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“A POLÍTICA NÃO TEM RELAÇÃO COM MORALIDADE”, MAS ESCOLHER NOSSOS GOVERNANTES COM O FÍGADO BEIRA AO SUÍCÍDIO COLETIVO DE NÓS MESMOS

Alterado parcialmente o texto principal às 10h30min, de 25.04.2025. Eu deveria estar escrevendo sobre a CPI que a Câmara de Gaspar montou para o espetáculo e mais uma cortina de fumaça, mesmo sob novo governo. Nela a metragem nunca teve o metro como parâmetro. Impressionante. É uma CPI, seja qual o resultado que ela chegar, foi criada para desmoralizar a polícia da nossa região especializada em pegar corruptos e desbaratar corrupção. Aviso aos navegantes. Estamos numa cidade em que o prefeito é um delegado. Mais do que isso, no passado era conhecido como desvendador de casos tão ou mais complicados do que este. Uma CPI onde a sua líder de governo na Câmara, ex-subordinada dele, é uma policial civil e sabe que se equilibra no fio da navalha (afiadíssima). 

O que está explícito e estabelecido neste quadro de Dante? A contradição. Os políticos eleitos em Gaspar (rotulados como novos, mas que nada mudaram), vivem dizendo por aí, para justificar os quase 120 dias de inércia, que não sabem por onde começar a colocar à coisa em ordem na prefeitura daqui. Dizem que ela e a cidade estão um caos. Todavia, mesmo assim, conseguiram se ocupar com coisas já bem encaminhadas nos fóruns competentes de investigação, quando poderiam avançar em outras que estão escondidas e latentes, que a cidade inteira sabe, e apostava que os novos tirariam sob o tapete da sala onde está. 

Repito, eu deveria estar escrevendo sobre a CPI, mas, não. Vou, mais uma vez, olhar a maré. Parece que tem gato na tuba. E por isso, a tuba não toca. A assessoria de imprensa da Câmara está quieta. O presidente da Câmara, até então fanfarrão no assunto, quieto. Os vereadores, quietos. Os envolvidos, quietos. E a cidade ansiosa.

Vou escrever nesta sexta-feira, véspera do enterro do líder espiritual e carismático da Igreja Católica Apostólica Romana, o Papa Francisco, o argentino Mário Bergoglio, 88 anos, algo de Nicolau Maquiavel: “a política não tem relação com a moralidade“. Uma vez, perguntado por Gérson Camarotti, para a Globonews, sobre a eterna rivalidade de brasileiros e argentinos, o recém papa, saiu-se com a seguinte afirmação, insinuando um provável pacto celestial: “já combinamos: o Papa é Argentino e Deus, é brasileiro”.

Mas, Deus, parece que nos abandonou, como o próprio Jesus, seu filho, na versão dos evangelhos de Mateus e Marcos, teria pronunciado em tom de questionamento pouco antes de morrer na cruz e bem lembrado recentemente na liturgia das estações da Sexta-feira Santa.

Francisco revigorou a Igreja, no sinal deixado na renúncia do alemão Joseph Ratzinger, o Bento XVI. Havia reformas interrompidas iniciadas pelo grande papa reformador, João XXIII, no Concílio Vaticano II. Havia disputas e ainda há. Havia caixinhas de segredos nas finanças, na gestão e nas questões criminais. Havia e há modismos e a Igreja de Pedro. Os modismos precisavam ser vistos como passageiros. Separados da necessária atualização. Os que condenam a Igreja Católica, na maioria, que nem católicos foi, é ou será. Para os modismos há tantas outras seitas.

A Igreja, como Igreja, está obrigada à Moral. Esta é a base de todas as religiões. Uma Igreja, como Igreja, em si, é um código moral. Os políticos não. Eles, antes estão obrigados à ética e a lei, que eles próprios referendam em nosso nome. A ética decorre de uma moral aceita. Mas, isto é muito complicado para se explicar aqui.

Então, por que os políticos quando em campanha apontam o dedo para a suposta falta de moralidade dos adversários?

Porque falam com os mais simples, os fervorosos, os sem discernimento e ignorantes. E eles, que procuram o céu, nutrem esperanças e acreditam na vida eterna, entendem o bom e o supostamente ruim quando rotulados pela moral vigente naquela sociedade. E eles são maioria.

Então, trata-se de manipulação de um seleto e sabido grupo, religioso ou não, sobre as massas usando a moral, a fé e a esperança. E dá no que dá. Estamos escolhendo nos líderes para dirigir o estado laico com o fígado contaminado pela falsa moral e até com rótulos de seitas ou religiões. E os escolhidos, supostamente, abençoados, ou portadores de uma moral aceita como adequada, estão nos matando. Eu usei no título a palavra suicídio, porque somos nós que, na democracia, escolhemos estes líderes.

Donald Trump, Republicano, depois de empossado, fez-se dono do mundo, mas quem está pagando, é o seu próprio povo dos Estados Unidos nesta louca experiência. Luiz Inácio Lula da Silva, PT, o católico, jura que não sabe a razão pela qual é tão rejeitado. A maioria dos pesquisados, contudo, sim. Jorginho Melo, PL, no espectro político oposto, ou seja, não se trata então de ideologia, igualmente.

E o novo governo de Gaspar? 

Está contrariando uma das lições basilares do filósofo e historiador florentino Maquiavel (1469/1527) de que “a sabedoria consiste em saber distinguir a natureza do problema e escolher o mal menor” A política dos dias de hoje, como já se constatava no século, 15 de Maquiavel, não tem a ver com moralidade, mas com resultados comuns para uma maioria, tudo ordenado pela ética e o senso de justiça, estabelecidos nas leis vigentes.

E nos dias de hoje, com as redes sociais na palma da mão, cheia de cliques e aplicativos de mensagens a nos entupir com informações corretas ou falsas, são elas o grande espelho de que tanto se fala na filosofia, mas que o governante se nega a olhar nele e perceber seus próprios defeitos.

