociedade no centro das decisões.

Hoje, o Hospital Santo Antônio é um ente de referência em várias avaliações nacional e internacional que se faça com ele. Ora, se lá esta virada de chave foi possível, por que aqui, mesmo com esta monstruosa dívida e vários tentáculos invisíveis do atraso se alimentando de algo que está doentíssimo, não é alcançável?

Enquanto em Gaspar, apesar do vídeo desabafo abaixo, passados mais de três meses do governo de Paulo e Rodrigo – mas se sabia de tudo isso muito antes -, ninguém viu até agora uma prestação de contas do Hospital de Gaspar. O interventor atual e o antigo eram muito próximos. Ambos, eram do quase também morto PSDB. Não basta mudar de nomes. É preciso, mudar de atitudes. E elas continuam no passado que esconderam como se construiu esta dívida quase impagável e que inviabilizam parcerias e a recuperação do Hospital de Gaspar. É preciso quebrar os cristais da cidade que depois de Frei Godofredo não conseguiu ter um líder capaz de mover montanhas.

O segundo passo, será o de rearranjá-lo juridicamente – e isto passa pela Câmara e um debate comunitário aberto. Uma das possibilidades é o de municipalizá-lo pois ninguém até o quer como parceiro contaminante e à beira da morte. O milagre não virá. É preciso ir à luta. Saneá-lo administrativa, contábil e financeiramente em prazos razoáveis, incluindo legislação que o proteja da sanha predatória de curto prazo dos interesses dos políticos sem miolo no poder de plantão.

Por outro lado, isto deve ser feito sem o senso de vingança política, partidária ou ideológica, é preciso, urgente, ir atrás do que e de quem o deixou o Hospital de Gaspar assim tão moribundo financeiramente, mesmo que, tecnicamente apresentável, segundo as palavras de quem o auditou e o prefeito reproduziu no vídeo abaixo. Só a punição e exposição criará temores aos que ainda enxergam o Hospital como oportunidades de todos os tipos.

Quanto mais tempo demorar esta ação emergencial, mas estruturada com passos e objetivos claros, pior ficará situação, mais ingovernável e inviável se tornará o que aparentemente não tem solução, mas como disse o prefeito Paulo, quer reverter.

Está na hora do “delegado prefeito” se tornar prefeito, mudar a comunicação e falar de forma mais clara e diretamente com a sociedade. O maior problema dele está exatamente no seu entorno, nas escolhas que fez e teima em prestigiá-las. elas criaram os problemas. Elas insistem em fórmulas ultrapassadas. Elas vão deixá-lo com a brocha na mão. Assista abaixo, o vídeo, antes que ele seja rotulado como uma invenção e peça da Inteligência Artificial. Muda, Gaspar!

TRAPICHE

Vai ter CPI em Gaspar? I. “Hoje tem marmelada/Tem, sim senhor!/Hoje tem goiabada/Tem, sim senhor!/Vai começar o espetáculo/É o circo que chegou//Olha, o circo chegou/O circo é o amor da garotada/Quem não gosta de circo/Não gosta de Sol/Não gosta de nada”. Estes versos e musiquinha são da minha infância. É do palhaço fluminense (1915/2006), Carequinha. O que política tem a ver com a palhaçada? Nada! Tanto que um é engraçado. E o outro é sem graça e até, uma desgraça.

Vai ter CPI em Gaspar? II. Não ia tocar neste assunto hoje. Ando abarrotado de outras notas e temas. Ao mesmo tempo, tenho que gerenciar parte das horas de leituras, pesquisas, estudos e escritas para soluções de um problema familiar que exige parte da minha dedicação neste momento. Contudo, não posso perder a oportunidade. O tempo corre. E a cidade engolida pelas jogadas dos políticos “tik tok”, atrás de likes.

Vai ter CPI em Gaspar? III. Afinal, depois de tentar, mais uma vez, enfiar goela abaixo uma vontade monocrática sua aos demais pares e achando que pode tudo, o “campeão de votos” e presidente da Câmara de Gaspar, Alexsandro Burnier, PL, concordou e marcou, uma reunião com os edis para discutir este tema, a CPI, às 17h30min de amanhã, terça-feira; será momentos antes da sessão. Resta saber se ouvirá a Mesa Diretora que escaldada, está para lá de dividida, com o parecer jurídico da Casa na mão. O que está em jogo? A armadilha que o PL e o presidente da Câmara poderão estar se metendo. E dando errado ao que quer, quem desta vez, Alexsandro vai culpar se tiver que fazer diferente do que quer fazer?

Vai ter CPI em Gaspar? IV. Qual é o babado? Os ex-secretários de Obras e Serviços Urbanos ao tempo do governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, o ainda servidor público efetivo, pois é agente de trânsito na Ditran, Luiz Carlos Spengler Filho (já foi vereador, vice-prefeito e chefe de gabinete) e Jean Alexandre dos Santos, PSD (já foi secretário de Planejamento Territorial e presidente do Samae, além de protagonista daqueles áudios cabulosos com o ex-faz tudo do governo de Kleber, Jorge Luiz Prucino Pereira, PSDB), estão enroladíssimos num inquérito concluso na 4ª Delegacia Especializada no Combate à Corrupção – Decor/Deic – de Blumenau. 

Vai ter CPI em Gaspar? IV.  A conclusão do inquérito policial instruiu, por inevitável obrigação da função de prefeito, uma Sindicância Administrativa no tempo de Kleber Edson Wan Dall, MDB. E concluiu por, por extensão, num copia e cola, pois todos dizem esta “com medo” de Jean Alexandre dos Santos, PSD, e não queriam por extensão culpar e expor Kleber, pelas falhas nas medições do contrato com a curitibana Ecosystem. Ou estão lavando as mãos? Media-se mais do que se fazia e se cobrava escandalosamente mais. Há outros envolvidos indiretamente, pois eram os responsáveis por conferência de medições. Um está falecido. Outros, como comissionados, a pedido, já estão fora do ambiente público. Não podem ser alcançados administrativamente na prefeitura. Só na Justiça (civil e crime).

Vai ter CPI em Gaspar? V. Com relatório da Comissão Permanente de Sindicância e o PAD – Processo Administrativo Disciplinar – nas mãos enviados pelo prefeito Paulo Norberto Koerich, PL ao presidente da Câmara, a área jurídica da Câmara opinou como sendo inócua uma CPI. Afinal, os fatos já estão apurados pela polícia especializada. Mais, Jean Alexandre dos Santos, PSD, e Luiz Carlos Spengler Filho, PP, não são mais secretários. E se for apenas uma Comissão Processante? O PAD já resolveu este assunto. Seria repeti-lo.

Vai ter CPI em Gaspar? VI. Então porque o delegado prefeito Paulo Norberto Koerich, PL, remeteu toda esta documentação para a Câmara? Como ainda é de praxe, ele não esclareceu. Contudo, uma hipótese é de que quis dar transparência para a cidade via a Câmara, a Casa do Povo. E fez bem, resta saber se esta será uma prática e não uma exceção. Segundo: quis, ao mesmo tempo, criar uma cortina de fumaça ao que está sob malho e cobrança naquilo que prometeu mudar e ainda não mudou. E aí, é do jogo jogado. 

Vai ter CPI em Gaspar? VII. E por que Alexsandro Burnier, PL, quer montar uma CPI mesmo com recomendação técnica de que isso é temerário? Ele também não responde, como sempre. E é temerário triplamente. A primeira é técnica e o procurador da Câmara já explicou no parecer lido na sessão de terça-feira passada. A segunda é saber se o governo e o PL vão ter controle da CPÌ; ela possui chances claras de ser enterrada vexatoriamente e enfraquecer o próprio governo. A terceira, é que esta CPI, pode, ainda, inocentar os implicados; com isso, ela pode complicar a denúncia no Ministério Público; pode jogar no lixo o que a polícia já apurou como possível crime. Impressionante amadorismo ou jogo tabelado? 

Vai ter CPI em Gaspar? VIII. Ou alguém acha que o MDB, PP e PSD vai deixar este assunto correr solto contra eles que estavam na Bancada do Amém nos governos de Kleber Edson Wan Dall, MDB, Luiz Carlos Spengler Filho, PP e Marcelo de Souza Brick, PP? Alguém se lembra de como eles ensacaram o PT de Dionísio Luiz Bertoldi, na presidência da CPI da drenagem da Rua Frei Solano quando José Hilário Melato, PP (vereador presidente do Samae), e Jean Alexandre dos Santos, então no PSD (secretário de Obras Serviços Urbanos), estavam implicados até o talo naquela obra? Aprendizado zero.

Vai ter CPI em Gaspar? IX. Alexsandro Burnier, PL, já teve este assunto nas mãos. Enrolou-se todo nele – e em outros como o das floreiras todos feitos para a promoção eleitoral – com informações incompletas que recebeu depois de pedi-las na própria prefeitura. Ele nem sabia o que fazer com elas. Agora que outros – a polícia especializada em corrupção – colocaram uma luz no fim do túnel, Alexsandro quer acender a sua lanterna sem bateria. Alexandro é incapaz de ser estratégico e jogar em time no partido. Depois de criar o Vale Marmita dos vereadores, ser usado e se dar mal, está atrás até de fantasmas para recuperar a credibilidade perdida como paladino da “nova” política. Nervosamente, os vereadores, trocaram mensagens nestes dias. Está tudo armado. O próprio partido PL de Gaspar pode, mais uma vez, boicotar o PL de Gaspar. Incrível. Muda, Gaspar!

Pôquer I. O jogo de pôquer é arte combinar as cartas recebidas e fazer apostas estratégicas, incluindo o blefe. O líder do PL na Câmara, o novato Carlos Eduardo Schmidt Sobrinho, perdeu o senso do jogo político. Na última sessão, ao sugerir a melhoria da Ouvidoria – o que está certo -, apesar da ressalva que fez, amargurado, radical e raivoso, disse que na prefeitura e órgãos públicos municipais de Gaspar tinham muitos servidores vadios [palavra repetida, com ênfase, várias vezes].

Pôquer II. Como vereador já seria um risco para Carlos Eduardo Schmidt Sobrinho. Como líder do PL, partido do prefeito Paulo Norberto Koerich e do vice Rodrigo Boeing Althoff, ele chamou ambos para dançarem na mesma música. Paulo e Rodrigo estão quietos, fingindo que isso não é com eles, mesmo sendo eles empregadores dos supostos “vadios”. Carlos Eduardo, obrigado pela repercussão nas redes sociais do espírito de corpo dos servidores, chamou-a de fake news. Está gravado. Não vale à exceção. Vale o conteúdo e a conclusão. Para empregados vadios, a prefeitura tem o RH. Comissão Processante e o PAD. O que o PL bolsonarista, o PL que escolheu gente que já deu cacho para continuar inerte querem? Que todos sejam gado embretado na rampa do matadouro. E é aí que a coisa pega. Atualmente, a pluralidade é mais forte que o PL radical instalado na prefeitura.