Rezar ou orar, é bom. Esperar milagres, melhor ainda. Mas, mudar e fazer, como Francisco fez, diante de tanta turbulência (ou o caos como se alega aqui) é antes de tudo, uma atitude com riscos percebidos, calculados e mitigados. E os políticos carreiristas de hoje dia não querem tomá-los. E a pesada conta, no fundo, quem paga somos nós que os escolhemos. Muda, Gaspar!

TRAPICHE

Expostos I . Avisei a cidade no dia 13 de abril, em duas notas do TRAPICHE do artigo OS 100 PRIMEIROS DIAS DO GOVERNO DO “DELEGADO PREFEITO” PAULO E DO ENGENHEIRO RODRIGO, FORAM ATÉ AQUI, UM EXPERIMENTO SEM RESULTADOS que, a aprovação daquele PL do vereador Dionísio Luiz Bertoldi, PT, obrigando o município de Gaspar a implantar câmeras e sistemas de vigilância nas escolas e creches municipais era inconstitucional e que todos do governo, incluindo a sua base na Câmara, comeram mosca. Bingo.

Exposto II. O que aconteceu? Espetáculo. Mais um desnecessário e reiterado desgaste para o governo. O prefeito Paulo Norberto Koerich, PL, fez o que devia ser feito, por recomendação da sua procuradoria geral: vetou o Projeto de Lei aprovado na Câmara e não o transformou em lei. E o vereador Dionísio Luiz Bertoldi, PT, foi as redes sociais fazer política com o veto, mesmo sabendo de o que ele pede não pode pedir e o que pediu, o atual governo já fez. E em tempo recorde como o governo mal marqueteou. Por outro, lado, arrisca-se e erra o governo de Paulo, em não enviar uma matéria semelhante para a Câmara e com isso, resolver o impasse, tapando a boca do vereador.

Exposto III. Como escrevi lá no dia 13 de abril, Dionísio Luiz Bertoldi, PT, está certo no que pede. Mas, um vereador não pode fazer um Projeto de Lei que implica em criar despesas, dar diretrizes operacionais e mexer no Orçamento municipal. São prerrogativas do prefeito. Como escrevi lá no dia 13 de abril, se a matéria é inconstitucional, como é que este tema não foi motivo de parecer neste sentido da assessoria jurídica da Câmara; como não permeou as comissões a principal delas, a de Comissão de Justiça, Cidadania e Redação, na qual a presidente é a líder do governo, policial, formada em direito, Alyne Karla Serafim Nicoletti – que já barrou outros temas com a arguição de inconstitucionalidade – e não foi motivo de contestação a partir da sua própria base de governo? Esta sexta-feira ela rumou para a prefeitura e foi ter um tete-a-tete com o procurador. Esta conversa não deveria ter sido feito antes?

Exposto IV. O que mostra tudo isso? Como a base política do governo do “delegado prefeito” Paulo Norberto Koerich e de Rodrigo Boeing Althoff” está frágil, sem foco e com a liderança na Câmara pisando em cacos de vidro, desde que aceitou ficar em minoria para fazer de Alexsandro Burnier, PL, presidente da Casa, com o vice-prefeito nos bastidores “controlando” dois vereadores. Então perguntar não ofende: quando o veto do prefeito chegar na Câmara, a Comissão de Justiça terá parecer diferente? Os cinco vereadores da base do governo de Paulo e Rodrigo com votos (presidente só em caso de empate), vão voltar atrás e serem razoáveis com a Constituição que dizem ser o pilar nas causas da direita? E por derradeiro: precisava de mais este desgaste todo? É uma atrás da outra.

Exposto V. Depois da farra do vereador Dionísio Luiz Bertoldi, PT, ontem à tarde e noite nas redes sociais, reclamando contra o veto e colocando as crianças como vítimas da insegurança, exatamente o termo mais caro ao discurso dos bolsonaristas no governo de Gaspar e onde um delegado é prefeito, e a líder de governo é policial civil, Paulo Noberto Koerich, PL, em raríssima aparição e agilidade, rebateu, nas redes sociais, o vereador e esclareceu a cidade. E fez isso, porque a coisa pegou. E pegou por que? Porque está devendo na expectativa de mudanças que a vitória dele deu a maioria dos eleitores e eleitoras gasparenses. Simples assim.

Exposto VI. O vice Rodrigo Boeing Althoff, PL, o presidente da Câmara, Alexsandro Burnier, PL, e os da base, até o momento em que posto este comentário, estão, providencialmente mudos. Mas, falar o quê se são parte desse circo que se armou contra o próprio governo deles? A oposição, que aos poucos vai ocupando espaços no governo da mudança, é que tem sido mais coerente até o momento. Nos primeiros 100 dias de governo, a bancada governista por vezes pareceu que não era ela governo. Este é um exemplo. É preciso mudar. E o problema está dentro de casa. E esta CPI poderá ser outro tiro n’água.

Em Blumenau, o outro delegado – que também atuou em Gaspar nesta condição – que se tornou prefeito de lá, Egídio Maciel Ferrari, PL, sentiu o bafo daquilo que mal explicou e que a maioria da Câmara está trabalhando contra os próprios eleitores e eleitoras: os exorbitantes duplos “reajustes” na taxa de esgoto que somados chegam a 16%. Para driblar a condição de minoritários para reclamarem, o vereador Jean Volpato, PT, entrou com uma Ação Popular.

O Juiz da Comarca de lá, Bernardo Augusto Ern deu prazo de 72 horas para o prefeito de Blumenau e a BRK, concessionária do serviço público de coleta e tratamento de esgotos de lá, bem como o Samae se explicarem. Ao mesmo tempo, mandou o Ministério Público entrar na parada. Quem são os patronos desta Ação Popular? João Pedro Sansão, Doraci Vanz e André Luiz Soares.