Pôquer III. O PL e o governo estão colocando a mão em cumbuca de maribondos de fogo. Temos episódios que os novatos talvez nem se lembrem. Por muito menos, o ex-prefeito Adilson Luiz Schmitt (2005/08), sem partido, viu-se envolto numa CPI para domá-lo. Por muito menos, o ex-prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB (2017), teve que ir a Câmara se explicar e pedir desculpas. Igualmente, seu ex-secretário de Educação (2021), o curioso na área, o jornalista Emerson Antunes, PSD. Por muito menos, o Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público de Gaspar – Sintraspug – acampou várias vezes debaixo da já inexistente figueira, ou tomou o plenário da Câmara fazendo os políticos valentes recuarem, ou compreenderem os exageros ensaiados.

Pôquer IV. Desta vez, o Sintranspug reagiu protocolarmente. O vereador está com sorte grande, pelo visto ou o Sindicato não é o mesmo. No dia seguinte com uma nota de repudio. Protocolou-a na Câmara. Classificou o discurso do líder do PL, Carlos Eduardo Schmidt Sobrinho como ameaçador e ofensivo ao decoro parlamentar. Exigiu respeito e retratação. E informou que vai tomar medidas cabíveis. Quais, não se sabe, até porque a tribuna do parlamentar, a princípio, é inviolável, mesmo nos exageros. “A tribuna da Câmara de Vereadores deve ser utilizada para debates políticos e proposições construtivas, não para ofensas, ameaças ou intimidações“, ressaltou o Sintraspug em um trecho a nota. Definitivamente, reitero: este governo não precisa de oposição. Muda, Gaspar!

Moradores e empresários que pactuaram com o Dnit a extensão da Rua Albertina Maba, na Margem Esquerda, estão indignados com a sua não pavimentação. Ué! Não foi isso que combinaram? Não vale mais o combinado? Se o Dnit fizesse só a marginal para acesso ao trevo de Gaspar, seria pavimentado. Quiseram ampliar. E aí foi a verba do asfalto. Agora, é cumprir o acordado. É esperar a verba Federal que para as rodovias Luiz Inácio Lula da Silva, PT cortou em R$400 milhões para Santa Catarina, ou particulares e a prefeitura meterem a mão no bolso.

Nervos à flor da pele. O mais longevo dos vereadores, José Hilário Melato subiu à tribuna da Câmara no momento da liderança do PP. Foi sucedido, por Dionísio Luiz Bertoldi, PT, que iniciou um improviso registrando que se mentia naquela tribuna. “Eu não sou mentiroso“, cortou com microfone aberto Melato do seu assento no plenário. “Eu não chamei o senhor de mentiroso“, esclareceu Dionísio a Melato. Na verdade, tabelavam para jogar a culpa em Carlos Eduardo Schmidt Sobrinho, líder PL, que já não podia mais se explicar. Este é o clima. Experiência é tudo.

Gaspar está com três motoniveladoras. Uma comprada recentemente. Outra ganha numa daquelas verbas embrulhadas de Brasília. E outra emprestada por Blumenau. A de Blumenau atua no Distrito do Belchior e treina os motoniveladores para operar as novinhas compradas ou recebidas. Agora, querem comprar mais outra. Não seria o caso de ir, urgente e prioritariamente atrás de um caminhão hidrojato para limpar a buerada entupida das ruas pavimentadas?

Caso de polícia. Fiscal da prefeitura de Gaspar lavrou um auto de infração contra morador por ele ter na sua calçada – que é pavimentada – supostamente mato alto. Na calçada como mostrou o vídeo que circula nas redes sociais, não há mato ou sujeita alguma. O que está tomada pelo capim, é o meio fio, onde deveria estar livre para correr a água das chuvas. E esta parte é obrigação da prefeitura. Ao invés de convidar o gasparense a dar uma mãozinha pela prefeitura, a nova administração preferiu a intimidação. Este é cartão de boas-vindas do novo governo. 

O outro espetáculo criado na semana passada pela prefeitura de Gaspar foi a limpeza daquela área abandonada defronte ao prédio da antiga Metalúrgica Turbina, na Anfilóquio Nunes Pires. Tudo bem. Mas, aquilo é uma área particular. Há um síndico da massa falida. Então perguntar não ofende: quando aquele imóvel for a leilão, a prefeitura vai se habilitar a receber o que está gastando para limpá-lo e até derrubá-lo como se ensaia?

Tudo ia bem em Blumenau até o prefeito Egídio Maciel Ferrari, PL, reajustar a taxa de esgoto em 5,2% até aí aceitável, mas em canetaço de gabinete aditivar em mais outros 10,72%, prolongando o contrato até 2064, jogar no lixo as metas que a BRK não cumpriu para coletar e tratar e ainda dar o monopólio de coleta de fossas domiciliares para a BRK. Coisas do esgoto.

Outro caso de polícia e o governo perdendo tempo na polícia com quem o desnuda. Sumiu da sala de vacinas da secretaria de Saúde de Gaspar 40 vacinas contra o HPV, que custam em média R$450 cada. Todos quietinhos. Há poucos dias, outras vacinas foram perdidas por manejo inadequado no transporte delas.

Para encerrar por hoje e mostrar a cara do novo governo. O secretário de Obras e Serviços Urbanos, Vanderlei Schmitz, foi fazer uma visitinha a Superintendência do Belchior, que se tornou um apêndice sem autonomia e dinheiro da secretaria. Pelo jeito ela ficará por muito tempo esquecida no governo de Paulo Norberto Koerich e Rodrigo Boeing Althoff. Ele chegou lá no Distrito e não sabia onde ficava a superintendência. Então… Hoje haverá um mutirão de atendimento na Sociedade Harmonia. Ao menos o secretário já sabe onde fica a improvisada e insalubre sede da Superintendência. Muda, Gaspar!

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9 comentários em “COM TRANSPARÊNCIA INCOMUM PARA POUCOS, O “DELEGADO PREFEITO” PAULO REVELA ALGO ASSUSTADOR: O HOSPITAL DE GASPAR ESTÁ NUM MATO SEM CACHORROS, COM ALTA DÍVIDA ACUMULADA POR ANOS AFIO DE ERROS, MÁ GESTÃO E FALTA DE DEBATE CLARO COM A SOCIEDADE. E NINGUÉM O QUER COMO SÓCIO CONFIÁVEL”

  1. ANISTIA VIROU GUERRILHA, por Elio Gaspari, nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo

    Jair Bolsonaro simula que põe na mesa a carta da anistia para os condenados pelo 8 de Janeiro, mas pretende embaralhar o jogo. Ele e os demais denunciados pela Procuradoria-Geral da República são acusados de tentar um golpe de Estado no exercício de funções públicas. Nada a ver com o batom de uma cabeleireira.

    As duas últimas anistias no Brasil serviram a regimes exauridos para fechar feridas da política nacional. Assim foi em 1945 e em 1979. (Durante seu governo, Juscelino Kubitschek — 1956-1961 — enfrentou dois levantes de militares aloprados e anistiou-os antes que as feridas se abrissem.)

    Bolsonaro não conseguiu reunir multidões, mas foi hábil ao embaralhar as cartas, beneficiado pela bizarrice da dureza (teórica) das sentenças já proferidas.

    O Datafolha informa: 56% dos entrevistados são contra uma anistia para os condenados pelo 8 de Janeiro (há um ano eram 63%) e 37% são a favor (eram 31%). Noutro recorte, 36% acham que as penas impostas deveriam ser menores, e 34% acham que são adequadas, enquanto 25% acreditam que deveriam ser maiores.

    O sistema penal brasileiro tem uma jabuticaba do tamanho de um mamão. O cidadão condenado por certos crimes tem direito a uma progressão da pena que lhe permite, tendo cumprido sua sexta parte, respeitando algumas condições, deixar a cadeia durante o dia para trabalhar, retornando à noite. Em alguns casos, no regime semiaberto, pode ir para casa com uma tornozeleira eletrônica.

    Esse sistema tem a melhor das intenções, mas delas o inferno está cheio. Como um condenado a seis anos de prisão pode deixar a cadeia durante o dia ao cabo de um ano, metem-lhe uma pena de 12 para que fique trancado por dois.

    Formou-se no próprio Supremo Tribunal Federal uma corrente propensa a baixar as penas já impostas. Nada de novo sob o céu de anil. A anistia de agosto de 1979 criou uma geringonça pela qual não seriam beneficiados condenados e encarcerados por práticas terroristas, assaltos ou sequestros. Aqueles que viviam na clandestinidade ou no exterior estavam anistiados; os presos, não.

    Aos poucos, o Superior Tribunal Militar reduziu as penas e assim, em outubro de 1980, o último preso deixou a prisão, em Fortaleza. Estava na cadeia desde 1971, condenado à prisão perpétua, mais 84 anos. Sua pena foi reduzida para 16 anos e, tendo cumprido a metade, obteve liberdade condicional. Beneficiada pela extensão da anistia aos que cometeram crimes “conexos” (leia-se torturas e execuções), a tigrada não reclamou.

    Noutra jabuticaba, do tamanho de uma jaca, passados dois anos, 78 dos 155 presos pelo 8 de Janeiro ainda não foram sentenciados. São os presos provisórios. A cabeleireira do batom ainda não foi sentenciada e passou a cumprir prisão domiciliar.

    Há meio século, o STM desatou o nó. Hoje, o Supremo Tribunal Federal meteu-se no enrosco que dá pista livre a Bolsonaro. Misturando a trama do golpe de Estado de 2022-23, coisa de peixes grandes, a delitos praticados no 8 de Janeiro, deu-se agenda a Bolsonaro. Ele tirará proveito da situação enquanto houver presos provisórios ou pessoas encarceradas por condenações superiores a 12 anos de prisão.

  2. QUE HUGO MOTTA CONTINUE RESISTINDO, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

    O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), tornou-se um dos principais alvos do bolsonarismo mais empedernido. A estridência dos ataques ao deputado tem aumentado à medida que também cresce a ansiedade de Jair Bolsonaro diante da inexorabilidade de seu infausto destino penal e político. Isso ficou claro durante o ato supostamente em defesa da anistia aos golpistas do 8 de Janeiro realizado no dia 6 passado, na Avenida Paulista, quando Motta foi duramente atacado do alto do carro de som em razão de sua resistência a pautar a “urgência” do chamado Projeto de Lei (PL) da Anistia.

    A cautela de Motta ao não apressar a eventual tramitação do PL da Anistia está amparada na correta leitura do parlamentar paraibano sobre o grau de importância desse tema para a sociedade. De forma prudente e politicamente realista, Motta dá sinais de que enxerga um Brasil que os bolsonaristas não querem ver, seja por convicção, seja por interesse. Trata-se de um Brasil que não tem a anistia aos golpistas – em particular ao maior de todos, Bolsonaro – no topo de seu rol de preocupações. Em claro recado político, o presidente da Câmara afirmou ontem que a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública, essa sim, será uma “pauta prioritária” na agenda legislativa, em total consonância com as preocupações reais dos brasileiros.

    Se o PL da Anistia é incapaz de mobilizar a sociedade em sua defesa, esse desinteresse tem reflexos diretos no comportamento dos partidos que compõem o Centrão, grupo que há décadas tem sido o fiel da balança em quase todas as votações polarizadoras no Congresso. O Centrão já entendeu, Hugo Motta inclusive, que a anistia aos golpistas não é uma agenda do Brasil. Não é nem sequer uma agenda da direita democrática – é uma pauta exclusiva de Bolsonaro e dos que a ele teriam se associado na tentativa de golpe para impedir a posse do presidente Lula da Silva. Tanto é assim que o próprio ex-presidente, sentindo-se desprestigiado politicamente em razão de sua condição de inelegível e réu em ação penal no Supremo Tribunal Federal (STF), subiu o tom nas cobranças pelo avanço do projeto da anistia durante a manifestação em São Paulo.