Na segunda-feira, feriado, o secretário de Infraestrutura e Mobilidade, o deputado de Ibirama, Jerry Comper, MDB, estava aqui em Gaspar, na sua propriedade. Quem estava na terça-feira no gabinete do secretário em Florianópolis, batendo o ponto, e afirmando que estava atrás de recursos para Gaspar? O vereador Ciro André Quintino, MDB.

O vereador Roni Jean Muller, MDB, já foi secretário de Obras e Serviços Urbanos. Mando um ofício para a prefeitura de Gaspar querendo saber como estavam as tratativas para a recuperação daquela galeria que ruiu na Estrada Geral da Lagoa. Quase três meses depois do evento, e sob improviso, a resposta de 20 de março, é que estudos preliminares terão que ser feitos para ver o que precisa ser feito. Credo. Realmente, o governo de Paulo Norberto Koerich, e Rodrigo Boeing Althoff, este engenheiro multi-titulado, não precisa de oposição.

Era uma vez a Havan. A primeira “parceria” de desenvolvimento do primeiro mandato do governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, foi a abertura das Lojas Havan, ali no Bela Vista. Nos discursos, uma lambeção só. O prédio começou ruir. Tentaram remediar. Técnicos me diziam que não daria certo. Foi desmentido. Depois de quatro meses fechada, a loja reabriu em primeiro de maio de 2019. Avisei que iria fechar e para sempre. Fui desmentido. Há alguma dúvida sobre o que aconteceu há cinco anos?

O ex-presidente Fernando Collor de Mello, foi preso por corrupção no âmbito da Lava Jato. Ele saiu do governo há 33 anos pelo mesmo motivo via o impeachment: corrupção. E se livrou dela na Justiça, na época: falta de provas. A prisão de Collor é manchete nos jornais de hoje. O que estranha, sem livrá-lo de culpa, é a certa seletividade da Justiça. Quase todos os grandões se livraram das acusações na Lava Jato, entre eles, Luiz Inácio Lula da Silva, PT. Não porque não eram culpados, mas, porque o processo foi declarado viciado. O STF declarou conluio entre o Juiz Sérgio Morro e os procuradores Pelo visto, Collor não conseguiu tal equidade.

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9 comentários em ““A POLÍTICA NÃO TEM RELAÇÃO COM MORALIDADE”, MAS ESCOLHER NOSSOS GOVERNANTES COM O FÍGADO BEIRA AO SUÍCÍDIO COLETIVO DE NÓS MESMOS”

  1. A ROUBALHEIRA CONTRA O ANDAR DE BAIXO, por Elio Gaspari, nor jornais Folha de S. Paulo e O Globo

    As últimas grandes roubalheiras nacionais, o “mensalão” e o “petrolão”, gravitavam em torno do dinheiro da Viúva e, de certa forma, ocorriam no andar de cima. Já a fraude da rede varejista Americanas poupava a Viúva, mas era coisa de maganos. Desta vez, graças à Controladoria-Geral da União e à Polícia Federal, descobriu-se que quadrilhas aninhadas em 11 entidades estavam roubando os aposentados do INSS.

    Todo mês, tungavam coisa de R$ 50 de milhões de aposentados, gente que recebe, na média, R$ 4 mil. As quadrilhas conseguiram do INSS os dados pessoais das vítimas e fraudaram autorizações para os descontos.

    A roubalheira contra os aposentados do andar de baixo envolveu um ervanário que vai a R$ 6,3 bilhões, mas só o prosseguimento das investigações chegará ao montante exato da tunga. Uma auditoria feita pelo TCU nas contas de um só ano já estimou o desvio em R$ 1,55 bilhão.

    Uma pesquisa feita pela CGU junto de 1.300 aposentados mostrou que 97% não haviam autorizado os descontos. Mais: 70% de 29 entidades investigadas haviam sido credenciadas pelo INSS sem apresentar a devida documentação.

    Num primeiro lance, na quarta-feira, 700 policiais federais e 60 servidores do INSS cumpriram 211 mandados de busca e apreensão em 13 estados e Brasília, prenderam três pessoas e sequestraram mais de R$ 1 bilhão em bens e dinheiro, inclusive uma Ferrari e um Porsche. Fala-se até num Rolls Royce. Para felicidade geral, o diretor da PF, Andrei Passos Rodrigues, anunciou que a operação da semana passada é apenas “uma investigação que está no seu começo”.

    A reação (tardia) do governo foi puramente marqueteira, arruinada pelo desassombro do ministro da Previdência, doutor Carlos Lupi. Naquela manhã, ele garantiu, durante uma entrevista coletiva: “A indicação do doutor Stefanutto é da minha inteira responsabilidade”. Alessandro Stefanutto, presidente do INSS, foi demitido horas depois.

    Lula e Lupi são adultos e sabem o que estão fazendo. Há anos tratam do INSS com a opção preferencial pela empulhação. Lupi prometeu zerar a fila da Previdência até o final de 2023 e hoje ela já passou dos dois milhões de vítimas.

    A coletiva dos ministros destinava-se a mostrar que haviam sido desbaratadas quadrilhas cevadas pelo governo anterior. Pelas cifras e pelas datas, a história parece ser outra.

    Durante o governo de Jair Bolsonaro, a tunga passou de R$ 604 milhões para R$ 706,2 milhões. Com Lula 3.0 ela pulou de R$ 1,3 bilhão para R$ 2,6 bilhão. A repórter Maria Cristina Fernandes mostrou que em agosto de 2023 já haviam chegado à Câmara dos Deputados denúncias de descontos indevidos, e o deputado Gustinho Ribeiro (Republicanos-PB) alertou o Tribunal de Contas da União. Portanto, em agosto de 2023 o governo soube que os aposentados estavam sendo roubados.

    Entre 2023 e abril de 2025, o INSS e o Ministério da Previdência fizeram coisa nenhuma. Suspenderam os repasses para logo depois retomá-los. A Dataprev recomendou que se usasse a biometria para registrar a autorização dos descontos. Não foi ouvida.