    Ao que tudo indica, o Congresso, em geral, e o Centrão, em particular, estão deixando o PL da Anistia morrer de inanição à luz do dia porque já dão como certo o fato de que Bolsonaro não será candidato em 2026. Logo, encampar para valer o tema da anistia significa dar sobrevida à tese delirante de que Bolsonaro ainda poderá concorrer à Presidência, o que atrasaria a formação de uma chapa competitiva de direita para enfrentar o ainda favorito Lula da Silva. É o tipo de erro que o Centrão não costuma cometer.

    Hugo Motta tem mostrado maturidade ao tratar do tema da anistia – inclusive ao fazer movimentos por uma revisão das duras penas impostas pelo STF a alguns dos condenados pelo 8 de Janeiro. O presidente da Câmara tem agido com notável senso de responsabilidade institucional à frente da Casa, haja vista que a eventual anistia aos que participaram do maior ataque à ordem constitucional vigente desde 1988 é simplesmente inaceitável. Não é trivial manter essa atitude republicana em um ambiente tão contaminado pelo radicalismo.

    Do ponto de vista pragmático, Motta também parece compreender o que setores mais extremados do bolsonarismo fingem ignorar: a sociedade, em sua maioria, não compartilha do desejo de absolvição sumária para aqueles que atentaram contra o Estado Democrático de Direito. A tentativa de golpe promovida por vândalos políticos, e não “perseguidos políticos”, ademais, não pode ser simplesmente apagada ou reescrita como um suposto ato de “bravura” ou “patriotismo”, nem tampouco como uma manifestação política “legítima”.

    Que o sr. Motta continue resistindo àqueles que querem fazer da anistia a golpistas uma agenda de interesse nacional. O único objetivo dessa iniciativa desarrazoada, seletiva e oportunista é reabilitar politicamente Jair Bolsonaro e preservar a coesão de um movimento radicalmente antidemocrático que nunca quis o bem do Brasil.

  3. Este artigo, traduz a essência do trumpismo, bolsonarismo, petismo… Para Trump também só há dois tipos de jogos: aqueles em que ele ganha e aqueles em que os outros jogaram sujo.

    TARIFAÇO DE TRUMP É SINTOMA DO VIGARISTA, por Rui Tavares, no jornal Folha de S. Paulo

    Dizer, como tenho feito repetidamente nesta coluna, que não há nenhuma estratégia sofisticada por trás das ações de Donald Trump não é o mesmo que dizer que tudo é burrice e ignorância. Também não é o mesmo que dizer que as suas ações primam pela irracionalidade, o que no fundo seria pressupor que elas fossem meramente táticas, como defendem aqueles que acreditam que as tarifas de Trump são absurdas a não ser como tática negocial.

    Nada disso. A minha tese é a seguinte: existe uma lógica simples que explica as ações de Trump. Essa lógica é a do vigarista com medo de ser otário.

    Para quem é vigarista, como Trump tem demonstrado ser em toda a sua carreira desde que começou por não pagar a fornecedores e a tentar despejar inquilinos nos seus tempos de magnata do mercado imobiliário, todo o mundo é otário.

    No início, o vigarista está embevecido com o superpoder que descobriu em si mesmo. Se não seguir as regras comuns da honestidade e do respeito mútuo, se não tiver vergonha na cara, se estiver disposto a tirar vantagem de todas as relações, o mundo é seu. Como qualquer psicopata, o vigarista não ganha apenas pela sua capacidade de violar limites; ele ganha pela nossa boa educação, pelos nossos escrúpulos, ou seja, pela nossa incapacidade de violar esses mesmos limites.

    Com o tempo, porém, o vigarista começa forçosamente a questionar-se: “se eu ganho fazendo assim, por que é que os outros não fazem o mesmo a mim?” Aí o mundo do vigarista começa a distinguir entre duas categorias de pessoas: os otários e os que poderiam ser vigaristas como ele.

    Como é natural nestes casos, o vigarista fica obcecado pela projeção. Medindo os outros com sua própria régua, ele desenvolve a paranoia de que em todas as transações só há dois resultados possíveis: ou ele ganha, vigarizando com sucesso os outros; ou, se não ganha, isso é sinal de que foi vigarizado pelos outros. Na sua mente não cabem os jogos que não sejam de soma nula. Se alguém está a ganhar, é porque ele está a perder.

    Esta lógica simples explica-nos a visão que Trump tem do comércio global. Para ele, o mero fato de que um país tenha com os Estados Unidos uma balança comercial positiva é uma injustiça. Pior, é sinal de que alguém tirou vantagem dos Estados Unidos e os vigarizou. Para Trump também só há dois tipos de jogos: aqueles em que ele ganha e aqueles em que os outros jogaram sujo.

    De caminho, esta explicação ajuda a entender a fórmula que o governo Trump utilizou para definir as suas “tarifas adicionais”. Como vários especialistas apontaram, elas não fazem qualquer sentido macroeconômico. Mas fazem todo o sentido psicológico para a mente do vigarista que ficou obcecado com ser otário.

    Se eu estiver certo, há uma conclusão inquietante a retirar de tudo isso: é que não vale a pena negociar com Trump. Nada o convencerá a reintroduzir justiça num jogo cujas regras ele não aceita, a não ser que a vitória lhe seja dada à partida. A única saída é os países que ainda reconhecem as regras do jogo reforçarem os laços comerciais entre si, deixando a birra de Trump passar sozinha.

  4. BOLSONARO VAI À GUERRA, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

    Nos 26 minutos em que, no domingo passado, discursou na Avenida Paulista para pregar a anistia a si mesmo e aos presos do 8 de Janeiro, o ex-presidente Jair Bolsonaro mandou às favas todos os escrúpulos de consciência e escancarou em definitivo a guerra aberta ao Supremo Tribunal Federal (STF) e às instituições democráticas.

    Em circunstâncias normais, na iminência de serem julgados, réus costumam adotar a prudência e o comedimento diante dos julgadores. Mas Bolsonaro não é afeito a normalidades, sobretudo em matéria democrática. Dele, portanto, não se esperaria outra coisa senão o discurso moldado para eletrizar a militância, deixar de lado argumentos jurídicos e concentrar-se no embate político a fim de sustentar seu martírio.

    Foi assim que Bolsonaro falou menos sobre a anistia aos golpistas e muito mais sobre a própria inocência e sua eventual candidatura em 2026. Afirmou, por exemplo, que ter eleições sem o seu nome nas urnas significará “negar a democracia”. Voltou a pôr em suspeita as urnas eletrônicas e o sistema eleitoral, em ataque frontal à decisão soberana dos eleitores. Insinuou que o ministro Alexandre de Moraes, do STF, seria o autor de um “golpe” que elegeu Lula da Silva em 2022, e que a “mão pesada” do ministro teria perseguido a direita. Por fim, mas não menos espantoso, admitiu que sabia de algo que “ia acontecer”, ao reconhecer que saiu do Brasil em dezembro daquele ano por saber que, se estivesse no País, seria preso na noite de 8 de janeiro.

    A maior novidade, contudo, é que agora Bolsonaro leva consigo os sete governadores presentes – quatro deles possíveis candidatos à Presidência. Se discursos de confronto ao STF são desde sempre parte inerente à cartilha bolsonarista, a inclusão de universo tão relevante de governadores presidenciáveis é coisa nova. Estavam no palanque de Bolsonaro os governadores Tarcísio de Freitas (São Paulo), Ronaldo Caiado (Goiás), Romeu Zema (Minas Gerais), Ratinho Junior (Paraná), Wilson Lima (Amazonas), Jorginho Mello (Santa Catarina) e Mauro Mendes (Mato Grosso).

    Decerto sabedor de que todos eles estão de olho em seu espólio político com vista a 2026, Bolsonaro tentou torná-los cúmplices de sua artilharia irresponsável contra a democracia. Não só porque os atraiu para a armadilha de defender o indefensável, isto é, o perdão a um golpista que se mostrou incapaz de curvar-se ao princípio mais comezinho da democracia – a transferência pacífica de poder –, como também porque os fez chancelar o discurso delirante segundo o qual é um perseguido político de uma suposta ditadura do Judiciário. Tal ditadura só existe mesmo na cabeça de Bolsonaro e dos bolsonaristas mais fiéis. Uma provável condenação, se houver, se dará porque são fartas as provas do golpismo que, gestado no entorno do então presidente, quase levou o País, isso sim, a uma ruptura institucional.

    E os cúmplices de Bolsonaro, seja por convicção, seja pelo mais puro cálculo político, não decepcionaram. A começar por Tarcísio de Freitas. Em mais uma prova de que tentará até o limite exibir-se como leal ao ex-presidente para herdar seus votos no futuro, o governador de São Paulo recorreu a estultices típicas dos bolsonaristas mais empedernidos, exibindo uma interpretação singular da lei e da política. Disse, por exemplo, que “pedir anistia não é uma heresia, é algo justo”, e que quer “prisão, sim”, mas para quem rouba celular, para corruptos e para quem “invade terra”, como se tentativa de golpe fosse coisa menor. Ora, o julgamento atual está amparado na Lei de Defesa do Estado Democrático de Direito, que em 2021 substituiu a antiga Lei de Segurança Nacional. Logo, não é um recurso abstrato.

    Compreende-se o esforço de Tarcísio e dos demais governadores para caracterizar um golpista assumido como perseguido político, porque este ainda é capaz de levar milhares de pessoas às ruas, um fato político nada desprezível. No entanto, será preciso muito malabarismo retórico para conciliar esse gesto, devidamente registrado por imagens e som, com o compromisso de respeitar a democracia e as instituições republicanas, algo diametralmente oposto ao que faz Bolsonaro há mais de 30 anos.

  5. GASTANÇA DE BRASÍLIA SE ESPALHA PELA FEDERAÇÃO, editorial do jornal Folha de S. Paulo

    Quando se analisa a situação das contas públicas, o foco da preocupação se direciona ao governo federal —e por boas razões.

    Trata-se, de longe, do maior ente da economia, capaz de se apropriar de um quinto da renda nacional, por meio de impostos e contribuições sociais, e de gastar ainda mais, dada sua elevada capacidade para obter crédito no mercado.

    Só os títulos vendidos pelo Tesouro Nacional somam hoje o equivalente a 52,5% do Produto Interno Bruto, mais de dois terços da exorbitante dívida pública do Brasil, de 75,3% do PIB.

    Assim como as despesas da União podem afetar toda a demanda do país, com transferências de recursos a famílias ou compras de produtos e serviços de empresas, os juros dos papéis federais servem de base para as demais taxas do mercado.

    Tudo isso considerado, há motivos para dedicar maior atenção aos gastos de estados e municípios —que avançam sem os limites existentes em âmbito federal.

    Segundo cálculos do economista Bráulio Borges, colunista da Folha, os desembolsos dos governos regionais somaram R$ 645 bilhões por trimestre, em média, no ano passado, enquanto os realizados diretamente pelo Tesouro Nacional ficaram em R$ 508 bilhões, como mostra série de reportagens neste jornal.