    DONA JOSEFA E A AMBEC

    Entre a manhã e a tarde de quarta-feira, o governo simulou uma ação coordenada para proteger os aposentados que vinham sendo roubados. Mostrou alguma surpresa e informou que pretende ajudar no ressarcimento dos lesados. Fica combinado assim.

    Em dezembro de 2023, o repórter Luiz Vassalo publicou o caso de Josefa Brito, de 74 anos, moradora no extremo Sul de São Paulo. Ela brigava na Justiça para receber de volta seu dinheiro, tungado pela Ambec.

    Tomavam-lhe R$ 45 a cada mês.

    Ela contou: “Eu procurei a Justiça porque eu fui ao INSS e me mostraram lá que a Ambec estava descontando. É pouco, mas me faz falta. E eu não autorizei desconto nenhum. Como que pode descontar na sua aposentadoria uma coisa que você não autoriza? O aposentado ganha pouco, não dá nem para comprar medicamento.”

    Josefa estava num grupo de 600 pessoas que processava a Ambec. Àquela altura, corriam 2,3 mil ações contra a entidade.

    A Ambec atende pelo bonito nome de Associação dos Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos. Segundo o TCU, em dezembro de 2021 ela tinha três associados, um ano depois (governo Lula 3.0) eles eram 600 mil e sua arrecadação ficou em R$ 91 milhões.

    A CGU listou o empresário Maurício Camisotti como “figura central” da Ambec. Só o prosseguimento da investigação poderá detalhar suas conexões com a rede de negócios da entidade. Por enquanto, sabe-se que seis parentes seus estavam na Ambec ou tinham tratos com ela. O juiz Massimo Palazzolo, da 4ª Vara Criminal Federal de São Paulo, viu “fundadas razões” para suspender suas operações com o INSS e bloquear até R$ 174 milhões da entidade e de outras quatro empresas que com ela operavam.

    O IRMÃO DE LULA NO SINDNAPI

    As quadrilhas que tungavam os aposentados tiveram a ajuda da inércia de um braço do governo e do acesso aos dados pessoais das vítimas. Horas depois da ruinosa fala do ministro Lupi, veio outra surpresa: José Ferreira da Silva, o Frei Chico, irmão mais velho de Lula, de 83 anos, é o vice-presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos do Brasil (Sindnapi), uma das entidades listadas na investigação.

    Lula teve pelo menos 17 irmãos (sete do casamento de Lindu, sua mãe) e já completou dez anos como presidente do Brasil. Todos seus irmãos viveram ou vivem modestamente.

    Foi Frei Chico quem o atraiu para a vida sindical, da qual catapultou-se para a política. Como vice-presidente do Sindnapi, acima dele só está Milton Baptista de Souza Filho, conhecido como Milton Cavalo, nomeado por Carlos Lupi há duas semanas para o Conselho Nacional da Previdência Social.

    O comissariado de Lula 3.0 vive assombrado pela reforma trabalhista de Michel Temer feita em 2017. Ela desossou as finanças dos sindicatos ao extinguir o Imposto Sindical, pelo qual o trabalhador contribuía com um dia de salário a cada ano. Desde então, a máquina sindical busca arrecadar por meio do que chamam de “contribuição”. O Supremo Tribunal considerou constitucional o desconto desse mimo na folha de pagamento dos trabalhadores, sindicalizados ou não. Seria uma remuneração por serviços prestados pelos sindicatos. Como há sindicatos que não prestam serviço algum, legalizaram-se centenas de tungas coletivas.

    No caso da roubalheira contra os aposentados, as quadrilhas foram direto ao crime, fraudando até mesmo as assinaturas das vítimas.

  2. Se este assunto voltar à pauta dos brasileiros, serás um freio na escalada do acintoso do descalabro estarão nos bancos dos reus Lula, PT, a esquerdado atraso, Bolsonaro, as bilionárias emendas parlamentares e a própria Justiça, na representação maior da passa pano recorrente e contra a lei expressa, o STF

    IMPUNIDADE NA VEIA, por Merval Pereira, no jornal O Globo

    Os últimos dias foram pródigos em momentos que reviveram na nossa memória cívica fatos que destacam não apenas nossas dores recentes como nossas vitórias efêmeras contra a corrupção política que nos assola há anos, e voltou a ser tema central com a descoberta do desvio de dinheiro do INSS dos aposentados. A moribunda operação Lava-Jato, em seu talvez último lance, pegou o ex-presidente Collor de Mello, que conseguira escapar por mais de 30 anos das acusações criminais depois de ter sofrido impeachment- foi absolvido pelo STF, mas condenado politicamente.

    Agora, apanhado novamente em crimes de corrupção, não escapou. O impressionante neste caso é a reincidência no erro. Collor, que fez questão de aparecer sorrindo na foto de sua audiência de custódia em Alagoas, sofreu punição política, foi destituído do governo, escapou da punição criminal e continuou fazendo as mesmas coisas até ser apanhado novamente. É exemplar de como a impunidade estimula a repetição dos crimes. Impressionante como políticos como Collor não conseguem se conter, continuam roubando sem medo de ser preso, de arriscar o que tinha recuperado. Perdeu os direitos políticos, voltou a ser eleito Senador, para repetir os mesmos crimes de corrupção.

    O país teve nos anos recentes dois ex-presidentes presos, antes de Collor, por processos da Operação Lava-Jato: Lula e Michel Temer, ambos acusados de corrupção. Bolsonaro caminha para ser o quarto, barrado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de se candidatar por oito anos, está para ser julgado pelos crimes que cometeu pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o mesmo Supremo que liberou Lula de suas condenações em duas instâncias, numa mudança de jurisprudência surpreendente para o mesmo tribunal que durante vários anos recusou-se a dar-lhe habeas corpus e apoiou todas as condenações a que foi submetido.