    Os primeiros tiveram aumento de 26% acima da inflação desde 2019, ante 5% dos segundos. Note-se, porém, que grande parte da gastança estadual e municipal tem origem em Brasília, por meio de decisões temerárias do Executivo e do Legislativo.

    Pela Constituição, parcelas fixas da arrecadação federal são transferidas aos demais entes federativos. Logo, quando a União eleva impostos, como o fez sob Luiz Inácio Lula da Silva (PT), governadores e prefeitos ganham mais dinheiro para gastar.

    Tais repasses foram majorados nos últimos anos, como se deu na ampliação do Fundeb, o fundo de financiamento da educação básica. Ademais, o Congresso Nacional determinou um generoso socorro financeiro às administrações regionais durante a pandemia.

    Deputados e senadores aprovaram programas sucessivos de renegociação de dívidas estaduais, o mais recente deles foi sancionado em janeiro. O governo Lula também propagandeou o crédito de bancos públicos aos parceiros da Federação.

    Por fim, caixas de governos estaduais e prefeituras foram reforçados nos últimos anos pela multiplicação desmesurada de emendas parlamentares, que ainda por cima não preenchem requisitos de prioridade e transparência.

    Em quaisquer desses casos, o erro não está na divisão de recursos e atribuições, que é a base do sistema federativo. O problema é a escassez de controles sobre as finanças regionais, que se resumem a limites de endividamento e de gastos com pessoal como proporção da receita, e a pouca disposição para a disciplina fiscal que emana de Brasília.

  6. A ILUSÃO DA ESPERTEZA, por Aurélio Marcos de Souza, advogado, ex-procurador geral de Gaspar (2005/08), graduado em Gestão Pública pela Udesc. Texto extraído das redes sociais do autor

    Em meio à mata fechada de um Brasil profundo, com bromélias, raízes retorcidas e o som constante dos bichos, vivia Luma, uma jovem raposa de pelo avermelhado e olhar inquieto. Desde cedo, acreditava que sua esperteza bastava para tudo. Fazia caminhos diferentes dos demais, evitava trilhas seguras e confiava que, com sua astúcia, jamais seria pega ou enganada.

    — Enquanto pensarem, eu já fui e voltei — dizia, convencida.

    Na mesma floresta, andava Baltazar, um velho cão de caça de olhar sereno e andar firme. Já tinha visto muitas luas e conhecido muitos bichos. Não se impressionava com truques nem com frases de efeito. Sabia que, mais cedo ou mais tarde, a floresta cobra de quem vive só de atalhos.
    Baltazar via Luma se perdendo em suas próprias armadilhas. Sabia o que aconteceria. Mas, paciente, escolheu o silêncio. Ele aprendera, com o tempo, que há quem só escute depois da queda.

    E a queda veio.

    Depois de uma grande chuva, os atalhos de Luma viraram lama. Os galhos que antes cobriam seus rastros agora a prendiam. Estava suja, cansada, perdida.
    Foi quando Baltazar apareceu. Sem surpresa, apenas com a firmeza de quem já sabia.

    — A esperteza é bonita de se ver, mas frágil na hora do aperto — disse ele, encarando a jovem raposa.

    Luma, pela primeira vez, não respondeu com ironia. Estava exausta demais. E, talvez, mais madura.

    — Por que só agora veio? — perguntou, com os olhos baixos.
    — Porque antes você acreditava que não precisava de ninguém. E eu sabia que, se falasse antes da hora, você só pioraria — respondeu o velho cão.

    Ele então a guiou de volta. Caminharam devagar, pelas trilhas que só quem conhece a mata de verdade sabe enxergar.

    Desde aquele dia, Luma não deixou de ser quem era — mas passou a ouvir mais, a observar mais. E a entender que esperteza sem humildade é como folha seca ao vento: vai longe… até cair.

    E Baltazar?

    Baltazar continua.
    Anda por entre os cipós e os cheiros da mata, atento às novas raposas que surgem, confiantes em suas astúcias.

    Ele vê, entende, e espera.

    Só age quando é hora — quando percebe que a queda já ensinou o que ele, com palavras, jamais conseguiria.

    MORAL DA HISTÓRIA:
    A verdadeira sabedoria não precisa se provar. Ela observa, espera e age… quando a ilusão da esperteza começa a desmoronar.

  7. ATO PRÓ-ANISTIA NA PAULISTA FOI DEMONSTRAÇÃO DE FORÇA DA DIREITA, por Denise Rothenburg, no jornal

    A manifestação na Avenida Paulista nesse domingo (6/4) serviu para que os bolsonaristas começassem a alinhavar um acordo de cavalheiros com os governadores interessados em concorrer ao Planalto nos seguintes termos: vocês, gestores estaduais, ajudam a levar adiante a proposta de anistia aos acusados pelo quebra-quebra de 8 de janeiro de 2023, reforçando o discurso de que não houve golpe de Estado, e, lá na frente, se continuar inelegível, o ex-presidente Jair Bolsonaro apoiará quem estiver mais condições de vencer Luiz Inácio Lula da Silva. E mais: ficou claro para muitos presentes ao ato — e, inclusive, para quem não foi e nem apoia Bolsonaro — que o ato foi uma demonstração de força da direita brasileira que, se conseguir praticar a união que promoveu ontem, dificultará e muito a vida de Lula na campanha reeleitoral.

    Esses acertos, porém, estão longe de serem cumpridos. Os governadores não têm o domínio das bancadas na Câmara para forçar uma união geral pela anistia. Tentarão, a partir de agora, buscar esses votos no varejo. Jair Bolsonaro, por sua vez, ciente da sua força política, não escolherá nem tão cedo um nome a apoiar para 2026. Ele se mantém como “o candidato” e continuará assim, pelo menos, até o fim de 2025. E a depender do cenário, nem no fim do ano o ex-presidente abrirá mão de uma potencial candidatura para apoiar um outro nome. O receio de alguns bolsonaristas mais fiéis é que o capitão termine perdendo protagonismo, caso desista de concorrer para apoiar um aliado.

    Por último, a sonhada união dos partidos de direita está longe de ocorrer na prática. O mais próximo dessa união hoje é o projeto de federação entre União Brasil, presidido por Antônio Rueda, e o PP, comandado pelo senador Ciro Nogueira. Na hipótese de Bolsonaro não se apresentar como candidato, a tendência é uma profusão de candidatos que se unirão apenas no segundo turno, e olhe lá.

    Dos sete governadores presentes ontem, pelo menos quatro são considerados no páreo de 2026. O de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), o de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), que, inclusive, já lançou oficialmente uma pré-candidatura, o de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), e o do Paraná, Ratinho Jr. Se tem um consenso entre os conservadores, é que, a preços de hoje, Jair Bolsonaro aglutina os votos da direita e terá mais chances de sucesso quem atrair o fiel eleitorado do ex-presidente. Tarcísio, por exemplo, chegou a puxar um “volta Bolsonaro” em sua fala na Paulista. E, de todos os potenciais candidatos ao Planalto com viés de direita, foi o único a quem o ex-presidente derramou elogios e a quem Michelle Bolsonaro chamou de “melhor ministro” do governo do marido.

    Se quiser Tarcísio como o representante do seu time na corrida eleitoral de 2026 ao Planalto, o ex-presidente terá que tomar uma decisão ainda este ano. Isso porque Tarcísio precisaria preparar a própria sucessão em São Paulo, onde os conservadores têm uma profusão de nomes: do prefeito Ricardo Nunes (MDB) ao presidente do PSD, Gilberto Kassab, passando o secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite (PL). Diante de tantos ensaios políticos, o ato terminou mantendo todos em campo e pontes abertas. Porém, ainda estamos muito longe do desfecho desta temporada, seja para a anistia, seja para a definição de candidatos.

    1. odete.fantoni@gmail.com

      Pois é…e é justamente essa gente que prega pela moralidade no governo Lula que pede anistia para o seu politico de estimação, sujeito que pintou e bordou contra o país e seus CIDADÃOS, que está envolvido em fatos nada republicanos, igual ao Lula…

      Se cobrir, vira circo;
      se cercar, vira SANATÓRIO.

  8. STF FAZ BEM EM AMPLIAR EXIGÊNCIAS SOBRE EMENDAS, editorial do jornal O Globo

    Diante das sucessivas manobras do Legislativo, as emendas parlamentares continuam a exigir a ação do Judiciário. Na última decisão, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino determinou a estados e municípios beneficiados, entre 2020 e 2023, por transferências diretas ao próprio caixa sem projeto nem controle — modalidade conhecida como “emenda Pix” — que prestem conta do uso das verbas num prazo de 90 dias perante os ministérios de origem dos recursos. Ao mesmo tempo, e pelo mesmo motivo, Dino suspendeu novos repasses a universidades federais, estaduais e suas fundações.

    No ano passado, ele sustou a liberação de emendas até que Legislativo e Executivo estabelecessem regras que atendessem às exigências constitucionais de transparência e rastreabilidade. Determinou que toda emenda deveria indicar origem do repasse, destinatário e comprovasse os gastos. No mês passado, o Congresso aprovou medidas para atender às exigências. Infelizmente, insuficientes. Continuou opaca a destinação de emendas por bancadas partidárias e comissões temáticas.

    Apesar de avanços, as novas regras foram consideradas “longe do ideal” por Dino. Além de esclarecimentos sobre os gastos previstos para este ano, ele continua — acertadamente — a exigir informações sobre emendas liberadas no passado. “O não cadastramento de 6.247 planos de trabalho, totalizando dezenas de bilhões do orçamento público federal, sublinha, mais uma vez, o nível de desorganização institucional que marcou a implementação das transferências especiais [‘emendas Pix’]”, escreveu. Dos R$ 21 bilhões transferidos nos últimos quatro anos por meio dessas emendas, para apenas 4% delas (R$ 933 milhões) foram apresentadas prestações de contas pelos estados e municípios beneficiados. De R$ 4,48 bilhões repassados no primeiro semestre de 2024, só há informações detalhadas para 14%, ou R$ 627,2 milhões, revelou levantamento da Transparência Brasil para O GLOBO.

    No mês passado, os ministérios do Turismo, da Fazenda e da Saúde receberam 30 dias para explicar o que aconteceu com recursos remetidos por parlamentares. Além de faltarem dados sobre remessas ao SUS, Dino quer saber quantas de 1.219 emendas cadastradas até março sob a rubrica “Turismo” serão destinadas a empresas beneficiadas pelo Programa Emergencial da Retomada do Setor de Eventos (Perse), criado na pandemia e considerado uma via para desvio de recursos.

    Uma nova frente foi aberta por Dino ao suspender repasses de emendas a universidades e suas fundações, com base em relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) que analisou a remessa de R$ 133,3 milhões às instituições de ensino. Entre elas, as universidades de São Paulo (USP), Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Federal Fluminense (UFF), Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e de Brasília (UnB). Dino pediu esclarecimentos também a universidades e fundações de oito estados: Acre, Alagoas, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rondônia e Sergipe. Há ainda na lista duas organizações de hospitais filantrópicos e a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Como se vê, a farra das emendas não beneficiou apenas prefeituras obscuras vinculadas a congressistas. Universidades, eventos e projetos culturais também precisam ser transparentes. Não cabem exceções à regra no uso do dinheiro público.

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