    O Brasil, também graças ao Supremo, regrediu no combate à corrupção pela desconstrução da Operação Lava-Jato, com incoerências que vão se acumulando no cotidiano. Assim como fez agora no julgamento de Collor, inocentando-o alegando que as acusações foram baseadas apenas em delações sem comprovação, o ministro Gilmar Mendes considerou que todas as delações da Operação Lava-Jato foram feitas com base em prisões alongadas e tortura psicológica. As provas que corroboravam as denúncias foram anuladas por suspeita de manipulação, como as anotações e registros do setor de Operações Estruturadas da Odebrecht.

    Ao mesmo tempo, quando surgiram as denúncias de que Moro e os procuradores trocavam informações durante os processos, elas foram aceitas sem titubear por Gilmar e outros ministros, mesmo que tenham sido obtidas ilegalmente através de um hacker, e nunca tenham sido validadas tecnicamente. Como não podiam ser usadas como provas, o resultado da invasão de privacidade dos procuradores e do juiz foram citadas à larga pelos vários ministros que se basearam nelas para mudar votos, mas juram que não. Fumaram, mas não tragaram. O então ministro Lewandowisk chegou a dizer em um pronunciamento que estava citando as mensagens roubadas porque todos sabiam que eram verdadeiras.

    Todos os processos, e não apenas os de Lula, provenientes da Vara de Curitiba, foram anulados por motivos variados baseados na decisão original, em vez de terem retornado às suas instâncias de origem para serem retomados por outros juízes. Nas poucas vezes em que isso aconteceu, os processos foram arquivados por prescrição. O caso de Collor escapou porque não foi julgado em Curitiba, e a empreiteira era a UTC, não a Odebrecht, embora as delações que lhe deram origem tenham sido do mesmo naipe de outras, que foram desconsideradas.

    O asilo político da ex-primeira-dama do Peru, Nadine Heredia, também condenada em seu país por acusações de corrupção das empreiteiras do mesmo esquema brasileiro, que se espalhou por vários países da América Latina, foi mais um exemplo de que o fantasma da Lava-Jato não nos abandonará tão cedo.

  3. Enquanto permite de um lado o roubo de bilhões de milhões de idosos pobres e na maioria doentes a sindicatos e ONGs travestidas de associações humanitárias, a máquina política do PT e da esquerda do atraso coloca a sua elite iletrada para receber altos salários nos Conselhos de empresas em que tem participação via o BNDES ou são estratégicas, atrapalhando o futuro e a competividade delas no Brasil e mundo afora.

    GESTÃO PARAESTATAL VOLTA A CRESCER NO GOVERNO LULA, editorial do jornal O Globo

    O Conselho de Administração das empresas de capital aberto é uma garantia para os acionistas. Fiscaliza as decisões dos gestores responsáveis pelo dia a dia das corporações e contribui com a visão estratégica dos conselheiros, com o objetivo de aumentar a lucratividade e perpetuar o negócio. No Brasil, contudo, tem sido frequente a distorção desses princípios nas empresas em que o Estado detém participação acionária e o direito de indicar integrantes do Conselho. Embora não sejam formalmente empresas estatais, nem controladas pelo governo, suas atividades acabam por adquirir uma natureza paraestatal, influenciada pela política. Isso quando a motivação da indicação não é exclusivamente pecuniária (conselheiros são muito bem remunerados), prejudicando ao mesmo tempo a estratégia corporativa, a geração de riqueza e, em consequência, a economia brasileira.

    Há, de acordo com levantamento do GLOBO, 63 companhias privadas ou de economia mista espalhadas por 20 setores em que o governo pode indicar nomes aos Conselhos de Administração ou Fiscal. Sob o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as escolhas têm obedecido à lógica de aumentar os ganhos de integrantes do primeiro e segundo escalões, alinhar a empresa às políticas do governo e distribuir favores. Nenhum desses critérios resulta na escolha de profissionais reconhecidos, com pensamento estratégico.

    Em 2023, o coronel da Aeronáutica Geraldo Corrêa de Lyra Junior tornou-se conselheiro da companhia de energia Copel. No currículo, a informação mais saliente era ter sido piloto do avião presidencial nos governos de Lula e de Dilma Rousseff. Para a metalúrgica Tupi, o PT indicou os ministros Carlos Lupi (Previdência), Anielle Franco (Igualdade Racial) e Vinícius de Carvalho (Controladoria-Geral da União). Não é do conhecimento público a competência técnica dos três nesse segmento da economia. Nem o governo tenta esconder que a motivação é elevar os ganhos do primeiro escalão. A remuneração anual mais modesta no conselho da Tupi em 2023 foi de R$ 546 mil, segundo reportagem do GLOBO. Para os beneficiados, é um dinheiro que só depende da permanência no governo. Para a empresa, é uma oportunidade desperdiçada.

    A motivação pecuniária nem é a pior. O governo também indica nomes para Conselhos com a intenção de influir na gestão das empresas. Não faz sentido acreditar que seus representantes são os mais indicados para pensar estrategicamente sobre o futuro de algumas das empresas mais relevantes do Brasil, como JBS, Vale, Bradesco, Itaú, Natura, Gerdau, Embraer, Vibra ou Renner. A cada quatro anos, os ventos que sopram de Brasília podem mudar de rumo — e as empresas e a economia arcam com as consequências.

    Tudo poderia ser diferente — e já foi. No governo Michel Temer, o BNDES passou a indicar como conselheiros profissionais independentes, com reconhecido conhecimento na área de atuação da empresa, sem ligação com o governo. Não durou muito. Assim que o PT voltou ao poder, o banco voltou a indicar nomes alinhados com o partido. O mesmo comportamento se repete em fundos de pensão, suscetíveis aos desmandos do governo. Não é com o modelo de capitalismo paraestatal que o Brasil terá empresas de excelência internacional, capazes de contribuir da melhor forma para o crescimento da economia.

  4. TRUMP ENFRENTA CHOQUE DE REALIDADE, por Carlos Alberto Sardenberg, no jornal O Globo

    Da posse de Trump até ontem, o valor das companhias americanas listadas em Bolsas caiu cerca de 10%. É coisa de trilhões de dólares. Afeta principalmente as empresas que têm cadeias globais de produção, as maiores vítimas do tarifaço.

    Mas, se a tendência foi claramente de queda nesse período, a característica principal do mercado foi a volatilidade. A partir não apenas de fatos, mas especialmente das declarações de Trump.

    Esta semana foi assim. Começou bem pessimista, repercutindo ainda as falas do presidente ameaçando engrossar com a China e demitir o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central), Jerome Powell, se ele não reduzisse imediatamente a taxa de juros.

    Ações desabaram.

    Assustados, assessores de Trump chamaram sua atenção. Ele próprio, um homem de negócios, também se inquietou. Resultado: declarações mais amenas dizendo que as negociações com a China começavam e que ele seria “gentil”. Mais: acrescentou que as tarifas de importação sobre produtos chineses ficariam bem abaixo do teto atual de 145%. Já isso de demitir o presidente do Fed, era coisa de uma imprensa que sempre “exagera”.

    Acalmou os mercados, Bolsas voltaram a subir, mas isso ficou longe de tranquilizar o pessoal de lá e do mundo todo. Gerou desconfiança, manifestada reservadamente por empresários e executivos americanos. Se a Bolsa oscila na base de declarações, fica óbvio que pode haver manipulação. Se um assessor sabe que Trump desmentirá a ameaça de demissão de Powell, sabe então que as ações subirão. Uma comprinha rápida dá um caminhão de lucros em poucas horas de pregão. Quem soube antes que Trump atacaria o Fed pode ter lucrado duas vezes.

    São desconfianças, claro, mas alimentadas pela conhecida falta de escrúpulos de Trump. E de seu pouco apreço pela verdade. Ele não apenas disse que demitiria Powell, como escreveu isso em sua rede social. Ainda o ofendeu, também por escrito, chamando-o de “atrasadão” e “grande perdedor”. Depois, com a maior cara de pau, diz que foi coisa da imprensa.

    No caso da China, foi ainda pior. Enquanto Trump afirmava que cabia a Xi Jinping dar o primeiro telefonema e, depois, que negociações estavam em andamento, o governo chinês negou tudo. Segundo Pequim, não há qualquer conversa. Xi não telefonou. E não telefonará enquanto Trump não suspender as tarifas e zerar o jogo. O governo chinês também quer que Washington designe um negociador responsável.

    Trump ficou quieto, pelo menos até ontem.

    Feitas as contas, a disputa tarifária afeta mais os Estados Unidos que a China. Do total de exportações chinesas, 13% vão para empresas e consumidores americanos. Os outros 87% estão distribuídos por diversos países, praticamente no mundo todo. A China já vinha reduzindo a dependência em relação aos Estados Unidos.

    Do outro lado, 15% das importações americanas vêm da China. Outros 15%, do México, mais 14%, do Canadá. Quase a metade das importações vem de três países, todos duramente atingidos pelo tarifaço.

    Executivos de supermercados advertiram Washington de que seus consumidores em breve poderiam topar com prateleiras vazias e produtos muito mais caros, uma péssima combinação. Em geral, os executivos evitam entrar em conflito com Trump, dada sua política vingativa. Mas não tiveram como evitar o tarifaço na apresentação de seus resultados trimestrais. Aí apareceram com frequência as palavras inflação e recessão. Eis o ponto: só a reação interna pode deter Trump. Além da sabedoria e da paciência milenares dos chineses.

    Por falar em tarifaço e países protecionistas, a Nintendo acaba de lançar seu game Switch nos Estados Unidos por US$ 450. Para o Brasil, o lançamento oficial está marcado para 5 de junho, ao preço sugerido de R$ 4.500. É só fazer as contas para verificar onde está o protecionismo. É curioso: nos meios econômicos brasileiros, a crítica a Trump é praticamente unânime. E os nossos tarifaços?

  5. AS FESTAS DE ARROMBA EM BRASÍLIA, por Carlos Andreazza, no jornal O Estado de S. Paulo

    Duas reportagens de Levy Teles, neste Estadão, deram conta dos embalos de quarta à noite na Brasília delirante. A elite política bebendo destilados à larga no dia em que o País tomara ciência do golpe bilionário ao INSS.

    Hugo Motta abriu as portas para reunir Lula e os líderes partidários, servidos vinhos de mais de R$ 1 mil e a cafonice (gostosa) da moda, uísque japonês. Isso, madrugada de quinta adentro. Convescote em cujos barris se pactuaria o anunciado pela manhã: empurrada para frente – pelas panças fermentadas – a análise do requerimento de urgência do projeto de lei da anistia.

    Projeto delirante da anistia, pela impunidade a Bolsonaro, agenda única da oposição – mesmo ante a descoberta, pelo Brasil do mundo real, do assalto a aposentados e pensionistas. O líder do PL não esteve no jantar para Lula. Foi ao festão de Marcos Pereira, o presidente do Republicanos. E soltou o verbo, sabedor do que se brindava na residência oficial da presidência da Câmara.

    Soltou o verbo para ameaçar Motta; aquele que, tendo prometido tudo a todo mundo, afinal trairia alguém. Em política, traição quase sempre faz aparecer o podre. E Sóstenes Cavalcante, o traído, apontou contra aquilo que dá estabilidade ao arranjo de poder no Parlamento e equilíbrio (precário) à relação entre Congresso e Planalto.

    Declarou que, se o projeto não for a plenário, romperá o acordo pela distribuição de emendas parlamentares entre lideranças partidárias – a admissão de que a dinâmica do orçamento secreto se desenvolve sob parasitagem das emendas de comissão. A turma criou informalmente, sob a fachada das comissões temáticas, a emenda de líder partidário e definiu a regra do ratatá. Sóstenes informou que poderá monopolizar o controle de quase R$ 7 bilhões – uma maneira de “estabelecer um limite”.

    Informou também que compreende Motta, o sem limite, como sob gestão de Ciro Nogueira, a quem foi pedir providências de modo a que a anistia entrasse na pauta da Câmara. O senador “respondeu dizendo que conversaria com Hugo para que desse uma data”. O líder do PL aproveitou para consultá-lo sobre se o deputado Glauber Braga seria cassado. “O piauiense assentiu com a cabeça.”

    O poder do senador é incontroverso. Duvidoso será apontar quem, entre Hugo Motta e Luís Roberto Barroso, ora desfrutaria mais dos prazeres do poder. Viajaram juntos, aliás, para o funeral do papa, de carona com Lula – comitiva a que se somaria Alcolumbre, depois de haver nomeado o novo juscelino nas Comunicações.

    Na festa do deputado Marcos Pereira, que tem foro no STF, o presidente do Supremo – abraçado ao anfitrião – fez dueto com um cantor sertanejo. No dia em que revelado o roubo aos nossos mais velhos, levaram o clássico Tocando em Frente. Depois de haver derrotado o bolsonarismo, Barroso agora desafia a canção popular.

  6. Evidências que deram um jeito de torná-las “imprestáveis” a Lula e outros barões da corrupção no ambiente público, político e privado

    PRISÃO DE COLLOR É DECISÃO CORRETA DIANTE DAS EVIDÊNCIAS, editorial do jornal O Globo

    Em razão de um pedido de destaque do ministro Gilmar Mendes, o plenário do Supremo Tribunal Federal ainda examinará em sessão presencial a decisão do ministro Alexandre de Moraes que determinou a prisão do ex-presidente e ex-senador Fernando Collor de Mello por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, crimes revelados pela Operação Lava-Jato. Na sessão virtual, ela já conta com maioria de seis ministros. Trata-se de uma decisão correta. A Justiça ofereceu todos os caminhos possíveis para Collor se defender, e as evidências reunidas ao longo do processo justificam a prisão. Diante delas, causaria espanto se mais esse caso da Lava-Jato não desse em nada.

    Em 2023, Collor foi condenado a oito anos e dez meses de prisão, sob a acusação de participar de um esquema de corrupção na BR-Distribuidora. As investigações foram aprofundadas depois de delações premiadas do doleiro Alberto Youssef, do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró e do empresário Ricardo Pessoa. As denúncias foram corroboradas por provas recolhidas pela Polícia Federal. Esgotados todos os recursos, Collor foi detido na madrugada desta sexta-feira, em Maceió (AL), e aguardará preso a decisão do plenário.

    De acordo com as investigações, entre 2010 e 2014, ele recebeu pelo menos R$ 20 milhões em propina para facilitar contratos irregulares da BR Distribuidora com a UTC Engenharia, destinados à construção de bases de distribuição de combustíveis. A vantagem indevida, segundo a acusação, foi dada em troca de apoio político para indicação e manutenção de diretores da empresa.

    Collor já esteve implicado em outros escândalos. Nos anos 1990, sofreu impeachment e foi alvo de acusações de envolvimento no esquema armado por seu tesoureiro de campanha, Paulo César Farias, o PC Farias. Foi absolvido pelo Supremo depois do impeachment, apesar de comprovada a compra de um Fiat Elba Weekend com recursos desviados, além de obras superfaturadas na Casa da Dinda.

    A corrupção é uma chaga que lamentavelmente o Brasil não consegue derrotar. A despeito da profusão de casos, o enfrentamento aos crimes tem arrefecido. A Lava-Jato, maior operação contra corruptos e corruptores já empreendida no país, vem sendo desmontada de forma consistente em decisões do Supremo. É certo que houve erros do Ministério Público e da Justiça. Mas causa perplexidade a anulação de tantos processos, sobretudo depois de empresários confessarem seus crimes em depoimentos gravados em vídeo e até de devolverem dinheiro.

    Collor é o terceiro ex-presidente a ser preso como resultado de investigações da Lava-Jato. Os outros dois (Luiz Inácio Lula da Silva e Michel Temer) depois foram libertados, ou porque as acusações se revelaram inconsistentes ou em razão de falhas na condução dos processos. Para evitar novos erros que resultem em justiçamento prematuro ou em impunidade, é fundamental a garantia de amplo direito de defesa e o respeito a todos os ritos jurídicos.

  7. ESCÂNDALO NO INSS EXIGE AÇÃO MAIS FIRME, por Vera Magalhães, em O Globo

    As revelações ainda parciais de um esquema antigo de desvio de recursos de benefícios de aposentados e pensionistas em favor de entidades sindicais, consolidado e que vinha em franca expansão, exigem ação mais firme por parte do governo. Trata-se de um escândalo da categoria inadmissível, porque mexe naquilo que é mais vital na vida de pessoas vulneráveis, justamente aquelas em nome de quem Lula prometeu ao longo da vida toda governar.

    Foi preciso que a Polícia Federal deflagrasse uma operação para que o ministro da Previdência, Carlos Lupi, viesse a público. E, ainda assim, sua primeira preocupação foi sair em defesa do agora ex-presidente do INSS Alessandro Stefanutto, cuja permanência naquele momento já era impraticável, e que cairia poucas horas depois.

    A diferença de tom entre o responsável por gerir o INSS e seus colegas de ministério é um sinal cristalino de que Lupi não deu ao caso o sentido de gravidade que ele exige e de que não está apto a conduzir investigações internas e uma devassa no pagamento de benefícios que a fraude bilionária requer.

    Enquanto o pedetista passava pano para seu apadrinhado político e tergiversava sobre o escândalo, fazendo muxoxo porque o caso corre em segredo de Justiça, os ministros da Justiça, Ricardo Lewandowski, e da Controladoria-Geral da União, Vinícius Marques de Carvalho, deram declarações na única direção possível: esse tipo de roubo em algo tão essencial como aposentadorias e pensões é inadmissível, e o governo falhou em detectar o esquema — aqui, pouco importa que ele tenha começado no governo anterior, porque não só se manteve sob Lula, como ganhou mais tração e atingiu valores mais expressivos.

    O presidente tem de entender que não é possível, nesse caso, segurar um ministro com o discurso-padrão do benefício da dúvida ou da necessidade de esperar o avanço das investigações.

    Lupi já está em sua segunda encarnação ministerial. Não há nada nos seus feitos administrativos, aliás, que justifique sua volta depois de ter sido demitido no governo Dilma Rousseff por causa de denúncias envolvendo favorecimento a ONGs no Ministério do Trabalho, pasta que ocupava na época. Apenas o fato de ser dono do PDT justifica sua nomeação para a Previdência.

    O próprio Lula já se queixou, ao longo de dois anos e meio, das filas e da ineficiência do INSS. Não custa lembrar que mais da metade deste mandato já foi, a hora de mostrar serviço passou, e reduzir essa fila fez parte das promessas de campanha do petista, porque se trata de algo que diz respeito a sua trajetória política: o discurso de defesa do trabalhador e do aposentado.

    Também não deveria ser preciso lembrar ao presidente e a seus ministros mais próximos que qualquer esforço de recuperação de popularidade será jogado no ralo caso esse escândalo ganhe proporções ainda mais graves (e tudo indica que ganhará), uma vez que o estigma da corrupção é marca indelével das gestões petistas para imensa parcela da população brasileira, como atestam inúmeras pesquisas.

    Não se trata nem de discutir se essa percepção é correta, porque ela está sedimentada, e a única maneira de debelá-la é com transparência e ação, como uma ala do próprio Executivo já percebeu. Basta ver que o titular da CGU disse com todas as letras que não é possível atestar se Lupi sabia dos descontos em benefícios feitos sem anuência dos aposentados e pensionistas.

    Aliás, não se trata nem disso: sabendo ou não, o ministro demonstrou imensa incompetência em gerir um órgão vital para a vida de milhões de pessoas, e isso contribuiu para uma fraude de mais de R$ 8 bilhões que o governo terá de dar um jeito de ressarcir aos que foram covardemente lesados. Se isso não é motivo para trocar um gestor, o que mais será?

  8. Sindicalismo de resultados. É certo que este crime começou no governo de Jair Messias Bolsonaro, PL. É mais certo ainda, que no governo do sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva, PT, isto se tornou uma máquina de roubar bilhões de reais de milhões idosos, pobres e quase sempre doentes, mesmo diante de tantas denúncias que poderiam parar o mecanismo pelos próprios meios de governança do governo. É a tal volta à cena do crime, que lembrou, quando na oposição, o vice de Lula, Geraldo Alckmin, PSB

    CIDADÃOS FORAM ROUBADOS SOB A GUARDA DO INSS, editorial do jornal Folha de S. Paulo

    Uma quadrilha desvia parte do valor dos benefícios de aposentados e pensionistas para associações de classe e sindicatos, que em tese prestariam serviços a essas pessoas.

    Parte dessa organização criminosa atua no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Facilita o tráfico de dinheiro para as entidades, que firmaram “acordos de cooperação técnica” com o órgão federal a fim de receber esses “descontos associativos”.

    Os associados não sabem que o são nem deram autorização para o desconto. Pessoas com deficiência limitadora ou sem alfabetização, indígenas que moravam em aldeias ou moradores no exterior, milhares foram esbulhados.

    É o roubo consignado.

    A história vai além de um enorme caso de polícia. A leitura de uma recém-divulgada auditoria da Controladoria-Geral da União, entre outras investigações e evidências, mostra que o comando de várias gestões do INSS se comportou com negligência, na melhor hipótese, diante dos indícios gritantes de desvios.

    Cinco servidores da cúpula do instituto foram afastados ou demitidos, incluindo o seu agora ex-presidente Alessandro Stefanutto. Ainda não está claro quem é acusado de tal ou qual crime, mas a CGU comprovou irresponsabilidade escandalosa.

    Entre abril e julho de 2024, foram entrevistados 1.273 beneficiários do INSS, escolhidos aleatoriamente, dos quais 97,6% disseram não ter autorizado descontos; 95,9% diziam não fazer parte de associação.

    Uma explosão do montante descontado não chamou a atenção. Em 2022, a média mensal era de R$ 58,8 milhões; na primeira metade de 2023, de R$ 81,8 milhões; em julho daquele ano, R$ 113,7 milhões; em maio de 2024, último dado considerado, foram mais de R$ 200 milhões.

    Aumentaram ainda mais os pedidos de cancelamento dos descontos por parte da clientela do INSS. De cerca de 15 mil pedidos mensais nos 12 meses até junho de 2023, passou-se a quase 85 mil mensais nos 12 meses seguintes.

    Em 2019, a Procuradoria da República no Paraná alertara o INSS do problema, pedindo providências, sem reação suficiente. Em julho de 2024, o instituto recebeu da CGU texto preliminar de sua auditoria —e, de mais incisivo, apontou que desde 2024 havia exigência mais rigorosa para autorização de desconto, por meio de biometria, sem prestar contas a respeito dos sinais de fraude.

    Não há notícia de que a Previdência tenha procedido a uma intervenção saneadora, que apenas ocorreu depois da operação policial. É um escândalo de incompetência e desleixo.

    O trabalho de CGU e Polícia Federal é apenas o começo de uma limpeza que deve continuar por responsabilização administrativa e política. O esquema decerto começou antes, mas é ao governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que cabe agora responder com providências e explicações pelo roubo em larga escala ocorrido sob a guarda de um órgão público.

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